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quinta-feira, 29 de abril de 2021

Judeus no Irã: vidas em segredo


/ Com menos de 10 mil pessoas, a comunidade judaica naquele país vive apartada de temas atuais e históricos dos judeus da Diáspora como o estado de Israel e o holocausto /

Sheila Sacks /

Dois depoimentos recentes ajudam a desvendar com um pouco mais de nitidez o ambíguo comportamento da comunidade judaica no Irã, país muçulmano de maioria xiita, com uma população aproximada de 82 milhões de habitantes. Os textos foram postados na Internet nas proximidades da celebração de Purim, que em 2021 ocorreu em 25/26 de fevereiro. A festa de Purim (da palavra hebraica pur, que significa sorteio) comemora a salvação dos judeus da Pérsia pela ação da rainha Ester, há 450 antes da Era Comum (AEC).

De nacionalidades diferentes, os autores vivem hoje nos Estados Unidos e no Canadá, e apesar das perspectivas e focos diferentes em suas abordagens, ambos mantêm em comum a observação crítica acerca do comportamento social dos judeus iranianos, bastante arredio, desconfiado e distante das preocupações e do ativismo coletivo das comunidades judaicas de outros países.

Purim entre quatro paredes

Nascida na antiga cidade de Shiraz, no sudoeste do Irã, Aylin Sedigh emigrou para os Estado Unidos aos doze anos, no final da década de 1990. Ela mantém um blog na plataforma de notícias The Times of Israel onde escreve basicamente sobre suas lembranças de infância naquele país e o cotidiano dos judeus originários de países muçulmanos, os chamados “mizrahim” (orientais).


Relembrando Purim, Sedigh conta que durante a festividade sua família tinha o cuidado de manter as janelas fechadas para que os sons e a visão da celebração não alcançassem os ouvidos e olhares curiosos dos vizinhos. Aos dez anos, visitou o mausoléu que abriga os túmulos da rainha Ester e de seu primo Mordechai, na cidade de Hamadan (ou Hamedan, antiga Shushan, citada no relato da ‘Meguilá Ester’). À época, o mausoléu já tinha sido reformado, visto que até a década de 1970 as tumbas ficavam escondidas em um local de difícil acesso, em meio a becos estreitos e tortuosos (a reforma foi feita pelo monarca Xá Reza Pahlavi, deposto em1979, para a celebração dos 2.500 anos da monarquia iraniana. Durante a obra foi encontrado um rolo da Torá, de 300 anos).

De acordo com Sedigh, o cemitério judeu de Hamadan foi durante séculos o local de peregrinação mais importante para os judeus iranianos,  e histórias sobre os milagres da rainha Ester eram ouvidas por toda a parte. Até muçulmanos, cristãos e mulheres da seita bahá’í visitavam o túmulo, orando à rainha por milagres na concepção de filhos, afirma a autora.

Durante o período escolar, ela assinala que procurava não chamar a atenção para a sua pessoa e sua crença, e que o uso em público  por todas as meninas do véu cobrindo a cabeça a ajudava se manter despercebida.

- Guardei minhas crenças para mim mesmo enquanto estava na escola. A cobertura tradicional para a cabeça era um requisito para todas as mulheres em público e os homens não usavam seus yarmulkes (solidéu ou kipá, em hebraico) nas ruas.

Ritual das seis velas

Outra lembrança dos seus tempos no Irã diz respeito a uma cerimônia anual na primavera quando o pai reunia a família e acendia seis velas, pedindo um minuto de silêncio, em memória dos judeus que morreram. Um ritual sem perguntas e sem explicações, segundo Sedigh. “Morei no Irã até os 12 anos e nunca ouvi falar de Holocausto”, confessa. “Fui saber sobre o Holocausto quando já residia nos Estados Unidos, ao assistir o filme ‘A Lista de Schindler’, de Spielberg”.


Mas, Sedigh também conta que observava o pai, todas as noites, mexendo no rádio para escolher a melhor frequência para escutar as notícias transmitidas por Israel na língua farsi (idioma persa). “No Irã dos clérigos muçulmanos (aiatolás), essa era a única maneira de obter notícias autênticas, diferentes das versões transmitidas pela rede de TV iraniana”, explica.

Ainda que guarde boas recordações de férias de verão desfrutadas em família nas areias e águas cristalinas do Mar Cáspio, a rotina não era fácil. “Crescendo no Irã, na década de 1980, a existência cotidiana era repleta de medo, ansiedade e incerteza. Havia ameaças de guerra mortal com o vizinho Iraque e escassez de alimentos, água e eletricidade”, relembra. “Mesmo na praia existia o risco de um carro da patrulha aparecer e aqueles que não estivessem vestidos conforme a lei islâmica serem punidos.”

