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terça-feira, 2 de setembro de 2025

China em alta no Brasil apesar das críticas de organizações de direitos humanos

/ Sheila Sacks /

Pesquisa Quaest divulgada em 26/8/2025 mostra um aumento da percepção positiva dos brasileiros em relação à China. Houve uma alta de 11pontos em relação a fevereiro, evoluindo de 38% para 49% os percentuais dos que veem o país asiático de forma favorável. O levantamento também detalha que a China lidera a aprovação entre os mais pobres (45%).

A mídia nacional interpretou o tarifaço de Trump (50%) aos produtos brasileiros  como o principal fator de influência na sondagem, visto que a percepção negativa em relação aos Estados Unidos aumentou de 24% para 48%. Mas, entre os brasileiros que recebem mais de 5 salários mínimos, a avaliação positiva aos EUA lidera com 53%, aponta o mesmo levantamento. 

A China é o terceiro maior país do mundo em extensão territorial, só perdendo para a Rússia e o Canadá.  Uma em cada cinco pessoas no mundo (1,4 bilhão) vive na China que até 2023 era o país mais populoso. Atualmente cabe à Índia esse título. O salário mínimo mensal é de 378 dólares mensais (2.740 yens chineses ou em torno de 2 mil reais), de acordo com a plataforma digital China Briefing. Já a média salarial de profissionais qualificados de nível superior, como médico, engenheiro ou advogado, pode variar de 2 a 3 mil dólares mensais, com o setor estatal pagando os salários mais altos.

Vigilância e intimidação

De acordo com o relatório anual da Anistia Internacional sobre os direitos humanos no mundo, disponibilizado em abril deste ano em sua plataforma on-line, o governo chinês continua a aplicar leis e políticas repressivas que restringem o direito à liberdade de expressão e à liberdade religiosa. Ao longo de 2024, defensores dos direitos humanos foram perseguidos, processados ​​e condenados a longas penas de prisão. Ativistas que viviam no exterior enfrentaram ameaças e intimidação. Líderes religiosos foram presos e novos regulamentos limitando ainda mais a liberdade de religião e crença entraram em vigor no país.

“Novos regulamentos foram emitidos pelo ministério de Segurança concedendo poderes adicionais aos agentes da lei para inspecionar dispositivos eletrônicos, incluindo os de visitantes estrangeiros na China”, afirma o documento, que destaca ainda outros pontos de assédio e constrangimento:

- estudantes chineses, alunos em universidades na Europa Ocidental e Estados Unidos enfrentaram vigilância e censura on-line e off-line por parte de agentes estatais;

- defensores dos direitos humanos, incluindo ativistas, advogados e jornalistas continuaram a enfrentar intimidação, assédio, detenção arbitrária, tortura e maus-tratos;

- regulamentos religiosos sofreram revisões mais restritivas e entraram em vigor limitando ainda mais a liberdade de religião e crença;

– o acesso às informações sobre segredos de Estado, incluindo a aplicação da pena de morte, ficou ainda mais rigoroso pelas revisões da Lei de Proteção de Segredos de Estado;

- o espaço para a liberdade de expressão, já altamente cerceado pela Lei de Segurança Nacional (NSL) e outras leis repressivas, diminuiu ainda mais;

- e em Hong Kong uma nova lei de segurança nacional restringiu ainda mais o espaço cívico e dezenas de ativistas pró-democracia foram condenados a duras penas de prisão.

Órgão jurídico da ONU faz alerta

O relatório da Anistia, disponível na internet, cita datas, locais e os nomes de ativistas, artistas, intelectuais, juízes, advogados e jornalistas detidos e presos por expressarem suas opiniões. A ONG também nomeou a China como o “principal carrasco do mundo”, com milhares de pessoas sendo executadas, 40% relacionadas ao tráfico de drogas. Na ONU, a Relatora Especial sobre a Independência de Juízes e Advogados, Margaret Satterthwaite, expressou preocupação “sobre as restrições administrativas, criminalização e outros padrões de interferência no trabalho de advogados”. Para a Relatora, “advogados de direitos humanos que trabalham em casos delicados foram particularmente visados”.

Em relação às restrições religiosas, a Catholic News Agency (CNA), em artigo publicado em 21/10/2024, revelou a repressão a 10 bispos católicos chineses por resistirem a se submeter ao controle estatal da Associação Católica Patriótica Chinesa (CPCA), uma organização ligada ao Partido Comunista que na prática exerce vigilância e emite diretrizes para os religiosos.  A informação está contida no relatório “Ten Persecuted Catholic Bishops in China”, do Hudson Institute, uma instituição americana de pesquisa sobre questões da atualidade.  Alguns religiosos estão presos, como o bispo Bispo Julius Jia Zhiguo, de 90 anos, cujo “crime” foi ter permitido que hinos fossem cantados em sua igreja sem a permissão do governo.

De acordo com a autora do relatório, a advogada de direitos humanos Nina Shea, a repressão religiosa à Igreja Católica da China se intensificou desde o acordo China-Vaticano de 2018 sobre a nomeação de bispos. Sete desses bispos foram detidos sem o devido processo legal, alguns deles sob prisão contínua,, enquanto outros foram presos repetidamente, até seis vezes desde a assinatura do acordo.

Em 2024, a Santa Sé e a República Popular da China prorrogaram a validade deste acordo provisório por mais quatro anos. O Vaticano justificou a medida como uma forma de prosseguir na abertura de um “diálogo respeitoso e construtivo com a parte chinesa, para o desenvolvimento das relações bilaterais visando o bem da Igreja Católica no país e de todo o povo chinês”. Antes do acordo, as ordenações episcopais eram realizadas sem o consentimento do papado.

Lembrando ainda que a Organização Repórteres Sem Fronteiras classificou a China como "a maior prisão de jornalistas do mundo".  Em seu relatório de 2025, a ONG internacional denuncia que atualmente mais de 100 jornalistas estão presos em condições severas no país, inclusive a jornalista Zhang Zhan que divulgou a epidemia de Covid-19. Ela cumpriu pena de quatro anos de prisão e voltou a ser detida em agosto do ano passado. No ranking de 180 países, a China ocupa a 3ª posição como um dos piores lugares para jornalistas trabalharem e viverem, perdendo apenas para a Coreia do Norte e a Eritreia.

O documento também relata que todos os dias o Departamento de Propaganda do Partido Comunista envia aos meios de comunicação uma lista detalhada de tópicos a serem destacados e outra de tópicos cuja abordagem é proibida, sob pena de sanções.