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sexta-feira, 7 de abril de 2017

Comunidades Judaicas: Para onde vamos?

Por Sheila Sacks

Parece sina! Depois da tragédia do Holocausto promovida pelo nacionalismo alemão da extrema-direita  representado pelo partido Nazi  ( “Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei” – NSDAP), na tradução “Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães”,  agora é a vez da esquerda radical e raivosa atacar os judeus e o Estado de Israel associando-se a movimentos como o BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) e aderindo a manifestações ditas antissionistas generosamente acolhidas no largo balaio de cacarecos em que se transformou a política de defesa pelos direitos humanos.

Atordoadas, as comunidades judaicas em todo o mundo tentam se equilibrar nessa corda bamba de falsas intenções, lutando para não afundarem na areia movediça das suspeições e das dirigidas cobranças éticas lançadas pelas sociedades onde vivem, ora de forma direta ora sub-repticiamente, em suas atividades sociais e de cidadania.

Caminhando sobre ovos, os judeus têm consciência de que é preciso conciliar, de forma madura e pragmática, mas sem se abster de suas individualidades ou ceder ao patrulhamento ideológico, a defesa das ações de Israel com as opiniões e ações populistas de partidos políticos, das elites culturais, dos sindicatos e da mídia impositiva que atuam em seus países de origem, onde vivem e trabalham. Uma tarefa nada fácil visto que os partidos de esquerda, mais tagarelas e barulhentos frequentemente canalizam as aspirações da grande parcela da população através de uma mídia digital atuante e engajada, encantando principalmente os jovens, os intelectuais e os pretensamente informados em sua busca pela justiça social.

Assim, com esse cabedal de bons propósitos, cabe agora aos partidos de esquerda, principalmente na América Latina, África e países da Europa Ibérica, fomentar os estereótipos da figura histórica do judeu, sempre ligado ao capital, fazendo crer que aquele que também batalha por uma sociedade mais justa é uma exceção nem sempre bem tolerada pela sua própria comunidade.

A insensatez dessas pessoas as faz ignorar as inúmeras organizações humanitárias judaicas que atuam em dezenas de países voltadas para a educação e a salvaguarda dos direitos básicos dos cidadãos e de suas minorias. Doações individuais e de entidades judaicas sustentam  centros culturais, museus, bibliotecas, universidades, hospitais e programas sociais não judaicos nos seis continentes.

A marca do judaísmo contemporâneo tem sido a diversidade de pensamento em se tratando de política e de cultura laica e essa peculiaridade se manifesta nos países em que habitam e no cerne do Estado de Israel através do livre embate de ideias que são a base e o esteio dos sistemas democráticos. Mas essa multiplicidade não pode ser usada por agentes internos e externos para promover a barafunda e desordenar comunidades minoritárias sem peso populacional para enfrentar lobbies populistas que possam gerar um clima de animosidade, constrangimento e de comprometimento social aos seus membros.  

As comunidades judaicas precisam estar atentas a esses tipos de situações aparentemente casuais em se tratando de outros segmentos da sociedade, mas que no âmbito judaico, devido às continuadas rondas preconceituosas, tendem a introduzir a discórdia e a instabilidade em suas relações

A permanência do povo judeu através dos tempos, malgrado as perseguições, matanças e outras abominações praticadas sob a égide de estados legais e com a anuência das sociedades civis, se deve basicamente a uma sólida base moral e religiosa, na qual, nesses dias de espanto e de exposição desmedida, requer igualmente uma alta dose de reflexão e união. Porque o antissemitismo (leia-se antissionismo contemporâneo), em sua retórica de intolerância, não separa o judeu da direita daquele judeu de esquerda. Ao contrário, se apropria dessa pluralidade para direcionar o seu discurso de ódio mais à vontade, acobertado pelas circunstâncias e oportunidades que surgem.


Copa 2018: jogo entre Espanha e Israel teve blindagem diplomática

Menos de 300 pessoas participaram da passeata de protesto contra Israel convocada por organizações pró-palestinas na cidade espanhola de Gijón, nas Astúrias, local do jogo de futebol entre as seleções da Espanha e de Israel, ocorrido na noite do último 24 de março, uma sexta-feira (shabat).

