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sexta-feira, 16 de junho de 2017

Portugal se reencontra com seu passado judaico

Artigos recentes  na imprensa portuguesa atestam a substancial mudança de parâmetros históricos em relação ao passado de Portugal. Estudiosos, professores universitários e intelectuais em geral, com o apoio dos órgãos governamentais, estão pondo à luz uma história subterrânea, oculta e mal contada que afetou milhões de pessoas ao longo dos séculos.

Presidente de Portugal 
Por Sheila Sacks

Mais de quinhentos anos após os judeus serem expulsos de Portugal, o presidente Rebelo de Sousa admite que tal fato foi um “erro histórico” que, ao longo dos séculos, se mostrou desfavorável ao país. “Com a saída dos judeus, Portugal perdeu em termos culturais, científicos, econômicos e financeiros”, observou o primeiro mandatário português aos jornalistas presentes em uma exposição sobre a presença judaica em território lusitano, ocorrida entre 20 de março e 29 de abril deste ano.

Instalada no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, a exposição “Heranças e Vivências Judaicas em Portugal” foi organizada pela “Rede de Judiarias de Portugal – Rotas de Sefarad” (nome hebraico para a Península Ibérica), uma associação público-privada fundada em 2011, com sede em Belmonte, e que atualmente congrega 37 municípios portugueses. Cidades populosas como Lisboa e Porto também fazem parte da Rede que iniciou, em maio, um périplo pelo país levando a exposição para todas as localidades incluídas no projeto, a começar por Bragança, na região de Trás-os-Montes, no norte de Portugal.

Em paralelo, uma réplica da exposição também foi mostrada em Oslo, no Centro de Estudos do Holocausto e minorias religiosas (HL- Senreret), com o apoio da organização Eea Grants, que reúne a Noruega, Islândia e Liechtenstein em um comitê econômico para subvencionar programas sociais, culturais e esportivos em 16 países da Europa. A apresentação teve a finalidade de divulgar a vivência e o legado dos judeus sefarditas em diversas áreas na história de Portugal. Atualmente residem em Portugal três mil judeus, majoritariamente em Lisboa, Porto e Belmonte.

 Herança judaica

Eleito em março de 2016, Marcelo Rebelo de Souza, 68 anos, foi deputado pelo Partido Social Democrata (PSD) e ministro de Assuntos Parlamentares. Jurista e catedrático da Faculdade de Direito de Lisboa, ele também foi comentarista político de TV. Na conversa com jornalistas, Rebelo de Souza enfatizou o mérito de resgatar a herança judaica portuguesa. “Há muitos portugueses que não têm a noção de que antes de haver Portugal já havia comunidades judaicas fortes no território que viria a ser o nosso país. E não têm a noção da importância dessas comunidades”, afirmou.

Segundo o presidente, os judeus perseguidos que saíram de Portugal foram para outros pontos da Europa e principalmente para os Estados Unidos e demais países do continente americano. A exposição, a seu ver, permite perceber o tamanho dessa perda em termos de capital humano e também compreender o impacto desse dano. ”Nós perdemos aquilo que outras sociedades ganharam, ainda que a presença judaica em Portugal, em parte, continuou, de forma escondida, dissimulada, por detrás da aparente conversão ao cristianismo”, avaliou.

Sinagoga em Belmonte
Nos últimos anos o governo português tem apoiado o empenho de alguns setores da sociedade para resgatar a herança judaica sefardita (judeus originários da Península Ibérica, basicamente de Portugal e Espanha). Criada com essa finalidade, a “Rede de Judiarias de Portugal” vem trabalhando, há seis anos, com o objetivo de valorizar o patrimônio cultural e histórico judaico, entendido como um forte componente formador da identidade portuguesa e peninsular. De acordo com o site da organização, a contribuição dos judeus portugueses para a história do mundo foi enorme: “Desde a ciência náutica, que há mais de 500 anos deu ao país um avanço decisivo para o início da globalização, à evolução da economia mundial e da medicina, setores em que o papel dos sefarditas nacionais se tornou preponderante.”

Sobre esse incremento à ciência náutica, estudiosos sustentam que Pedro Álvares Cabral (1467-1520), nascido em Belmonte, e Cristóvão Colombo (1451-1506), que para alguns historiadores é português da região do Alentejo, seriam descendentes de judeus sefarditas e suas tripulações que aportaram no novo mundo seriam formadas por cripto-judeus.

Os judeus sefarditas têm costumes e ritos próprios – inclusive um idioma, o ladino, mistura de palavras hebraicas com o português, espanhol, árabe e catalão - diferentes dos judeus asquenazim, mais numerosos, oriundos de países da Europa Central e Oriental, como a Alemanha, Áustria, Rússia, Polônia e outros.

Turismo cultural

Museu Judaico em Belmonte
Além da busca pelo passado histórico, a Rede vem se dedicando ao incremento do turismo judaico em Portugal. O presidente da organização, António Dias Rocha, que também preside a Câmara Municipal de Belmonte, esteve em fevereiro em Tel Aviv, ao lado de empresários portugueses, participando da Feira Internacional de Turismo do Mediterrâneo. Na ocasião, ele reforçou o papel da Rede no nicho de oferta de turismo cultural que no caso específico de Portugal tem a herança judaica como um dos seus mais significativos e interessantes atrativos.

A localidade de Belmonte, sede nacional da Rede e berço do navegante Pedro Álvares Cabral, é considerada a única vila da Península Ibérica onde a organização comunitária judaica se manteve de forma secreta ou discreta, desde o decreto de expulsão de 1496, atravessando todo o período da inquisição (de 1536 a 1821) e chegando até os nossos dias. Situada a 300 quilômetros de Lisboa, na região central de Portugal, Belmonte tem cerca de 3.500 habitantes, cem deles judeus. Reconhecida oficialmente em 1989, a comunidade tem uma sinagoga, a “Beit Eliahu”, inaugurada em 1996; um cemitério judaico, aberto em 2001; e o Museu Judaico, o primeiro a ser inaugurado no país, em 2005. O prédio, que recentemente foi reformado, abriga mais de uma centena de peças religiosas e retrata a história da presença sefardita em Portugal, usos e costumes, e um memorial sobre a Inquisição.

 Produtos casher

Representante da organização “Shavei Israel” (Retorno a Israel), o rabino Elisha Salas, 59 anos, da comunidade judaica de Belmonte, elogia o trabalho da Rede que considera fundamental para difundir os 500 anos de história da presença judaica em Portugal. “É necessário desenterrar a história judaica, levá-la às pessoas e expor a riqueza que se encontra escondida no território português”, enfatiza. Com sede em Jerusalém, a “Shavei Israel” se dedica a resgatar os chamados “judeus perdidos”,  em referência aos judeus convertidos à força ao cristianismo à época da Inquisição.

 De origem chilena e descendente de judeus sefarditas, o rabino Salas está em Belmonte desde 2009 e tem incentivado a elaboração de produtos casher (do hebraico ‘correto’),  alimentos que são produzidos de acordo com as leis judaicas em relação ao abate de animais, à proibição de ingestão de carne suína e à mistura de laticínios com carne. Ele afirma que já existem restaurantes que servem comida conforme os rígidos preceitos judaicos de alimentação. “Desloquei-me aos locais para ensinar e ter a certeza de que a comida é confeccionada mediante as nossas regras e certifiquei esses restaurantes. Atualmente existem produtos como queijos, compotas, carnes, bebidas e vinhos que podem ser adquiridos com o selo casher”, reforça.

Antes de se fixar em Belmonte, o líder judaico ficou à frente da Sinagoga do Porto, de 2004 a 2007. Membro do Conselho Consultivo da Rede – ao lado de nomes importantes no cenário cultural português, como o escritor americano Richard Zymler, residente no Porto, autor do best-seller “O Último Cabalista de Lisboa”, e Jorge Martins, historiador, escritor e diretor da coleção de livros “Sefarad”  -  o rabino Salas, em 2015, solicitou a naturalidade portuguesa em função da regulamentação da lei  que possibilita essa concessão a descendentes de judeus sefarditas expulsos de Portugal.

