Sheila Sacks /
Em outubro último, mais uma expedição brasileira partiu para a Antártida. Com 13 milhões de quilômetros quadrados, o continente gelado é maior do que a Europa. Não tem população nativa, nem países ou donos. Mais de 90% de seu território é coberto de gelo e detém mais de dois terços das reservas de água doce do mundo. Vinte nove países mantêm bases científicas no continente.
Em
1984, o Brasil construiu a sua primeira base na Antártida. Duas décadas antes,
em 1961, um brasileiro já visitava o local. A bordo de um navio quebra-gelo da
marinha americana, testemunhou a aparição de um estranho fenômeno aéreo
luminoso. Engenheiro, meteorologista, professor da USP, ele trabalhou na NASA,
ajudou a implantar o PROANTAR - Programa Antártico Brasileiro, e realizou 12 viagens
à Antártida.
Programa secreto
Rubens
Junqueira Villela, hoje com 90 anos, conta que, por coincidência, a observação
do fenômeno ocorreu onde hoje ancoram os navios brasileiros que servem à
Estação Antártica Comandante Ferraz. O “avistamento” foi registrado no extinto National Investigations Committee
On Aerial Phenomena (NICAP)
e também na comissão ufológica oficial do governo francês. A ocorrência
misteriosa somou-se a centenas de outras, de teor semelhante, relatadas por
integrantes de países em missões científicas na Antártida. Diante do acúmulo de
narrativas aparentemente inexplicáveis, o Pentágono (Departamento de Defesa dos
EUA) anunciou, em agosto deste ano a criação de um setor especializado para
pesquisar tais fenômenos aéreos.
Nada de novo, considerando que, entre 2007 a 2012, o Pentágono manteve um programa secreto denominado “Advanced Aerospace Threat Identification Program” (Programa de Identificação Avançada de Ameaças Aeroespaciais). Mas, apesar do corte de verba ( 22 milhões de dólares anuais), o projeto investigativo se desenvolveu até 2017, totalizando um gasto para o governo americano de 600 bilhões de dólares, segundo o jornal The New York Times.
Também a Marinha dos EUA resolveu
estabelecer novos protocolos de ação para seus militares, no ano passado
(2019), diante do aumento de aparição dos “fenômenos aéreos não identificados”.
A recomendação é de que os pilotos e demais oficiais documentam, através de
relatos, esses encontros, o que antes não era feito em razão do estigma que acompanha
aqueles que porventura registram esses fenômenos. O porta-voz do subchefe
de operações navais da Marinha, Joseph Gradisher, admitiu ao jornal Washington Post, na ocasião, que o aparecimento desses fenômenos tem
ocorrido várias vezes por mês.
Robô subaquático
No final de 2019, a Nasa – a
agência americana de responsável pelos programas de exploração espacial –
anunciou que um robô subaquático seria enviado à Antártida com a finalidade de
testar sua capacidade de futuramente navegar sozinho por oceanos
extraterrestres que estão abaixo do gelo. A alegação foi que as águas da
Antártida são a analogia mais próxima de oceanos lunares já detectados, por
exemplo, no planeta Júpiter. São oceanos globais líquidos cobertos de camadas
de gelo que podem ter espessura de 10 a 19 quilômetros, afirmam os cientistas
da Nasa.
Equipado com sensores e instrumentos para medir parâmetros relacionados à possibilidades de vida (oxigênio dissolvido, salinidade, pressão e temperatura), o robô denominado Bruie (Buoyant Rover for Under-Ice Exploration) atuará na chamada interface, a camada onde as águas se encontram com o gelo, com o objetivo de detectar formas similares às da Terra.
Vale lembrar que há duas décadas, em novembro de
2000, uma funcionária terceirizada da Philco Ford – empresa que projetou e
construiu o Centro Espacial Tripulado em Houston, da Nasa – afirmou que a
agência editava fotos de satélites em que apareciam objetos aéreos não identificados,
antes de serem liberadas ao público. Donna Hare disse que as alterações eram
feitas especificamente no prédio número 8 do Centro Espacial.
Meses depois, o hacker escocês Gari McKinnon,
estimulado por essa revelação, segundo ele, invadiu computadores de órgãos
militares e de defesa dos EUA, no que foi considerado o maior ataque a
computadores da área militar. Em relação à Nasa, o hacker acessou dezenas de
computadores onde disse ter encontrado bancos de imagens com fotos catalogadas
como “processadas” e “não processadas. Condenado a 70 anos de prisão por um
corte federal americana, McKinnon não foi extraditado por decisão da
ex-primeira-ministra Theresa May, em 2012.
Físico não foi encontrado
Outro fato estranho, até hoje sem
explicação, foi o desaparecimento do físico Carl Robert Dish, especializado no
estudo da ionosfera, de uma estação científica na Antártida, em 1965. Ele
trabalhava na Byrd Station, uma instalação americana que funcionou entre 1956 e
2005. O desaparecimento ocorreu no trajeto externo de um prédio ao outro da
estação, uma trilha reta e de curta distância, que segundo seus companheiros,
ele conhecia bem e já tinha percorrido mais de uma dúzia de vezes.
Foram feitas várias tentativas por dias para encontrá-lo, com a cobertura de cães husky, mas seu corpo não foi achado. O inexplicável é que suas pegadas na neve paravam em determinado ponto e não continuavam. Semanas depois foi realizado uma cerimônia fúnebre em sua homenagem em um cemitério do estado de Wisconsin.
Anos mais tarde, em
1971,cientistas do Centro de Mensagens da estação americana de McMurd - a maior base científica instalada na Antártida,
com capacidade de abrigar até mil cientistas e visitantes – receberam uma
mensagem de voz , supostamente do físico desaparecido, dizendo que estava vivo
e bem, o que foi considerado, por muitos, uma farsa.
De olho na Antártida
Diante de tantos relatos sem
explicações plausíveis, principalmente de objetos aéreos luminosos que aparecem
e desaparecem como por encanto, o
professor universitário Rubén Morales, de nacionalidade argentina, resolveu
compilar essas estranhas histórias no livro “ Los OVNIs de la Antártida: historias extraordinarias
del continente Blanco” (2018). Ele cita a existência de uma unidade da Marinha
de seu país cujo único propósito era investigar os fenômenos UFO (unidentified
flying object). Criada em 1962, a
divisão atuou até a metade da década de 1970.
Mantendo a base mais antiga da Antártida, datada de 1904, a Argentina, assim como o Chile e o Reino Unido, reivindica parte do território do continente, se utilizando da teoria da continuidade e da contiguidade, e, no caso da nação britânica, da teoria da descoberta. Essas reivindicações foram suspensas até 2041, em uma reunião com os países signatários do Tratado da Antártida. Até lá, a Antártida continua com o status de Patrimônio da Humanidade, proibidas novas contestações territoriais.
Atualmente,
52 países, inclusive o Brasil, fazem parte do Tratado da Antártida, firmado em
1 de dezembro de 1959. Na época, o documento foi assinado por doze países, e o
Brasil só se tornou membro do grupo em 1975. O acordo propõe a total proteção
ambiental ao continente e libera a pesquisa científica, mas proíbe a instalação
de bases militares, testes de armas, explosões nucleares e eliminação de
resíduos radioativos. Igualmente proíbe a mineração e a exploração de petróleo.