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domingo, 26 de setembro de 2021

O mistério do Círculo de Gigantes

/ Sheila Sacks /


Por ocasião da celebração dos 73 anos da fundação do estado de Israel, em abril último, a editora da plataforma de notícias online ISRAEL21c, Nicky Blackburn, listou 73 curiosidades acerca do país como uma homenagem à diversidade e também à singularidade desse pequeno grande mundo encravado no Oriente Médio.

Dentre os tópicos citados, a jornalista chama a atenção para um monumento pré-histórico descoberto na década de 1960, conhecido  como Gilgal Refaim - círculo de gigantes, na tradução do hebraico, uma referência ao povo que, segundo fontes bíblicas, se distinguia por sua enorme estatura e viveu naquela região (reino de Bashan/Basã - Devarim/Deuteronômio).

Um ano antes, o mesmo site já havia classificado Gilgal Refaim como um dos 10 maiores  mistérios da Terra Santa, e indagava: Quem construiu o Stonehenge israelense?, em alusão ao complexo pré-histórico megalítico do Reino Unido, um dos mais visitados do mundo.  

Situado no norte de Israel, na região de Golã/Golan, a estrutura é formada por gigantescos círculos concêntricos de mais de 42 mil toneladas de pedra basalto, cuja construção, segundo arqueólogos, beira há 5 mil anos. Autor de uma tese de doutorado sobre o local, o arqueólogo Michael Freikman, da Universidade Hebraica de Jerusalém, calcula que a estrutura exigiu milhares de dias de trabalho. “Talvez até um milhão”, arrisca. Segundo ele, a construção pode ter levado cerca de 25 anos para ficar pronta, isso se 100 pessoas estivessem trabalhando. “Um esforço tremendo e terrivelmente caro”, avalia o especialista.

O também arqueólogo Uri Berger, pesquisador de tumbas megalíticas, diz que o local é enigmático, "com fragmentos de informações",  e que cada estudioso tem uma versão sobre a sua edificação e finalidade. E muitos deles, talvez envolvidos com a grandiosidade da estrutura, buscam nas escavações,  documentos antigos e interpretações bíblicas, os vestígios de um legado espiritual secreto. 

A civilização oculta


Várias décadas após o suiço Erich von Däniken surpreender milhões de pessoas com a teoria de que as divindades reverenciadas pela humanidade seriam seres extraterrestres - de uma civilização adiantada que visitou o planeta terra em tempos pré-históricos ('Eram os deuses astronautas', livro publicado em 1968) -, uma outra tese não menos polêmica sobre o tema tem sido defendida por dois pesquisadores ingleses. De acordo com Philip Gardiner, escritor, roterista e diretor de documentários, e seu parceiro Gary Osborn, os deuses não seriam alienígenas, mas humanos e de origem terrena, oriundos de uma civilização misteriosa e avançada que sobreviveu aos dilúvios e outros cataclismos.

Na obra “O Priorado Secreto” (2006), os autores, que já publicaram uma dezena de livros sobre sociedades ocultas e profecias, escrevem: “Talvez seja difícil de acreditar, mas evidências consistentes sugerem que conhecimentos técnicos avançados circulavam entre nós muito antes das datas convencionais atribuídas à pré-história humana e que uma cultura desconhecida havia codificado indícios reconstituíveis desses conhecimentos.” 

Uma das evidências físicas citadas pelos ingleses se refere ao Círculo de pedras de Refaim (círculo dos gigantes) - Gilgal Refaim, em hebraico, e Rujm el-Hiri ( monte de pedras do gato selvagem), em árabe -  que os autores consideram um dos maiores mistérios de Israel. Situado na região das colinas de Golã, a 16 quilômetros a leste do mar da Galileia, o complexo foi erguido sobre uma planície, cujas reais dimensões só podem ser vistas do alto. Uma caverna, no centro da estrutura, talvez funcionasse como câmara mortuária.

O monumento  de pedra, que arqueólogos calculam possa ter sido erguido há mais de 5 mil anos, passou despercebido por séculos e só foi detectado através de uma pesquisa aérea. As imagens foram liberadas por Israel em 1968 após a “guerra dos seis dias” (1967).

