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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

O recado do papa Francisco

por Sheila Sacks


“Ao visitar esta sinagoga, prossigo nas pegadas dos meus predecessores. O papa João Paulo II esteve aqui há trinta anos, em 13 de abril de 1986; papa Bento XVI esteve entre vocês há seis anos, agora estou aqui.” (Papa Francisco, em discurso no templo de Roma, em 17 de janeiro de 2016)


Publicado no "Observatório da Imprensa" 

Na visita que o papa Francisco fez à sinagoga de Roma, nesse início de 2016, as agências internacionais e a mídia europeia elegeram, por unanimidade, destacar nas chamadas e no lead o trecho do discurso do sumo pontífice em que ele condena a violência religiosa. “A violência do homem contra o homem está em absoluta contradição com qualquer religião, digna desse nome e, em particular, com as três grandes religiões monoteístas.”

As chamadas são semelhantes: “Papa visita sinagoga em Roma e condena violência em nome da religião” (Reuters); “Papa condena a violência ‘em contradição’ com as três religiões monoteístas” (France-Presse); “Papa visita sinagoga de Roma e clama contra violência em nome de Deus” (EFE). Na Itália o jornal Corriere della Sera estampou em sua capa digital: “Il Papa in sinagoga: La violenza è incompatibile com La fede”. Os diários Il Tempo e Il Messaggero acompanharam: “Papa in sinagoga: La violenza contraddice ogni religione”.

Pode parecer uma obviedade a ênfase dada pela mídia ao fato de o papa não estar a favor da violência, pois essa seria a atitude pública a esperar de todo grande líder espiritual. Mas, o destaque ao tema - pinçado em meio a uma oratória de sensíveis referências sentimentais e teológicas, onde se enaltece de forma comovente a fraternidade que deve existir entre cristãos e judeus – tornado-o o leitmotiv da notícia reflete, de forma inegável, o clima de insegurança traumática que persiste na Europa após os atentados de Paris, ocorridos em 7 de janeiro e 13 de novembro de 2015, que causaram 154 mortes e mais de 350 feridos.

O que torna relevante o recado do papa ao presidente do Irã, Hassan Rouhani, no encontro de ambos no Vaticano, dez dias após a visita de Francisco à sinagoga. Na ocasião, o papa reafirmou seu alinhamento contra o terror político-religioso e pediu que o governo islâmico daquele país trabalhe pela paz no Oriente Médio e contra a disseminação do terrorismo, de acordo com o comunicado oficial da Santa Sé (“Papa Fracesco apre a Rouhani: Theran fondamentale per La pace”, no Corriere della Sera, em 26.01.2016).

Mas, à parte o momento atual de temor e alerta que levou a segurança italiana a mobilizar 800 policiais para blindar as imediações do templo, o papa Francisco, conhecendo a história da sinagoga de Roma, teve as suas razões para condenar, no interior de suas dependências, a prática da violência em todos os seus matizes.

Sinagoga centenária

Em 2004, por ocasião dos festejos do centenário do grande templo de Roma, o papa João Paulo II (1920-2005) enviou uma carinhosa mensagem à comunidade judaica romana, a mais antiga da Europa Ocidental, lembrando a presença milenar dos judeus naquela cidade, que remonta ao século 1 antes da Era Comum. Endereçada ao rabino-chefe de Roma, Riccardo Di Segni, o papa destacou “o profundo laço que une a Igreja com a Sinagoga”, lembrando que ambas as religiões “compartilham, em grande parte, das Escrituras Sagradas, da liturgia e de antiquíssimas expressões artísticas.”

No documento, publicado pelo site católico Zenit, João Paulo II se dirige aos judeus de Roma como seus “irmãos prediletos” na fé de Abraão, o patriarca, fazendo referência às figuras bíblicas de Isaac, Jacob, Sara, Rebeca, Raquel e Lia. “Veja como é bom e agradável irmãos conviverem juntos – “Hinê ma tov uma naím shévet achim gam iáchad” (Salmo 133), assinala o pontífice em hebraico. Mais adiante, ele acrescenta que “o majestoso Templo Maior, na harmonia de suas linhas arquitetônicas, eleva-se há 100 anos sobre as margens do rio Tiber como testemunho de fé e de louvor ao Onipotente”.

Construída entre 1901 e 1904, a grande Sinagoga de Roma está instalada no antigo gueto judaico, na Via Catalana, ao lado do pitoresco bairro de Trastevere, e foi concebida pelos arquitetos Vicenzo Costa e Osvaldo Armanni. Faz parte do seleto grupo das 25 mais belas sinagogas do mundo, segundo a revista americana “Complex”, especializada em design e estilo.

Atentado terrorista

A relação entre João Paulo II e a sinagoga de Roma pontuou de forma singular e dramática a história do século 20. Em 1986, o sumo pontífice tomou a iniciativa de atravessar os portões do templo tornando-se o primeiro papa em quase dois mil anos a visitar uma sinagoga e chamar os judeus de “nossos amados irmãos mais velhos”.  Pondo de lado o protocolo, João Paulo II deu um abraço emocionado no rabino-chefe Elio Toaff (falecido em 2015, aos 100 anos), falando aos presentes, por várias vezes, em hebraico.  

A emblemática visita do papa funcionou como uma espécie de contraponto à tragédia que se abateu sobre a comunidade judaica de Roma, quatro anos antes, a mais chocante desde a “shoah” (a palavra hebraica para o holocausto, significando calamidade), quando 1.259 judeus romanos foram deportados em trens pelas forças nazistas (em 16 de outubro de 1943) para as câmaras de morte de Auschwitz. A essa ferida jamais cicatrizada veio se juntar mais uma, desta vez representada pelo horrendo atentado terrorista que atingiu a sinagoga, em 9 de outubro de 1982, matando um menino de dois anos, Stefano Gay Taché, e deixando mais de três dezenas de feridos, muitos deles em estado grave.

Na ocasião, a imprensa relatou o banho de sangue que marcou aquela manhã de sábado, quando se realizavam as rezas matinais e se comemorava o término de “sucot” (a festa das cabanas que lembra as tendas usadas pelos hebreus nos 40 anos que vagaram pelo deserto de Sinai, depois do êxodo do Egito). Na manchete do jornal La Stampa, os números da tragédia: “Um morto e 34 feridos no feroz atentado antissemita”. O Diário ABC, da Espanha, publicou na primeira página: “O templo estava repleto de crianças e adolescentes para uma benção especial naquele sábado. Pouco antes do meio-dia, dois homens se acercaram de uma das entradas da sinagoga e renderam o segurança. Eles entraram na sinagoga portando cinco granadas, conseguindo explodir duas. As pessoas começavam a sair naquele momento. Os terroristas sacaram de suas mochilas metralhadoras e iniciaram o tiroteio. Outros dois terroristas se uniram aos primeiros para completar a carnificina. Terminada a operação, abandonaram o lugar em dois automóveis”.

Sem punições

Em 2012, ao se completarem 30 anos da tragédia, o antigo líder da comunidade judaica de Roma, Riccardo Pacifici, manifestou o seu desapontamento ao então presidente Giorgio Napolitano, visto que o atentado, transcorrido tanto tempo, não tinha sido esclarecido e nem os culpados punidos. “Por que naquele dia, e somente naquele dia, não havia presença policial em frente à sinagoga?”, perguntou Pacifici em sua missiva ao presidente. 