Ambiente hostil

A iraniana Sedigh confessa que tem sentimentos confusos em relação ao país em que nasceu e lembra que milhares de judeus mizrahi foram forçados a abandonar seus lares “na escuridão da noite”, fugindo de um ambiente hostil e de risco, deixando tudo que possuíam para trás.

-Deixei o Irã no final de 1990.  É um país repleto de belezas naturais, com uma cultura maravilhosa e uma comida deliciosa. Mas também é um país que, após a revolução islâmica de 1979, mostrou um total desprezo para seus cidadãos judeus e para o estado de Israel.

Ainda assim, Sedigh admite que a cultura iraniana teve uma grande influência em seu desenvolvimento moral e social. Ela diz que a modéstia, a honra e a reputação ( ‘aberu’, na língua persa), é o bem mais valioso de uma garota persa, um princípio fundamental na tradição iraniana. “Mesmo depois que minha família emigrou para os Estados Unidos, fui criada em uma casa tradicional persa moldada pelo aberu. Isso criou uma cultura de respeito e nos ensinou a honrar nossos idosos.”

Mas, o grande exemplo e a mais importante heroína para as mulheres mizrahi, de acordo com Sedigh, é a rainha Ester, vista como uma judia persa forte e assertiva que certamente superou muitas barreiras. “A história de Purim se passa em Shushan, uma antiga cidade do Irã. Como tantos feriados judaicos, Purim é a celebração da sobrevivência dos judeus e, neste caso, foi uma judia, a rainha Ester, que salvou o povo judeu, graças ao seu ágil raciocínio e planos bem traçados”, assinala. Ela lembra que Esther foi instada por Mordechai a esconder sua identidade judia e se casar com um homem não judeu,  “algo que seria considerado tabu entre a comunidade judaica”.

- Dentro dos limites de uma cultura muito tradicional em que as mulheres eram encorajadas a ficar em segundo plano, a rainha Ester saiu das normas culturais com as quais foi criada para salvar seu povo,conclui.

Viagem ao Irã

Vivendo no Canadá, o americano Dan Brotman é atualmente diretor executivo da Federação Judaica da cidade de Windsor, em Ontário. Em artigo publicado no site do jornal South African Jewish Report (25/2), ele conta sua visita ao Irã, ocorrida há dois anos, quando trabalhava em organizações judaicas na África do Sul. Brotman passou dez dias viajando pelo país em uma excursão de turismo e assinala que até a Revolução Islâmica viviam no Irã cerca de 100 mil judeus.

Apesar da agenda lotada de passeios a pontos turísticos e históricos, como por exemplo, a visita ao túmulo do rei Ciro, o grande, que libertou os judeus do cativeiro babilônico em 538 AEC, ele conseguiu que o guia muçulmano o ajudasse a encontrar o endereço de uma sinagoga. Era uma sexta-feira e Brotman estava na cidade de Isfahan, a 340 quilômetros de Teerã. “Ao pôr do sol, eu e Mohammad caminhamos pelas ruas em busca do edifício onde estaria instalada a sinagoga Mullah Jacob”, relata. Coincidentemente, ao pedirem informações a um garoto que passava na rua, o menino respondeu que estava indo para a sinagoga. “Sigam-me, estou indo para lá, agora, para rezar”, disse.


Brotman chegou à sinagoga e deixou os sapatos na entrada, seguindo o costume local. “Fui inicialmente recebido com olhares de poucos amigos, já que os estrangeiros devem obter permissão oficial do governo antes de visitar qualquer instituição judaica.” Ele encontrou um jovem que falava inglês e ambos conversaram sobre a situação dos judeus no Irã. Brotman também percebeu que a grande estrela de Davi que ficava do lado de fora da sinagoga, símbolo do judaísmo e do estado de Israel, estava coberta.

Autorização para visitas

Devido a sua insistência e a colaboração do guia, a empresa de turismo conseguiu obter a autorização para que Brotman pudesse visitar instituições judaicas, durante um dia, após o término da excursão. “Levei meu passaporte para os escritórios da Comunidade Judaica de Teerã, a organização oficial que representa os judeus iranianos. O administrador do escritório me entregou uma carta de apresentação em persa que eu deveria levar a cada instituição judaica que visitasse naquele dia.”

De posse do documento, Brotman iniciou seu roteiro. Inicialmente conversou com o presidente da comunidade judaica, que julgou muito reservado.  Conheceu um dos quatro restaurantes kasher da capital –  que não tinha identificação e nem mezuzá no umbral da porta -  e foi à sinagoga Abrishami, a maior do Irã, localizada na Rua Felestin (Palestina). Nesta rua ficava a embaixada de Israel e com o rompimento das relações diplomáticas o prédio foi entregue à Organização para a Libertação da Palestina e a via foi rebatizada. A rua Palestina também abriga um monumento  em homenagem à Intifada ( agitação, em árabe) como são conhecidos os movimentos  dos palestinos contra Israel.