A manifestação aconteceu horas antes da partida pelas eliminatórias da Copa da Rússia, que foi vencida pelo time espanhol por 4 a 1. Carregando bandeiras e cartazes, os manifestantes se deslocaram em direção ao estádio El Molinón, a maioria empunhando cartões vermelhos em alusão ao tema da passeata: “Tarjeta roja a Israel” (Cartão vermelho para Israel).

Amabilidades

Na manhã do jogo, o embaixador de Israel na Espanha, Daniel Kutner, nascido na Argentina, esteve com a prefeita de Gijón, Carmen Moriyón, e disse esperar uma recepção hospitaleira por parte de seus moradores.

Situada no norte da Espanha, Gijón tem 273 mil habitantes e em janeiro de 2016 sua Câmara Municipal aprovou um boicote institucional ao Estado de Israel, revogado quinze dias antes do jogo, com o apoio do partido de Moriyón. Ao indicar Gijón, no final do ano passado, como sede do jogo entre Espanha e Israel na série de classificação para o Mundial de 2018, a Federação espanhola de Futebol afirmou desconhecer a “peculiar” posição política da cidade em relação ao estado judeu.

Em entrevista ao jornal local “Nueva España”, no dia anterior ao jogo, o diplomata israelense lamentou que Gijón seja conhecida como a cidade espanhola que decidiu pelo boicote a Israel. Mas, disse esperar que a partida entre as duas seleções pudesse ser motivo de celebração e não de manifestações políticas.

Por sua vez, o porta-voz da embaixada de Israel em Madri, Hamutal Rogel, minimizou a situação e afirmou que os jogadores estavam felizes em visitar a Espanha e que “a maioria dos israelenses não estava preocupada com a política espanhola e muito menos com a situação dos partidos políticos locais”.

Em relação ao jogo ser realizado no shabat, Rogel disse que prevaleceu o tom laico do evento e que o embaixador estaria presente no estádio. “O jogo foi organizado pela federação espanhola. É um convite da federação. E a Espanha, como país, seu governo e seu parlamento estão contra o BDS (“Boicote, Desinvestimento e Sanções”, movimento palestino contra Israel).

Segundo reportagem do jornalista Diego Torres, do jornal “El País”,  apenas um terço dos 31 mil lugares do estádio foi ocupado o que representou uma das mais fracas lotações dos últimos anos. Ele observou que os torcedores espanhóis presentes no Molinón estavam tranquilos e a empolgação ficou mesmo por conta da pequena torcida judaica, concentrada em um lado das arquibancadas.


Liga da amizade

Ainda sobre a Espanha, no fim de março uma delegação de parlamentares israelenses esteve no país para marcar os 30 anos do estabelecimento de laços diplomáticos entre os dois países.  No encontro com o ministro de Relações Exteriores, Alfonso Dastis, os deputados ouviram que o governo espanhol se opõe totalmente ao BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) e que tem adotado uma série de medidas legais contra o movimento. Na ocasião foi criada a “Liga Parlamentaria Hispano-Israeli de Amistad” que busca avançar nas políticas de relações comuns mais amistosas entre Espanha e Israel.

 Atualmente 40 cidades espanholas adotam resoluções a favor do boicote, mas em torno de dez já cancelaram esta decisão, seja voluntariamente ou por ordem judicial.

O BDS na Espanha conta com o apoio escancarado do partido de esquerda “Podemos”, que ocupa cinco das 54 cadeiras no Parlamento Europeu. Fundado em 2014 com a participação de intelectuais, ativistas sociais, sindicalistas e personalidades do meio acadêmico e cultural, o partido que é apontado pela organização pró-Israel ACOM (Acción y Comunicación en Oriente Medio) de ter vínculos com o Chavismo e o Irã, de onde recebe fartos recursos, se tornou um fenômeno nas redes sociais e elegeu, em 2015, 48 deputados, 16 senadores e 134 parlamentares em câmaras municipais.

