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quarta-feira, 1 de junho de 2016

Terroristas usam caça-talentos para recrutar militantes

Por Sheila Sacks

publicado no "Observatório da Imprensa"

Em maio, uma reportagem da agência espanhola EFE, em sua edição portuguesa, revelou que um marroquino residente na Espanha e que trabalha normalmente há onze anos em uma empresa como caça- talentos, também se empenhava em recrutar possíveis terroristas jihadistas. Para o ministro de Interior, Jorge Fernando Díaz, a descoberta mostra uma mudança de perfil dos supostos aliciadores que necessariamente não precisam estar engajados à ideologia do islamismo radical (‘Espanha adverte de uma mudança no perfil no recrutador jihadista’, em 16.05.2016).

A possibilidade dos recrutadores serem cidadãos comuns, profissionais integrados na sociedade, um vizinho ou colega de trabalho, é mais um dado que assusta as autoridades e os serviços de Inteligência, principalmente os da Espanha. O país já convive com o nível 4 de alerta (alto risco de atentado terrorista, um grau abaixo do nível máximo), desde junho do ano passado, a partir dos atentados em Paris, Tunísia e Kuwait, ocorridos simultaneamente naquele mês, com mais de 60 mortos e 200 feridos (‘Ataques espalham medo e mortes em três continentes’, na BBC Brasil, em 26.06.2015).

O surgimento de novos perfis de recrutadores que não correspondem aos padrões convencionais de militantes da causa jihadista e a crescente rapidez no processo de aliciamento de jovens – inclusive de mulheres não muçulmanas para se juntar ao Estado Islâmico (Daesh) como escravas sexuais – já demandam a adoção de diferentes instrumentos para enfrentar tal realidade, como o registro aéreo de passageiros (Passanger Name Record – PNR). A medida foi aprovada pelo Parlamento Europeu em abril deste ano e obriga as empresas aéreas a repassar os dados dos passageiros que chegam e partem da Europa aos governos dos 27 países-membros da União Europeia. Essa regra também vale para os voos internos e deverá estar operacionalizada em dois anos.

Desde o ano passado, os órgãos de segurança da Espanha cumprindo o protocolo do nível 4 de alerta mantêm proteção especial nos aeroportos, nas principais estações de trens e metrô, nas centrais energéticas e em locais de maior concentração de pessoas. Desde então, foram realizadas 46 operações antiterroristas com mais de 130 detidos.

França vai investigar seus cidadãos

Em outra reportagem, a agência EFE informa que a França vai realizar investigações administrativas, provavelmente sigilosas, sobre cidadãos que ocupam cargos “sensíveis” em profissões regulamentadas para detectar a possível presença de sinais de radicalização ou de fundamentalismo islâmico. A iniciativa faz parte de um pacote de medidas para o combate ao terrorismo anunciado em maio pelo primeiro-ministro francês Manuel Valls. O governo também pretende criar uma rede de centros de reinserção para realizar o tratamento psicológico de jovens identificados com o radicalismo e suscetíveis ao jihadismo (‘França vai duplicar centros para tratar pessoas que se radicalizaram’, em 09.05.2016).

Segundo Valls, que acredita que haverá novos ataques na França, o mundo vive a “era do hiperterrorismo” e nos últimos três anos a segurança francesa conseguiu impedir a consecução de pelo menos 15 atentados no país. Em fevereiro, na 52ª edição da Conferência de Segurança de Munique, ele foi categórico: ”Vai haver ataques terroristas. Ataques em larga escala. É uma certeza.” O premiê francês também denunciou o que chamou de “pseudomessianismo religioso e o uso do terror em massa” como componentes explosivos do “hiperterrorismo que aí está” (Jornal de Notícias, em 13.02.2016).