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terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Museu Judaico de Lisboa: de Alfama para a freguesia de Belém

Sheila Sacks /


Depois de quatro anos de batalhas jurídicas, o projeto do Museu Judaico de Lisboa muda de endereço como advogava a Associação do Patrimônio e População de Alfama, que representa o bairro histórico da capital portuguesa. Em 2016, a comunidade judaica de Lisboa, com o aval da Câmara Municipal, anunciou a obra a ser erguida no Largo de São Miguel, perto de onde se localizava a antiga Judiaria de Alfama,  datada do século 14. Três casarões no largo seriam remodelados para comporem a sede do museu que ganhou inclusive um projeto arquitetônico amplamente divulgado pela mídia local.

Entretanto, nos últimos dias de dezembro (22/12/2020) foi batido o martelo e a Câmara Municipal revogou o protocolo celebrado entre a prefeitura, a organização “Comunidade Israelita de Lisboa”  e a Associação de Turismo da Lisboa (ATL) para criação e funcionamento do museu. Foi instituída a Associação Hagadá ( do hebraico leagid , que significa contar, narrar),  sem fins lucrativos,  para a qual o município de Lisboa concederá  o uso de um terreno na freguesia de Belém  -  entre a Avenida da Índia e a Rua das Hortas - para a construção e funcionamento do novo museu. Dessa vez, o projeto ficará a cargo do arquiteto Daniel Libeskind, que projetou os museus judaicos de Berlim, São Francisco e Copenhague.

Museu judaico-português

Falando pela Associação Hagadá, a ativista, jornalista e escritora Esther Mucznik explicou que o museu judaico não será um “museu de judeus”, mas  um museu português que contará uma história específica, a história e a cultura dos judeus portugueses e a sua contribuição à nação da qual fazem parte.

Coordenadora da Comissão de Instalação do Museu Judaico, desde o seu lançamento, ela defendeu a instalação do prédio em Alfama pelo significado histórico do lugar. Com o novo endereço, o museu ganhará uma dimensão mais ampla, devido ao maior tamanho do terreno, cerca de 4.400 metros quadrados, e sua localização, perto da zona ribeirinha do Rio Tejo e da histórica e turística Torre de Belém.

Para Mucznik, a vida dos judeus em Portugal é uma história judaica e portuguesa, o que significa que ela não pode ser abordada de forma separada da história de Portugal. “Por muito forte que tenha sido o papel da identidade religiosa judaica na matriz do povo judeu, e foi-o sem dúvida alguma, a cultura ibérica foi igualmente decisiva no que hoje chamamos de Sefarad”, destaca.

Na foto acima, a muralha do antigo gueto judeu de Alfama.

Museu do Holocausto no Porto

Em contrapartida, a comunidade judaica do Porto inaugura, nesse início de 2021, o seu Museu do Holocausto, o primeiro da Península Ibérica. O museu retrata a vida judaica antes, durante e após o Holocausto, e apresenta reprodução dos dormitórios de Auschwitz, sala de nomes, memorial , cinema, sala de conferências, centro de estudos e corredores com a narrativa completa da tragédia, através de fotos e vídeos.



Desde 2013, arquivos sobre refugiados que passaram pela cidade do Porto foram compartilhados com o Museu do Holocausto de Washington e agora retornam para serem inseridos no acervo do novo museu. São documentos oficiais, testemunhos, cartas e centenas de fichas individuais. Também dois exemplares de “Sefer Torá” (Rolos da Torá) doados por refugiados à Sinagoga do Porto foram transferidos para o novo museu.

O museólogo Hugo Vaz, que vai administrar o local, acredita no forte apelo educacional do projeto e espera que o novo espaço cultural atraia a visita anual de 10 mil estudantes portugueses, o mesmo número de alunos que visitavam a sinagoga, antes da pandemia.

Abaixo, o link do texto “A Batalha do Museu Judaico de Lisboa”, de 2019.

http://sheilasacks.blogspot.com/2019/07/a-batalha-do-museu-judaico-de-lisboa.html