Semanas antes do atentado, o rabino Toaff tinha protocolado uma solicitação ao Ministério do Interior para que reforçasse a segurança em torno da sinagoga durante os feriados judaicos de “rosh hashaná” (ano novo), “yom kipur” (dia do perdão) e “sucot”, que acontecem em sequência, nos meses de setembro e outubro. Mas, o pedido não foi considerado, apesar do clima de antissemitismo reinante no país, estimulado principalmente pela imprensa e políticos que criticavam o governo de Israel pelo conflito com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), no sul do Líbano.

A presença e o acolhimento em Roma do líder da OLP, Yasser Arafat (1929-2004), também animou os simpatizantes da causa palestina a se sentirem mais à vontade para atacar alvos judaicos, o que já havia ocorrido em junho daquele ano, com sindicalistas arremessando um caixão na frente da sinagoga.  Recebido como chefe de estado pelo então presidente Sandro Pertini (1896-1990), na residência oficial de Quirinal, Arafat teve igualmente um encontro no Vaticano com o papa João Paulo II em 15 de setembro, três dias antes das comemorações do ano novo judaico.

Ambiente hostil

No livro “Attentato alla sinagoga”, lançado em 2013, os autores Arturo Marzano, pesquisador do Departamento de História e Civilização do Instituto Universitário Europeu de Florença, e Guri Schwarz, professor assistente do Departamento de História da Universidade da Califórnia (UCLA), buscam os antecedentes políticos, sociais e históricos que estariam na raiz do ataque terrorista ao templo de Roma, concluindo que o conflito israelense-palestino foi o pivô da tragédia. Para os autores, a Guerra dos Seis Dias, em 1967, que resultou na fuga de milhares de palestinos para a Jordânia, Líbano, Síria e outros países fronteiriços, repercutiu negativamente de forma evolutiva contra Israel ao longo de duas décadas, atingindo as comunidades judaicas da diáspora.

Marzano e Schwarz também destacam o papel da imprensa italiana de esquerda que, em 1982, censurava sistematicamente as ações das forças de defesa de Israel instaladas no Líbano para impedirem os ataques contínuos dos grupos da OLP contra o território israelense. O episódio nos campos de refugiados de Sabra e Shatila, em setembro daquele ano, quando cristãos maronitas libaneses mataram centenas de palestinos em represália ao assassinato do presidente eleito do país, Bashir Gemayel, morto em um atentado com carro-bomba que vitimou 26 pessoas, radicalizou ainda mais os discursos contra Israel que ocupava militarmente a área.

“Ecos dessas tensões contaminaram a sociedade civil”, avaliam os pesquisadores. “O maestro Daniel Oren (nascido em Israel e diretor do Teatro Municipal Guiseppe Verdi, em Salerno) foi insultado enquanto regia um concerto no Teatro San Carlo, em Nápoles; em Turim, um jovem foi surrado porque usava um colar com a estrela de David; e em 1º de outubro de 1982 uma bomba explodiu no escritório de um centro judaico de Milão”. Em paralelo, um grupo de intelectuais judeus, tendo à frente o escritor e sobrevivente de Auschwitz, Primo Levi (1919-1987) – laureado em 1979 com o mais prestigioso prêmio literário da Itália (Premio Strega) pelo livro “A Chave Estrela” - assina um manifesto a favor da retirada de Israel do Líbano, gerando um profundo mal estar entre a comunidade judaica composta de 35 mil membros, a metade residente em Roma.

Comentando a obra de Marzano e Schwarz para o diário Il Foglio, o escritor e jornalista Guilio Meotti classificou o trabalho como uma “viagem sobre a desumanização de Israel” empreendida por jornalistas e intelectuais no período que antecedeu o atentado. No artigo intitulado “Pogrom Italiano” (25.05.2013), Meotti, que é o autor de “A New Shoah” (Um Novo Holocausto), um livro que conta as histórias pessoais de israelenses vítimas do terrorismo na Terra Santa, cita as palavras do psicanalista Antonio Semi, membro da “Societá Psicoanalitica Italiana (SPI)”, colocadas em destaque na primeira página do jornal Il Gazzettino, de Veneza, no dia seguinte ao ataque à sinagoga: “Se eu fosse judeu nos dias de hoje, na nossa Europa civilizada, eu teria medo.”

Reações iniciais

Também o renomado arquiteto Bruno Zevi (1918-2000), autor do projeto do pavilhão da Itália na exposição de Montreal em 1967 (Expo 67) - a maior feira mundial do século 20 -, foi a Câmara Municipal de Roma para tornar pública a revolta e a indignação que tomaram de assalto a comunidade judaica. Corajosamente, ele desautorizou a mídia na sua tentativa de se solidarizar com os judeus, usando o subterfúgio de dissociar o judaísmo do antissionismo. “Não vamos aceitar uma distinção maniqueísta entre judeus e israelenses. Nós pertencemos ao povo de Israel que inclui as comunidades espalhadas em todas as partes do mundo, começando com a mais antiga, a de Roma, e aquelas que retornaram à terra de seus antepassados.”

Professor universitário e autor de vários livros sobre arquitetura, Zevi foi um político atuante, eleito deputado para o parlamento de Roma (1987-1992). Precedendo seu discurso, publicado na íntegra pelo diário conservador Il Tempo, a juventude judaica lançou um duro manifesto acusando frontalmente a imprensa (inclusive citando o Corriere della Sera, o jornal de maior circulação do país), o presidente da Itália, Sandro Pertini (1896-1990), e até João Paulo II, que abriu as portas do Vaticano para receber o líder de um movimento que agrupava terroristas (ao todo o papa se encontrou 12 vezes com Arafat).

O empresário Dario Coen era estudante na época e encabeçou o movimento. O folheto se iniciava ironicamente com a palavra “Grazie” (obrigado), em alusão à sistemática campanha dos principais jornais do país contra o estado de Israel, e a anuência de políticos e personalidades públicas a esse cenário de hostilidade. O manifesto destacava que Pertini e o ex-primeiro ministro Guilio Andreotti (1919-2013) receberam Arafat nas residenciais oficiais com honras de chefe de estado, uma afronta para os judeus italianos. E concluía, de forma peremptória: “Não precisamos de palavras de compaixão.”

Fuga e Impunidade

Mas, a indignação com o ataque que matou e feriu crianças e adolescentes sensibilizou toda a Itália e o então representante da OLP no país, Nemer Hammad (atualmente conselheiro político de Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina - ANP) se apressou em negar qualquer ligação com a ação terrorista. Porém, as investigações policiais apontaram para a organização terrorista “Junho Negro” comandada pelo palestino Abu Nidal (1937-2002), acusado de matar ou ferir mais de 900 pessoas em 20 países. Os retratos falados dos terroristas permitiram assegurar que pelo menos um dos atiradores, o também palestino Abdel Osama al-Zomar, era conhecido pelas polícias dos países europeus como integrante do movimento Fatah-Conselho Revolucionário (Fatah-CR), fundado por Nidal, da ala mais radical da OLP. Também o depoimento da namorada italiana de al-Zomar reforçou esse envolvimento.

