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domingo, 27 de janeiro de 2019

Aos que escaparam de Auschwitz


 / Sheila Sacks /


Mais de sete décadas se passaram desde a libertação do maior campo de extermínio nazista. Pesquisadores ainda se debruçam para entender de que forma um governo com apoio popular se converteu na maior máquina aniquiladora de seres humanos da história.

Celebrado desde 2005, o Dia Internacional do Holocausto instituído pela ONU (Organização das Nações Unidas) relembra anualmente, em 27 de janeiro, os seis milhões de judeus assassinados pelo regime nazista da Alemanha, durante o período da 2ª Grande Guerra (1939-1945).

A data marca a libertação do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, na Polônia, pelas tropas soviéticas em  1945. Na ocasião, foram encontrados 7.650 sobreviventes em condições deploráveis. Dias antes, diante da ofensiva dos aliados, 58 mil prisioneiros foram retirados do campo pelos soldados nazistas e obrigados a marchar em direção à Alemanha, sob um frio rigoroso e sem alimentação, no que ficou conhecido como a “marcha da morte”.

Dados do “Memorial and Museum Auschiwitz-Bierkenau”, museu que funciona no local desde 1947, atestam que 802 prisioneiros tentaram escapar do campo – 757 homens e 45 mulheres - , mas que apenas 144 obtiveram êxito. Um efetivo de 7 mil homens da famigerada SS (Schutzataffel – Tropa de Proteção) mantinha vigilância permanente, aplicando tortura e métodos cruéis de aniquilamento, e desse total menos de 800 foram posteriormente julgados por crimes de guerra.

Segundo a historiadora e socióloga alemã Tanja Von Fransecky, outros 764 judeus conseguiram escapar da morte no Holocausto (Shoah, do hebraico, calamidade ou catástrofe) pulando dos trens que os levavam para os campos de extermínio. Pesquisadora do Arquivo Nacional da Alemanha, na seção sobre “Perseguições aos judeus”, Fransecky é autora do livro “Escapees - The History Of Jews Who Fled Nazi Deportation Trains In France, Belgium, And The Netherlands” (2014) que conta a saga dessas pessoas, de idades variadas, que imbuídas de coragem ou tomadas pelo desespero se arriscaram e deram o seu “salto para liberdade”.

Indústria da morte

Localizado a 70 quilômetros da cidade de Cracóvia, no sul da Polônia, o complexo de Auschwitz foi construído pelos nazistas em 1940 inicialmente para receber presos políticos do exército polonês, depois membros da resistência, intelectuais, homossexuais, ciganos e judeus (Auschwitz I).

Em 1941, foi construído um campo maior, com espaço para 100 mil pessoas, na região de Birkenau, a 3 quilômetros do primeiro campo. Mas este não seria um campo de trabalho e sim de extermínio. Foram instaladas cinco câmaras de gás e fornos crematórios, cada um deles com capacidade para 2.500 prisioneiros (Auschwitz II).

Um terceiro campo (Auschwitz-Monowitz) serviu para abrigar uma fábrica da indústria IG Farben, de produtos químicos. O pesticida Zyklon B, do qual a fábrica detinha a patente, foi usado nas câmaras de gás para o assassínio massivo de judeus. O complexo ainda incorporava outros 44 subcampos.

A estimativa é que foram exterminados 1,1 milhão de judeus em Auschwitz, a partir de 1942, entre homens e mulheres adultos, crianças, jovens e idosos. De acordo com o “United States Holocaust Memorial Museum”, em Whashington, a matança também se estendeu a 74 mil poloneses, 21 mil ciganos, 15 mil prisioneiros da União Soviética e 15 mil de outras nações.

Solução Final

Há mais de 25 anos pesquisando, escrevendo e realizando documentários sobre o tema, Rees acredita que existe “uma parte muito sombria na humanidade” e cita o historiador americano Christopher Browning, também um estudioso do Holocausto: “É muito significativo que nunca na história um genocídio tenha fracassado devido à falta de pessoas dispostas a assassinar.”