Gardiner e Osborn defendem que edificações colossais como as pirâmides do Egito, o complexo monolítico Stonehenge, no sul da Inglaterra, as esculturas gigantes de pedra na Ilha de Páscoa (província do Chile), entre outras, foram erguidas sob a inspiração dessa civilização, originalmente formada por gigantes (a Bíblia também menciona povos gigantes – os nefilim, refaim e enacim - no Gênesis, Números e Josué) que, à parte as suas obras arquitetônicas instigantes deixaram um legado de conhecimento espiritual codificado em mitos, símbolos, lendas e fábulas. Histórias e “contos de fadas” passados oralmente de geração em geração, em grande parte por pessoas simples que não tinham consciência dos segredos contidos nas narrativas.

Conhecimento avançado


Para os pesquisadores, tanto a humanidade atual como as primeiras civilizações tradicionais que conhecemos jamais possuíram uma compreensão plena e acabada desse antigo sistema de conhecimento. As informações foram passadas através do tempo de forma fragmentada, sendo mal interpretadas e mal conceituadas. Gardiner e Osborn afirmam que essa misteriosa “ordem sacerdotal” teria civilizado a humanidade, talvez após uma catástrofe global. “Com o tempo, devido ao seu conhecimento científico, sabedoria espiritual e suposta capacidade extrassensorial, os povos menos desenvolvidos que conviviam pacificamente com esses seres mais avançados começaram a considerá-los deuses”. A base dessa argumentação vem da constatação da presença do mesmo sistema fundamental de crenças nas várias religiões existentes em todos os quadrantes do mundo, embora cada uma delas use denominações próprias, práticas e rituais diferentes.

A fonte desse sistema de crenças estaria nos antigos cultos solares e na experiência da “iluminação”. Segundo os autores, o padrão cíclico da natureza, a experiência renovadora do sol e os seus movimentos estão intrinsecamente vinculados ao efeito iluminador do “despertar” interior, do “renascer” e da experiência da “iluminação”. Eles citam a figura bíblica de Sansão, cujo nome deriva do hebraico shemesh (sol) que é idêntico a shamash, o deus sol dos sumérios. Quando Sansão tem seus cabelos cortados por uma mulher e perde a sua força descomunal, observa-se a simbologia do sol presente na narrativa porque sua cabeleira representa o poder irradiador dos raios de sol.

Outro exemplo mencionado diz respeito ao maior profeta e libertador do povo de Israel, Moshé Rabenu ou Moisés, autor dos cinco primeiros livros (Pentateuco) da Bíblia hebraica (Torá) que contêm os fundamentos legais, morais e éticos do judaísmo. Gardiner e Osborn escrevem que em Êxodo 34, a citação é de que Moisés desceu do Monte Sinai com seu rosto “emitindo raios luminosos”. Os autores ressaltam que o profeta cresceu no palácio do faraó como um príncipe egípcio e provavelmente foi iniciado na tradição, simbologia e astrologia egípcias do culto ao sol, às estrelas e aos padrões cíclicos da natureza. Entretanto, em Devarim (Palavras), também chamado de Deuteronômio, o quinto livro de Moisés, é feita uma advertência para que os hebreus não se envolvam com esses cultos: “Levantando teus olhos ao céu e vendo o sol, a lua, as estrelas e todo o exército do céu, não te deixes seduzir para adorá-los e servi-los! (4:19).

Adiantando-se no tempo, os autores chegam até os essênios. Seita judaica que existiu nos últimos séculos antes da Era Comum, seus integrantes viviam em Qumrã, no deserto da Judeia, perto do Mar Morto. De acordo com os documentos escondidos em cavernas e descobertos a partir de 1947 (Manuscritos do Mar Morto), essa comunidade se autodenominava “Filhos da Luz” e o “governador” era chamado de “coroa”, uma alusão à sua condição de “ser iluminado”. Os pesquisadores acentuam que a superação da morte também tinha no sol a sua inspiração. “Os movimentos do sol produziram lendas sobre o lugar para onde o deus sol vai e por que volta e serviram para encobrir ideias sobre como nós mesmos poderíamos, supostamente, reencarnar ou receber uma nova vida.”