Preso no norte da Grécia, ainda em 1982, quando dirigia um carro repleto de explosivos em direção à Turquia, al-Zomar passou 40 meses na prisão cumprindo pena por esse delito e também por esconder uma arma em sua cela. Em 1988, o governo grego autorizou a deportação do terrorista para a Líbia do ditador Muamar Kadafi (1942-2011), apesar de o governo italiano ter pedido a extradição do terrorista, três anos antes. Condenado à prisão perpétua na Itália, a Grécia quebrou o acordo de entregá-lo à polícia italiana e expulsou al-Zomar para “um país de sua escolha”, segundo as notícias da época. O terrorista, então com 27 anos, desapareceu na Líbia e até hoje o seu paradeiro é desconhecido.

Em entrevista ao Corriere della Sera, em outubro de 2011, Gadiel Taché, o irmão do pequeno Stefano, morto no atentado à sinagoga, lamentava o pouco empenho demonstrado todos esses anos pelo governo italiano no sentido de exigir de Kadafi a extradição do terrorista e de outros membros do grupo. Ele, que ficou gravemente ferido no ataque, dizia esperar que com a morte do ditador líbio ocorrida naquele mês, as autoridades italianas intensificassem a petição junto ao novo governo de Trípoli e reconhecessem oficialmente o irmão como uma vítima do terrorismo e “parte da consciência histórica da Itália” (em 9 de maio de 2012, o presidente Giorgio Napolitano incluiu Stefano nessa categoria).

Revelações

Anos antes, em 2008, as declarações de um ex-presidente já tinham provocado perplexidade na comunidade judaica porque o político denunciou a existência de um compromisso extra-oficial entre o governo italiano e a OLP, nas décadas de 1970 e 1980, no sentido de preservar o país de ataques terroristas. Em troca, a Itália não interferiria em assuntos palestinos, fechando os olhos para as atividades da organização no país. Na entrevista, publicada pelo diário israelense Yedioth Ahronoth, em 03 de outubro de 2008, Francesco Cossiga (1928-2010), que presidiu a Itália de 1985 a 1992, falou ao correspondente Menachem Gantz sobre esse pacto conhecido como “Acordo Moro”, em alusão ao político Aldo Moro (líder do partido democrata cristão, cinco vezes primeiro-ministro e assassinado em 1978), figura central responsável pelo trato.

O “Acordo Moro” também foi reconhecido por Bassam Abu Sharif, um dos assessores de Arafat e porta-voz de imprensa da OLP, em reportagem do Corriere della Sera, em agosto de 2008. Apelidado de “o rosto do terror” pela revista americana Time, Sharif era membro da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) e foi responsável por uma série de sequestros de aviões de passageiros em aeroportos europeus, nos anos 1970. Ele contou que as organizações palestinas operavam livremente em território italiano e por sua vez não atacavam alvos nacionais na Itália e fora do país, desde que não cooperassem com o estado de Israel.

O “acordo”, porém, não abrangia os judeus italianos e nem os alvos judaicos na Itália. Francesco Cossiga, que faleceu dois anos após a entrevista, acreditava que a política de preservar a Itália de ataques terroristas ainda continuava valendo. “A Itália tem um acordo com o Hezbollah”, afirmou o ex-presidente ao jornal, “e a UNIFIL (sigla em inglês para as ‘Forças Interinas das Nações Unidas no Líbano’ que atuam na região desde 1978) fecha os olhos ao processo de rearmamento do grupo, desde que não sejam realizados ataques contra os seus contingentes”. O Hezbollah é uma organização islâmica xiita fundamentalista que age no Líbano, catalogada como terrorista pelos Estados Unidos e países europeus. Mantém estreita ligação com o Irã e a Síria e prega a eliminação do estado de Israel.

Ecumenismo e memória

Voltando ao papa João Paulo II, em 25 de janeiro de 1983, com a comunidade judaica ainda traumatizada pela tragédia na sinagoga, ocorrida três meses antes, João Paulo II promulga um novo Código Canônico que entre os seus itens mais importantes destaca o esforço que a Igreja deve consagrar ao ecumenismo. Documento especial enviado a Diocese de Roma orientava para que os sermões não contivessem “qualquer forma ou vestígio de antissemitismo”, recomendando também “uma redescoberta das nossas raízes judaicas”.

Anteriormente, João Paulo II já havia se reunido com delegados das conferências episcopais para normatizar as aulas de catolicismo, chamando a atenção para o comportamento a ser adotado. “Seria necessário conseguir que este ensino nos diferentes níveis de formação religiosa, na catequese dada às crianças e adolescentes, apresentasse os judeus e o judaísmo, não somente de maneira honesta e objetiva, sem nenhum preconceito e sem ofender ninguém, mas também, e mais ainda, com uma viva consciência da herança comum a judeus e cristãos” (Roma, 6 de março de 1982).

Quinze anos depois, com 78 anos, o papa faz uma espécie de mea-culpa, em nome da Igreja, publicando o documento intitulado “Nos Lembramos: Uma reflexão sobre a Shoah” (1998). Ele admite que a perseguição do nazismo contra os judeus pode ter sido facilitada por preconceitos antijudaicos presentes nas mentes e nos corações dos cristãos. João Paulo escreve: “No termo deste milênio, a Igreja católica deseja exprimir a sua profunda tristeza pela faltas dos seus filhos e das suas filhas em todas as épocas.” E prossegue: “A inumanidade com que os judeus foram perseguidos e massacrados neste século supera a capacidade de expressão das palavras. E tudo isto lhes foi feito só porque eram judeus.” Também reconhece o preconceito arraigado que se estende pelos séculos. “Em tempos de crise como carestias, guerras e pestes ou de tensões sociais, a minoria judaica foi muitas vezes tomada como bode expiatório, tornando-se assim vítima de violências, saques e até mesmo massacres.”

O documenta ressalta o “dever da memória” e conclama para um “futuro comum” entre judeus e cristãos. “Pedimos que a nossa tristeza pelas tragédias que o povo judaico sofreu no nosso século leve a novas relações com esse povo. Desejamos transformar a consciência dos pecados do passado em firme empenho por um novo futuro, no qual já não haja sentimento antijudaico entre os cristãos, nem sentimento anticristão entre os judeus, mas sim um respeito recíproco compartilhado, como convém àqueles que adoram o único Criador e Senhor e têm um comum pai na fé, Abraão.”

Vale lembrar que João Paulo II também foi vítima de um atentado terrorista na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 13 de maio de 1981. O turco Mehmed Ali Agca atirou três vezes contra o sumo pontífice em meio à multidão que estava no local para saudar o primeiro papa polonês da história (teses conspiratórias surgiram ao longo do tempo envolvendo países do bloco soviético descontentes com a posição do papa favorável aos sindicalistas do movimento polonês “Solidariedade”, do líder Lech Walesa).

Sensação de medo


Desde 1984, e após 16 séculos, a Itália se tornou um estado de pluralismo religioso com o acordo entre a Santa Sé e a república italiana que aboliu o privilégio de o catolicismo ser uma “religião de Estado”. Com a instituição da liberdade religiosa, presente na Constituição, italianos e imigrantes de todos os credos ganharam mais segurança para praticarem a sua fé (atualmente a Itália abriga 1,5 milhão de muçulmanos). Entretanto, no caso específico da pequena comunidade judaica, qualquer visitante mais atento pode notar o temor e a insegurança que seus membros ainda sentem em relação à grande sinagoga de Roma.