Ao final do dia, antes de seu retorno à África do Sul, Brotman se encontrou com um membro da comunidade judaica, Arash Abaie, professor de cultura judaica em uma universidade de estudos das religiões, a “University of Religions and Denominations”, situada na cidade de Qom, a 140 quilômetros da capital. Brotman convidou o professor para falar sobre a coexistência judaica - muçulmana no Irã, a história persa-judaica e os locais de peregrinação judaica no Irã. Semanas depois, com o apoio dos centros judaicos de Joanesburgo e da Cidade do Cabo, Abaie foi à África do Sul para as palestras.

Sabendo que a tragédia do Holocausto não é ensinada nas escolas iranianas e é uma espécie de tema proibido para os judeus iranianos devido à posição negacionista dos aiatolás, Brotman levou Abaie para visitar o Centro do Holocausto e Genocídio  de Joanesburgo e  encontrar sobreviventes dessa hecatombe.


Ao final do artigo, Brotman classifica de “memorável” a viagem ao Irã porque, segundo ele, permitiu conhecer e interagir com uma comunidade isolada do resto do mundo judaico. E se declara disposto a empreender uma segunda viagem, desta vez para conhecer Hamadan, onde estão as tumbas da rainha Ester e Mordechai, e Shush, onde fica a tumba de Daniel, o profeta judeu que saiu ileso da cova dos leões.

Ataque à tumba de Ester

Em maio do ano passado (2020), foi noticiado  pela própria agência estatal de notícias do Irã, a IRNA, que houve uma tentativa de arrombamento da tumba de Ester e Mordechai. Depois, a mídia judaica confirmou que tentaram atear fogo no túmulo, mas os danos foram pequenos.  Meses antes, a milícia estudantil Basij, da cidade de Hamedan, ameaçou destruir o local e construir o “consulado da “Palestina”, em reação às sanções econômicas do governo Donald Trump, que em 2018  se retirou do acordo nuclear com o Irã e intensificou as medidas restritivas contra o país.


O movimento Basij é uma milícia paramilitar formada por jovens iranianos, criada em 1979 pelo aiatolá Ruhollah Khomeini,  e que recebe ordens da Guarda Revolucionária.  Somam 100 mil combatentes oficiais e mais de 10 milhões de voluntários. É considerada uma organização terrorista pelos Estados Unidos. Vale dizer que a religião judaica é considerada um religião legal no Irã e, portanto, em teoria, o governo tem o dever de proteger as propriedades judaicas. Diferente da seita persa Bahá’í, por exemplo, fundada em 1844, uma fé não reconhecida pelas autoridades iranianas.  Com o templo-sede localizado na cidade israelense de Haifa, seus 300 mil adeptos residentes no Irã são perseguidos e acusados de infiéis, sendo que muitos líderes já foram condenados e executados.

A tentativa de incêndio ocorreu em 14 de maio, no 72º aniversário da criação do estado de Israel. Em 2008, o governo iraniano havia declarado a tumba como patrimônio histórico, mas a proteção governamental foi retirada em razão de distúrbios e protestos de estudantes contra Israel. O túmulo da rainha Ester foi mencionado pela primeira vez por um viajante medieval judeu, Benjamim de Tudela, em 1100. Acredita-se que o mausoléu foi construído em 1600.

Cartilha de ódio

Ainda em fevereiro deste ano, duas semanas antes da Festa de Purim e quando se completaram 42 anos da Revolução Islâmica, a Liga Antidifamação (ADL, na sigla em inglês) publicou um estudo abrangente sobre a  continuada difusão do antissemitismo, da intolerância e da violência no currículo escolar iraniano em mais de quatro décadas.  Um dos exemplos específicos é o que instrui os alunos a gritar “Morte a Israel” nas salas de aula. Os livros oficiais ensinam ainda que os judeus sempre conspiraram contra o Islã e que a nação israelense deve ser eliminada.

Os alunos também são incitados, através dos livros didáticos do currículo oficial, a glorificar o terrorismo com a doutrinação sistemática do ódio e de mensagens xenófobas e extremistas.  Eles aprendem que as sanções lideradas pelos Estados Unidos contra o Irã fazem parte de um ”plano satânico” para eliminar as crenças religiosas dos muçulmanos e que seus cientistas nucleares são uma benção para a grande jihad (guerra santa).

De acordo com David Weinberg, diretor de assuntos internacionais da ADL e autor do relatório, os livros escolares iranianos foram atualizados no ano passado, com a inclusão de uma teoria conspiratória contra a mídia ocidental que estaria exagerando os efeitos da Covid-19 para esvaziar as cerimônias de comemoração de mais um aniversário da Revolução Islâmica, que atrai milhões de iranianos.