O despertar do “eu interior”


O fenômeno universal do culto ao Sol, segundo os autores, estaria intrinsecamente vinculado - em todas as crenças - ao efeito iluminador do “despertar” interior ou à experiência da “iluminação”. Para o homem primitivo, o sol físico vivificador também representava o “sol interior” que se alcança no instante da “iluminação”. Essa experiência espiritual e mística obtida através da meditação e de jejuns em que o indivíduo transporta a sua consciência humana limitada a alturas transcendentais - onde a mente é revitalizada e inundada com novas informações e conhecimentos - é na verdade o despertar para a verdadeira natureza da realidade. A pessoa adquire uma percepção mais intensa de si mesma e do cosmos, e este seria o verdadeiro significado por trás do culto ao sol.

Para a dupla de ingleses, esse sistema de crenças que abrange as antigas ideias da árvore do mundo (a árvore da Vida, na Cabalá), a reencarnação, o renascimento, o culto do céu - com tudo o que o envolve como o sol, a lua, as estrelas e os astros - , com nomes que de alguma forma significam “brilhar” ou “ser brilhante”, também migrou para a Europa, talvez levado pelas tribos do norte de Israel deportadas pelos assírios, no início do primeiro milênio antes da Era Comum (as chamadas tribos perdidas). Pela tradição, os sacerdotes da Europa celta (formada por diversas etnias que povoaram o oeste do continente a partir do segundo milênio antes da Era Comum) eram chamados druidas (significando “o saber do carvalho”). Eles praticavam a adivinhação, a astrologia e o culto à árvore. Em suas narrativas é creditado a Hu Gadarn Hyscion (filho de Isaac), um hebreu egípcio, a fundação do terceiro templo no círculo de pedras gigantes de Stonehenge.

Mais evidências


No livro “As digitais dos deuses” (Fingerprints of the Gods, publicado em 1995), o jornalista e pesquisador nascido na Escócia, Graham Hancock, igualmente defende a tese da existência de uma civilização adiantada, anterior a pré-história convencional da humanidade. Ele se utiliza de um documento datado de 1513 - o mapa-múndi Piri Reis – desenhado pelo almirante do mesmo nome, em Constantinopla. O mapa mostra a costa ocidental da África, a costa oriental da América do Sul e a costa norte da Antártida, esta última região desconhecida até 1818, 300 anos depois de Piri Reis ter desenhado o mapa.

Outro mistério diz respeito à indicação de ausência de gelo em parte do território antártico conhecido como a Terra da Rainha Maud (área da Antártida oriental reclamada pela Noruega), uma prova geológica que confirma que o mapa se baseou em um documento original de pelo menos 4 mil anos antes da Era Comum quando a costa estava livre de gelo. “Em outras palavras, o verdadeiro enigma desse mapa de 1513 não está tanto no fato de ter incluído um continente que só foi descoberto em 1818, mas em mostrar parte da linha costeira desse mesmo continente em condições de ausência de gelo que terminaram há 6 mil anos e que desde então não se repetiram”, enfatiza Hancock. Ele conta que o almirante deixou uma série de notas escritas no mapa, admitindo que seu papel foi de compilar e copiar desenhos de cartógrafos que retroagiam a épocas anteriores à pré-história.

Ainda acerca do mapa de Piri Reis, o escritor e professor universitário norte-americano graduado em Harvard, Charles Hapgood (1904-1982), especializado em antropologia e história da ciência, argumentava que alguns mapas básicos antigos usados pelo almirante seriam fundamentados em fontes de uma época ainda mais recuada da antiguidade. Empenhado na formulação da teoria do deslocamento da crosta terrestre, considerada por Albert Einstein “fascinante”, Hapgood dizia  que a terra foi extensamente mapeada por uma civilização até então desconhecida e ainda não descoberta, dotada de alto grau de progresso tecnológico, que existiu há mais de 4 mil anos antes da Era Comum.

Catástrofes extinguiram civilizações



Propondo a teoria de que o eixo de rotação da terra mudou pelo menos três vezes nos últimos 100 mil anos, por força de deslocamentos da crosta terrestre provocados pelo degelo das calotas polares, Hapgood considerava que tais rupturas globais podem ter dado origem a cataclismos e provocado a extinção de civilizações desconhecidas e avançadas como a da Antártida, destruída por uma mudança catastrófica. Para validar a tese, estudo das carcaças de mamutes congelados encontrados na Sibéria mostrou que esses animais extintos há 10 mil anos tinham em suas bocas um tipo de capim proveniente de climas quentes, apesar de tais animais terem sido descobertos em terras geladas.  