Foi o que percebi, em 2014, ao me aproximar de uma família no antigo bairro judeu de Roma. A relutância em indicar a localização do templo e os olhares desconfiados dirigidos à sacola que eu portava, não deixavam dúvidas. No prédio, rodeado por duas guaritas com policiais, o ingresso somente é autorizado após uma minuciosa revista. Enfim, uma sensação de medo que sobrevive à tragédia de 1982, resistindo ao tempo em sua inquietude por uma justiça que, efetivamente, não se concretizou.

Gadiel Taché, que viveu o pesadelo de perder o irmão e sofrer mais de trinta cirurgias, lamenta que um véu de silêncio ambíguo ainda acoberte o episódio. Anualmente, a comunidade judaica relembra a data fatídica e clama por esclarecimentos e a prisão dos envolvidos. Ao escolher um sábado, o “shabat”, o dia da semana mais santificado para o judaísmo, os terroristas premeditaram uma ação visando atingir uma simbologia sagrada e um grande número de fieis. Porque como preceituava o rabino e teólogo Abraham Heschel (1907-1972), que perdeu a família no holocausto, os sábados são as catedrais do povo judaico.


E explicava a razão: “Durante os seis dias da semana, vivemos sob a tirania das coisas do espaço. O sábado nos coloca em sintonia com a santidade do tempo. Neste dia somos chamados a participar no que é eterno no tempo, a nos voltar dos resultados da criação para o mistério da criação, do mundo da criação para a criação do mundo.” Pensamento que o papa Francisco reverberou no púlpito do templo de Roma ao afirmar textualmente que “judeus e cristãos podem e devem oferecer à humanidade a mensagem da Bíblia sobre o cuidado da criação”.

Texto atualizado e ampliado do original "Em Roma, uma sinagoga entre catedrais".

sábado, 16 de janeiro de 2016

Obra de Viktor Frankl vai para as telas do cinema

Por Sheila Sacks

“Hoje aos homens é concedido confrontar-se com realidades que antes confrontavam somente no leito de morte” (Ernst Bloch, filósofo alemão)

publicado no site Observatório da Imprensa

Provavelmente em 2016 mais uma história ambientada em um campo de concentração estará nas telas dos cinemas. Produtores de Hollywood adquiriram os direitos de filmagem do livro “Em Busca de Sentido - Um psicólogo no campo de concentração”, do psiquiatra e filósofo austríaco Viktor Frankl (1905-1997), publicado em 1946, e que após ser traduzido para o inglês, em 1959, se tornou um best-seller mundial (no Brasil, a obra já está na 37ª edição). O roteirista Adam Gibgot, que fará a adaptação da história para o cinema, adiantou que a abordagem do tema seguirá a linha amena da película italiana “A vida é bela” – sobre um pai e seu filho menor que são conduzidos a um campo de concentração -, Oscar de melhor filme estrangeiro em 1999.

Com elementos que beiram ao gênero de literatura de autoajuda, pela ênfase à psicologia virtuosa da vontade pessoal e da força do espírito para superar as adversidades, o livro de Frankl traz a mensagem de que ao indivíduo cabe procurar um sentido e uma missão na vida. Uma visão que caminha em rumo diverso a de seu ilustre conterrâneo Sigmund Freud (1856-1939), com quem manteve correspondência e conheceu pessoalmente. Em uma conferência em Viena, o filósofo reconheceu o fato e se justificou: “É verdade que Freud escreveu que ‘no momento em que alguém pergunta sobre o sentido ou o valor da existência, está doente’; mas eu penso que é nesse momento que a pessoa manifesta sua humanidade. É um empreendimento humano o interrogar sobre um sentido para a vida, e cabe perguntar se tal sentido é alcançável ou não.”

Setenta anos depois do lançamento da obra, que também enfatiza o valor e o sentido do sacrifício em qualquer situação, as teses de Frankl e Freud estranhamente se interagem. Isso porque em uma época na qual o sentido da vida para uma fatia da humanidade se centraliza em matar e se imolar em sacrifício às causas associadas ao radicalismo religioso e político, a presunção de Freud torna-se cabível principalmente em relação aos jovens que aderem ao terror. A procura de uma razão para viver não é uma condicionante à busca do bem e se manifesta, de um modo geral, a partir de um desajuste pessoal que, mais adiante Frankl classificaria de “vazio existencial”.

Mas, apesar das concepções de Frankl não entusiasmarem Freud nem tampouco a outro gigante da psicologia com quem manteve contato, o também austríaco Alfred Adler (1870-1937), sua obra de estreia e as demais que se seguiram (escreveu 39 livros) receberam elogios e palavras de incentivo de líderes religiosos do porte do Papa Paulo VI, que o convidou para um encontro no Vaticano, em 1970, e do Rebe Menachem Mendel Schneerson, do movimento ortodoxo Chabad. Seus livros também foram traduzidos para o árabe e o persa, sendo editados no Egito, Irã e Turquia, de populações muçulmanas.

Livro do século

Em 1991, uma pesquisa realizada entre os leitores dos Estados Unidos apontou os 10 livros que mais influenciaram e fizeram a diferença em suas vidas. No topo da lista não houve surpresa: a Bíblia continuava liderando com facilidade (fato que se repete até os dias de hoje nos EUA). A consulta, conduzida pela prestigiosa instituição norte-americana “Library of Congress” - a maior biblioteca do mundo com um acervo atual de mais de 35 milhões de livros e outros impressos -, em parceria com o Clube do Livro, também consagrou um texto escrito por um médico judeu vienense, intitulado “Man’s Search for Meaning” (Em Busca de Sentido, na edição brasileira). Uma escolha que se repetiu anos mais tarde, em 2000, no Japão, com os leitores do “Yomiuru Shimbun”, de Tóquio, o jornal de maior tiragem diária do mundo (10 milhões de exemplares), que listaram o livro de Frankl como um dos 10 mais importantes do século 20.

O autor tinha sobrevivido a três longos e sofridos anos em campos de concentração, acompanhado de um caderno de anotações que serviu de base para descrever a sua terrível experiência e a de outros companheiros sob a ótica de um psicólogo. Publicado pela primeira vez em Viena, o livro de pouco mais de cem páginas, escrito em nove dias, trazia uma mensagem estimulante já a partir do título: “Trotzdem ja zum Leben sagen” (Diga sim à vida, de qualquer maneira, trad. livre do alemão). Espantoso para quem acabara de perder seus entes queridos de modo tão bárbaro: o pai, no campo de Theresienstadt (República Tcheca); a mãe e o irmão caçula, em Auschwitz (Polônia); e a esposa grávida, em Bergen-Belsen (Alemanha).

Ao longo da narrativa, Frankl detalha situações inimagináveis de desumanidade e de degradação física experimentadas por prisioneiros de todas as idades, inclusive crianças, no campo de Auschwitz, e analisa que todo ser humano submetido àquelas condições em pouco tempo irá apresentar um estado de espírito anormal o que não deixaria de ser uma reação psicológica “normal”. E lembra a frase do poeta e filósofo Gatthold Ephraim Lessing (1729-1781), mestre do Iluminismo: “Quem não perde a cabeça com certas coisas é porque não tem cabeça para perder.”