Somando-se às mentiras da cartilha do ódio, o governo iraniano patrocinou em 2020 mais um concurso internacional de charges para promover a negação do Holocausto, com a apresentação de mais de 800 cartuns disseminando a intolerância, o preconceito e o antissemitismo. Desenhos que reforçam estereótipos, falsas narrativas, demonizam líderes ocidentais e o estado de Israel, glorificam a violência e o terrorismo.

Weinberg chama a atenção para mais essa enxurrada de provocações que precisam ser enfrentadas de forma adequada pelas nações democráticas.

A ADL é uma organização judaica americana de alcance mundial, fundada em 1913, com sede em Nova York, voltada para o monitoramento e combate às ações de intolerância, preconceito, discriminação ou ódio em qualquer lugar do planeta. Sua missão é denunciar essas ações e garantir justiça para todos aqueles que se sintam prejudicados.

Acusações de espionagem

Instalada em 11 de fevereiro de 1979, a Revolução Islâmica transformou a monarquia persa pró-Ocidente na República Islâmica do Irã, uma teocracia comandada pelos aiatolás.  Três meses depois, o presidente da Associação Judaica do Irã, Habib Elghanian, foi executado por um pelotão de fuzilamento, sob a acusação de ser um “espião sionista”. Empresário bem sucedido, todos os seus bens foram confiscados pelo novo regime.  A sinagoga Abrishami, já citada, inaugurada em 1965, teve o terreno doado por Elghanian.


Em 1999, outros 13 membros da comunidade judaica de Shiraz também foram acusados de espionagem a favor de Israel e dos Estados Unidos, entre eles, um rabino, professores, comerciantes e até um jovem de 16 anos. Condenados a longas penas de prisão, eles foram soltos, gradativamente,  após uma campanha internacional a favor de sua libertação. Destino diverso do  empresário Ruhollah Kadkhodah Zadeh, que foi enforcado pelas autoridades após ser acusado de ajudar os judeus iranianos a emigrar.

Tais fatos somados a perseguições e atos de antissemitismo ocasionaram a fuga de 90% dos judeus iranianos do país, deixando para trás bens estimados em 1 bilhão de dólares, patrimônio privado inteiramente confiscado pelo regime dos aiatolás.

Recentemente, o jornal The Jerusalem Post revelou que judeus iranianos que visitam parentes em Israel podem ser presos quando de seu retorno. Isso porque o Irã considera tal fato uma ofensa criminal. Em 2020, o parlamento daquele país intensificou ações legais contra judeus iranianos que visitam ou mantêm contatos com Israel. Segundo a reportagem (24.03.2021),  já são três judeus presos por esse motivo identificados por organizações de direitos humanos , sendo que um deles, de 65anos, foi solto temporariamente. Em janeiro último, uma mulher de 50 anos, também foi libertada, após permanecer presa por um período não revelado, devido a uma viagem a Israel.

Estada vigiada

Em 2016, uma jornalista sueca de ascendência judaica, Annika Hernroth-Rothtein,  passou 20 dias no Irã e conversou com vários judeus da comunidade local. Especializada em temas do Oriente Médio, a jornalista foi acompanhada em toda a sua estadia por um tradutor muçulmano, funcionário do governo. Até no jantar festivo de Shabat , ele esteve presente ao seu lado como convidado da família judaica.

Rotthein faz algumas observações interessantes nos artigos que escreveu sobre a viagem. Ela destaca que pela constituição iraniana, no seu parágrafo 13,  os judeus são livres para realizar os ritos e cerimônias religiosas “dentro dos limites da lei”, ou seja, estão regidos pela lei islâmica. E cita a insultuosa  lei da herança que estabelece que todos os bens da família serão herdados pelo judeu que se converter ao Islã.

Por ser uma religião reconhecida pelo governo, a comunidade judaica tem um representante no parlamento iraniano. No seu encontro com o então representante da comunidade judaica, Yoram Haroonian, este fez, de imediato, um discurso sobre as milenares raízes judaicas na Pérsia, razão pela qual, segundo ele, tornaria a vida judaica no Irã diferente de qualquer outra na Diáspora.


Haroonian lembrou que são mais de 2.700 anos de vivência conjunta, desde a conquista da Babilônia pelo rei persa Ciro.   “Os judeus do Irã são leais ao regime e, na verdade, fomos os primeiros a ser voluntários na guerra contra o Iraque”, ressalta. “Somos judeus iranianos e isso significa que somos iranianos em primeiro lugar e somos também leais, em primeiro lugar, a esse país, enquanto permanecemos fiéis à Torá.”

No Shabat, conversando reservadamente com a mãe de Haroonian, a jornalista quis saber se os judeus iranianos têm permissão para visitar Israel ou mesmo fazer aliá (emigrar). Ela explicou que quando algum judeu deixa o país, mesmo temporariamente, ele precisa dar como garantia todos os seus bens e geralmente somente um visto é concedido por família. Dessa forma, raramente alguém se aventura em viajar para Israel porque o preço é muito alto para quem fica no país.