Seguindo a mesma linha de investigação, pesquisadores da Universidade de Glasgow, no Reino Unido, revelaram a presença de palmeiras no território da atual Antártida, descobertas através de perfurações no gelo que trouxeram à tona o pólen de palmeiras e de outras árvores de climas quentes como os baobás oriundos das estepes africanas. Segundo os estudiosos, há 53 milhões de anos o clima desse continente era semelhante ao sul do Brasil, com invernos em torno de 10ºC e verões com temperatura de 25º C. Desde 1953, o professor Hapgood  já sustentava que grandes regiões da Antártida permaneceram livres do gelo até 4 mil anos antes da Era Comum, lembrando que pelo consenso acadêmico as primeiras civilizações se desenvolveram no crescente fértil do Oriente Médio por volta de 3 mil anos antes da Era Comum.

A partir dessa perspectiva, o autor de “As digitais dos deuses” observa que alguns dos mitos mais impressionantes e duradouros que a humanidade herdou dos tempos antigos dizem respeito a uma pavorosa catástrofe global. " De onde vêm esses mitos?", pergunta Hancock. "Por que, embora procedam de culturas diferentes, seus temas são parecidos? E se são realmente memórias, por que não existem registros históricos das catástrofes históricas que parecem aludir?" 

São indagações que se inserem nas narrativas do dilúvio bíblico e que também são encontradas na tradição de outros povos, como no livro sagrado dos maias (Popol Vuh). “Em todo o mundo são conhecidas mais de 500 lendas que falam do dilúvio" prossegue Hancock, "e em uma pesquisa de 86 delas em continentes diferentes, um pesquisador especializado, Dr. Richard Andree, concluiu que 62 eram inteiramente independentes da versão hebraica.”

Pistas falsas

Já o historiador e arqueólogo francês Robert Charroux (1909-1978) vai mais longe nas suas considerações sobre essas civilizações desconhecidas, afirmando que antepassados superiores construíram naves siderais, viajaram no cosmos e conheceram a energia atômica. Em seu livro “A história desconhecida dos homens desde há cem mil anos” (1963), o autor defende que os poucos sobreviventes dessa humanidade superior “legaram aos seus descendentes uma grandiosa mensagem, advertindo-os porém das consequências das suas próprias descobertas”. Dessa forma, no decorrer dos séculos “centros de contraverdade têm ocultado este conhecimento, mantido embora por sociedades de iniciados”, afirma o francês.

Para Gardiner e Osborn existe uma espécie de “sacerdócio secreto” advindo dessa civilização desconhecida que desenvolveu um método de grande eficácia para chegar ao êxtase espiritual. Herdeiro e guardião do conhecimento da “iluminação interior” e das correntes místicas, esse priorado revela vestígios semelhantes nas grandes religiões e nas várias doutrinas esotéricas. “Platão foi um iniciado nesses mistérios. Ele diz que foi posto numa pirâmide durante três dias, morreu simbolicamente, renasceu e então conheceu os segredos dos mistérios”, escrevem os autores de “O Priorado Secreto”.

O esplendor da Cabalá

É interessante observar que a obra central da corrente mística do judaísmo, a Cabalá (‘tradição’, em hebraico), se denomina Sefer HaZohar ou o “Livro do Esplendor”, uma referência à luz e à iluminação. Atribuído ao rabi Shimón Bar Yochai (Rashbi), que viveu no século 2 da Era Comum, o Zohar também é chamado de “Chochmat ha-Emet” (a sabedoria da verdade). Até ser verbalizado, esse conhecimento advindo da Torá era transmitido oralmente pelos primeiros cabalistas denominados “nistarim” (os ocultos). 