Frankl recorre a pensamentos de filósofos, poetas e escritores nas suas descrições dos cotidianos quadros sórdidos e terrificantes que compunham o dia a dia daquele exército deplorável de condenados. A sublimação do sofrimento é lembrada na afirmação do russo Dostoievsky (1821-1881) que dizia temer apenas uma coisa na vida: não ser digno de seu próprio tormento. Daí a importância das chamadas “miseráveis alegrias” que inoculavam um valioso fôlego espiritual nos prisioneiros despojados de todos os seus pontos de equilíbrio. “Nós éramos gratos ao destino quando ele nos poupava de sustos. Já ficávamos contentes quando à noite podíamos catar os piolhos do corpo antes de nos deitar.” Uma felicidade no sentido negativo de Schpenhauer (filósofo alemão do século 19) ou uma isenção de sofrimento em sentido muito relativo, segundo Frankl.

Arte, política e religião

Usada pelos prisioneiros como uma valiosa tábua de salvação contra a apatia, o desânimo e a loucura, a arte nos campos de concentração está presente nas narrativas da maioria dos livros, documentários e filmes sobre o tema, compondo, juntamente com o material salvo da hecatombe, um considerável legado cultural, se o termo é aplicável, da tragédia do holocausto. Sessões de música, poesia, teatro e até de humor aconteciam com o beneplácito da guarda nazista adestrada contra possíveis focos de rebeliões. Os sentimentos de inconformismo ou revolta, canalizados para um escoadouro fictício de sonhos e fantasias, mantinham os prisioneiros sob controle, proporcionando uma sensação de bem estar, ainda que fugaz e ilusória. Valia “tudo para esquecer”, atesta Frankl.

Outras áreas de interesse que movimentavam o cotidiano dos campos eram a política e a religião. ”Em primeiro lugar, a política, o que não é de surpreender e, em segundo, a religião, o que não deixa de ser notável”, conta. “Todos aqui discutem política quase sem parar, mesmo que se trate de ouvir sequiosamente os boatos infiltrados e passá-los adiante. Quanto à religião, o impressionante eram os cultos improvisados no canto de algum barracão ou num vagão de gado, escuro e fechado, no qual éramos trazidos de volta após o trabalho, cansados, famintos e passando frio em trapos molhados.” Médico psiquiatra, Frankl afirma que se manteve fora de privilégios. “Não é sem orgulho que digo não ter sido mais que um prisioneiro ‘comum’. Nada fui senão o simples nº 119104.”

 Junto aos pais

Em sua autobiografia, publicada em 1995, Frankl relata como teve a oportunidade de escapar ao regime nazista: “Eu esperei alguns anos até obter o visto de imigração para os Estados Unidos. Finalmente, um pouco antes do ataque a Pearl Habor (7/12/1941), fui convidado a ir à embaixada para pegar o meu visto. Aí então, eu hesitei, pois como poderia deixar meus pais para trás? Eu já imaginava qual seria o destino deles: deportação para um campo de concentração. Poderia eu dizer adeus e deixá-los entregues a própria sorte? O visto era pessoal, exclusivo para a minha pessoa”. 

À época, Frankl tinha 36 anos e era diretor do setor de Neurologia do Hospital Rothschild, tendo trabalhado antes, por quatro anos, no Hospital Geral de Viena, no tratamento de pacientes com tendências ao suicídio. Ele conta que quando chegou em casa naquele dia, encontrou o pai, em lágrimas: “Os nazistas atearam fogo na sinagoga”, disse-me, mostrando um pedaço de mármore que ele conseguira salvar. Na peça estava gravada, em dourado, uma única letra hebraica, justamente a letra inicial do quarto Mandamento: Honra teu pai e tua mãe. Diante disso, Frankl telefonou para a embaixada americana e cancelou o visto. “Talvez a decisão que eu tomei já estivesse comigo há muito tempo, e na realidade somente escutei o eco da voz de minha consciência”, afirmou.

Ponto de vista

O jornalista e escritor norte-americano Matthew Scully, mais conhecido pela sua função de speechwriter (redator de discursos) do ex-presidente George W. Bush, observa que Frankl publicou “Em Busca de Sentido” um ano antes do surgimento de “O Diário de Anne Frank” (1947). Ambos os livros ganharam o mundo, mas os autores tiveram destinos distintos. “No caso de Frankl, a sorte o conduziu para uma direção diferente. Depois da perda da esposa no Holocausto (Shoá – catástrofe - em hebraico), ele casou-se novamente, escreveu outros 32 livros, criou um método de psicoterapia, construiu um instituto em Viena que leva o seu nome, deu palestras ao redor do mundo, e permaneceu vivo para ver o seu livro ser traduzido para 45 idiomas.” Em 2007, a obra já havia atingido a cifra de 12 milhões de exemplares vendidos.

No encontro que teve com Frankl, em Viena, em abril de 1995, o jornalista falou de sua surpresa pelo livro não ser, pelo menos, o segundo mais lido na biblioteca do Museu do Holocausto, em Washington, onde “O Diário de Anne Frank” ainda reina absoluto (35 milhões de cópias em 67 idiomas). Frankl atribuiu o fato ao tom conciliatório que sempre adotou em suas mensagens e que desagradava a muitos: “Em todo o meu livro ‘Em Busca de Sentido’ você não vai encontrar a palavra ‘judeu’. Eu não acentuei a minha condição de judeu e nem de ter sofrido como um judeu”, afirmou.

Na entrevista, publicada pela revista americana “First Things”, Frankl fez questão de igualar a sua dor à de qualquer outro ser humano submetido a uma situação de horror. “Sou 100% contra a tese de culpa coletiva”, enfatizou. “Parto do fundamento de que a culpa, a priori, é individual.” Reforçando essa posição, Frankl já havia dito, em outra ocasião, que mesmo nos estreitos limites de um campo de concentração, ele somente encontrara dois gêneros de pessoas: as decentes e as sem decência. “Nenhuma sociedade está imune aos dois, portanto, havia no campo guardas decentes e prisioneiros, sem decência, notadamente os capos (prisioneiros que dispunham de prerrogativas especiais) que insultavam e torturavam os seus próprios companheiros em troca de vantagens pessoais.”

Escondendo o inimigo

O antropólogo Richard A.Shweder, escritor, professor e presidente do Comitê de Desenvolvimento Humano da Universidade de Chicago, destaca o fato de que Frank surpreendeu o mundo ao afirmar que o espírito humano encontrava maneiras de alcançar a dignidade mesmo na lama de Auschwitz. “Ele argumentava que um prisioneiro tornava-se digno ou não a partir de uma decisão própria interior, e não somente em consequência das condições do campo.” Para Frankl, ninguém melhora ou evolui enxergando-se como vítima. Cada pessoa é capaz de se sobrepor a situações degradantes, “já que a saúde mental está relacionada com as decisões e não com as condições”.