O resultado é que o Irã tem o maior número de agunot  do  mundo , revela outra convidada do Shabat (o termo agunot se refere às mulheres judias separadas de seus maridos, mas sem permissão para o divórcio ). No caso do Irã, são homens que deixam  a esposa e a família para fugir da opressão de um regime teocrático que tem como fonte de legislação a Sharia (lei islâmica). Uma lei, por exemplo, que proíbe e pune com a morte o relacionamento amoroso entre pessoas de religiões diferentes.  

Ano passado, Rothtein publicou o livro “Exílio : Retratos dos judeus da Diáspora”, fruto de suas viagens ao Irã, Tunísia, Marrocos, Cuba, Colômbia,Sibéria, Finlândia e Uzbequistão.

Liberdade para rezar

Ampliando o leque de  informações sobre essa pequena e intrigante comunidade, vale reportar uma reportagem publicada em 2018 pelo jornal americano USA Today, um dos mais lidos  dos Estados Unidos. Na ocasião, o presidente do Comitê Judaico de Teerã, Homayoun Sameyah Najafabadi, perguntado sobre as ocupações mais comuns, disse que a maioria dos judeus no Irã são lojistas, embora existam médicos, como ele próprio, engenheiros, professores e outras profissões (os judeus são proibidos de seguir a carreira militar ou serem juízes).  O rabino Nejat Golshirazi, por sua vez, saudou o ambiente social em que vivem: “Temos todas as instalações de que precisamos para nossos rituais e podemos dizer nossas orações com muita liberdade. Nunca temos problemas”, assegura. “A maioria muçulmana no Irã nos aceita”, completa Najafabadi.

Em 2015, o presidente Hassan Rouhani atendendo  a um antigo  pleito da comunidade  reconheceu o sábado judaico (shabat) como feriado para os judeus,  permitindo que fiquem em casa e as crianças não frequentam a escola.  Porém, os judeus não têm permissão para serem diretores de escolas judaicas que são dirigidas por muçulmanos.  


A mesma reportagem apresenta o depoimento  de um judeu iraniano  que deixou o país em 1987, ainda adolescente, e que dá aulas sobre política iraniana em um centro escolar na cidade der Hertzlia, no norte de Tel Aviv.  Meir Javedanfar revela que em 2007, o Comitê Judaico de Teerã recusou uma oferta do governo israelense de ajudar cada família remanescente no Irã em 60 mil dólares para sair do país. E quanto à importância dos judeus na sociedade iraniana, ele avalia que " o governo dos aiatolás não está muito preocupado com seus judeus, desde que eles não se envolvam na política e não digam nada de positivo sobre Israel". 

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Um espião na AMIA

/ Agente da Inteligência viveu infiltrado na comunidade judaica argentina /

Sheila Sacks /


Por quinze anos, de 1985 a 2000, um policial federal da Inteligência frequentou centros judaicos de Buenos Aires, se passando por judeu e ganhando a confiança e a simpatia da comunidade. Nesse período, houve dois sangrentos atentados terroristas na capital portenha e apesar da notória participação do Irã e do Hezbollah, torna-se cada vez mais consolidado o envolvimento de agentes locais nos ataques que permanecem, mais de duas décadas depois, sem um desfecho criminal e jurídico conclusivo.

A revelação veio à tona através de um livro publicado no final de 2015 por Horacio Lutzky e Miriam Lewin, intitulado “Iosi: El espía arrepentido”. Os autores foram procurados pelo policial, ainda na década de 2000, que se mostrou arrependido e disposto a contar tudo o que sabia da operação. Foram anos de conversas secretas, averiguações e contatos com centros judaicos internacionais e organizações de direitos humanos, até o seu afastamento definitivo do órgão de inteligência. Temendo por sua segurança, o agente ingressou no Programa de Proteção à Testemunha e assim permanece escondido até hoje, com nova identidade e paradeiro ignorado.      

Segundo o relato, fez parte de sua preparação estudar os costumes judaicos e aprender o hebraico. Sua performance foi tão convincente que ele se tornou dirigente de uma instituição judaica, também comandou uma entidade juvenil sionista, esteve várias vezes na embaixada de Israel e chegou a casar com uma jovem da comunidade, com quem teve um filho.

Informações privilegiadas

Usando o nome fictício de José Pérez, ou Iosi, o policial foi escalado por seus superiores para a missão de investigar e colher informações, dentro da comunidade judaica, sobre um fantasioso plano que atribuía aos judeus a suposta intenção de  promover um estado judaico-sionista na Patagônia.

