Sheila Sacks /
País é um dos grandes exportadores de carne kosher para Israel /
A Agência Israelense de Cooperação Internacional (Mashav) reiniciou em dezembro último (2020) suas atividades no Paraguai, com apoio da Embaixada de Israel do Uruguai e do Centro de Tecnologia Agropecuária do Paraguai (Cetapar). Desde setembro de 2018, permanece fechada a embaixada de Israel em Assunção por conta da decisão do governo paraguaio de voltar atrás da decisão de transferir a sua representação diplomática de Tel Aviv para Jerusalém.
O fato aconteceu depois das eleições presidenciais quando o atual presidente Mario Abdo Benitez assumiu o poder em 15 de agosto de 2018. Em pouco mais de um mês, ele anunciou o retorno da embaixada para Tel Aviv e, em reação, o primeiro ministro Benjamin Netanyahu comunicou o imediato fechamento da embaixada de Israel no Paraguai e o cancelamento de suas atividades. O Paraguai foi um dos primeiros países a transferir sua embaixada para Jerusalém, no início de 2018, na gestão do presidente Horácio Cartes.
Um dos grandes exportadores de carne kosher para Israel, o Paraguai, em 2020, não interrompeu o seu vínculo comercial com Israel. Apesar da pandemia e depois de cumprir o período de quarentena, vários rabinos estiveram no país para o trabalho de controle e certificação do abate de animais de acordo com a lei judaica. Além da carne, o Paraguai exporta outros produtos com certificação kosher, como sucos cítricos concentrados, soja, amido grãos, oleaginosas, arroz e erva-mate, entre outros.
A embaixada do Paraguai em Tel Aviv continua aberta, tendo à frente Max
Haber, que desde 2013 exerce essa função. Estima-se que vivem em torno de 300
paraguaios em Israel.
Curso com apoio tecnológico
Mais de 40 profissionais paraguaios participaram desse primeiro curso online, pós 2018, patrocinado por Israel e dirigido para atividades agrícolas. Nesse caso específico, para a produção intensiva de tomate, manejo de fertilização e comercialização do produto. Cinco especialistas israelenses ministraram o curso apresentando as inovações no setor. A Cetapar já anunciou que planeja instalar em breve um centro de excelência em tecnologias de irrigação com o apoio do governo de Israel.
De acordo com o jornal La Nación, a cooperação entre os governos paraguaio e israelense tem mais de 60 anos e abrange dezenas de cursos de especialização profissional, com bolsas de estudos e treinamentos realizados em centros avançados de Israel. São cursos de agricultura, educação, desenvolvimento social, comunicação, inovação, empreendedorismo, segurança cidadã, entre outros. Também estendido para a competitiva área de criação de negócios com modelos inovadores, as chamadas Startups.
A Mashav é a Agência Israelense de Cooperação Internacional para o
Desenvolvimento no Ministério das Relações Exteriores, responsável pelo
desenho, coordenação e implementação dos programas mundiais de desenvolvimento
e cooperação do Estado de Israel nos países em desenvolvimento.
Mais negócios em 2021
O diretor da Divisão América Latina e Caribe do Ministério das Relações
Exteriores de Israel, Modi Ephraim, em palestra virtual indicou que as relações
bilaterais entre os dois países vão se intensificar em 2021, principalmente no
setor econômico. Está nos planos, entre outras iniciativas, a instalação de um
escritório comercial em Assunção para ativar as atividades nessa área.
Ex-embaixador de Israel no Peru (2011 a 2014), Ephraim elogiou a decisão
do governo paraguaio de incluir o grupo xiita libanês, Hezbollah, apoiado pelo
Irã, na lista de organizações consideradas terroristas. Isso se deu em agosto
de 2019 e a iniciativa foi comemorada por Netanyahu nas redes sociais.
