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quarta-feira, 29 de junho de 2016

Brasil tem recorde de assassinatos de ambientalistas

Um informe da organização não governamental Global Witness divulgado em 20 de junho aponta o Brasil como o pais mais perigoso para os ativistas ambientais com um saldo de 50 mortes ocorridas em 2015. A América Latina continua sendo a região onde mais se assassina ecologistas, com 122 mortes. O estudo avalia que 2015 foi o ano mais sangrento deste século, com um total de 185 mortes, 69 a mais que em 2014.

O jornal EL Pais repercutiu o tema analisando o relatório da ONG que concluiu que as principais causas dos conflitos que contribuíram para a morte dos ambientalistas foram a mineração (42), a agroindústria (20), o desmatamento (15), as hidrelétricas (15) e a caça ilegal (13). Cerca de 40% dos mortos são indígenas.

Na lista dos 16 países investigados, as Filipinas contabilizam 33 mortes, vindo em seguida a Colômbia (26), Peru (12) e Nicarágua (12). Segundo Felipe Sánchez, que assina a reportagem do El Pais, “a madeira ilegal do Brasil representa 25% dos mercados mundiais.” O jornalista cita o assassinato de Raimundo dos Santos Rodrigues, marido da ativista Maria da Conceição Chaves Lima, do Instituto Chico Mendes, que levou 12 tiros em uma emboscada no ano passado. O casal combatia o desmatamento na Amazônia e hoje ela vive longe da família e da comunidade em um programa de proteção a vítimas e testemunhas ameaçadas.

Monitorando desde 2010 os casos de violência contra ambientalistas, a Global Witness registrou nesses cinco anos 735 assassinatos, sendo 77% deles na América Latina. O Brasil é o recordista com 207 mortes, seguido por Honduras (109) e Colômbia (105). Os três países somam 56% de todos os crimes no período. A ONG, com sedes em Londres, Washington e Califórnia, atua em prol dos direitos humanos e ambientais, denunciando abusos e violações, apesar das dificuldades na obtenção de informações oficiais.

Crimes ambientais movimentam até 258 bilhões de dólares

Em outro relatório, esse publicado em 4 de junho pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em parceria com a Interpol, apurou-se que os crimes ambientais em 2015 movimentaram de 98 a 258 bilhões de dólares, 26 % a mais do que 2014. Um crescimento alarmante para o secretário-geral da Interpol Jürgen Stock. Na última década, o crime ambiental tem subido de 5% a 7% ao ano, o que corresponde a duas a três vezes mais que a economia global.

O documento afirma que devido a legislações fracas e órgãos de segurança subfinanciados as redes criminosas internacionais e rebeldes armados estão lucrando com um comércio que provoca conflitos, devasta ecossistemas e ameaça espécies em extinção. O crime ambiental é o quarto maior negócio criminoso do mundo, depois do tráfico de drogas, falsificação e tráfico de seres humanos. Supera o comércio ilegal de armas de pequeno porte avaliado em cerca de 3 bilhões de dólares. O relatório especifica também os vários ilícitos ambientais praticados pelas organizações criminosas, entre eles o comércio ilegal de espécies, os crimes corporativos no setor florestal, a exploração e venda ilegal de ouro e outros minérios, a pesca ilegal, o tráfico de lixo tóxico e a fraude no crédito de carbono.


Em tempo: Enquanto a grande mídia e as redes sociais passaram ao largo do tema, a Agência Brasil, da Empresa Brasileira de Comunicação, reportou de forma exemplar o informe da Global Witness, em matéria assinada pela repórter Maiana Diniz.

Reportagens consultadas:

Brasil lidera ranking de mortes de ambientalistas em 2015, diz ONG (Agência Brasil, em 20.06.2016)

Assassinato de ecologistas bate recorde e Brasil é o país mais perigoso da região (El Pais, em 20.08.2016)

Valor movimentado por crimes ambientais sobe 26% em 2015, para até US$258 bi, diz PNUMA (ONU Brasil, em 07.06.2016),

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Terroristas usam caça-talentos para recrutar militantes

Por Sheila Sacks

publicado no "Observatório da Imprensa"

Em maio, uma reportagem da agência espanhola EFE, em sua edição portuguesa, revelou que um marroquino residente na Espanha e que trabalha normalmente há onze anos em uma empresa como caça- talentos, também se empenhava em recrutar possíveis terroristas jihadistas. Para o ministro de Interior, Jorge Fernando Díaz, a descoberta mostra uma mudança de perfil dos supostos aliciadores que necessariamente não precisam estar engajados à ideologia do islamismo radical (‘Espanha adverte de uma mudança no perfil no recrutador jihadista’, em 16.05.2016).

A possibilidade dos recrutadores serem cidadãos comuns, profissionais integrados na sociedade, um vizinho ou colega de trabalho, é mais um dado que assusta as autoridades e os serviços de Inteligência, principalmente os da Espanha. O país já convive com o nível 4 de alerta (alto risco de atentado terrorista, um grau abaixo do nível máximo), desde junho do ano passado, a partir dos atentados em Paris, Tunísia e Kuwait, ocorridos simultaneamente naquele mês, com mais de 60 mortos e 200 feridos (‘Ataques espalham medo e mortes em três continentes’, na BBC Brasil, em 26.06.2015).

O surgimento de novos perfis de recrutadores que não correspondem aos padrões convencionais de militantes da causa jihadista e a crescente rapidez no processo de aliciamento de jovens – inclusive de mulheres não muçulmanas para se juntar ao Estado Islâmico (Daesh) como escravas sexuais – já demandam a adoção de diferentes instrumentos para enfrentar tal realidade, como o registro aéreo de passageiros (Passanger Name Record – PNR). A medida foi aprovada pelo Parlamento Europeu em abril deste ano e obriga as empresas aéreas a repassar os dados dos passageiros que chegam e partem da Europa aos governos dos 27 países-membros da União Europeia. Essa regra também vale para os voos internos e deverá estar operacionalizada em dois anos.

Desde o ano passado, os órgãos de segurança da Espanha cumprindo o protocolo do nível 4 de alerta mantêm proteção especial nos aeroportos, nas principais estações de trens e metrô, nas centrais energéticas e em locais de maior concentração de pessoas. Desde então, foram realizadas 46 operações antiterroristas com mais de 130 detidos.

França vai investigar seus cidadãos

Em outra reportagem, a agência EFE informa que a França vai realizar investigações administrativas, provavelmente sigilosas, sobre cidadãos que ocupam cargos “sensíveis” em profissões regulamentadas para detectar a possível presença de sinais de radicalização ou de fundamentalismo islâmico. A iniciativa faz parte de um pacote de medidas para o combate ao terrorismo anunciado em maio pelo primeiro-ministro francês Manuel Valls. O governo também pretende criar uma rede de centros de reinserção para realizar o tratamento psicológico de jovens identificados com o radicalismo e suscetíveis ao jihadismo (‘França vai duplicar centros para tratar pessoas que se radicalizaram’, em 09.05.2016).

Segundo Valls, que acredita que haverá novos ataques na França, o mundo vive a “era do hiperterrorismo” e nos últimos três anos a segurança francesa conseguiu impedir a consecução de pelo menos 15 atentados no país. Em fevereiro, na 52ª edição da Conferência de Segurança de Munique, ele foi categórico: ”Vai haver ataques terroristas. Ataques em larga escala. É uma certeza.” O premiê francês também denunciou o que chamou de “pseudomessianismo religioso e o uso do terror em massa” como componentes explosivos do “hiperterrorismo que aí está” (Jornal de Notícias, em 13.02.2016).