Cumprindo ordens superiores, o agente se passou por judeu durante uma década e meia, fornecendo informações privilegiadas sobre membros da comunidade e repassando dados de segurança de organizações judaicas, notadamente sobre a AMIA (Associação Mutual Israelita Argentina), vítima do terrível atentado de 18 de julho de 1994.

No prédio também funcionava a Delegação de Associações Israelitas Argentinas (DAIA), e no ataque morreram 85 pessoas e 300 ficaram feridas. Foi o maior atentado à bomba contra uma entidade judaica desde o fim do Holocausto. Era uma segunda-feira, um dia depois da vitória do Brasil no final da Copa do Mundo, em San Diego, na Califórnia.


Dois anos antes, a Embaixada de Israel na capital argentina já tinha sofrido um ataque terrorista, em 17de março de 1992, quando morreram 29 pessoas e mais de 200 ficaram feridas. Em ambos os ataques, terroristas suicidas estacionaram os veículos carregados de explosivos em frente aos prédios e acionaram os dispositivos. 

O atentado à embaixada ocorreu na parte da tarde, às 14h45, na rua Arroyo, no bairro Retiro, a dois quarteirões da embaixada brasileira. Em segundos, o antigo palacete Lastra e seu entorno ficaram destruídos. Também foram atingidas as fachadas de uma escola primária e uma casa geriátrica. Vinte e nove dias antes da explosão, o então secretário-geral do Hezbollah,  Abbas al-Musawi , havia sido assassinado  e o Irã culpou Israel.

O ataque ao prédio da AMIA foi às 9h53, no bairro comercial conhecido como Once, no centro de Buenos Aires. A construção datava de 1945 e a explosão matou 67 pessoas no seu interior e 18 que andavam na calçada ou estavam nos prédios vizinhos. Cinco anos depois, o novo prédio da AMIA foi reaberto, no mesmo local do anterior, na rua Pasteur 633. Em 2018, um imenso painel de 30 metros de altura – O Mural da Memória - criado pelo artista plástico Martin Ronh, foi instalado ao lado da sede da AMIA, em homenagem às vítimas.

Depoimento a Nisman

Em julho de 2014, um ano e meio antes da publicação do livro de Lutzky e Lewin, o promotor do caso AMIA, Alberto Nisman, depois de ouvir o depoimento do espião, então com 54 anos, determinou a sua inclusão no programa de Proteção à Testemunha do Ministério da Justiça. Na ocasião, Nisman afirmou à imprensa que iria analisar com seus colaboradores o depoimento de Pérez para estudar os procedimentos a serem realizados. 

Seis meses depois, em janeiro de 2015, Nisman, de 51 anos, foi encontrado morto em seu apartamento em um crime ainda sem solução. Ele estava prestes a apresentar denúncia no Congresso contra a presidente Cristina Kirchner e outras altas autoridades por encobrir os envolvidos no ataque à entidade judaica. O curioso é que os sete promotores que sucederam Nizman, na unidade especial que cuida do ataque à AMIA, não levaram adiante as investigações, a partir das informações do agente registradas nos arquivos daquela unidade de promotoria.

Em seu depoimento, Iosi afirmou que seguia ordens diretas do órgão de Inteligência Nacional, foi secretário adjunto da Organização Sionista Argentina, tinha funções de segurança na própria AMIA e acesso às chaves do prédio. Pouco antes do ataque, ele entregou mapas e planos da histórica sede da Associação aos seus superiores.

Pista ignorada

Para os autores do livro, publicado meses depois do assassinato de Nizman, Iosi pode ser a porta de entrada para a identificação da conexão local com o grupo terrorista Hezbollah e os diplomatas iranianos acusados do crime. Eles estão convictos de que a predominância de interesses indizíveis está no cerne do alegado desinteresse por parte das autoridades em relação a essa trilha investigativa.  

Opinião compartilhada pela representante da Associação para o Esclarecimento do Massacre Impune da AMIA (APEMIA), Laura Ginsberg, que enfatiza a responsabilidade do estado argentino não só no acobertamento dos envolvidos, mas até na própria prática do atentado. “O atentado à AMIA foi uma operação controlada pelo próprio SIDE (Secretaria de Inteligência de Estado), não pela inteligência iraniana”, acusa.

Segundo Ginsberg, que perdeu o marido no atentado, as posições da AMIA e da DAIA também são questionáveis em relação à política de encobrimento que se arrasta por mais de um quarto de século. O que é contestado pela direção da AMIA que argumenta que não cabe à entidade judaica “conduzir o litígio”, e sim as autoridades argentinas.

A representante da APEMIA lembra que já se sucederam oito governos desde o atentado e todos optaram por ocultar a responsabilidade do Estado no crime. “ Querem fazer de conta que um comando árabe entrou na Argentina, colocou uma bomba no coração de Buenos Aires e cometeu um assassinato sem que ninguém aqui estivesse envolvido.”