O rabino Chaim David Zukerwar (1956-2009), em seu livro “As 3 dimensões da Cabalá: Essência, Infinito e Alma”, escreve: “A fonte da Luz é a causa e origem de toda a criação. Por essa razão a denominação empregada pela Cabalá para designar a energia de vidas é Or – luz, em hebraico.” Paradoxalmente, os sábios também afirmam que a luz que foi feita no primeiro dia da Criação ( E D’us disse “Que haja luz, e houve luz”) foi “oculta aos justos no mundo vindouro”. A explicação dada pelo Zohar indica que as palavras hebraicas “Or” (luz) e “Raz” (segredo) são numericamente equivalentes, isto é, que estão relacionadas uma com a outra. Isso significaria que a luz original do início dos tempos só retornará em seu esplendor original com a evolução espiritual e o compromisso do homem com o bem, em um tempo porvir.

A bênção do sol


Das muitas tradições judaicas, a bênção do sol praticada ao longo das gerações apresenta uma característica única: o seu ritual somente se dá a cada 28 anos, quando o sol, de acordo com os sábios, retorna à posição exata onde estava no momento de sua criação. Diz o Bereshit: “E fez D’us os dois luzeiros grandes: o luzeiro maior para governar o dia; e o luzeiro menor para governar a noite... E foi noite e foi manhã, dia quarto.” Para celebrar esse mandamento (mitzvá), as pessoas se reúnem ao ar livre e é recitada uma benção especial – Bircat Hachamá (benção do sol) - precedida e seguida de salmos e preces. Sempre ocorrendo em uma manhã de quarta-feira – o dia da semana no qual D’us colocou em órbita o sol, a lua e todos os corpos celestes - o último encontro se deu em 8 de abril de 2009 (ano judaico de 5769), quando mais uma vez foi recitada a prece que lembra os milagres divinos: “Bendito és Tu, Senhor nosso D’us, que reencena as obras da Criação.” (Baruch Ata Adonai, Eloheinu Melech HaOlam Ossê Maassê Bereshit).

Mas, apesar das explicações rabínicas sobre a benção do Sol – que tem o intuito de louvar a Criação Divina -, pesquisadores como Gardiner e Osborn insistem em enxergar vestígios desse ritual ancorados a uma tradição desconhecida anterior a dos hebreus. O arqueólogo e historiador Zecharia Sitchin (1920-2010), estudioso dos idiomas antigos orientais, expõe em seu livro “O código cósmico” (2003), a familiaridade dos antigos hebreus com as constelações do zodíaco, iniciada com Terach, pai de Abrãao (Avraham) em Ur, na Suméria (atual Iraque). Ele faz uma correspondência entre os 12 signos zodiacais com os 12 filhos de Ismael (“Dele nascerão dozes chefes; E sua nação será grande” - Gênesis 17:20), os 12 filhos de Jacob (“E o número dos filhos de Jacob foram doze” – Gênesis 35), e as 12 tribos que povoaram a Terra Prometida, após o Êxodo, uma constância que, em sua opinião, “preserva a  exigência-santidade do Doze celeste”.

Sitchin, que viveu em Israel e nos Estados Unidos, revela que a expressão hebraica “mazal-tov”, pronunciada nas festividades e entendida pela maioria como “boa sorte”, significa literalmente “uma boa e favorável constelação zodiacal”. Segundo o arqueólogo o termo deriva do acadiano (a mãe das línguas semitas), em que manzalu significa “estação” – a estação zodiacal na qual o sol “estacionava” no dia do casamento ou nascimento. Ele também assegura que a monumental e enigmática estrutura de círculos de pedra na planície das colinas de Golã, o Gilgal Refaim, foi um observatório astronômico construído por uma civilização desconhecida, 7 mil anos antes da Era Comum.

Teoria que o arqueólogo israelense Uri Berger afirma ser plausível ao observar que já foi identificado que nos dias mais curtos e mais longos do ano ( solstícios de junho e dezembro) o nascer do sol se alinha com a abertura das rochas basálticas do monumento. 

domingo, 5 de setembro de 2021

“Querido mundo...escolho amar você”

/  Sheila Sacks  /


Em 2015, às vésperas de Rosh Hashaná e Yom Kipur ( o ano novo judaico e o Dia do Perdão) , o rabino Harold Kushner , então com 80 anos, publicou o livro Nine Essential Things I’ve Learned About Life (Nove Coisas Essenciais que Aprendi sobre a Vida, em tradução livre do inglês). Dentre as “ coisas” que o líder religioso destaca,temos  “D’us não é um homem que vive no céu”; “perdoar é um favor que você faz a si mesmo”; “para se sentir melhor consigo mesmo, encontre alguém para ajudar “; “Religião é o que você faz, não o que você acredita”.