Memorial em Lisboa
Desculpas oficiais

No início de 2015, o governo português aprovou as novas regras para a atribuição da nacionalidade portuguesa por naturalização aos descendentes de judeus sefarditas expulsos do país há mais de 500 anos.  Na ocasião, a então ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, afirmou que a nova lei era a “atribuição de um direito”, reconhecendo que judeus viveram na região muito antes de o reino português ter sido fundado no século 12.

 Promulgado pelo presidente à época, Aníbal Cavaco Silva, o Decreto-Lei nº 30-A/2015 foi publicado no Diário da República em de 27 de fevereiro de 2015, e entrou em vigor em 1º de março. Antes, pedidos públicos de desculpas aos judeus pela Inquisição, perseguições e mortes foram oficializados em 1988 e 2000 pelo ex-presidente Mário Soares (falecido em janeiro deste ano) e pelo patriarca de Lisboa, D.José Policarpo (1936-2014),respectivamente.

Em 2008, um memorial em forma de uma estrela de David foi inaugurado em frente à tradicional igreja de São Domingos, uma construção do século 13 localizada na praça do Rossio, no centro de Lisboa, para lembrar uma das mais trágicas páginas da história dos judeus em Portugal: o genocídio de mais de 2 mil  “cristãos-novos” (judeus convertidos à força, a partir de 1496, por édito do rei D.Manuel I),  iniciado no domingo de Páscoa e que ficou conhecido como o  massacre (pogrom) de Lisboa. Durante três dias, frades dominicanos incitaram os moradores da cidade a matar e queimar os conversos (alguns historiadores afirmam que foram mortas 4 mil pessoas) considerados “eternamente judeus” pela maioria da população. A inscrição na escultura lembra a chacina: “Em memória dos milhares de judeus, vítimas da intolerância e do fanatismo religioso, assassinados no massacre iniciado a 19 de abril de 1506, neste largo.”

 Conversão forçada

Sinagoga de Lisboa
Remanescentes de uma próspera comunidade que por volta de 1490 chegaria a 30 mil pessoas e que após a chegada dos judeus expulsos da Espanha, em 1492, somou perto de 120 mil, essa considerável população judaica, quatro anos depois, foi obrigada a se sujeitar à conversão forçada ao cristianismo ou sair definitivamente de Portugal, por imposição real. A matança da Páscoa, em 1506, acelerou essa fuga e aqueles que permaneceram tiveram que encarar, trinta anos depois, a intolerância e a violência da Inquisição, que levou às fogueiras pelo menos duas mil pessoas, a maioria de judeus convertidos.

Atualmente, muitos portugueses estão redescobrindo as suas raízes judaicas, salienta Gabriel Steinhardt, presidente da Comunidade Israelita de Lisboa que hoje congrega 300 famílias judaicas. Para ele, à época dos descobrimentos, 10% da população portuguesa, calculada em 1 milhão de pessoas, eram de cripto-judeus, ou seja, judeus que seguiam a sua fé em segredo por medo das perseguições religiosas e ao mesmo tempo publicamente se apresentavam como cristãos, os denominados cristãos-novos. “Este é um fenômeno que influencia a sociedade civil portuguesa até hoje, não havendo na realidade nenhum português que, independentemente da religião que pratique, possa ter a certeza de que não possui uma costela ancestral judaica.”

Assim, muitos portugueses estão descobrindo tradições misteriosas conservadas por avós e bisavós, como, por exemplo, acender velas nas noites de sexta-feira, o ritual da limpeza da casa também nas sextas, e a elaboração do pão achatado cozido todos os anos, por ocasião da primavera na Europa, quando se comemora a Páscoa judaica. Essas e outras lembranças que sobreviveram de um rico passado judaico são o testemunho do grande risco que ao longo dos séculos os cripto-judeus ou anussim (do hebraico ‘forçado’), ou ainda marranos (termo inicialmente pejorativo, talvez advindo de vocábulo peninsular da Idade Média que designava suíno) enfrentaram praticando secretamente o judaísmo.

Sinagoga do Porto
Histórias se contam que os judeus que foram obrigados a deixar Portugal, assim como os judeus da Espanha, levavam consigo a chave da casa na esperança de um dia retornarem ao lar. De geração em geração, essas chaves foram mantidas guardadas em segredo, no exílio, mas a grande maioria se perdeu nas fendas dos séculos.

Atualmente, pouco mais de 3 mil judeus vivem em Portugal. Com a implementação da lei que oferece a cidadania portuguesa aos que demonstrarem por documentos (registros em sinagogas e cemitérios judaicos, títulos de residência, propriedades, testamentos e outros comprovantes de ligação familiar com a comunidade serfadita de origem portuguesa) serem descendentes dos judeus sefarditas que foram expulsos da Península Ibérica no século 15, espera-se que uma nova leva de judeus de várias partes do mundo volte seus olhos para as terras lusas. Pelos cálculos de diversas organizações judaicas existem 3,5 milhões de judeus sefarditas espalhados em dezenas de países.

Nacionalidade para 431 sefarditas

Com base na nova lei de cidadania, o governo português já concedeu a nacionalidade portuguesa a 431 sefarditas (de um total de mais de 3.800 pedidos), sendo que cerca de 63% são provenientes da Turquia (271 cidadãos). O país tem uma comunidade de 16.500 judeus sefarditas e é de lá que surgem 40% da totalidade dos pedidos de cidadania. Em seguida vem Israel e Brasil. Estima-se que no Brasil existam 40 mil judeus sefarditas de uma comunidade que soma 110 mil judeus.

Apesar do interesse das autoridades portuguesas em incrementar esse tipo de imigração, apenas 39 brasileiros preencheram os requisitos necessários para a sua naturalização, entre 2015 e dezembro de 2016, de acordo com ministério da Justiça de Portugal. Em contrapartida, de 2010 a 2016, mais de 87 mil brasileiros conseguiram a cidadania portuguesa, a grande maioria por serem filhos e netos de portugueses.

Por outro lado, existem no Brasil várias comunidades de bnei anussim ( do hebraico ‘filhos de forçados’ ou cristãos descendentes de judeus convertidos à força) espalhadas pelo país, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, que estão tentando se reencontrar com suas raízes judaicas. Segundo estudiosos, até 1660 os anussim eram a totalidade dos portugueses que se estabeleceram na colônia, fugindo da Inquisição. E a sinagoga mais antiga das Américas foi construída em Recife, a “Kahal Zur Israel” (Rocha de Israel), em 1636, no período das invasões holandeses(1624-1654).

Atualmente calcula-se que pelo menos 5 milhões de brasileiros cristãos podem ser descendentes de cripto-judeus e muitos deles têm dificuldade de ingressarem nas comunidades judaicas que se tornaram mais fechadas por conta do antissemitismo que nunca deixou de existir.

Também os sefarditas ingleses já demonstram vontade de obter a cidadania portuguesa depois da decisão do Reino Unido de sair da União Europeia, o chamado “Brexit” (abreviatura de Britain Exit), em 23 de junho de 2016. Segundo o jornal britânico “The Guardian”, o porta-voz da comunidade judaica do Porto, Michael Rothwell, afirmou que nos dois meses subsequentes à votação 400 pessoas consultaram a instituição sobre a possibilidade de obtenção da cidadania para terem um passaporte europeu. O jornal destaca que o interesse dos judeus ingleses por Portugal tem se mostrado maior do que pela Espanha, cuja lei de cidadania de retorno é considerada mais complexa. Para a Federação das Comunidades Judaica da Espanha, um dos motivos seria o fato de Madri exigir testes de conhecimento da língua espanhola dos candidatos, o que não acontece em Portugal.

Algarve
Pacificação com o passado

Em artigo publicado na revista semanal “Visão”, em março deste ano (‘Porque estudar os sefarditas?’), o coordenador da área de Ciência das Religiões da Universidade Lusófona, em Lisboa, professor Paulo Mendes Pinto, faz uma reflexão sobre a herança sefardita em Portugal e a necessidade de resgatá-la como forma de pacificação com um passado que foi imposto e que se tornou parte da natureza dos portugueses. “A busca pelo conhecimento da história sefardita, o valorizar desse patrimônio e a recuperação e construção de espaços a ela dedicados, é um equacionar da própria identidade nacional”, escreve. “Hoje, sem os constrangimentos do pensamento inquisitorial, libertos para um reencontro que, afinal, é conosco e não com nenhuns ‘outros’”.