Prédios em reforma



A tese é corroborada por técnicos e estudiosos do caso AMIA que sustentam que existe uma notável coincidência nos ataques aos prédios da instituição judaica e da embaixada de Israel. Ambos estavam em reforma, motivo pelo qual havia sacos com material de construção na parte frontal, sem que fosse averiguado seu conteúdo.  Nesses sacos poderiam estar os explosivos denotados remotamente pelo lado de fora. 

Também na noite anterior foi observado o sobrevoo de um helicóptero da polícia federal que iluminou o prédio por alguns minutos, com um refletor. No dia de ambos os ataques, os policiais que normalmente faziam plantão, não foram vistos.  Outro detalhe apontado diz respeito às crateras que deveriam estar bem visíveis nos locais onde estariam os carros-bombas estacionados que explodiram.

 Em 1996, três policiais da ativa e um reformado foram indiciados como suspeitos de participação do atentado, mas em 2004 um tribunal declarou nula a causa e absolveu todos os assinalados como envolvidos com a “conexão local”. Dois anos depois, diante de informações de que poderia haver um terceiro atentado  contra instituições judaicas no país, o então embaixador de Israel na Argentina, Yizhak Aviran ( 1993-2000) afirmou  que "até se esclarecer a conexão local, o perigo continuará“. Já aposentado, em 2014, Aviran causou rebuliço  ao afirmar que os autores dos dois atentados foram mortos, versão contestada por autoridades israelenses.

Nesse rol de absolvições conta-se ainda a do falecido presidente Carlos Menem (no cargo de 1989 a 1999), processado em 2009 por acobertamento de provas. Seu advogado justificou, durante o julgamento, que Menem “poderia revelar segredos para testemunhar, mas por razões de segurança do Estado isso afetaria o governo, os interesses da nação e a relação pacífica da Argentina com outras nações”. Menem foi absolvido em fevereiro de 2019.  Também ganhou absolvição o ex-dirigente da DAIA na década de 1990, Rubén Bereja, processado em 2006 por favorecer supostos desvios da linha de investigação.

Restaram condenados a penas brandas e recorríveis de quatro a seis anos de prisão, um ex-juiz do caso, Juan Galeano, o ex-chefe da SIDE no governo Menen, Hugo Anzorreguy,  ambos acusados de coerção e  desvios na investigação,  e o proprietário da van usada no ataque, Carlos Telleldín, que já havia cumprido pena em outro julgamento e acabou sendo absolvido  no final do ano passado.

Teoria da conspiração

Uma prévia do livro publicada no site da revista digital Anfíbia, da Universidade Nacional de San Martin, de Buenos Aires, apresenta o espião contando sua história, na primeira pessoa.  Em um trecho, ele diz: “Desde 1985, meu trabalho como policial consistia em me infiltrar nas entidades da comunidade judaica para obter informações sobre seus planos secretos. Todas as atividades de seus grupos e seus líderes tiveram que ser relatadas por mim. Mas o essencial era descobrir como os judeus se organizavam para levar a cabo o projeto de conquistar parte do solo argentino e converter a Patagônia em um de seus domínios, como advertia o plano Andinia.”

Sobre essa missão específica, o agente relata:  “Fui líder de grupos universitários e - não sei bem em que momento ocorreu - comecei a me sentir muito à vontade no grupo social no qual transcorria minha vida. Eu não tinha encontrado nenhuma conspiração obscura, nada do que os textos antissemitas previam e que norteavam meus superiores.”

Segundo o professor Ernesto Bohoslavsky, da Universidade Nacional de General Sarmiento, em Buenos Aires, o fomento dessa disparatada teoria conspiratória, o tal plano Andinia, teve nos filhos de carrasco nazista Adolf Eichman,na década de 1960, seus maiores disseminadores, após o pai ser capturado e levado a julgamento em Israel. Eles fundaram a Frente Nacional Socialista Argentina (FNSA), ligada a redes internacionais do neonazismo e à extrema direita, que difundia, de forma clandestina, supostas conspirações bolchevistas-judaicas para dominar o país.

Com o passar dos anos, essa fake news antissemita ganhou contornos piores e versões mais abjetas e absurdas, culminando, em 1965, com uma publicação apócrifa, de autor anônimo, encampada por alas peronistas e posteriormente recriada, em novas versões, nas décadas de 1970 e 1980, no submundo de figuras neonazistas da Argentina e do Chile.

Pormenores do prédio

O agente conta que o atentado contra a embaixada, em 1992, o fez acreditar que as informações que transmitia poderiam estar sendo usadas para outros fins:  “Quando a bomba explodiu na embaixada de Israel, pouco depois de ter uma reunião cancelada, comecei a me perguntar se as informações que repassava aos meus superiores em reuniões secretas não haviam contribuído para o atentado. Depois da explosão na AMIA (1994), não tive mais dúvidas. Pediram-me pormenores do edifício, deixei nas mãos dos meus chefes uma planta da sede, comuniquei movimentos, nomes, responsabilidades e horários.”