Um fato ilustra esse ponto de vista. Quando os aliados libertaram os campos de concentração, duas prisioneiras judias sobreviventes do Holocausto esconderam um oficial da SS (Schutzstaffel, a tropa nazista de Hitler) de nome Hoffman, e só concordaram em entregá-lo às autoridades com a condição de que ele não fosse maltratado. Frankl foi testemunha em seu julgamento e, durante algum tempo, manteve correspondência com o oficial tentando confortá-lo, já que o homem vivia atormentado por sua participação na barbárie nazista.

Conselhos para se manter vivo

Frank também lembra em seu livro uma das primeiras recomendações que, recém-chegado a Auschwitz, recebeu de um prisioneiro veterano: “Não tenha medo! Não se amedronte com as seleções! Mas uma coisa eu peço para você... faça a barba diariamente, mesmo que tenha de usar um fragmento de espelho... mesmo que tenha que dar o seu último pedaço de pão para isso. Você ficará com uma aparência mais jovial e o ato de se barbear dará a sua face mais rubor. Se quiser sobreviver, só existe um jeito: Mostre-se saudável para o trabalho.”

Já nos momentos de intensa frustração, recorda Frankl, o artifício era orientar os seus pensamentos para as coisas mais triviais, como por exemplo achar um pedaço de arame para substituir o cadarço podre de um sapato. Ele também se forçava a pensar acerca de seu futuro, após a libertação. Anos depois, nas diversas universidades onde lecionou – entre elas a de Harvard – Frankl sempre enfatizava aos seus alunos que cada pessoa deve ir ao encontro de sua missão. “O homem pode suportar tudo, menos a falta de sentido da vida. Por isso é preciso trabalhar por algo além de si mesmo.”

Indicado ao Nobel da Paz

Vitor Frankl foi professor de Neurologia e Psiquiatria na Universidade de Medicina de Viena até 1990, quando se aposentou aos 85 anos (ele também praticava o alpinismo e tirou o seu brevê de piloto de aeroplano aos 67 anos). Doutor em Filosofia, Frankl recebeu o título de “Doutor Honoris Causa” em 29 universidades de todo o mundo, entre elas, as federais do Rio Grande do Sul (1984) e de Brasília (1988).

Membro honorário da Academia Austríaca de Ciências e Cidadão Honorário de Viena, Frankl proferiu palestras em mais de 200 faculdades nas principais cidades do mundo e foi considerado pelo “American Journal of Psychiatry”, o mais importante pensador desde Sigmund Freud e Alfred Adler. A Logoterapia ou Análise Existencial - método psicológico criado por ele - é conhecida como “A Terceira Escola Vienense de Psicoterapia” (a primeira é a Psicanálise Freudiana e a segunda é a Psicologia Individual de Adler). Em 1985 recebeu o “Oscar Pfister Prize”, prêmio máximo da “American Society of Psychiatry”, e teve seu nome proposto para o Nobel da Paz pela “The Milton H. Erickson Foudation”, entre outras entidades.

Lembrando a visita que fez a Frankl em um hospital de Viena, poucos meses antes de seu falecimento, ocorrido em setembro de 1997, o escritor e doutor em psicologia Jeffrey K.Zeig - idealizador do ciclo de seminários internacionais “Evolution of Psychotherapy Conferences”, que teve em Frankl um dos seus participantes mais ilustres - buscou uma frase do romancista e filósofo francês Albert Camus, na sua obra póstuma “O primeiro homem”, para definir a personalidade de seu mestre: “Existem pessoas que justificam o mundo, que ajudam os outros somente com a sua presença.” A citação veio a propósito da insistência de Frankl em manter uma linha de telefone aberta para atender pessoas de tendências suicidas, ainda que estivesse doente e hospitalizado. Até o final de seus dias, Frankl recebia em média mais de 20 cartas diárias de pessoas que se diziam salvas após a leitura de seu livro.    


quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A imortalidade ao alcance de todos

por Sheila Sacks


Mais de 30 milhões de pessoas já falecidas continuam “vivas” no Facebook mostrando que a imortalidade é possível na internet

publicado na Curadoria de Notícias do Observatório da Imprensa

Lançado em 2004, o Facebook congrega mais de 30 milhões de usuários falecidos que permanecem na rede social  numa demonstração inequívoca de que existe vida após a morte nessa segunda década do século 21, pelo menos no espaço virtual. Com tantas almas vagando pelas redes, o equivalente à população de uma Xangai e meia, não será motivo de surpresa se os vivos do Face possam receber curtidas e eventualmente pedidos de amizade de pessoas que jamais irão conhecer pessoalmente caso a curiosidade e a simpatia de um sorriso os encantem.

No artigo “Vida virtual após a morte”, o doutor em genética e biologia molecular Javier Sampedro, que escreve regularmente para o jornal EL País, acredita que a permanência desses avatares nas redes funciona como uma espécie de homenagem e consolo para amigos e familiares. A transcendência da imagem do morto que ganha um corpo virtual seria uma maneira de mostrar deferência ao falecido e segundo o autor “essa é a maneira de morrer nesta aurora do terceiro milênio, e faltar com ela começa a parecer tanta desconsideração quanto usar gravata vermelha em velório.”

A tendência, porém, não impede que sites como o Postumer.com ofereçam seus serviços para apagar a passagem do morto pelo mundo virtual, incluindo seus blogs, websites e contas de e-mails. Outros, por outro lado, se dedicam a compilar a história do finado como o Grupo Mémora. O pesquisador espanhol lembra que o legado digital não para de crescer e que mensalmente são publicados 55 milhões de fotos no Flickr – o site de hospedagem de fotos gratuitas - e centenas de milhares de vídeos diários no Youtube. Para esses números também concorre a mania dos selfies em cerimônias fúnebres. Pesquisa da funerária britânica “Perfect Choice Funerals” indica que um terço das pessoas que participam de enterros tira selfies no cemitério e muitas delas postam, de imediato, no Instagram.

Mas, de certo modo, a possibilidade metafórica de um morto continuar vivo nas páginas do Facebook expõe nossa dualidade de lidar com a morte. “Todos entendemos perfeitamente a morte, desde que seja a morte dos outros”, escreve Sampedro. “Viver tranquilamente até que ela (a morte) chegue não é senão uma consequência de como é difícil entender a ideia de não ser”, explica.

Autor do livro “Deconstruyendo a Darwin (2013), Javier Sampedro é conclusivo acerca do anseio humano à imortalidade. Para o cientista, “a morte é algo tão concreto quanto a própria vida que é feita de coisas que se deterioram, se degeneram e se desintegram”.



segunda-feira, 26 de outubro de 2015

A diáspora e a guerra dos 365 dias

por Sheila Sacks

“Minha geração, e aquela de nossos avós, não precisavam de educação judaica intensiva para lembrar que somos judeus. Mas nossos filhos pertencem à Quarta geração. O que foi suficiente para nós não basta para eles. Na Quarta geração, o judaísmo precisa ser renovado, ou então será abandonado. Não há outra alternativa” (Jonathan Sacks, rabino-chefe da Inglaterra)


Naquele ano de 1967, três meses antes das celebrações do Rosh Hashaná e Yom Kipur, os judeus de todo o mundo foram brindados com uma série de imagens que varou o planeta como um luminoso cometa, provocando uma explosão de emoções poucas vezes sentida com tamanha intensidade.

