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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Obama e o 11/9


por Sheila Sacks

Passados nove anos dos atentados de 11 de setembro e dois anos do início da gestão de Barack Obama, continuam sem julgamento os cinco acusados de terem tramado o pior ataque terrorista da história dos Estados Unidos. Três mil pessoas foram mortas naquele fatídico dia de 2001 em três pontos diferentes - Nova York, Washington e Pensilvânia -, em um diabólico circuito de insanidade e horror cujas imagens ainda causam perplexidade e indignação.

Prisioneiros na base militar de Guantánamo, em Cuba, os terroristas muçulmanos da Al Qaeda, inclusive o autoproclamado mentor da catástrofe, o paquistanês Khalid Sheik Muhamad (que degolou o jornalista Daniel Pearl, um ano depois, e divulgou a execução em vídeo) ainda aguardam a definição do local (jurisdição) onde serão julgados. Uma demora que vem recebendo pesadas críticas dos principais segmentos da sociedade americana e que tem respingando sobre o presidente Obama.

Com a popularidade em baixa (somente 43% aprovam seu governo), Obama já está sendo visto por 25% dos americanos como muçulmano ao invés de cristão como afirma (seu pai, nascido no Quênia, era muçulmano). Também o seu posicionamento a favor da construção de uma mesquita a ser erguida perto do local da tragédia do 11/9 tem provocado polêmica e um grande mal-estar principalmente entre os parentes das vítimas dos ataques.

Para o professor emérito de História e Religião Islâmica da Universidade Hebraica de Jerusalém, Moshé Sharon, o importante não é o fato de que 1 em 5 norte-americanos já acredita que Obama é muçulmano. O principal na questão é saber o que os muçulmanos pensam de Obama. De que forma os seguidores do Islã veem um filho de pai muçulmano que nega publicamente seu vínculo com a religião.

Em 2009, quando Obama visitou o Egito, Sharou falou à rede de TV norte-americana CBN News (The Christian Broadcasting Network) sobre esse aspecto da biografia de Obama. Segundo Sharon, o nome Hussein que Obama carrega tem um peso histórico e religioso muito grande, porque esse nome remonta ao príncipe Hussein Ibn Ali (626-680), neto de Maomé, reverenciado como “Mártir dos Mártires”. Ele foi morto e decapitado na Batalha de Karbala e a data é uma das mais importantes do calendário islâmico, em especial para o ramo xiita.

Diferente da religião judaica que considera judeu quem é filho de mãe judia, pela lei islâmica da sharia a religião passa de pai para o filho e aquele que a abjura comete um ato de apostasia. Dessa forma, pela religião do Islã, Obama é muçulmano, ainda que negue publicamente. Outro detalhe: somente meninos muçulmanos recebem o nome Hussein.

O Ocidente e a linguagem do Islã

Autor de mais de 10 livros sobre a civilização árabe, Sharon, de 72 anos, também é especialista em inscrições antigas e profundo conhecedor da Shia, a seita xiita predominante no Irã e no Iraque. No início de 2010, a mídia mundial divulgou um importante achado arqueológico na cidade velha de Jerusalém, coordenado pelo professor Sharon: a descoberta de uma placa de mármore, entre outras antiguidades, com uma inscrição rara em língua árabe do ano 910.

Integrante do movimento Americans for a Safe Israel (AFSI), Sharon explica que "as nações erram ao aplicar o pensamento judaico-cristão às ações políticas que envolvem os países árabes. A linguagem do ocidente não impressiona e nem repercute nos países islâmicos da forma que os ocidentais ingenuamente supõem, já que o Islã tem uma linguagem própria em que acreditam e da qual jamais se afastarão.

O professor lembra que em agosto de 2005, quando da retirada de Israel da Faixa de Gaza, um dos líderes mais radicais do Hamas, posteriormente ministro palestino de Relações Exteriores e atual comandante do grupo na região, Mahmoud al-Zahar, em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, declarou que o Hamas jamais desistiria da Grande Palestina, que inclui a cidade de Jerusalém e a Cisjordânia. “Esta solução que está aí é temporária e pode durar de 5 a 10 anos. Mas, ao final, a Palestina voltará a ser muçulmana e Israel desaparecerá da face da terra.”

Em outra apresentação, desta vez à CBN News, Al-Zahar, declarou textualmente: “Nós estamos em meio a uma terceira Guerra Mundial. Eu digo isso o tempo todo. E mais: Por que o Hamas deveria abrir mão de suas armas? Para satisfazer Israel? Para satisfazer algum ser humano na terra? A resposta é não”.