Investigador da Cátedra de Estudos Sefarditas “Alberto Benveniste” da Universidade de Lisboa, Mendes Pinto afirma que é preciso “equacionar o que, como coletivo, perdeu-se com a Inquisição e com o desenvolvimento de um catolicismo inquisitorial”. Ele lembra que com a fuga das mais brilhantes mentes e dos possuidores das melhores competências, Portugal perdeu em conhecimento e progresso. Deixou escapar “um passado que também tem, na herança sefardita, o gosto pelo risco, pela descoberta, pelo empreendedorismo, pelo cosmopolitismo e pela cultura.”

Guarda
Mendes Pinto destaca ainda em seu texto que a história dos sefarditas portugueses foi uma “história de medo construída nas cidades, nas vilas e nas aldeias onde o cripto-judaísmo se foi implantando como forma de vida dupla, com o ‘credo na boca’ para provar a qualquer momento que se era bom católico”. Assinala que com as perseguições ao longo do século 15 e com a instalação da Inquisição a sociedade portuguesa “se transformou numa sociedade da denúncia, da mediocridade, do desrespeito pela consciência e da menorização do pensamento e recusa à crítica”.

Mas, hoje, Portugal se apresenta mais aberto para um reencontro com o seu passado e Mendes Pinto acredita que a forma como a sociedade portuguesa vai tratar essa memória e passado é que irá definir o seu presente e o futuro como nação. Nesse ambiente propício a uma aproximação e apaziguamento de questões históricas e religiosas, um projeto de museu judaico toma forma no tradicional bairro de Alfama, em Lisboa.

Contando com doações internacionais e o apoio da municipalidade, o Museu Judaico de Lisboa será instalado no Largo de São Miguel, coração de Alfama, um local considerado de forte simbologia pela comunidade judaica portuguesa porque lá existiu uma “judiaria” e uma sinagoga. O fato provocou questionamentos por parte de associações de proteção ao Patrimônio que temiam a descaracterização do lugar onde está situada a Igreja de São Miguel, classificada como patrimônio cultural de Portugal, e de prédios antigos construídos antes do terremoto de 1755 que destruiu grande parte da cidade. Mas a Câmara de Lisboa julgou, por unanimidade, que o projeto arquitetônico do museu não coloca em risco o caráter e a autenticidade do histórico largo de São Miguel e que a construção dos dois edifícios que vão compor o museu cumpre toda a legislação em vigor.

O Museu Judaico de Lisboa terá um custo de 2,9 milhões de euros e será gerido pela Associação de Turismo de Lisboa. O objetivo central é contar a história dos 800 anos de presença judaica em Portugal. A idealizadora do programa pedagógico do museu, Esther Mucznik, diz que o local funcionará como um centro de recolhimento, preservação e divulgação do patrimônio material e imaterial judaico-português. Fundadora da Associação Portuguesa de Estudos Judaicos e membro da Comissão Nacional de Liberdade Religiosa, Mucznik foi vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa (CIL), de 2002 a 2016, e é autora de vários livros sobre a temática judaica, como “Grácia Nasi, a judia portuguesa do século XVI que desafiou o seu próprio destino” (2010) e  “Portugueses no Holocausto (2012).

Sobrenomes sefarditas

No texto do decreto de nacionalidade emitido pelo ministério da Justiça estão listados uma centena de sobrenomes (apelidos) portugueses sefarditas, com a ressalva que muitos já se encontram misturados com sobrenomes “castelhanos”.  Sabendo-se também que a simples comprovação do sobrenome não é suficiente para a entrada com o pedido de cidadania. É preciso incluir dados complementares, cabendo às Comunidades Israelitas de Lisboa e do Porto a emissão do documento de confirmação da ascendência sefardita no processo de naturalização.

Eis a lista dos sobrenomes sefarditas citados no decreto: Abrantes, Aguilar, Almeida, Álvares, Amorim, Andrade, Avelar, Azevedo, Barros, Basto, Belmonte, Brandão, Bravo, Brito, Bueno, Cáceres, Caetano, Campos, Cardoso, Carneiro, Carvajal, Carvalho, Castro, Crespo, Coutinho, Cruz, Dias, Dourado, Duarte, Elias, Estrela, Ferreira, Fonseca, Franco, Furtado, Gaiola, Gato, Gomes, Gonçalves, Gouveia, Granjo, Guerreiro, Henriques, Josué, Lara, Leão, Leiria, Lemos, Lobo, Lombroso, Lousada, Lopes, Macias, Machado, Machorro, Martins, Marques, Mascarenhas, Mattos, Meira, Melo e Prado, Mello e Canto, Mendes, Mendes da Costa, Mesquita, Miranda, Montesino, Morão, Moreno, Morões, Mota, Moucada, Negro, Neto, Nunes, Oliveira, Osório (ou Ozório), Paiva, Pardo, Pereira, Pessoa, Pilão, Pina, Pinheiro, Pinto, Pimentel, Pizarro, Preto, Querido, Rei, Ribeiro, Rodrigues, Rosa, Sarmento, Salvador, Silva, Soares, Souza, Teixeira, Teles, Torres, Vaz, Vargas e Viana.

Por último, mais um dado histórico para reforçar o apreço e a solidariedade aos bnei anussim brasileiros. Por força da Inquisição que chegou ao Brasil a partir de 1579, foram levados presos aos Autos da Fé em Lisboa 400 cristãos-novos acusados de judaizantes. Destes, 20 foram executados, 18 degolados e queimados e dois colocados vivos nas fogueiras. Um passado que feriu a ferro e fogo centenas de famílias brasileiras perseguidas pela intolerância religiosa, cujos descendentes, aos milhares, nem imaginam o terror e o sofrimento que permearam a vida de seus antepassados, desconhecendo, ainda, a rica herança cultural que eles trouxeram e que acabou se perdendo, lamentavelmente, pelos caminhos do tempo.
  

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Desmatamento avança sobre as florestas brasileiras


Pesquisas de órgãos ambientais divulgadas pela imprensa nos dias 29 e 30 de maio dão conta de que a Mata Atlântica sofreu um brutal desmatamento entre 2015 e 2016, atingindo a marca de 291 quilômetros quadrados, o equivalente a mais de 29 mil campos de futebol. A perda é 57% maior do que a registrada no biênio 2014-2015. Os números foram apresentados pela Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Presente no Rio de Janeiro e em mais 16 estados brasileiros, a Mata Atlântica já ocupou mais de 1 milhão de quilômetros quadrados ao longo da costa nacional. Hoje restam pouco menos de 12% da cobertura original. Ainda assim, um tesouro de biodiversidade em matéria de vegetação e de espécies animais. Bahia, Minas Gerais, Paraná e Piauí lideram a lista onde o desmatamento foi mais intenso, com florestas nativas queimadas, retirada ilegal de madeira e limpeza das áreas para a implantação de atividades de pecuária, cultivo de grãos, plantio de eucaliptos e até produção de carvão. Acrescentam-se a essas intervenções predatórias, a expansão urbana desordenada e a industrialização.

É preciso lembrar que a Mata Atlântica tem mais de 20 mil espécies vegetais, um patrimônio biológico e genético maior do que o da Europa (12.500 espécies) e da América do Norte (17 mil).  Em relação à fauna, este bioma abriga 992 espécies de aves, 370 espécies de anfíbios, 200 espécies de répteis, 298 de mamíferos e cerca de 350 espécies de peixes. Um privilegiado repositório biológico e genético que merece a atenção e a mobilização de todos na salvaguarda de nossa legislação de proteção ambiental, que vem sendo atropelada por mudanças no Código Florestal, pela reversão e afrouxamento na emissão de licenças ambientais e pela redução de unidades de conservação.

