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domingo, 30 de novembro de 2014

A linguagem perdida ou o mundo infinito que a linguagem não alcança

por Sheila Sacks

“Cada pensamento desloca as partículas do cérebro, pondo-as em movimento e disseminando-as pelo Universo. Cada partícula da matéria existente deve ser um registro de tudo o que aconteceu.- “Principles of Sciences”, de William Stanley Jevons (1835-1882) e Charles Babbage (1791-1871)


O instrumento da linguagem continua aquém dos mistérios da Vida e do Cosmos. No século 19, pensadores históricos buscaram acender nas palavras a luz que poderia iluminar o universo não lógico que ainda nos espanta nessa segunda década do século 21. Percepções múltiplas sobre o Inexplicável e o Infinito estão gravadas em milhões de páginas que desafiam a capacidade humana de compreender e assimilar os fenômenos fundamentais da existência. 

Entretanto, hoje, acelerando um processo selvagem de dispersão mental, restamos reféns de palavras e encadeamentos frívolos e individualistas, ilhados em uma redoma de pensamentos manipulados por uma máquina de informações e sugestões que nos distanciam, cada vez mais, de um aprofundamento e de uma possível redescoberta da essência da linguagem e de sua possível expansão na tradução de pensamentos que versam sobre o incógnito, o invisível e o que não conhecemos. 

No livro “Key to the Hebrew-Egyptian mystery : in the source of measures”, datado de 1875, o pesquisador e estudioso da Cabalá, James Ralston Skinner, afirma estar convencido de que existiu uma linguagem antiga desaparecida, e de que restam numerosos vestígios. “A singularidade dessa linguagem era que podia estar contida dentro de outra, por um processo oculto, não sendo percebida senão com a ajuda de certas instruções; as letras e os signos silábicos possuíam, ao mesmo tempo, os poderes ou as significações dos números, das figuras geométricas, das pinturas ou ideografias, e dos símbolos, cujo objetivo era determinado e especificado por meio de parábolas, sob a forma de narrações completas ou parciais, mas que também podiam ser expostas separadas ou independentemente, e de vários modos, por meio de pinturas, obras de pedra e construções de terra.”

Skinner, de origem americana, destaca que aquela antiga linguagem estava profundamente infiltrada nos textos hebraicos, de tal forma que se empregando os caracteres escritos, cuja pronúncia forma a linguagem definida, podia-se intencionalmente comunicar uma série de ideais muito diferentes das que se expressam com a leitura de signos fonéticos. Para o pesquisador, realmente existiu na história da raça humana uma linguagem primitiva perfeita que por fatores desconhecidos desapareceu ou se perdeu no tempo.

Termos insuficientes

A medium e pensadora russa Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891) reclamava da insuficiência de palavras adequadas na linguagem moderna para a abordagem de determinados temas. Dissertando sobre autoconhecimento e consciência, a estudiosa das religiões e autora da “Doutrina Secreta” (1888) diz textualmente: “Tal é a pobreza da linguagem humana que não dispomos de termos para distinguir o conhecimento em que não pensamos ativamente do conhecimento que não podemos reter na memória.” E refletia: “Mais difícil então será encontrar palavras para descrever os fatos metafísicos e abstratos e distinguir-lhes as diferenças.”

Isso porque as pessoas definem as coisas segundo as suas aparências, de acordo com Blavatsky, que exemplificava: “À Consciência Absoluta chamamos ‘Inconsciência’, porque assim nos parece que deva ser, do mesmo modo que denominamos ‘Trevas’ ao Absoluto, porque este parece de todo impenetrável a nossa compreensão finita.” Contudo, apesar das dificuldades de expressão, a escritora fazia ressalvas ao hebraico e ao sânscrito “onde cada letra tem sua significação oculta e sua razão de ser; onde é uma causa e também o efeito de uma causa precedente”. Ela explicava que a combinação das letras nesses alfabetos produzia muitas vezes “efeitos mágicos”.

Ação da palavra

Alef, a primeira letra do alfabeto hebraico
Sobre a mágica das palavras e sua influência na existência das pessoas, o escritor francês Paul Christian (1811-1877) escreveu: “Pronunciar uma palavra é evocar um pensamento e fazê-lo presente; o poder magnético da palavra humana é o começo de todas as manifestações no Mundo Oculto. Pronunciar um nome é não somente definir um Ser (uma Entidade), mas submetê-lo à influência desse nome e condená-lo, por força da emissão da palavra (Verbum), a sofrer a ação de um ou mais poderes ocultos. As coisas são, para cada um de nós, o que a palavra determina quando as nomeamos. A palavra (Verbum) ou a linguagem de cada homem é, sem que disso ele tenha consciência, uma benção ou uma maldição; e é por isso que a nossa atual ignorância acerca das propriedades da matéria nos é tantas vezes fatal. Sim, os nomes (e as palavras), são benéficos ou maléficos: em certo sentido, são nocivos ou salutares, conforme as influências ocultas que a Sabedoria suprema associou a seus elementos, isto é, às letras que compõem e aos números que correspondem a estas letras.” 

O texto acima está contido no livro “Historie de la Magie”, e foi escrito em 1870. Christian que foi educado para ser sacerdote tornou-se jornalista e escritor, dedicando-se a assuntos esotéricos.