Por Sheila Sacks
publicado no "Observatório da Imprensa"
Em maio, uma reportagem da agência espanhola
EFE, em sua edição portuguesa, revelou que um marroquino residente na Espanha e
que trabalha normalmente há onze anos em uma empresa como caça- talentos, também
se empenhava em recrutar possíveis terroristas jihadistas. Para o ministro de
Interior, Jorge Fernando Díaz, a descoberta mostra uma mudança de perfil dos
supostos aliciadores que necessariamente não precisam estar engajados à
ideologia do islamismo radical (‘Espanha adverte de uma mudança no perfil no
recrutador jihadista’, em 16.05.2016).
A possibilidade dos recrutadores serem
cidadãos comuns, profissionais integrados na sociedade, um vizinho ou colega de
trabalho, é mais um dado que assusta as autoridades e os serviços de
Inteligência, principalmente os da Espanha. O país já convive com o nível 4 de
alerta (alto risco de atentado terrorista, um grau abaixo do nível máximo),
desde junho do ano passado, a partir dos atentados em Paris, Tunísia e Kuwait,
ocorridos simultaneamente naquele mês, com mais de 60 mortos e 200 feridos
(‘Ataques espalham medo e mortes em três continentes’, na BBC Brasil, em
26.06.2015).
O surgimento de novos perfis de recrutadores
que não correspondem aos padrões convencionais de militantes da causa jihadista
e a crescente rapidez no processo de aliciamento de jovens – inclusive de
mulheres não muçulmanas para se juntar ao Estado Islâmico (Daesh) como escravas
sexuais – já demandam a adoção de diferentes instrumentos para enfrentar tal
realidade, como o registro aéreo de passageiros (Passanger Name Record – PNR).
A medida foi aprovada pelo Parlamento Europeu em abril deste ano e obriga as
empresas aéreas a repassar os dados dos passageiros que chegam e partem da
Europa aos governos dos 27 países-membros da União Europeia. Essa regra também
vale para os voos internos e deverá estar operacionalizada em dois anos.
Desde o ano passado, os órgãos de segurança da
Espanha cumprindo o protocolo do nível 4 de alerta mantêm proteção especial nos
aeroportos, nas principais estações de trens e metrô, nas centrais energéticas
e em locais de maior concentração de pessoas. Desde então, foram realizadas 46
operações antiterroristas com mais de 130 detidos.
França vai investigar seus cidadãos
Em outra reportagem, a agência EFE informa que
a França vai realizar investigações administrativas, provavelmente sigilosas,
sobre cidadãos que ocupam cargos “sensíveis” em profissões regulamentadas para
detectar a possível presença de sinais de radicalização ou de fundamentalismo
islâmico. A iniciativa faz parte de um pacote de medidas para o combate ao
terrorismo anunciado em maio pelo primeiro-ministro francês Manuel Valls. O
governo também pretende criar uma rede de centros de reinserção para realizar o
tratamento psicológico de jovens identificados com o radicalismo e suscetíveis
ao jihadismo (‘França vai duplicar centros para tratar pessoas que se
radicalizaram’, em 09.05.2016).
Segundo Valls, que acredita que haverá novos
ataques na França, o mundo vive a “era do hiperterrorismo” e nos últimos três
anos a segurança francesa conseguiu impedir a consecução de pelo menos 15
atentados no país. Em fevereiro, na 52ª edição da Conferência de Segurança de
Munique, ele foi categórico: ”Vai haver ataques terroristas. Ataques em larga
escala. É uma certeza.” O premiê francês também denunciou o que chamou de “pseudomessianismo
religioso e o uso do terror em massa” como componentes explosivos do
“hiperterrorismo que aí está” (Jornal de Notícias, em 13.02.2016).