Vale o alerta e a pressão da sociedade em relação ao tema, visto que a bancada ruralista, nas eleições de 2014, aumentou seu poder de fogo e hoje conta com 263 dos 531 dos deputados federais, 51% dos parlamentares da Câmara. No Senado, dos 81 senadores, 32 são ligados ao setor da agropecuária.

Berçário ecológico

O Brasil é um país de proporções continentais: seus 8,5 milhões de quilômetros quadrados ocupam quase a metade da América do Sul e abarcam várias zonas climáticas, como o trópico úmido no Norte, o semiárido no Nordeste e áreas temperadas no Sul. 

Além da Mata Atlântica, o país possui o maior ecossistema tropical do planeta: a floresta amazônica. Ao lado de outros biomas nacionais como o Cerrado, Caatinga, Pantanal mato-grossense, Pampa e Zona costeiro-marinha, o Brasil concentra, dentro de seu território, a maior biodiversidade de flora e fauna da terra. Somente na floresta amazônica são mais de 103.870 espécies animais, 43.020 espécies vegetais, 1.300 pássaros e milhões de insetos cadastrados pela ciência.  A metade das espécies terrestres está na Amazônia.

Ocupando 49% do território brasileiro, com 4,2 milhões de quilômetros quadrados - de um total de mais de 5,5 milhões que se estendem pela Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Suriname (antiga Guiana holandesa), Guiana (antiga Guiana Inglesa) e Guiana Francesa – a floresta amazônica tem quase o tamanho da Austrália, é maior do que a Europa Ocidental e quase tão grande quanto os EUA. No Brasil, esse bioma cobre nove estados brasileiros, a saber: Amazonas, Pará, Mato Grosso, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, parte do Tocantins e parte do Maranhão.

Sua bacia hidrográfica é a maior do mundo. O rio Amazonas, com mais de 1.100 afluentes, se estende por 6,8 mil quilômetros de extensão, a mesma distância que separa a cidade de Nova Iorque da capital alemã Berlim. É o maior rio em volume de água e o segundo mais longo do mundo, depois do Nilo, no Egito. Tem 25 mil quilômetros de águas navegáveis e às suas margens vivem 24 milhões de pessoas, incluindo 342 mil indígenas de 180 etnias distintas.

Nunca é demais lembrar que as florestas naturais são fundamentais para a produção e o abastecimento de água e a proteção do solo, contribuindo também para a proteção das encostas e para a regulação climática.

 Danos ambientais

De posse desse tesouro planetário, cabe ao Brasil a nem sempre fácil tarefa de cuidar de sua preservação ambiental. Infelizmente, também a floresta amazônica sofreu sensível dano entre 2015 e 2016, com o desmatamento de 7,9 mil quilômetros quadrados de sua vegetação, um aumento de 29% em relação a 2014. A perda equivale a uma área 135 vezes maior do que Manhattan, no condado de Nova Iorque. Em termos de emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, a estimativa é de que esse desmatamento tenha liberado 586 milhões de toneladas de dióxido de carbono, a mesma quantidade que a frota de automóveis do país, calculada em 50 milhões, emite em 8 anos.

Segundo a ONG Greenpeace, o aumento da devastação das florestas brasileiras tem ocorrido, entre outras causas, pelas continuadas anistias que o governo sinaliza para aqueles que desmatam ilegalmente; a falta de incentivo à criação de novas unidades de conservação ambiental e de proteção aos povos indígenas; e a força da bancada ruralista no Congresso. As queimadas e a limpeza dos terrenos para a expansão da pecuária estão convertendo as florestas em pastos. O Pará já detém o terceiro maior rebanho do país, e Mato Grosso, com 29 milhões de cabeças de gado, é líder na pecuária e na produção de soja. O Greenpeace também alerta para a expansão da pecuária no sul do estado do Amazonas.

Em entrevista ao jornal “Folha de São Paulo”, no início do ano, o presidente de uma multinacional de máquinas agrícolas, Carlo Lambro, de origem italiana, analisando o setor de agronegócio brasileiro, manifestou sua surpresa com o tamanho das propriedades rurais. “Há fazendas no Brasil que são grandes como uma região da Itália. Milhares de hectares, imagine.” A observação vai ao encontro de um dado, no mínimo indecoroso em relação à desigualdade fundiária, já apontado pela ONG Oxfam Brasil, ligada à Universidade britânica de Oxford, em 2016. De acordo com a organização, menos de 1% dos grandes proprietários concentram 45% de toda a área rural brasileira.

Listado em 2015 como o sétimo país mais poluidor do planeta pelo “World Resources Institute” (WRI Brasil), as emissões no Brasil - ao contrário da China, EUA e União Europeia, que lideram o ranking e têm na matriz energética sua principal fonte de gases poluentes - estão divididas igualitariamente entre os setores de energia, agricultura, indústria e resíduos.

Um quadro deveras desolador que pouco combina com a retórica diplomática da chancelaria brasileira expressa em um comunicado emitido após a decisão do presidente americano Donald Trump de retirar os EUA do Acordo de Paris, em 1º de junho. O documento enfatiza o compromisso do Brasil na implementação de programas de redução de gases de efeito estufa e manifesta “profunda preocupação e decepção” pela atitude de Trump. Afirma, também, que “o combate à mudança do clima é um processo irreversível, inadiável e compatível com o crescimento econômico”, e que o governo brasileiro está “comprometido” com as diretrizes de Pacto de Paris, firmado por 195 países, em dezembro de 2015.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Comunidades Judaicas: Para onde vamos?

Por Sheila Sacks

Parece sina! Depois da tragédia do Holocausto promovida pelo nacionalismo alemão da extrema-direita  representado pelo partido Nazi  ( “Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei” – NSDAP), na tradução “Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães”,  agora é a vez da esquerda radical e raivosa atacar os judeus e o Estado de Israel associando-se a movimentos como o BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) e aderindo a manifestações ditas antissionistas generosamente acolhidas no largo balaio de cacarecos em que se transformou a política de defesa pelos direitos humanos.

Atordoadas, as comunidades judaicas em todo o mundo tentam se equilibrar nessa corda bamba de falsas intenções, lutando para não afundarem na areia movediça das suspeições e das dirigidas cobranças éticas lançadas pelas sociedades onde vivem, ora de forma direta ora sub-repticiamente, em suas atividades sociais e de cidadania.

Caminhando sobre ovos, os judeus têm consciência de que é preciso conciliar, de forma madura e pragmática, mas sem se abster de suas individualidades ou ceder ao patrulhamento ideológico, a defesa das ações de Israel com as opiniões e ações populistas de partidos políticos, das elites culturais, dos sindicatos e da mídia impositiva que atuam em seus países de origem, onde vivem e trabalham. Uma tarefa nada fácil visto que os partidos de esquerda, mais tagarelas e barulhentos frequentemente canalizam as aspirações da grande parcela da população através de uma mídia digital atuante e engajada, encantando principalmente os jovens, os intelectuais e os pretensamente informados em sua busca pela justiça social.

Assim, com esse cabedal de bons propósitos, cabe agora aos partidos de esquerda, principalmente na América Latina, África e países da Europa Ibérica, fomentar os estereótipos da figura histórica do judeu, sempre ligado ao capital, fazendo crer que aquele que também batalha por uma sociedade mais justa é uma exceção nem sempre bem tolerada pela sua própria comunidade.

A insensatez dessas pessoas as faz ignorar as inúmeras organizações humanitárias judaicas que atuam em dezenas de países voltadas para a educação e a salvaguarda dos direitos básicos dos cidadãos e de suas minorias. Doações individuais e de entidades judaicas sustentam  centros culturais, museus, bibliotecas, universidades, hospitais e programas sociais não judaicos nos seis continentes.

A marca do judaísmo contemporâneo tem sido a diversidade de pensamento em se tratando de política e de cultura laica e essa peculiaridade se manifesta nos países em que habitam e no cerne do Estado de Israel através do livre embate de ideias que são a base e o esteio dos sistemas democráticos. Mas essa multiplicidade não pode ser usada por agentes internos e externos para promover a barafunda e desordenar comunidades minoritárias sem peso populacional para enfrentar lobbies populistas que possam gerar um clima de animosidade, constrangimento e de comprometimento social aos seus membros.  