Comunidade pequena
Com sete milhões de habitantes, o Paraguai apresentou em 2020 um declínio econômico de cerca de 1%, tornando-se assim o país com menor impacto econômico devido ao efeito da pandemia de Covid-19 na região.
A comunidade judaica no país conta apenas com mil pessoas, a maioria residindo na capital. Possui três sinagogas (uma do Chabad, que oferece atividades complementares para crianças, jovens e adultos), uma escola judaica em tempo integral (‘Escola Estado de Israel’), um museu judaico ( com uma seção dedicada à Shoah) e associações culturais, de direitos humanos e recreativas como B'nai B'rith, Wizo, movimento Hanoar Hatzioni, a Asociasion Shalom y Amigos de Israel e a Unión Hebraica do Paraguay, esta última a principal sede social, esportiva e religiosa da comunidade. O local também abriga a Escola Estado de Israel e uma sinagoga que está entre os dez melhores projetos de arquitetura do mundo segundo a conceituada revista inglesa online Dezeen, de arquitetura e design.
Inaugurada em 2019, o projeto leva a assinatura dos arquitetos paraguaios Horacio Cherniavsky e Viviana Pozzoli. De estilo moderno e despojado, com capacidade de receber 80 pessoas, a sinagoga usa o concreto como revestimento externo e madeira para cobrir teto e paredes. Desde a inauguração, vários eventos religiosos e culturais têm sido realizados em suas dependências.
Encontro com Mengele
E foi no Paraguai, há cinco anos, na data em que se comemora o Dia Internacional do Holocausto (27/1), que a filha de uma sobrevivente de Auschwitz, na Polônia, a paraguaia Flora Tauber, revelou que o criminoso nazista Josef Mengele, em abril de 1965, entrou na joalheria de seus pais, em Assunção, para realizar uma compra.
O depoimento foi dado na solenidade realizada pelo Congresso Paraguaio para lembrar as vítimas do genocídio e celebrar o 70º aniversário da libertação do campo de concentração nazista de Auschwitz (2015). Flora relatou que o médico nazista, conhecido como o “Anjo da Morte” por suas experiências cruéis com prisioneiros, se assustou ao ver os números tatuados no braço de sua mãe, e saiu rapidamente da loja. Ela ainda tentou pegá-lo, mas ele fugiu.
A mãe de Flora, Sonia Tauber passou quatro anos no campo de Auschwitz e
pode se refugiar no Paraguai, junto com a irmã, em 1945, logo após o término da
guerra. Para isso contou com os esforços do embaixador paraguaio em Paris, que
as ajudaram.
O relato foi incluído no livro “Mengele en Paraguay” (2018), do
jornalista Andrés Colmán Gutiérrez, uma investigação histórica sobre os passos do
criminoso no país, desde 1951. Mesmo
após a fuga para o Brasil, em 1961, Mengele fazia visitas regulares ao
Paraguai.
Morte controversa
Mengele esteve no Paraguai, Argentina e no Brasil, onde supostamente morreu afogado em uma praia da Baixada Santista (SP), em 1979. Documentos do Mossad mostram que o nazista, à época da captura da Eichmann (1960), estava em Buenos Aires, mas que se sentindo ameaçado desapareceu de sua residência. No Brasil, viveu sob o nome falso de Friderieke Gerhard.
Em 1985, seus restos mortais foram exumados e a identidade do criminoso confirmada por peritos nacionais e internacionais, o que foi contestado por outro sobrevivente de Auschwitz, o naturalizado brasileiro Ben Abraham, falecido em 2015. Sua investigação resultou no livro “Mengele: A Verdade Veio à Tona” (1994), também traduzido para o inglês, em que ele afirma que Mengele somente morreu em 1992, nos Estados Unidos, treze anos depois da notícia do afogamento. De acordo com Abraham, o corpo do nazista foi cremado e as cinzas espalhadas para evitar qualquer tipo de reconhecimento.
27 de janeiro de 2021 - Jamais esquecer !