/ Sheila Sacks /
Pesquisa Quaest divulgada em 26/8/2025 mostra um aumento da
percepção positiva dos brasileiros em relação à China. Houve uma alta de 11pontos
em relação a fevereiro, evoluindo de 38% para 49% os percentuais dos que veem o
país asiático de forma favorável. O levantamento também detalha que a China
lidera a aprovação entre os mais pobres (45%).
A mídia nacional interpretou o tarifaço de Trump (50%)
aos produtos brasileiros como o principal fator de influência na
sondagem, visto que a percepção negativa em relação aos Estados Unidos aumentou
de 24% para 48%. Mas, entre os brasileiros que recebem mais de 5 salários
mínimos, a avaliação positiva aos EUA lidera com 53%, aponta o mesmo levantamento.
A China é o terceiro maior país do mundo em extensão
territorial, só perdendo para a Rússia e o Canadá. Uma em cada cinco pessoas no mundo (1,4
bilhão) vive na China que até 2023 era o país mais populoso. Atualmente cabe à
Índia esse título. O salário mínimo mensal é de 378 dólares mensais
(2.740 yens chineses ou em torno de 2 mil reais), de acordo com a plataforma
digital China Briefing. Já a média salarial de profissionais qualificados de
nível superior, como médico, engenheiro ou advogado, pode variar de 2 a 3 mil
dólares mensais, com o setor estatal pagando os salários mais altos.
Vigilância e intimidação
De acordo com o relatório anual da Anistia Internacional sobre os direitos humanos no mundo, disponibilizado em abril deste ano em sua plataforma on-line, o governo chinês continua a aplicar leis e políticas repressivas que restringem o direito à liberdade de expressão e à liberdade religiosa. Ao longo de 2024, defensores dos direitos humanos foram perseguidos, processados e condenados a longas penas de prisão. Ativistas que viviam no exterior enfrentaram ameaças e intimidação. Líderes religiosos foram presos e novos regulamentos limitando ainda mais a liberdade de religião e crença entraram em vigor no país.
“Novos regulamentos foram emitidos pelo ministério de
Segurança concedendo poderes adicionais aos agentes da lei para inspecionar
dispositivos eletrônicos, incluindo os de visitantes estrangeiros na China”,
afirma o documento, que destaca ainda outros pontos de assédio e
constrangimento:
- estudantes chineses, alunos em universidades na Europa
Ocidental e Estados Unidos enfrentaram vigilância e censura on-line e off-line por
parte de agentes estatais;
- defensores dos direitos humanos, incluindo ativistas,
advogados e jornalistas continuaram a enfrentar intimidação, assédio, detenção
arbitrária, tortura e maus-tratos;
- regulamentos religiosos sofreram revisões mais restritivas
e entraram em vigor limitando ainda mais a liberdade de religião e crença;
– o acesso às informações sobre segredos de Estado, incluindo
a aplicação da pena de morte, ficou ainda mais rigoroso pelas revisões da Lei
de Proteção de Segredos de Estado;
- o espaço para a liberdade de expressão, já altamente cerceado
pela Lei de Segurança Nacional (NSL) e outras leis repressivas, diminuiu ainda
mais;
- e em Hong Kong uma nova
lei de segurança nacional restringiu ainda mais o espaço cívico e dezenas de
ativistas pró-democracia foram condenados a duras penas de prisão.
Órgão jurídico da ONU faz alerta
O relatório da Anistia, disponível na internet, cita datas,
locais e os nomes de ativistas, artistas, intelectuais, juízes, advogados e
jornalistas detidos e presos por expressarem suas opiniões. A ONG também nomeou
a China como o “principal carrasco do mundo”, com milhares de pessoas sendo
executadas, 40% relacionadas ao tráfico de drogas. Na ONU, a Relatora Especial sobre
a Independência de Juízes e Advogados, Margaret Satterthwaite, expressou preocupação
“sobre as restrições administrativas, criminalização e outros padrões de
interferência no trabalho de advogados”. Para a Relatora, “advogados de
direitos humanos que trabalham em casos delicados foram particularmente visados”.
Em relação às restrições religiosas, a Catholic News Agency
(CNA), em artigo publicado em 21/10/2024, revelou a repressão a 10 bispos
católicos chineses por resistirem a se submeter ao controle estatal da Associação
Católica Patriótica Chinesa (CPCA), uma organização ligada ao Partido Comunista
que na prática exerce vigilância e emite diretrizes para os religiosos. A informação está contida no relatório “Ten
Persecuted Catholic Bishops in China”, do Hudson Institute, uma instituição
americana de pesquisa sobre questões da atualidade. Alguns religiosos estão presos, como o bispo Bispo
Julius Jia Zhiguo, de 90 anos, cujo “crime” foi ter permitido que hinos fossem cantados em
sua igreja sem a permissão do governo.
De acordo com a autora do relatório, a advogada de direitos
humanos Nina Shea, a repressão religiosa à Igreja Católica da China se
intensificou desde o acordo China-Vaticano de 2018 sobre a nomeação de bispos.
Sete desses bispos foram detidos sem o devido processo legal, alguns deles sob prisão
contínua,, enquanto outros foram presos repetidamente, até seis vezes desde a
assinatura do acordo.
Em 2024, a Santa Sé e a República Popular da China
prorrogaram a validade deste acordo provisório por mais quatro anos. O Vaticano
justificou a medida como uma forma de prosseguir na abertura de um “diálogo respeitoso
e construtivo com a parte chinesa, para o desenvolvimento das relações
bilaterais visando o bem da Igreja Católica no país e de todo o povo chinês”. Antes
do acordo, as ordenações episcopais eram realizadas sem o consentimento do papado.
Lembrando ainda que a Organização Repórteres Sem Fronteiras classificou a China como "a maior prisão de jornalistas do mundo". Em seu relatório de 2025, a ONG internacional denuncia que atualmente mais de 100 jornalistas estão presos em condições severas no país, inclusive a jornalista Zhang Zhan que divulgou a epidemia de Covid-19. Ela cumpriu pena de quatro anos de prisão e voltou a ser detida em agosto do ano passado. No ranking de 180 países, a China ocupa a 3ª posição como um dos piores lugares para jornalistas trabalharem e viverem, perdendo apenas para a Coreia do Norte e a Eritreia.
O documento também relata que todos os
dias o Departamento de Propaganda do Partido Comunista envia aos meios de
comunicação uma lista detalhada de tópicos a serem destacados e outra de
tópicos cuja abordagem é proibida, sob pena de sanções.