Profundo conhecedor da língua e do pensamento árabes, professor Sharon vem alertando, já há alguns anos, sobre a necessidade das nações prestarem mais atenção à linguagem usada pelo Hamas (que significa fervor) e por grupos como o Hezbollah e Al Qaeda. “O que Al-Zahar quis dizer quando falou em terceira Guerra Mundial é o seguinte”, explica Sharon: “ Nós, muçulmanos, queremos restabelecer o Califado – da Índia e China à Espanha”. Isso porque os árabes ainda consideram a Espanha como território islâmico (a Península Ibérica ficou sob o domínio dos árabes por 700 anos- do séc. VIII ao XV).

Os cristãos-sionistas que acreditam no Salvador

Em outra oportunidade, Al-Zahar chamou os norte-americanos de “cristãos-sionistas” que acreditam em ilusões como a de que o Salvador retornará a Jerusalém e que os judeus devem estar lá para esperá-Lo. “Os americanos incitam o mundo contra o Hamas e outros grupos muçulmanos”, acusou o líder palestino, “e portanto não há benefício em manter um diálogo com pessoas que convivem com o Satã.” Para o professor Sharon está patente que a briga com os chamados “cristãos-sionistas” dos Estados Unidos faz parte de uma guerra maior que o Islã trava contra o sistema de vida judaico-cristã do Ocidente. “Quando Al-Zahar diz que o poder de Israel e dos americanos não é eterno e que isso pode mudar, o que ele verdadeiramente expõe é que o objetivo do Hamas é o estabelecimento de um estado palestino muçulmano em Israel e também o domínio de toda a terra pelo Islã.”

Universidade Hebraica de Jerusalém
Sharon adverte que o Ocidente está em perigo e deve enfrentar a situação de maneira séria. “Para muitos pode parecer uma piada esta história de dominar o mundo, mas para os muçulmanos são palavras de Deus. Desde os primórdios, a intenção do Islã sempre foi subjugar os povos e colocá-los sob as suas leis e regras. E hoje, este plano está a caminho e nós precisamos ter consciência do fato”. E lista alguns pontos que comprovam a sua tese:
1.Está escrito literalmente no Corão (Repetição) que “Alá enviou Maomé com a religião verdadeira para governar sobre todas as religiões”;
2. Maomé afirmou que os judeus e os cristãos falsificaram os livros da Bíblia e que todos os profetas são muçulmanos, inclusive Abraão, Isaac, Jacob, David e Moisés;
3.O Sistema Islâmico diz que é preciso lutar contra aqueles que não querem viver sob o domínio do Islã. A guerra contra os infiéis, sejam judeus ou cristãos, chama-se Jihad (esforço, empenho);
4. O Corão divide o planeta em duas Casas: uma se chama Dar al-Islam (Casa do Islã), onde o Islamismo governa, e a outra Dar al-Harb (Casa da Guerra), como é conhecido o restante do mundo. Esta Casa da Guerra será conquistada no final dos tempos e subjugada pelo Islã;
5.Para a civilização islâmica, se uma terra, no passado, foi dominada pelo Islã, ela sempre será propriedade do Islã. Daí os árabes só se referirem a Israel como território;
6.O propósito do Islã é de se constituir em uma força militar divina para impor a cultura islâmica. Cada muçulmano que entrega a sua vida na luta pela disseminação do Islã se constitui em um mártir (shaheed), não importando a maneira como essa morte possa vir a ocorrer. Ou seja, este é um conflito bélico eterno, uma guerra sem fim, entre duas civilizações: a da Bíblia versus a do Corão.

A eterna guerra das civilizações

Além de professor, Sharon foi Consultor para Assuntos Árabes do Governo de Israel, no período do Primeiro-Ministro Menachem Begin (1977-1983). Ele é incisivo ao questionar a posição de políticos ocidentais que, sem conhecerem uma palavra do idioma árabe, se arvoram em vozes e intérpretes de uma cultura que não entendem. “Esses políticos criaram uma falácia denominada fundamentalismo islâmico. Algo como um Islã bom e um Islã mau. Isso não existe. Há apenas um Islã (significa submissão), aquele dos oradores das mesquitas que vociferam horríveis sermões contra os judeus e os cristãos. Daí que o uso de nossa terminologia e vocabulário para abordar temas como democracia ou fundamentalismo equivale a falar sobre futebol usando termos de beisebol. Para falar com o Islã, você precisa usar o idioma do Islã”, acentua o historiador.