A impressionante foto do rabino Slomo Goren, capitão das forças armadas de Israel, abraçado aos rolos da Torá e ecoando o som do shofar aos quatro cantos do planeta para anunciar a libertação de Jerusalém - a partir daquele instante uma cidade aberta a todos os credos e raças -, assumia ares de profecia, tornando-se um divisor entre o velho e os novos tempos que assomavam porta adentro como emissários há muito aguardados.

Igualmente a visão de soldados israelenses rezando ao pé do muro sagrado, no coração de Jerusalém, mexeu com os brios de uma geração de jovens, talvez em dúvida em relação aos caminhos a seguir. Revelou-se também como uma preciosa dádiva para aqueles veteranos que vinham lutando, há décadas, pelo direito de pisar o solo milenar da cidade santa. E converteu-se, certamente, em um sinal celestial incontestável para milhões de judeus que sobreviveram à perseguição e à matança da era nazista, símbolo raro de que, afinal, o sofrimento, os reveses e as incontáveis almas sacrificadas na pira da intolerância estavam sendo redimidos naquele momento histórico.

David e Golias

Nunca é demais rememorar a Guerra dos Seis Dias, que permanece como uma lembrança forte e inspiradora, merecedora de inúmeras resenhas, considerações e análises apuradas. Se por um lado, a luta e a perseverança de um povo acossado que não se acovardou diante das forças majoritárias que o ameaçavam, repetindo o exemplo bíblico de David e Golias, revigoram nossos sentimentos de autoestima, por outro provocam uma saudade doída de um instante único de fé e coragem, eternizado em tantos corações.


Isso porque à profética mensagem de consolidação da nação judaica registrada ao término dos seis dias de guerra, e lá se vão mais de quatro décadas, foram incorporados, na Diáspora, modernosos discursos, hábitos, conceitos, significados e interpretações que, ao longo do tempo, criaram uma esquisita miscelânea, difícil de ser contabilizada como ganho à identidade cultural de um povo. A chamada “flexibilização” cultural e religiosa que avança a passos largos sobre as comunidades judaicas é o nosso novo Golias a ser enfrentado.

O massacre diário de informações volúveis, a difusão incontrolável de modismos, a ditadura do consumismo e a imposição de uma indústria tecnológica de circulação de mensagens e desejos artificiais são tentáculos de uma rede malévola que preenche e ocupa as poucas e qualitativas brechas de tempo que dispõem o ser humano ativo, contribuindo para minar os alicerces básicos das minorias e diluir, paulatinamente, as suas identidades originais. Alvos sensíveis desta guerra subterrânea e subliminar que se estende por todos os 365 dias do ano, os judeus da Diáspora labutam em meio a uma batalha crucial que implica em atenção e resistência redobradas, no sentido de preservar a sua imensa e preciosa herança milenar.

Canto das sereias


Incansáveis, as comunidades judaicas se empenham para não serem encobertas pelas ondas desse mar de mesmice que as espertas ditaduras de costumes têm imposto às sociedades modernas. Enquanto para as gerações mais antigas, remanescentes da imigração e cerceadas pelas grades culturais do passado, é mais fácil preservar os rituais, os símbolos e o calendário de eventos, para os seus filhos e netos a situação se mostra mais desconfortável e, muitos desistem, às vezes inconscientemente, de remar contra a maré de um mundo fermentado por ideias monolíticas e preconceituosas que roem e esgarçam as nem sempre sólidas convicções religiosas de nossos jovens.

Hoje, grande parte dos líderes comunitários, de poderosos empresários, de ativistas dedicados e de senhoras voluntárias que investem seu tempo e seu entusiasmo em prol das causas judaicas, convive com um paradoxo pessoal em função do alto grau de assimilação presente no seio de suas próprias famílias.

É cada vez mais difícil afinar o discurso público da preservação dos valores judaicos com a realidade que enfrentam no âmbito familiar. Respirar em casa um ambiente 100% judaico, estudar em escola judaica ou participar de movimentos sionistas não são mais os indutores capazes de conduzir os jovens a uma via de fidelização às suas raízes ancestrais.

O “canto das sereias” das mensagens cativantes e sedutoras que propagam as vantagens de uma vivência integrada e harmoniosa com a comunidade maior, a qual cada judeu da Diáspora está ligado pelos fortes laços da nacionalidade, tem sido interpretado de uma forma literal, ao pé da letra, seja por conveniência, preguiça ou uma decisão particular. Daí que a tênue linha que demarca o que é uma convivência integrada e o que se constitui em uma entrega adesista precisa ser acentuada antes que a mesma seja irremediavelmente varrida do mapa.

Prazer imediato

Outro fator condicionante favorável ao ambiente de similitude observado nos jovens – tanto no que se refere ao modismo de bens de consumo, ao comportamento social e as expectativas de vida – é a tal busca da felicidade, muitas vezes mal compreendida ou confundida com o prazer imediato.
 
Nas décadas de 1980 e 90, a conversão religiosa de um dos pares do casal era a rotina convencional necessária para a aceitação pela família de um casamento precedido, na maioria das vezes, de terríveis dúvidas e de um mal-estar generalizado de ambas as partes. Diante da argumentação emocional de um filho sobre a importância do amor e da felicidade a dois, os pais sucumbiam, mesmo a contragosto, sofrendo calados ou reclamando até o final de suas vidas.

Muitos procuravam ficar de bem com a sua consciência, matriculando os netos em escolas judaicas na esperança de que o processo inicial de assimilação revertesse milagrosamente. Hoje a situação se enveredou por outra vertente mais perigosa. Agora são os pais que justificam as escolhas dos filhos fora do judaísmo, bradando que a felicidade da garotada está em primeiro lugar. O “sentir-se feliz” virou uma espécie de passaporte especial que garante imunidade ao seu portador, oferecendo uma travessia aparentemente sem problemas ou cobranças pelas fronteiras da assimilação.

Arte versus Judaísmo

Também a arte, em todas as suas variantes, transformou-se em uma das mais poderosas redes de pescaria que arrasta os jovens para fora de seu habitat ancestral. No Brasil, a grande maioria dos atores, atrizes, diretores e apresentadores de TV, compositores, músicos, escritores, intelectuais, pintores e demais artistas de sucesso, com ascendência judaica, já estão casados ou vivem com pessoas de outro credo religioso. Seus descendentes diretos não mantêm o menor resquício de religiosidade judaica, fato absorvido como um detalhe folclórico de sua árvore genealógica.

Curiosamente, cabe a mídia judaica a iniciativa de lembrar o (perdido) elo judaico desses cidadãos, festejados por jornais comunitários pelo sucesso de suas empreitadas. Por sua vez, magnatas judeus que contribuem generosamente para a sustentação de sinagogas e escolas ortodoxas amargam, na vida familiar, deserções inexplicáveis de entes queridos, passageiros privilegiados da sociedade transnacional dos ricos e milionários, onde as tentações e as transgressões acabam se diluindo na benemerência que alivia os corações.