O historiador inglês de 62 anos afirma que uma das pessoas mais importantes que conheceu ao longo da vida foi justamente um sonderkommando (prisioneiros que atuavam nos campos de concentração a comando dos nazistas) que lhe disse esta frase: “Jamais podemos saber do que os seres humanos são capazes.”

Em 2005, Rees escreveu, produziu e dirigiu para a rede britânica de rádio e TV BBC a série “Auschwitz:Os Nazistas e a Solução Final”, com 6 episódios. Ele entrevistou dezenas de ex-prisioneiros e seus carrascos em um trabalho que durou 3 anos e que também resultou em um livro de igual título.

Na ocasião, falando ao jornal espanhol “El País”, Rees revelou o motivo que o levou a dedicar a maior parte de sua vida a pesquisar sobre o Holocausto. Foi a partir de uma resposta dada pelo secretário pessoal de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda do regime nazista.

Homem encantador e muito inteligente, segundo Rees, Wilfred Von Owen foi entrevistado pelo historiador. “Ele me disse que a melhor palavra que lhe ocorria para definir o que foi a sua experiência no Terceiro Reich seria ‘paraíso’.” Owen faleceu em 2008, aos 96 anos, em Buenos Aires.

Diante dessa resposta, Rees se aprofundou ainda mais em seus estudos sobre esse período de trevas para entender de que forma um governo com apoio popular se converteu na maior máquina aniquiladora de seres humanos da história.

Perseguições e fugas

No início do século 20, as perseguições violentas aos judeus se concentravam na Rússia. Vários pogroms (palavra de origem russa que significa ‘causar estragos’, ‘destruir com violência’) ocorreram antes da 1ª Grande Guerra como os das cidades de Kishinev (1903) e Odessa (1905), com centenas de casas e lojas destruídas e milhares de judeus mortos ou feridos. Ao todo, mais de 2 milhões de judeus fugiram da Rússia entre 1880 e 1914.

Com a ascensão de Hitler a chanceler da Alemanha, em janeiro de 1933 (no ano seguinte se tornaria o führer do regime nazista), 37 mil judeus deixaram o país, 7% dos 520 mil que lá viviam. A maioria se deslocando para a França e a Holanda.

Ainda em 1933 foi implementado o primeiro campo de concentração na Bavieira, em uma fábrica desativada na cidade de Dachau, a 15 quilômetros de Munique. Inicialmente para confinar políticos e intelectuais comunistas e socialistas.

Cinco anos depois, com os judeus alemães já sofrendo os mais variados tipos de pressão social, tem início na Alemanha um dos pogroms mais brutais da história. A Noite dos Cristais (Kristallnacht) ou a Noite dos Vidros Quebrados, iniciou-se na noite de 9 de novembro de 1938, durou dois dias e teve um saldo aterrorizante: 250 sinagogas queimadas, 7 mil estabelecimentos comerciais judaicos destruídos, cemitérios, hospitais, escolas e casas saqueadas, 30 mil judeus presos e dezenas de mortos. Tudo acontecendo ante a total indiferença das forças policiais.

Exposição em Madri (2018)

Foi o terrível prenúncio da tragédia avassaladora, sem precedentes na história moderna, que iria desabar sobre os judeus da Europa, mudando de forma cabal e dramática a percepção humana sobre o que se entende por “mal”. Porque, como bem alerta a filósofa americana Susan Neiman ("O Mal no Pensamento Moderno"), “o que aconteceu em Auschwitz representa tudo que queremos dizer hoje em dia quando usamos a palavra mal: atos absolutamente daninhos que não deixam espaço para justificativa ou explicação”.


segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Leitura de início de ano

 Sheila Sacks /
A democracia prima pela liberdade de ação e de expressão, porém se cerca de salvaguardas. 

Na democracia brasileira, manifestações de cunho racista e preconceituoso, envolvendo raça, cor, etnia religião ou procedência nacional,  são entendidas como crimes inafiançáveis e imprescritíveis. 

Nesse início de 2019 vale ler (ou reler) a Lei 7.716, de 1989 (com as alterações registradas pela Lei 9.459, de 1997), e o artigo 140 do Código Penal. Lembrando que só existem opções quando se tem informação.