Sharon lembra ainda que nestas guerras de civilizações são muito utilizados os artifícios do tipo cessar-fogo ou acordos de paz , como instruiu Maomé (570-632) que usou desta tática em Hudaybiya (em 628). Neste local ele firmou um tratado de paz de 10 anos com a tribo Quraish que vivia na cidade de Meca. Em dois anos quebrou a promessa e marchou com 10 mil soldados sobre a cidade. Tal fato histórico, aliás, foi mencionado por Yasser Arafat, quando semanas depois do Acordo de Oslo (1994) ele se justificou em uma mesquita na África do Sul. À época, o professor Sharon lecionava na universidade de Witwarestrand, em Joanesburgo, e gravou o discurso em que Arafat pedia desculpas pela sua assinatura no documento, dizendo: “Vocês acham que eu poderia assinar algo com os judeus contrário ao que dizem as regras do Islã? Não foi assim. Eu fiz exatamente o que o profeta Maomé fez”. Para Sharon, Arafat estava simplesmente falando: “Lembrem-se da história de Hudaybiya”.

Tratados não são permanentes

O provérbio árabe - palavras não pagam impostos - define bem as características das negociações utilizadas pelos muçulmanos e que devem ser entendidas da seguinte forma: “tratados não são permanentes”. Sharon conta que aconselhou o ministro Begin a não ser o primeiro a falar sobre as propostas de Israel, em qualquer acordo ou tratado de paz com os árabes, porque eles seguem o exemplo do califa muçulmano Ali Ibn Abu Talib - primo e genro de Maomé e mártir dos xiitas - que, em uma contenda em Damasco, no século VII, fez o inimigo falar primeiro e assim conheceu os seus planos, dando a impressão de uma concordância que, mais adiante, não se concretizou.

Nem tudo é negociável

No artigo "Doormat Policy" (2010) o professor Sharon qualifica de débil a política diplomática de Israel em relação aos árabes/palestinos porque não assegura plenas condições de segurança para a população do país. "É preciso parar de dizer que tudo é negociável, quando se sabe que é inconcebível libertar terrorristas assassinos assumidos". Segundo Sharon, " se você se comporta como um capacho, considera a si mesmo um capacho, e deixa os outros o tratarem como um capacho, então você provavelmente deve ser um capacho."

A fé Bahá´í em Israel

Em conversa pelo telefone, em 2007, Moshé Sharon contou que jamais foi convidado para realizar palestras no Brasil ou em outro país da América Latina. Desde 1999 ele preside o Centro de Estudos Bahá’í, na Universidade de Jerusalém.

(Na foto, o santuário Bahá´í, em Haifa, no Monte Carmel, declarado patrimônio da humanidade pela Unesco)
Nascido em Israel, Sharon é o primeiro judeu a dirigir a área de história e desenvolvimento desta crença oriental e pacifista (originária do Irã), que possui 5 milhões de seguidores em 200 países (somente na Índia são mais de 2 milhões). No Brasil estima-se que existem 57 mil adeptos.

Lamentavelmente, os seguidores da fé Bahá`í ( cerca de 300 mil ) estão sendo perseguidos pelo regime islâmico do Irã. Desde 2008, 7 líderes bahá´is, sendo duas mulheres, estão detidos e em agosto de 2010 eles foram condenados a 20 anos de encarceramento.

Linha de frente contra o terrorismo

Repetindo o que vem dizendo em seminários acadêmicos na Europa e nos Estados Unidos, Sharon destaca que Israel está na linha de frente nesta batalha de civilizações, mas também precisa da ajuda das nações do Ocidente, porque no momento em que o radicalismo muçulmano se apropriar do controle de armas de destruição em massa – químicas, biológicas e atômicas – estas serão implacavelmente usadas.

Apesar dos alertas de Moshé Sharon projetarem um futuro inquietante para o nosso planeta, a grande mídia teima em se ater a fatos correntes sem se aprofundar no cerne da questão. Talvez pela sua condição de judeu-israelense, muitos jornalistas e intelectuais, instintivamente, façam um pré-julgamento de seus estudos.

Entretanto, alguns pesquisadores de religiões monoteístas e observadores da cultura islâmica já citam o especialista israelense como importante fonte de referência. É o caso do teólogo Samuele Bacchiocchi, doutor em História Cristã, com 15 livros publicados. Formado pela Pontifical Gregorian University, de Roma, e mestre de Teologia da Andrews University, em Michigan, Samuele introduziu os conceitos de Moshé Sharon em suas conferências e também no artigo “Reflexões sobre Terrorismo e Intolerância”. É dele a seguinte frase:
“Lamentavelmente, os repórteres que cobrem o conflito entre Israel e os palestinos/árabes não oferecem quaisquer lampejos sobre quais são as forças ideológicas em ação por trás destas guerras”.


Na foto, Albert Einstein no campus da Universidade Hebraica de Jerusalém. O cientista foi um dos fundadores da instituição, em 1925, e ministrou a sua aula inaugural.