Autor do best-seller “Quando Coisas Ruins acontecem às pessoas Boas”, lançado em 1981,  com mais de 4 milhões de exemplares vendidos, Kushner publicou mais de uma dúzia de livros que trazem conforto e alento a milhões de leitores que enfrentam momentos difíceis em suas vidas.

Sua carta ao mundo -  “Querido mundo...escolho amar você”  - incluída ao final das nove coisas que aprendi sobre a vida, foi republicada pela revista canadense  Zommer  e nela o líder religioso nascido no Brooklyn explica que amar o mundo torna mais fácil ter esperança no amanhã.

O tesouro da fé



Então, face à sofrida inquietude humana em um mundo impositivo nas suas prioridades, talvez mereça acrescentar à expressiva lista de Kushner, nesse limiar de 5782 do calendário judaico (setembro de 2021 da Era Comum), mais um pequeno-grande item,  a fé como um tesouro inegociável. Isso porque cabe a fé nos manter de pé frente às circunstâncias ininteligíveis  que nos desafiam e assombram.

Preservar e cuidar desse tesouro ofertado por aqueles que vieram antes de nós e honrar a história e a tradição que o acompanham, já torna a vida mais bela, sábia e generosa.  Vá, por si mesmo,“Lech (vá)  Lechá (para dentro de você)”, disse D’us para Avraham (Abrãao), na idade de 75 anos (Bereshit), Gênesis 12:1-17:27.  E assim foi , de geração a geração, até os dias de hoje.

A carta de Kushner                                                                                                    

Querido mundo


Já passamos por muita coisa juntos nas últimas oito décadas, você e eu - casamentos, nascimentos, mortes, realizações e decepção, guerra e paz, tempos bons e tempos difíceis ... Houve dias em que você se tornou maior.  Houve dias em que você parecia tão dolorosamente belo que mal pude acreditar que você era meu, e dias em que você partiu meu coração e me levou às lágrimas.

Mas com tudo isso, escolho amar você. Eu te amo, quer você mereça ou não (e como se mede isso?). Amo você em parte porque você é o único mundo que tenho. Eu te amo porque gosto de quem sou melhor quando faço. Mas principalmente, eu te amo porque te amar torna mais fácil para mim ser grato por hoje e ter esperança no amanhã. O amor faz isso.

Fielmente seu,
Harold Kushner

Relembrando: Pessoas boas versus coisas ruins



Existem livros que transcendem o tempo. Talvez porque falem de temas universais presentes em nosso cotidiano. Foi o que fez o rabino norte-americano Harold Kushner ao escrever, na década de 1980, a obra “Quando Coisas Ruins acontecem às pessoas Boas”.

Traumatizado com a morte do filho de 14 anos que sofria de uma doença genética incurável, Kushner repassou para o papel toda a sua experiência de dor e sofrimento, e também a sua inabalável fé no Criador. Como rabino de uma pequena congregação, em Massachusetts (EUA), ele pôde observar que as pessoas atingidas por uma tragédia geralmente mostravam-se revoltadas e terrivelmente abaladas em sua crença religiosa.

Citando a figura bíblica de Jô, homem íntegro que vê os filhos morrerem, os negócios falirem e a doença atacar o seu corpo, Kushner dá o seguinte recado: mesmo nas adversidades, não ceda à tentação de abandonar a fé em Deus. Entretanto, essa tragédia pessoal faz o rabino repensar tudo o que ensinava sobre Deus e os caminhos de Deus.

A visão do tapete



No livro acompanhamos os inúmeros casos verídicos de adultos bons, decentes e fiéis em suas crenças, e de crianças alegres e inocentes, os quais, em um momento de suas vidas, são atingidos por um infortúnio ou mesmo pela tragédia.

Kushner observa que muitas dessas pessoas e as que estão ao seu redor têm a ideia de que possíveis tropeços e desmandos possam ser as causas de suas desgraças. Isso é, que Deus dá a cada um o que cada um merece. Uma culpa que geralmente se mistura à revolta e a inevitável questão: “Que razões poderia ter Deus para fazer o que fez, já que não sou pior do que o meu vizinho?”.