Dia Nacional do Leitor (7 de janeiro)

O mais recente livro do novaiorquino Jaron Lanier, pioneiro da internet e da realidade virtual, põe em xeque o uso das redes sociais. 

“Dez argumentos para deletar agora as suas redes sociais” vai de encontro ao pensamento de outros ícones do mundo virtual que abandonaram as redes  como o colunista americano de tecnologia Walt Mossberg (‘as redes sociais deixam a sociedade mais vulnerável’), o cofundador da Apple, Steve Wozniak (‘as redes transformam usuários em produtos’) e o ex-executivo do Vale do Silício, Chamath Palihapitiya (‘as redes sociais estão levando as sociedades à desinformação e à falsidade’).

Circulação de fake news, vazamento de dados pessoais, polarização de temas (ou ‘ativismo de sofá’, segundo Bauman), inversão de valores e o uso deletério do tempo são algumas causas apontadas. Lanier, que não tem conta em redes sociais, deixa claro o motivo: “Evito as redes sociais pela mesma razão que evito as drogas.”

Mas, para contatos profissionais e desenvolvimento de trabalhos, determinadas redes têm se mostrado eficazes, e no campo da administração pública governos se utilizam com sucesso das redes para veicularem informações, explicações e as políticas adotadas.

Assim, o uso consciente e parcimonioso das redes ainda é a alternativa mais viável para quem não se sente capaz de adotar soluções radicais.


Quem vive sem ele?

O mais recente balanço da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) aponta que o Brasil tem 231,8 milhões de linhas de celular, mais que o número total de sua população estimada em 208,5 milhões de habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).  

O país é o quarto em número de linhas de celular, atrás da China, com 883,3 milhões, Índia (670,6 milhões) e os Estados Unidos (285,6 milhões). Cabe ainda ao Brasil o título de maior produtor de lixo eletrônico da América Latina (1,5 mil toneladas anuais) e o 7º maior do mundo, de acordo com o estudo Global E-Waste monitor, realizado pela ONU.

Em 2018, o Brasil ficou no topo do ranking dos países que mais recebem ligações de spam. Cerca de 37,5%. Seguido pela Índia (22,3%) e Chile (21,9).

Quanto ao tempo despendido no universo online, somente os habitantes da Tailândia e das Filipinas ultrapassam os brasileiros no uso diário da internet, que por aqui é acessada 70% via celular. Nos dois países asiáticos, a média de tempo online varia entre 9h24m e 9h38m, e no Brasil está em torno de 9h14m. A pesquisa é dos sites Hootsuite e We are Social.

E pensar que até 1984, quando o primeiro telefone móvel chegou ao mercado, a humanidade caminhava sem essa maquininha....


No reino do café

Maior produtor e exportador mundial de café do mundo, o Brasil também já desponta como o maior consumidor global da bebida. 

O consumo médio em 2018 alcançou 839 xícaras por pessoa/ano, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), totalizando uma demanda interna de 23,9 milhões de sacas de café (os Estados Unidos é o líder, com um consumo anual de 27 milhões de sacas).

No total, o país exportou este ano 61,7 milhões de sacas (60 kg), o que rendeu 25 bilhões de reais e gerou 8 milhões de empregos na cadeia produtiva. EUA, Alemanha e Itália se mantiveram, respectivamente, como os três principais destinos do café brasileiro.

O Brasil também é o maior fornecedor mundial de cafés especiais com cerca de 9,7 milhões de sacas anuais exportadas para os Estados Unidos, países da Europa e Japão. Em novembro, um lote de café especial brasileiro foi negociado a 19 mil dólares por saca, o equivalente a 315 dólares por quilo.

O estado de Minas Gerais é o maior produtor de café, representando 53% de produção nacional, com 30,7 milhões de sacas anuais. São 4.500 propriedades de cultivo de café em 55 municípios do cerrado mineiro. Em seguida vem o estado do Espírito Santo (12,81 milhões) e São Paulo (6,07 milhões). Bahia Rondônia e Paraná têm uma produção menor.