Assumindo o Yom Kipur

Apesar desse quadro inquietante, anualmente, nas celebrações de Rosh Hashaná e Yom Kipur, as sinagogas brasileiras ainda ficam lotadas de fiéis. Na Administração Pública, pelo menos no estado do Rio de Janeiro, existem leis municipais e estaduais que liberam o funcionário público de trabalhar nestes dias. Uma das leis que abrange a cidade do Rio foi elaborada pelo então vereador Ronaldo Gomlevsky e sancionada pelo prefeito à época, Marcello Alencar (lei nº 1410 de 21 de junho de 1989). Já no âmbito estadual, a lei foi aprovada em 19 de dezembro de 1997 (lei nº 2874). Anos depois, o ex-governador Sérgio Cabral criou uma nova lei para os feriados judaicos, ampliando a antiga (Lei nº 6.543 de 26 de setembro de 2013).

Entretanto, o que se observa é que muitos judeus que trabalham no serviço público preferem não expor esse lado, muitas vezes resguardado, de suas identidades, comparecendo normalmente nas repartições nos dias sagrados. É fato comprovado que quando “as festas” recebem uma ajudazinha do calendário e são celebradas no fim de semana, a ida às sinagogas é maior. Citando novamente o rabino Sacks, vale destacar a sua observação:Os não-judeus respeitam os judeus que respeitam o Judaísmo. E os não-judeus ficam constrangidos por judeus que ficam constrangidos com o Judaísmo.”  

Tratando-se de Yom Kippur, é importante que por um período de 25 horas o mundo com seus absurdos e inconveniências fique para trás. Os judeus de todo o mundo, irmanados em suas orações, não darão ouvidos aos reclamos do corpo acostumado ao prazer da alimentação diária. Enlaçados pelo poderoso abraço espiritual de nossos profetas, estes autênticos heróis de nossa história, estaremos travando uma guerra silenciosa com os nossos sentidos mais primitivos, como a gula, a paixão, a dissimulação, a inveja, a raiva e a ambição. Enfim, com todas as transgressões cometidas, conscientemente ou não, ao longo do ano.

Todos os dias do ano

Por certo, a aspiração e a vontade decisivas de domar esses inimigos do caminho da retidão não serão tarefas a serem cumpridas em único dia dedicado ao perdão. O trabalho mais difícil e árduo irá se desenrolar ao longo dos 365 dias, no campo de batalha onde acontecem os embates das ideias, das provocações e da geração das falsas expectativas. Ou seja, na rotina diária de cada um.

Responder com coragem, audácia e inteligência - através de atos coordenados, decisões acertadas e, principalmente, de exemplos pessoais - é talvez exigir demais de um grupo minoritário, do qual se espera, até nas piores situações, momentos de grandeza e superação. Mas, o passado é a nossa verdade e nele aprendemos que as grandes conquistas coletivas do povo judeu nasceram da fé inabalável de vontades individuais que assumiram um papel decisivo na hora precisa. Que continue assim !

Texto atualizado, escrito originalmente em 2008 sob o título “O Yom Kipur e a guerra dos 365 dias


terça-feira, 6 de outubro de 2015

Visibilidade na mídia estimula terroristas

Por Sheila Sacks

Texto  publicado na Curadoria de Notícias do "Observatório da Imprensa"

Estudo desenvolvido por um pesquisador do “Institute for the Study of Labour” (IZA), uma organização sediada em Bonn, na Alemanha, que reúne mais de 1.500 economistas de 50 países, apontou evidências de que a demasiada cobertura dada pela mídia a atos terroristas não inibe esse tipo de violência, ao contrário, provoca novas ações semelhantes. O autor da pesquisa é Michael Jetter, professor da Faculdade de Economia e Finanças da Universidade EAFIT, em Medellín, na Colômbia, que analisou mais de 60 mil ataques terroristas entre 1970 e 2012, tendo como base as notícias publicadas no “New York Times”.


Jetter observa que em 1998 foram listados pelo ”The Global Terrorism Database” (GTD) 1.395 ataques, tendo esse número aumentado até chegar ao recorde de 8.441 em 2012. Segundo o economista, os terroristas precisam da cobertura da mídia para espalhar a sua mensagem, criar um ambiente de medo e recrutar seguidores. “Entretanto, até agora não sabíamos se a cobertura da mídia incentivava de forma ativa esses ataques”, pondera. De acordo com a análise de Jetter, uma notícia do “New York Times” focalizando um ataque terrorista em determinado país aumentou em 11% a 15% o número de ataques que se seguiram nesse país após a publicação da matéria.

Sobre os graus de dimensão da cobertura da mídia aos diferentes tipos de atividades terroristas, Jetter avalia que as missões suicidas recebem uma atenção maior dos meios de comunicação o que explicaria a sua crescente popularidade entre os grupos terroristas. Quanto à possibilidade de se limitar a cobertura sensacionalista sobre ataques terroristas visando um possível declínio dessas ações, o pesquisador opina em outro sentido: o de repensar o comportamento da mídia que até agora tem servido como uma plataforma livre para os terroristas.


O artigo sobre o tema foi publicado no jornal britânico “The Guardian” e leva a assinatura do brilhante jornalista Jamie Doward (“The Observer”), que este ano lançou seu primeiro livro, “Toxic”, um thriller criminal que mistura sistema financeiro, lavagem de dinheiro, célula terrorista, agentes de inteligência, conspiração global e perigo nuclear.


sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Mídia, sociedade e preocupações globais

Por Sheila Sacks

Texto publicado pela “Curadoria de notícias” do Observatório da Imprensa


Parece estar havendo um descompasso entre as pautas da mídia e os interesses da sociedade. Recente pesquisa do Pew Research Center – o banco de dados com sede em Washington que monitora as percepções e as tendências nos Estados Unidos e no mundo – revela que a crise migratória na Europa e o conflito palestino-israelense não estão no topo das preocupações globais. Pelo menos até recentemente. Uma surpresa para os analistas que acompanham a recorrência e a espetaculização desses temas na mídia diária.

Divulgada há dois meses, em 14 de julho de 2015, a consulta foi conduzida em 40 países e envolveu 45.435 pessoas. Para 46% dos entrevistados, as mudanças climáticas e as catástrofes decorrentes, como inundações, secas etc, representam a maior ameaça ao planeta e essa percentagem cresce para 61% nos países da América Latina (no Brasil e no Peru esse índice chega a 75%).

Segundo a pesquisa, também são causas de grande apreensão pública, revelando-se desafios internacionais, problemas tais como a instabilidade econômica global (42%), o grupo Estado Islâmico-EI (41%), o programa nuclear iraniano (31%), os ataques cibernéticos a bancos e corporações (30%), a tensão entre a Rússia e seus vizinhos (24%) e as disputas territoriais entre a China e seus vizinhos (18%). O temor em relação ao EI é mais alto na Europa (70%) e nos Estados Unidos (68%).

No Brasil, é interessante observar, o programa nuclear do Irã e o terrorismo do Estado Islâmico preocupam 49% e 46% dos entrevistados, respectivamente, percentuais mais elevados do que os contatados no continente europeu e nos países da América Latina, que apresentam médias de 42% e 33%. Já o fator da instabilidade econômica é motivo de inquietação para 60% dos brasileiros.



A Curadoria de Notícias do Observatório da Imprensa é um novo canal de informações do site, com recomendações de notícias relevantes de interesse coletivo. É elaborada por uma equipe de jornalistas.