O rabino lembra que no livro “O Oitavo Dia” (1967), o escritor norte-americano Thornton Wilder (1897-1975) dá uma visão interessante dos desígnios de Deus. A história descreve um homem bom cuja vida é arruinada pela má sorte e hostilidade. Ele e sua família sofrem, embora sejam inocentes. E não existe final feliz. O que Wilder apresenta, destaca Kushner, se assemelha à imagem de um lindo tapete. Olhando do lado direito, é um trabalho de arte, muito bem tecido, reunindo fios de diferentes tamanhos e cores para formar um desenho inspirado. Mas, virando o tapete pelo avesso, percebe-se uma confusão de fios, uns curtos outros compridos, alguns cortados, outros amarrados.

Logo, seria dessa forma que veríamos o mundo, do nosso ponto de vista, ou seja, olhando o tapete de baixo, enxergando o seu avesso. E dessa maneira, os padrões de recompensa e punição poderiam parecer arbitrários e sem lógica porque não temos a capacidade de compreensão e o entendimento divino. Kushner assinala em seu livro que nem sempre há uma razão para os males que nos afligem: “Será que somos capazes de aceitar a ideia que há fatos que surgem sem qualquer razão, de que no universo existem circunstâncias fortuitas?”.

Muita gente não se conforma com o conceito de casualidade e procura nexo e sentido em tudo que lhes ocorrem. Outras enxergam a mão de Deus atrás de tudo o que acontece. Mas suponhamos, escreve o rabino, que Deus não tenha terminado toda a sua obra no sexto dia, de acordo com a metáfora bíblica da Criação, e o processo de colocar ordem no caos ainda esteja em andamento.

Pela vida



Sobreviventes do Holocausto também são bons exemplos quando se aborda os desígnios de Deus. No livro “Por Aqueles que eu amo”, Martin Gray, que sobreviveu ao Gueto de Varsóvia e ao Holocausto, conta que depois da guerra se casou e constituiu uma família feliz. Entretanto, um incêndio em sua casa no sul da França matou a esposa e seus filhos. Ainda que arrasado com a tragédia, Gray preferiu não ir atrás de possíveis culpados e aplicar os seus recursos em um movimento para proteger as florestas de incêndios. A vida, explicou o sobrevivente, tem que ser vivida por alguma coisa, não contra alguma coisa.

Kushner também cita o trecho de um livro escrito por um sobrevivente de Auschwitz ( A Fé e a Dúvida dos Sobreviventes do Holocausto, de Brenner) sobre a vontade de Deus e a matança de milhares de inocentes nos campos de concentração nazista. Afirma o sobrevivente: “Nunca me ocorreu questionar o que Deus fez ou deixou de fazer, enquanto eu fui um habitante de Auschwitz... Eu não fiquei menos ou mais religioso com o que os nazistas nos faziam... Nunca me ocorreu associar a calamidade que estávamos experimentando a Deus, censurá-Lo, deixar de crer, porque Ele não vinha em nosso socorro. Devemos a Deus nossas vidas, pelos poucos ou muitos anos que vivemos, e temos a obrigação de cultuá-Lo e fazer o que Ele nos ordena. Para isso estamos na terra – a serviço de Deus, para cumprir a Sua vontade.”

No mais, o rabino Harold Kushner, nascido em 1935, escreveu vários livros de sucesso (Quando Tudo não é o Bastante; Quando as Crianças perguntam sobre Deus) e foi considerado pela organização católica norte-americana “The Christophers” uma das 50 pessoas que na última metade do século 20 tornaram o mundo melhor.

Atualmente, com 86 anos, ele diz perceber que as pessoas olham para trás e julgam que deixaram de fazer muitas coisas. “A diferença entre uma pessoa que tem uma velhice feliz e uma pessoa que tem uma velhice infeliz não é o quão  bem-sucedidas elas foram, mas o quanto as coisas em que falharam continuam a perturbá-las.”  E dá um conselho: ”Se você não for capaz de silenciar aquela vozinha de decepção, você nunca será feliz."