As comunidades judaicas precisam estar atentas a esses tipos de situações aparentemente casuais em se tratando de outros segmentos da sociedade, mas que no âmbito judaico, devido às continuadas rondas preconceituosas, tendem a introduzir a discórdia e a instabilidade em suas relações

A permanência do povo judeu através dos tempos, malgrado as perseguições, matanças e outras abominações praticadas sob a égide de estados legais e com a anuência das sociedades civis, se deve basicamente a uma sólida base moral e religiosa, na qual, nesses dias de espanto e de exposição desmedida, requer igualmente uma alta dose de reflexão e união. Porque o antissemitismo (leia-se antissionismo contemporâneo), em sua retórica de intolerância, não separa o judeu da direita daquele judeu de esquerda. Ao contrário, se apropria dessa pluralidade para direcionar o seu discurso de ódio mais à vontade, acobertado pelas circunstâncias e oportunidades que surgem.


Copa 2018: jogo entre Espanha e Israel teve blindagem diplomática

Menos de 300 pessoas participaram da passeata de protesto contra Israel convocada por organizações pró-palestinas na cidade espanhola de Gijón, nas Astúrias, local do jogo de futebol entre as seleções da Espanha e de Israel, ocorrido na noite do último 24 de março, uma sexta-feira (shabat).

A manifestação aconteceu horas antes da partida pelas eliminatórias da Copa da Rússia, que foi vencida pelo time espanhol por 4 a 1. Carregando bandeiras e cartazes, os manifestantes se deslocaram em direção ao estádio El Molinón, a maioria empunhando cartões vermelhos em alusão ao tema da passeata: “Tarjeta roja a Israel” (Cartão vermelho para Israel).

Amabilidades

Na manhã do jogo, o embaixador de Israel na Espanha, Daniel Kutner, nascido na Argentina, esteve com a prefeita de Gijón, Carmen Moriyón, e disse esperar uma recepção hospitaleira por parte de seus moradores.

Situada no norte da Espanha, Gijón tem 273 mil habitantes e em janeiro de 2016 sua Câmara Municipal aprovou um boicote institucional ao Estado de Israel, revogado quinze dias antes do jogo, com o apoio do partido de Moriyón. Ao indicar Gijón, no final do ano passado, como sede do jogo entre Espanha e Israel na série de classificação para o Mundial de 2018, a Federação espanhola de Futebol afirmou desconhecer a “peculiar” posição política da cidade em relação ao estado judeu.

Em entrevista ao jornal local “Nueva España”, no dia anterior ao jogo, o diplomata israelense lamentou que Gijón seja conhecida como a cidade espanhola que decidiu pelo boicote a Israel. Mas, disse esperar que a partida entre as duas seleções pudesse ser motivo de celebração e não de manifestações políticas.

Por sua vez, o porta-voz da embaixada de Israel em Madri, Hamutal Rogel, minimizou a situação e afirmou que os jogadores estavam felizes em visitar a Espanha e que “a maioria dos israelenses não estava preocupada com a política espanhola e muito menos com a situação dos partidos políticos locais”.

Em relação ao jogo ser realizado no shabat, Rogel disse que prevaleceu o tom laico do evento e que o embaixador estaria presente no estádio. “O jogo foi organizado pela federação espanhola. É um convite da federação. E a Espanha, como país, seu governo e seu parlamento estão contra o BDS (“Boicote, Desinvestimento e Sanções”, movimento palestino contra Israel).

Segundo reportagem do jornalista Diego Torres, do jornal “El País”,  apenas um terço dos 31 mil lugares do estádio foi ocupado o que representou uma das mais fracas lotações dos últimos anos. Ele observou que os torcedores espanhóis presentes no Molinón estavam tranquilos e a empolgação ficou mesmo por conta da pequena torcida judaica, concentrada em um lado das arquibancadas.


Liga da amizade

Ainda sobre a Espanha, no fim de março uma delegação de parlamentares israelenses esteve no país para marcar os 30 anos do estabelecimento de laços diplomáticos entre os dois países.  No encontro com o ministro de Relações Exteriores, Alfonso Dastis, os deputados ouviram que o governo espanhol se opõe totalmente ao BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) e que tem adotado uma série de medidas legais contra o movimento. Na ocasião foi criada a “Liga Parlamentaria Hispano-Israeli de Amistad” que busca avançar nas políticas de relações comuns mais amistosas entre Espanha e Israel.

 Atualmente 40 cidades espanholas adotam resoluções a favor do boicote, mas em torno de dez já cancelaram esta decisão, seja voluntariamente ou por ordem judicial.

O BDS na Espanha conta com o apoio escancarado do partido de esquerda “Podemos”, que ocupa cinco das 54 cadeiras no Parlamento Europeu. Fundado em 2014 com a participação de intelectuais, ativistas sociais, sindicalistas e personalidades do meio acadêmico e cultural, o partido que é apontado pela organização pró-Israel ACOM (Acción y Comunicación en Oriente Medio) de ter vínculos com o Chavismo e o Irã, de onde recebe fartos recursos, se tornou um fenômeno nas redes sociais e elegeu, em 2015, 48 deputados, 16 senadores e 134 parlamentares em câmaras municipais.

De acordo com o diretor assistente para a mídia em espanhol da organização American Jewish Committee (AJC), o argentino Patricio Abramzon, na prática o boicote na Espanha se traduz na censura a professores universitários, cientistas, estudantes, atletas, artistas e profissionais israelenses não importando quais sejam as suas posições políticas. “O que começou como um movimento marginal, circunscrito ao meio acadêmico, foi se estendendo a outros setores”, ressalta. Abramzon observa também a perversa similaridade que une posições extremistas e sectárias: “O antissemitismo joga pelas pontas. A clássica judeofobia da extrema direita deixou sua marca trágica na história. Contudo, setores da esquerda radical também têm se transformado nos últimos anos em redutos onde imperam o antissemitismo e o ódio visceral aos judeus.”

Entretanto, o trabalho sistemático de organizações como a ACOM que há 15 anos atua nos meios governamentais, inclusive com ações na Justiça, esta virando o jogo na Espanha e obtendo vitórias expressivas contra o BDS. Seu presidente, Angel Mas, é um ativista empenhado na luta a favor do Estado de Israel e contra o antissemitismo moderno que se apresenta travestido de antissionismo. No artigo “La lucha contra el BDS en España” ( “El Medio”, em 22.04.2016), ele lista os objetivos da instituição, as estratégias adotadas e as ações desenvolvidas nos planos político, diplomático e judicial.


Twitter concentra 63% das postagens antissemitas
Pesquisa realizada pela empresa israelense de vigilância “Vigo Social Intelligence”, a pedido do Congresso Mundial Judaico (World Jewish Congress- WJC) – organização internacional que representa comunidades judaicas de 100 países nos seis continentes –, constatou que em 2016 a cada 83 segundos foi postada uma mensagem de cunho antissemita, uma média de 43,6 mensagens por hora, totalizando mais de 382 mil no decorrer do ano.
Desse universo de milhões de mensagens analisadas em 20 idiomas, mais da metade estavam reunidas no Twitter (63%), em blogs (16%), Facebook, Instagram (11%), YouTube (6%) e fóruns (2%). Foram contabilizadas manifestações retóricas  e de incitação de ódio aos judeus e instituições judaicas, sem incluir as postagens de críticas ao Estado de Israel e suas ações.
Comentando o levantamento, o vice-presidente executivo do WJM, Robert R. Singer, considerou o cenário preocupante. “Sabíamos que o antissemitismo nas redes sociais estava em ascensão, mas os números revelados nesse relatório nos forneceu informações de como a situação é realmente alarmante.”
Em tempo: a definição do que se constitui uma postagem antissemita se baseou nas diretrizes da “International Holocaust Remembrance Alliance” (Aliança Internacional para a Recordação do Holocausto - IHRA), instituição fundada em 1998, por iniciativa da Suécia. Atualmente congrega países da Europa e mais os Estados Unidos, Canadá, Argentina e Israel. Sua missão é difundir a lembrança e a pesquisa sobre o Holocausto em programas educacionais nacionais e internacionais. 