O agente também relata que participou de grupos de jovens judeus encarregados da segurança de instituições comunitárias, clubes, escolas e sinagogas. “Meus chefes começaram a suspeitar de mim quando ao me pedirem sobrenomes e locais de treinamento desses grupos eu respondi evasivamente. Eles então me transferiram para o interior do país e me designaram para tarefas burocráticas.” 

Com medo de ser morto, Iosi buscou apoio em Lutzki e Lewin, que conheceu na comunidade judaica. O primeiro, advogado, professor e editor de um jornal comunitário, e Lewin, uma jornalista investigativa com trabalhos importantes em rádio e televisão. Durante anos os autores tentaram sensibilizar organizações de direitos humanos internacionais em busca de suporte e proteção ao testemunho do agente, mas a situação delicada do caso, envolvendo o governo e a justiça da Argentina, afastou possíveis ajudas e comprometimentos.

 

Pérez ou Iosi afirma que guardou evidências de seu trabalho, documentos, atas e credenciais, mas que pouco adiantou. “Agora sou uma testemunha protegida, que deve permanecer escondida, com tudo que eu sei. Porque foi isso que o procurador Alberto Nisman determinou. Mas ele apareceu morto e não sei o que fazer”, desabafa.

 

Escondido e subestimado


Mais de cinco anos se passaram desde o lançamento do livro e o policial arrependido permanece escondido. Os superiores de Iosi, quando convocados por Nizman, minimizaram as informações fornecidas pelo subalterno e não houve tempo hábil para eventuais desdobramentos do depoimento porque meses depois Nizman foi vítima de um homicídio, igualmente não esclarecido.

 

Em 2020, em um evento virtual lembrando as vítimas do ataque, o atual presidente da AMIA, Ariel Eichbau, destacou o envolvimento da chamada “conexão local” na ação terrorista, ressaltando que “está comprovado que os réus não poderiam atuar sozinhos, sem o apoio local”.  Vale lembrar que em 2006 Nizman pediu à Interpol a captura internacional de dez iranianos acusados do ataque, entre eles, um ex- presidente e seus dois ministros, membros consulares e ex-chefes do Hezbollah. Todos permanecem soltos e sem punição.

 

De acordo com Nizman, o Irã foi o autor ideológico e financeiro do atentado, o Hezbollah, o executor, e a nível nacional “alguém teve de encobrir os fatos”.  A pergunta que se faz, tanto tempo depois, ainda continua sem resposta: Quem colocou a bomba que explodiu o prédio da AMIA?

 

O livro de Lutzki e Lewin pretende ser um caminho para o encontro de uma resposta, mas é também mais uma das muitas peças que se somam a esse intrincado quebra-cabeça cuja solução parece se tornar mais distante à medida que os anos passam. No mês passado (março), a incrível historia de Iosi e sua vivência como espião infiltrado na comunidade judaica de Buenos Aires  - a segunda maior das Américas, depois de Nova York -  começou a ser filmada no Uruguai, em formato de seriado para TV.  Sob a direção dos cineastas argentinos  Daniel Burman e Sebastian Borensztein, e produzida pela Amazon Prime, a série tem lançamento mundial previsto para o final do ano. 


Perigo presente


Enquanto isso, reavivando o trauma que se mantém presente na comunidade judaica argentina, em novembro do ano passado (2020) um alerta enviado à embaixada da Argentina no Reino Unido dava conta de um possível transporte de nitrato de amônia - um componente usado em fertilizante e para fabricar explosivo - em território nacional, por pessoa vinda de um país vizinho. O e-mail anônimo dizia que a carga teria como alvo uma entidade judaica.


De imediato acendeu o alarme vermelho porque três meses antes, em agosto, uma grande explosão no Porto de Beirute confirmou a ligação do Hezbollah, que tem sede no Líbano, com o nitrato de amônia. A explosão ocorreu em um depósito onde estava estocada a substância, causando a morte de mais de 200 pessoas e com milhares de feriados.


Na ocasião, o então coordenador geral dos Estados Unidos contra terrorismo global, Nathan Sales, declarou que a organização xiita, desde 2012, montou depósitos de nitrato de amônia em toda a Europa, se utilizando do transporte de kits de primeiros socorros cujas embalagens refrigeradas contêm as substâncias. 


Especialistas de geopolítica ambiental dizem que a menção desse material é recorrente em relatórios de órgãos de Inteligência sobre as atividades terroristas do Hezbollah, incluindo a explosão do prédio da AMIA. Segundo os investigadores, a van usada no ataque continha entre 300 a 400 quilos de um composto de nitrato de amônia, alumínio, dinamite e nitroglicerina.