De acordo com o diretor assistente para a mídia em espanhol da organização American Jewish Committee (AJC), o argentino Patricio Abramzon, na prática o boicote na Espanha se traduz na censura a professores universitários, cientistas, estudantes, atletas, artistas e profissionais israelenses não importando quais sejam as suas posições políticas. “O que começou como um movimento marginal, circunscrito ao meio acadêmico, foi se estendendo a outros setores”, ressalta. Abramzon observa também a perversa similaridade que une posições extremistas e sectárias: “O antissemitismo joga pelas pontas. A clássica judeofobia da extrema direita deixou sua marca trágica na história. Contudo, setores da esquerda radical também têm se transformado nos últimos anos em redutos onde imperam o antissemitismo e o ódio visceral aos judeus.”

Entretanto, o trabalho sistemático de organizações como a ACOM que há 15 anos atua nos meios governamentais, inclusive com ações na Justiça, esta virando o jogo na Espanha e obtendo vitórias expressivas contra o BDS. Seu presidente, Angel Mas, é um ativista empenhado na luta a favor do Estado de Israel e contra o antissemitismo moderno que se apresenta travestido de antissionismo. No artigo “La lucha contra el BDS en España” ( “El Medio”, em 22.04.2016), ele lista os objetivos da instituição, as estratégias adotadas e as ações desenvolvidas nos planos político, diplomático e judicial.


Twitter concentra 63% das postagens antissemitas
Pesquisa realizada pela empresa israelense de vigilância “Vigo Social Intelligence”, a pedido do Congresso Mundial Judaico (World Jewish Congress- WJC) – organização internacional que representa comunidades judaicas de 100 países nos seis continentes –, constatou que em 2016 a cada 83 segundos foi postada uma mensagem de cunho antissemita, uma média de 43,6 mensagens por hora, totalizando mais de 382 mil no decorrer do ano.
Desse universo de milhões de mensagens analisadas em 20 idiomas, mais da metade estavam reunidas no Twitter (63%), em blogs (16%), Facebook, Instagram (11%), YouTube (6%) e fóruns (2%). Foram contabilizadas manifestações retóricas  e de incitação de ódio aos judeus e instituições judaicas, sem incluir as postagens de críticas ao Estado de Israel e suas ações.
Comentando o levantamento, o vice-presidente executivo do WJM, Robert R. Singer, considerou o cenário preocupante. “Sabíamos que o antissemitismo nas redes sociais estava em ascensão, mas os números revelados nesse relatório nos forneceu informações de como a situação é realmente alarmante.”
Em tempo: a definição do que se constitui uma postagem antissemita se baseou nas diretrizes da “International Holocaust Remembrance Alliance” (Aliança Internacional para a Recordação do Holocausto - IHRA), instituição fundada em 1998, por iniciativa da Suécia. Atualmente congrega países da Europa e mais os Estados Unidos, Canadá, Argentina e Israel. Sua missão é difundir a lembrança e a pesquisa sobre o Holocausto em programas educacionais nacionais e internacionais. 

 Fontes:
“La Nueva Espanã”  -  "El España-Israel debería ser motivo de celebración y no de manifestaciones político-esotéricas" (Pablo Tuñón), em 23.03.2017
“La Nueva Espanã” – “Gijón lima asperezas con Israel por la visita de su embajador tras el boicot”, em 24.03.2017
 “El País” – “La política enturbia el España – Israel” (Diego Torres), em 24.03.2017
 “El País” -  “La manifestación contra Israel apenas tiene seguimiento en Gijón” (Diego Torres),  em 25.03.2017
“Aurora” – “España declara su oposición al movimiento anti Israel BDS”, em 02.04.2017
“Iton Gadol” – “AJC: Intenta boicotear al fútbol y verás lo que sucede”, em 25.06.2017
 “Unidos con Israel” - “382.000 mensajes antisemitas publicados en los medios sociales en 2016!”, em 26.03.2017