 Fontes:
“La Nueva Espanã”  -  "El España-Israel debería ser motivo de celebración y no de manifestaciones político-esotéricas" (Pablo Tuñón), em 23.03.2017
“La Nueva Espanã” – “Gijón lima asperezas con Israel por la visita de su embajador tras el boicot”, em 24.03.2017
 “El País” – “La política enturbia el España – Israel” (Diego Torres), em 24.03.2017
 “El País” -  “La manifestación contra Israel apenas tiene seguimiento en Gijón” (Diego Torres),  em 25.03.2017
“Aurora” – “España declara su oposición al movimiento anti Israel BDS”, em 02.04.2017
“Iton Gadol” – “AJC: Intenta boicotear al fútbol y verás lo que sucede”, em 25.06.2017
 “Unidos con Israel” - “382.000 mensajes antisemitas publicados en los medios sociales en 2016!”, em 26.03.2017


sexta-feira, 10 de março de 2017

Israel:visões cristalizadas

por Sheila Sacks
Pouco mais de dois meses nos separam do ano anterior e já estamos navegando, nesse início de 2017, rumo ao alto mar de tempos incertos. Acontecimentos se atropelam, comportamentos refluem, prioridades se desorganizam e a humanidade repete caminhos já percorridos atolada em um confuso emaranhado de percepções e sentimentos ilusórios acerca de hipotéticos novos desafios que batem à sua porta. 
Titãs mundiais perseveram nas palavras e gestos teatrais e manipulatórios nos quais a verdade não é um item primordial e, portanto, submerge nos embates ancorados por megainteresses transnacionais. Monopólios econômicos, políticos e doutrinários devidamente dissimulados e blindados perpetuam jogos pirotécnicos, promovendo expectativas de tempos melhores que não se confirmam. Megalíticos e insuperáveis em sua abrangência e poder.
 Nesse ambiente real de cartas marcadas e posições estratificadas – dissociado e dissonante das fantasias midiáticas que alimentam narrativas de liberdade individual e de autossuficiência - sociedades e governos tentam interagir na organização e administração das nações no sentido da preservação de um pacto civilizatório que possa manter o trato formal de boa convivência com seus pares.
Um universo de imposições e ações com frequencia apartado dos valores éticos sociais e dos contornos de conduta de milhares de organizações mundiais criadas para fazer valer o escrito das boas intenções e que na prática são ignoradas e atropeladas por sangrentos conflitos civis, incongruentes incidentes diplomáticos, atos insanos de terrorismo e, notadamente, pela descabida presunção e cega intolerância que conduz as guerras entre países.
Jogo de palavras
No século 21, o estado de Israel é um exemplo de nação cuja situação peculiar permanece ainda pouco compreensível para grande parte da população mundial. Na mídia não faltam artigos tentando explicar, de um lado, as “imprecisões e omissões” dos que atacam o país, e em oposição, as supostas “verdades sobre israelenses e palestinos”. Títulos de dois textos antagônicos publicados pelo jornal “O Globo”, na primeira semana de janeiro, seguidos de uma tréplica, a favor de Israel, onde o termo “verdades”, um tanto pretensioso, é substituído pela palavra “fatos”, que sugere algo mais pé no chão, mais afeto à realidade.
Diferente de temas caros ao maior e mais influente matutino carioca - como o agronegócio que dificilmente é questionado em suas vertentes de desigualdade em seus painéis de opinião - o estado de Israel é um tópico recorrente em suas páginas, com apreciável destaque (similar ao que acontece nos jornais “Folha de São Paulo” e “O Estado de São Paulo”), principalmente quando o país é posto em um patamar negativo sob o prisma internacional ou sofre sanções e restrições.
Imediatamente pipocam na imprensa as naturais manifestações individuais ou de representantes da comunidade judaica brasileira que ao abrirem espaço na mídia para a defesa de Israel automaticamente também escancaram aos seus antagonistas espaços iguais e valiosos para as contestações repetitivas de clichês que esses diálogos pós-verdade produzem: a sensação de que apelos à emoção e a crenças pessoais repercutem de maneira mais eficaz na opinião pública do que a correta apresentação de fatos objetivos. 
No apagar das luzes

