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sábado, 29 de dezembro de 2012

O Navegante das Almas

por Sheila Sacks

 











Quem é o anjo que me ampara,

em que tempo e galáxia mantém-se como pilar,

coluna do mundo.


Sobre os seus ombros recaem os pecados

incontáveis,

das gerações insensatas

... Tempestades de fogo!


Sobre a sua face escorrem tormentas,

indagações,

a agonia dos seres fugazes

... Tempestades de sal!


Deixe-me romper os mares

e cingir-me aos seus pesares,

estar ao seu lado em meio aos trovões

e trovoadas.


Ah! Meu justo, meu anjo audaz,

dê-me um dízimo, que seja,

do fardo a mim reservado.











Tu guardas calado o som da tempestade,

vela sentinela a cabeceira do vulcão.

Mas são seus o desespero e a dor

dos que se debatem nas águas escuras

das causas perdidas,

insensatas.


Seus também o braço e o regaço

dos que se lançam oceano afora,

à conquista dos mistérios e tesouros

do imponderável.


Velas ao vento,

veleiros ao sabor da tempestade,

o navegante das almas navega

o lado oculto dos mares.
















Ah! Meu anjo, meu justo,

faça-me tocar o véu da madrugada,

irromper de patins, algodão doce nas mãos,

a avenida estrelada de sua pousada.


Vou cobrir a minha cabeça

e repetir em cadência

a mais antiga das preces.

No templo ensolarado

o que tem mais valor senão meus salmos,

cânticos e rezas,

ditos imemoriais.


Vou me chegar qual criança acanhada

cheia de dedos e medos,

os quais ao primeiro afago,

se desfazem.

Junto ao meu justo será como voltar à infância,

à casa dos pais:

aninhado, acarinhado,

bem-aventurado,

estarei enfim são e salvo

... Aleluia!

dos dragões das tempestades.