por Sheila Sacks
Aqui
estou eu,
calado
e perplexo
diante
das pedras
de
um muro incomum.
Como
aportei,
para
que ou por que,
pouco
se me dá.
Perguntas
não faço.
O
fato é um só:
eu
cheguei.
Se
vim a passeio,
passaporte
estrangeiro,
que
importância isso faz?
A
verdade está aí,
para
o que der e vier:
eu
estou aqui.
Olho
o muro e me vejo em mil.
Sou
Moché, sou Yeudá,
sou
Bar Kochba, sou Anielewicz.
Sou
todos que um dia,
com
gana e coragem,
lutaram
por mim.
Faço
uma prece,
sem
mesmo saber rezar.
Quero
a Torá no meu coração
(antes
tarde do que nunca).
Nada
mais tem importância,
a
não ser estar aqui, de pé,
diante
desse muro incomum.
Quero
tudo que tenho direito:
a
kipá na cabeça,
o
talit sobre os ombros,
as
lágrimas molhando o rosto.
Quero
a terra, o céu e a alma infinita,
toda
a história passada a limpo.
Quero
mergulhar de cabeça,
quero
ser meu povo!
Tanto
tempo vaguei,
preso
a tramas,
manhas
e artimanhas
de
um mundo comum.
Sou
o filho que volta,
sem
nunca ter passado da esquina.
Indeciso,
arrogante,
produto
bem acabado
da
cultura pagã.
Sou
aquele que chamam de jovem,
filho dileto da mixórdia ocidental.
Porém,
sabe-se
lá por que cargas d’água,
aqui
estou eu,
calado
e perplexo,
diante
desse muro de pedra.
Cheguei
despreparado,
curioso
turista,
sem
âncora ou amarras,
cidadão
do mundo!
Que
tolo eu fui.
Aqui,
frente a esse muro incomum,
a
mentira se desfaz,
perde
a pose e a graça.
Diante
do muro que resta
eu
choro o tempo de engano e espera.
Tudo
o que eu não fui
por
descaso e preguiça
na
hora devida.
Mas
agora,
de
cara para esse muro de pedra,
exijo
a lei e o feito.
Da
Torá o mais ínfimo preceito.
Quero
o início, o esplendor e a febre,
também
a liberdade e a voz
dos
nossos rabis e profetas.
Quero
cumprir a promessa,
vencer
o deserto,
o
vento e a fera.
Frente
a frente,
posição
de sentido,
a
profecia vive na terra prometida!
Frente
ao muro,
coração
aos pulos,
digo,
grito, repito e repiso:
quero
mergulhar de cabeça,
quero
me descobrir!