O gatilho para o mais recente embate de verborragia foi o longo discurso do secretário de Estado do ex-presidente Barack Obama, John Kerry, em 28 de dezembro do ano passado - a pouco menos de um mês do término dos oitos anos de gestão democrata -, justificando a posição americana de se abster de votar no Conselho de Segurança da ONU sobre as colônias israelenses na Cisjordânia e de tampouco se valer de seu poder de veto sobre a questão (o que foi usado em 2011 em situação semelhante). A resolução aprovada cinco dias antes pelos 14 países-membros exigia que Israel interrompesse de imediato a implantação de assentamentos sob o argumento de que as colônias são um entrave para a paz e “colocam em risco a viabilidade da solução de dois Estados”.
O veterano jornalista Zevi Ghivelder, que foi correspondente em Israel da extinta revista “Manchete”, em artigo crítico à fala de Kerry (“Imprecisões e omissões”, em 1/1/2017), perseverou na indispensável premissa política necessária para o início de qualquer negociação que envolva os dois lados da questão: o reconhecimento, pelos palestinos, do direito de Israel de existir. Uma equação elementar que, de forma vexatória, o governo israelense precisa reprisar, dia após dia, como se fosse um mantra indecifrável e intrincado acima da compreensão dos simples mortais.  
Ghivelder também alerta para um detalhe que faz toda a diferença, já que no âmbito palestino existem hoje dois estados distintos, um na Cisjordânia, sob a administração do Fatah, e a outro na Faixa de Gaza, dominado pelo Hamas. E indaga:  “Com quem, então, negociar?”. Com a agravante de que o grupo extremista na Faixa de Gaza continua armazenando mísseis e construindo túneis para atacar Israel.
Outro ponto lembrado pelo jornalista foi a proibição por Israel de novos assentamentos, logo no início do governo Obama, em 2009. Resultado: durante os dez meses em que isso ocorreu não houve avanço nas negociações de paz entre as partes. Quanto ao retorno às fronteiras de 1967, variante ressuscitada irresponsavelmente, de tempos em tempos, Ghivelder aponta um fato inconteste em matéria de segurança nacional: o afunilamento da faixa territorial israelense resultaria em tragédia porque em questão de minutos o país seria cortado ao meio no caso de uma invasão.
No campo das “omissões”, Guivelder se utiliza de um argumento-padrão bastante usual entre os que apoiam Israel que é o de apontar outras situações geopolíticas complicadas que também mereceriam reprimendas das grandes potências ocidentais. Esse tipo de comparação se constitui em uma armadilha se analisado pela perspectiva ética de que um provável mal não justifica outro. Diante da opinião de Kerry que julga “inaceitável” a presença de Israel no território palestino, o articulista cita a ocupação do Tibete pela China e a presença da Rússia na Crimeia, Chechênia e leste da Ucrânia, situações que têm passado ao largo do censor crítico do ex-secretário americano, segundo o analista.
Mão de obra barata
 Por outro lado, a fala de Kerry agradou ao jornalista Rasheed Abou-Alsamh que escreve regularmente em “O Globo” e é correspondente na América Latina do “Arab News”, da Arábia Saudita. Ele nasceu em Washington, de mãe americana e pai árabe, e tem nacionalidade saudita. Alsamh classificou o discurso de “emocionante” e comparou os palestinos aos latinos explorados nos EUA. “Parece-me que os palestinos são vistos como uma fonte de mão de obra barata pelos israelenses”, avalia o jornalista. Ele destaca que os “palestinos são obrigados a esperar em filas horas a fio, e são humilhados pelos soldados israelenses, somente para entrar em Israel para trabalhar ou voltar para a Cisjordânia”
Culpando a direita e a extrema-direita que comandam Israel pelo impasse que inviabiliza a solução de dois estados, Alsamh afirma que todos os palestinos e árabes querem “um Estado palestino independente na Cisjordânia e em Gaza, com Jerusalém Oriental como a sua capital”. Para o jornalista árabe não é verdade que Israel está rodeada de inimigos como justificam as autoridades israelenses. “Israel já tem acordos de paz com o Egito e a Jordânia. E tem relações camufladas com quase todos os países do Golfo”, afirma Abou-Alsamh, citando a visita de uma delegação não oficial de empresários e acadêmicos sauditas que se encontraram com membros do parlamento (Knesset), em julho de 2016.
Diante dessa visão cor de rosa e simplista de que Israel exagera em sua paranoia de segurança, o jornalista evoca a iniciativa de paz árabe de 2002, em que todos os países árabes reconheceriam o estado de Israel, mas com a condição de que os israelenses se retirassem de todos os assentamentos e de Jerusalém Oriental, e até indenizassem os palestinos que saíram de Israel por vontade própria. Com essas iniciativas, de acordo com o articulista, “os ataques contra israelenses cairiam dramaticamente” (“Verdades sobre israelenses e palestinos”, em 6/1/2017).
A esse respeito, Ghivelder lembra que com a implantação do estado de Israel, em 1948, milhares de judeus tiveram que deixar os países árabes onde viviam há várias gerações. “A rigor, quem vai compensar os 800 mil judeus, homens, mulheres e crianças que foram expulsos dos países árabes naquele mesmo ano?”
Exemplo de Gaza
Em contraponto ao texto de Abou-Alsamh, que lamentavelmente representa uma vertente global majoritária, o presidente da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (Fierj), Herry Rosenberg, se dispôs a esclarecer o que classificou de “inverdades e meias verdades” sobre o conflito entre israelenses e palestinos expressas no artigo do jornalista árabe. Segundo o representante judaico, Gaza foi devolvida integralmente aos palestinos em 2005, sem as colônias judaicas ali existentes, e nem por isso estabeleceu-se a paz. Ao contrário, de Gaza saem os mísseis e os terroristas que provocam danos e mortes (“Os fatos sobre israelenses e palestinos”, em 13/1/2017).
No tocante às barreiras de proteção, Rosenberg lembra que o trânsito era livre “até que os palestinos passaram a aproveitar essa liberdade para enviar dezenas de homens-bomba para explodirem-se em ônibus, restaurantes e universidade de Israel”. E cita a presença de quase dois milhões de árabes vivendo no país com plenos direitos de cidadãos, enquanto palestinos advogam um futuro estado palestino “livre de qualquer judeu”.
Considerando que a Cisjordânia é parte da história bíblica judaica, região originalmente conhecida como Judeia e Samaria, soa como uma intransigência descabida a não permissão aos judeus de continuarem morando nesses locais. Daí a demanda israelense nesse sentido em qualquer negociação de paz, associada à questão da segurança nacional. ”Enquanto os israelenses não estiverem seguros de que um futuro Estado palestino não será usado como plataforma para ataques a Israel, como já acontece em Gaza, não haverá chance de acordo”, prevê o representante da Fierj.
Guardião do povo judeu
Encerrando o singular ciclo opinativo sobre Israel e a temática judaica, o cônsul honorário de Israel no Rio de Janeiro, Osias Wurman, na véspera do Dia Internacional em memória das vítimas do Holocausto (26.01.2017), reforçou a tese de que “se houvesse o Estado de Israel na época (da Alemanha nazista), o genocídio não aconteceria” (“A ONU e o Holocausto”, em 26/1/2017). Ainda que pese a comprovada ignorância de considerável parcela da humanidade acerca do assassinato em massa de seis milhões de judeus.  “Uma pesquisa global realizada em 2014, já mostrava que 46% dos entrevistados nunca tinham ouvido falar de Holocausto!”, alerta Wurman.
O texto também tem como miolo central a Resolução 2.334, de 23 de dezembro de 2016, aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU, que condenou os assentamentos judaicos na Cisjordânia e em Jerusalém Ocidental, alegando que os mesmos se constituíam obstáculos para a paz. Wurman rebate esse argumento observando que entre 1948 e 1967 não havia qualquer colono morando em território pretendido pelos palestinos e ainda assim houve atentados, agressões e incitamentos ao ódio por parte dos palestinos. “Desde 1948, quando foi declarada a independência do Estado de Israel, até 1967, quando Israel defendeu-se do ataque de seus vizinhos, conquistando a Cisjordânia e libertando Jerusalém Oriental da soberania jordaniana, não houve um dia sequer de paz.”
Por fim, a posição oficial do governo israelense é explicitada mais uma vez de maneira peremptória: “Nada que a ONU ou a Unesco propuseram através de resoluções que ignoram as raízes judaicas existentes nas cidade de Jerusalém e nas bíblicas Judeia e Samaria fará com que o sonho de dois estados convivendo lado a lado possa ser concretizado.”
Em resumo, quatro textos de bom calibre que apenas reforçam ideários, posições e propostas já consagradas, de ambos as partes. Agora é imaginar se alguma coisa mudou na cabeça do leitor comum, que não é judeu, em relação a Israel e ao conflito com os palestinos. Ou a finalidade era outra?


Um adendo pós-matéria: O cineasta Cacá Diegues que escreve regulamente aos domingos em “O Globo” e já emitiu críticas ácidas ao poder dos judeus em Hollywood, mudou o disco e abordou de maneira simpática a presença dos judeus no emblemático filme “Casablanca” (“Sempre haverá Casablanca”, em 12/3/2017). Isso se deu em face de um livro recém-lançado, escrito por um judeu, que conta os bastidores do filme. Importante:o livro lhe foi ofertado pelo jornalista Zevi Ghivelder. Um tipo de iniciativa que talvez surta mais efeito do que mil argumentos entrincheirados em confortáveis bunkers.



sábado, 25 de fevereiro de 2017

Judeus americanos se encontram com o Papa


Sheila Sacks

Um grupo de representantes da organização judaica americana “Anti-Defamation League” (ADL) esteve com o Papa no Vaticano, em 9 de fevereiro, para reafirmar o seu apoio aos esforços do sumo pontífice em condenar o antissemitismo que cresce na Europa.

No encontro, o papa Francisco expressou a sua gratidão pelo diálogo e as relações estreitas que a instituição mantém com Roma, e disse que a Igreja Católica sente-se particularmente obrigada a lutar contra as tendências antissemitas que são completamente contrárias aos princípios cristãos e a toda visão digna da pessoa humana. O papa também elogiou a ADL no seu trabalho de combater o ódio investindo em educação e promovendo o respeito a todos, principalmente aos mais fracos e necessitados.

O site católico “Zenit” reportou a visita, em 11 de fevereiro, sob o título “Papa Francisco condena antissemitismo e apela a não-violência – Judeus e católicos juntos contra o ódio”. No site da ADL, o encontro foi divulgado no mesmo dia da visita, em 9 de fevereiro: “ADL Leaders and Pope Francis Join to Reaffirm Jewish-Catholic Relations and Denounce Anti-Semitism”.

Catálogo de móveis gera polêmica em Israel

A rede sueca de móveis e utensílios domésticos IKEA reclamou do seu franqueado em Israel pela capa do catálogo de propaganda veiculado no país que exibe uma suposta família apenas integrada por pessoas do sexo masculino.  Na imagem, um homem de quipá, trajando calça preta, camisa branca e talit, folheia um livro, perto de uma estante, enquanto duas crianças brincam no chão da sala. A ausência de presença feminina na foto não agradou a multinacional que através de seu porta-voz garantiu que tal fato não vai se repetir e que o polêmico catálogo deve ser retirado de circulação.

Com móveis muito apreciados pela comunidade ortodoxa de Israel, a franquia está presente em Israel há 16 anos. Reportagem do jornal espanhol “El Pais”, em 16.02.2017, - “Mulheres e meninas desaparecem de catálogo da IKEA em Israel” - relata o imbróglio que irritou a matriz, causando constrangimento à marca e virando piada nas redes sociais.

Sob pressão da marca sueca, o diretor-geral da rede em Israel, em comunicado público, pediu desculpas pela ausência de mulheres na foto e prometeu que “as futuras publicações refletirão a posição da IKEA ao mesmo tempo em que demonstrarão respeito pela comunidade haredi (ultraortodoxa)”.