Mais de 50 países cultivam o café e a produção mundial gira em torno de 164 milhões de sacas por ano. O Vietnam é o segundo maior produtor mundial de café, com 30 milhões de sacas anuais. A Colômbia produz 14 milhões de sacas. A cada ano, as pessoas ao redor do mundo bebem mais de 500 bilhões de xícaras de café, e as fazendas de café oferecem sustento para mais de 25 milhões de pessoas.

Em Santos, no litoral paulista, o Museu do Café (onde funcionavam a Bolsa e o Pregão do Café, no início do século passado) é o monumento vivo da história do ciclo do café, um grão conhecido no século 19 como “ouro negro” e que mudou o cenário econômico do país. O dia mundial do café é comemorado em 14 de abril.


Recorde de visitantes

O Parque Nacional de Iguaçu, onde estão as Cataratas de Foz de Iguaçu, completou 80 anos em 10 de janeiro. 

Considerado Patrimônio Mundial Natural pela Unesco, em 1986, o parque, na atual temporada de 2018, bateu recorde de visitantes com 1,8 milhão de ingressos vendidos. 

Apontado pela revista americana Forbes um dos 18 melhores destinos do mundo para serem visitados em 2018, as Cataratas também é uma das sete novas maravilhas da natureza. Pesquisa mundial realizada na internet pela Fundação “New 7 Wonders”, com sede em Zurique, proclamou em 2012 as Cataratas, e também a Floresta Amazônica, como  “News 7 wonders of Nature”. 

Um feito que fez do Brasil o único país a ter duas maravilhas entre as sete, a saber: a ilha de Jeju, na Coreia do Sul, o rio subterrâneo de Puerto Princesa, nas Filipinas, a baía de Halong, no Vietnã, o Parque Natural de Komodo, na Indonésia, e a montanha da Mesa, na África do Sul.

As Cataratas do Iguaçu foram incluídas na lista dos 18 melhores destinos do mundo para serem visitados em 2018, pelo Guia de Viagem da Forbes, a mais antiga revista de negócios dos Estados Unidos. 

Em 2012, a Fundação “New 7 Wonders”, com sede em Zurique, promoveu uma pesquisa mundial pela internet que durou quatro anos para escolher as 7 maravilhas da natureza (News 7 wonders of Nature). As Cataratas foi uma das escolhidas, assim como a Amazônia, o que fez do Brasil o único país a ter duas maravilhas entre as sete.

As demais maravilhas mais votadas foram: a ilha de Jeju, na Coreia do Sul, o rio subterrâneo de Puerto Princesa, nas Filipinas, a baía de Halong, no Vietnã, o Parque Natural de Komodo, na Indonésia, e a montanha da Mesa, na África do Sul.


Cidade dos Jacarés  

Mais de 5 mil jacarés do papo amarelo vivem na zona Oeste do Rio de Janeiro, no complexo lagunar de Jacarepaguá, uma área de 280 Km2 que vai do bairro de Jacarepaguá aos bairros da Barra da Tijuca e Recreio.


Ambientalistas pedem que os governos estadual e federal criem a cidade dos jacarés, um parque ecológico para preservar esses répteis que atualmente são vítimas da expansão imobiliária desordenada.

Não é raro encontrar jacarés em vias públicas, praias, próximos a shoppings e até dentro de piscinas em áreas residenciais. O Corpo de Bombeiros que faz o resgate dos animais tem alertado para as pessoas não tirarem selfies perto de jacarés, nem darem comida, tocar neles ou atiraram pedras.

Os jacarés e seus primos crocodilos e aligátores surgiram na Terra há 200 milhões de anos. Contemporâneos dos grandes dinossauros, medem em média 2 metros e vivem 50 anos. É uma espécie característica da Mata Atlântica.


Sua preservação passa pela criação de um habitat ecológico que os livrem de morrer em canais poluídos, com os estômagos cheios de tampinhas de alumínio, pedaços de garrafas pet, sacolas plásticas e outros tipos de materiais lançados irresponsavelmente nos mananciais.