Encontrada caverna que pode ter abrigado pergaminhos do Mar Morto

Arqueólogos da Universidade Hebraica descobriram uma caverna milenar, do período do Segundo Templo, a oeste de Qumram, perto da costa noroeste do Mar Morto, que possivelmente serviu de esconderijo para os pergaminhos conhecidos como os Rolos do Mar Morto.

A revelação acontece mais de 60 anos depois das escavações que resultaram na descoberta de 11 cavernas com pergaminhos armazenados em frascos ou jarros. Semelhante a caverna 8, onde não foram encontrados pergaminhos, a caverna recém-descoberta (de número 12) apresenta jarros quebrados, fragmentos de envelopes, pedaços de corda e outros itens que demonstram que o local foi saqueado (provavelmente na década de 1950) e seu conteúdo roubado.

Para os especialistas israelenses que participaram da escavação, a descoberta desta 12ª caverna muda a certeza da localização original dos manuscritos bíblicos encontrados, restrita às cavernas 1 a 11, de acordo com as informações passadas pelos beduínos. Israel Hasson, autoridade em antiguidades, diz que o estado de Israel precisa se mobilizar e alocar recursos para essas operações de resgate histórico nas cavernas do deserto da Judeia. “Estamos em uma corrida contra o tempo, enquanto ladrões de antiguidades roubam heranças patrimoniais em todo o mundo para obter ganhos financeiros.”

Fonte: Site da Universidade Hebraica de Jerusalém
Artigo: “Hebrew University Archaeologists Find 12th Dead Sea Scrolls Cave”, publicado em 08.02.2017.

Chilenos pouco sabem sobre judeus e a Shoá

O presidente da comunidade judaica do Chile (CJCH), Shai Agosín, contou que através de uma consulta realizada em 2016, ficou constatado que poucos chilenos conhecem o judaísmo ou sabem alguma coisa sobre os judeus. Isso porque o Holocausto (Shoá), por exemplo, não é um tema que faz parte dos programas educativos das escolas locais.

Com uma comunidade em torno de 15 mil pessoas, os judeus chilenos dispõem de três colégios judaicos, atendendo 1.400 crianças e jovens, diferentes sinagogas e clubes, totalizando 50 instituições. Em contraposição, é no Chile que se concentra a maior comunidade palestina fora do mundo árabe. São 450 a 500 mil palestinos e seus descendentes que começaram a chegar ao país no início do século passado.

Considerando a influência e a participação ativa dessa comunidade na vida chilena, é bem grande a repercussão dos conflitos que ocorrem no Oriente Médio relacionados com Israel. Segundo Agosín, os fatos envolvendo palestinos e israelenses acabam gerando variadas ondas de antissemitismo classificadas pela mídia de antissionismo. E cita um fato recente: o tweet do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu aplaudindo o presidente Trump pelo muro que pretende construir na fronteira com o México para barrar a entrada de imigrantes ilegais.

A declaração, que ganhou a mídia mundial - no Brasil, o fato foi noticiado pelo jornal “Extra” da organização “O Globo” (“México censura Israel por tweet de Netanyahu”, em 29.01.2017)- não só irritou o governo do México que emitiu uma nota de protesto, mas também foi rejeitada pela comunidade judaica daquele país. “Coisas desse tipo são como destampassem um pote que permite sair o pior do antissemitismo”, afirma o representante judaico.

Um ano difícil para os judeus?

Na avaliação de Agosín, 2017 será um ano muito complexo para as comunidades judaicas. Utilizando-se da numerologia, ele considera os acontecimentos que se sucederam tendo o número 7 nas datas são bastante impactantes: 1897, Primeiro Congresso Sionista; 1917, Declaração Balfour; 1947,  o plano de dois estados; 1967, a Guerra dos Seis Dias; 1987, a primeira Intifada.

Fonte: Newsletter “Iton Gadol”, da Argentina, em 21.02.2017

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Israel: quando o terrorismo se reinventa

Por Sheila Sacks
publicado na versão online do "Correio do Brasil"

A série de incêndios florestais que durante seis dias atingiu centros urbanos importantes como Haifa e arredores de Jerusalém reacende a hipótese do envolvimento de ações criminosas nesse episódio que tomou ares de um dos maiores desastres do país, deixando um rastro perverso de danos ambientais, sociais e materiais de enorme envergadura.

Sofrendo com a falta de chuvas e ventos fortes, os incêndios provocaram a retirada de mais de 80 mil pessoas que vivem na cidade litorânea de Haifa, no norte de Israel, que tem 280 mil habitantes, entre judeus e árabes. Em 2010, a cidade já havia enfrentado um incêndio que resultou em 44 mortes. Cidades perto de Jerusalém e comunidades na Cisjordânia também tiveram de ser evacuadas afetadas por focos de incêndios e muita fumaça.

Ao anunciar no domingo, 27 de novembro, que os incêndios estavam sob controle, o porta-voz da polícia Micky Rosenfeld destacou que os aviões continuavam jogando água em áreas como a de Haifa, a terceira maior cidade do país, em um trabalho de prevenção. Cerca de 1,6 mil apartamentos e casas ficaram totalmente danificados sendo que 500 deles inabilitados para moradia. Os estragos na cidade estão estimados em 120 milhões de dólares. Segundo informações da agência France-Presse (AFP), foram destruídas mais de 13 mil hectares de florestas no país e detidas 23 pessoas suspeitas de terem provocado os incêndios.

Nova ameaça

Em reportagem, a agência de notícias espanhola EFE divulgou que autoridades israelenses consideram que muitos dos fogos foram provocados e que o primeiro-ministro israelense, Benjamim Netanyahu, falou sobre uma onda de terrorismo incendiário. Seria um novo tipo de terrorismo que Israel enfrenta, declarou o ministro de segurança pública, Gilad Erdan. Uma situação preocupante não só para Israel, caso as suspeitas se confirmem, mas em relação a qualquer outro país do planeta.

No Brasil - onde as facções criminosas e as milícias interagem com ilícitos pesados, desde a comercialização de drogas, armas e serviços até roubos de cargas e assassinatos, comandando as operações de dentro das cadeias em um arrogante desafio às forças policiais - alguém já parou para pensar se, por exemplo, nossa floresta da Tijuca, no miolo do Rio de Janeiro, uma das maiores florestas urbanas do país, com 4.200 hectares, vir a ser incendiada pela bandidagem? Ou virar alvo de atos de sabotagem de cidadãos indignados ou revoltados pelas centenas de mazelas públicas que são condenados a suportar no seu humilhante dia a dia?

Preconceito na rede

Em um mundo globalizado de ditadura digital, com a mídia informativa jorrando notícias continuadamente e as redes sociais temperando as informações, sempre com muito sal, os fatos acabam sendo engolidos pelas versões. Sejam em relação ao estado de Israel, a outros países, povos, religiões etc. As redes opinam, sugerem, reciclam, distorcem, amplificam e redesenham os ângulos das questões de acordo com o perfil ideológico dos indivíduos e os preconceitos inerentes à formação de cada um. Uma miscelânea que muda o conceito original de massa, que de acordo com o dicionário Aurélio consiste em um “número considerável de pessoas que mantêm entre si uma certa coesão de caráter social, cultural, econômico”.

Mas, no mundo virtual, independente de aspectos sociais, culturais e econômicos que podem ser díspares, o preconceito e a intolerância têm o poder nefasto de juntar as pessoas. Muito mais do que separá-las. Percebe-se que inúmeras vezes o fato real que ensejou a notícia perde-se em labirintos de interpretações ou fica em segundo plano, emergindo em contraponto, de forma intencional, um dado correlato posto a serviço da neutralização ou negação do fato real veiculado.


Nos incêndios ocorridos em Israel a maior vítima foi a sua população em todos os seus segmentos. Sabe-se que motivações de qualquer espécie não justificam atos de violência e vandalismo, e que nas proporções que afetaram o país configuram-se reais ações de terrorismo. Logo, existindo culpados, a eles a lei deve ser aplicada.