/ Sheila Sacks /
No
jantar que abriu a 56ª Convenção da Confederação Israelita do Brasil (Conib), sábado
à noite (8/11) ,no Clube Hebraica, em São Paulo, as estrelas foram os governadores
Tarcísio de Freitas (São Paulo), Claudio Castro (Rio de Janeiro), Ronaldo Caiado (Goiás) e Eduardo Leite (Rio
Grande do Sul). Juntos, esses estados somam perto de 40% da população do país,
cerca de 82 milhões de pessoas de um total de 213,4 milhões, segundo o IBGE
(28/8/25).
A
saída do Brasil da Aliança Internacional em Memória do Holocausto (IHRA, na sigla
em inglês) foi criticada pelo governador de São Paulo, o estado brasileiro mais
populoso (46 milhões), que considerou “sem sentido” a atitude do governo.
Em
seu discurso, Tarcísio de Freitas, potencial candidato à Presidência da
República nas eleições de 2026, expressou seu agradecimento à comunidade
judaica. "O Estado de São Paulo é muito grato à comunidade judaica e,
obviamente, a gente tem que externar isso em todos os momentos, principalmente
no momento em que a gente, às vezes, se aborrece ou fica indignado com algumas
atitudes.” E exemplificou: “Não faz sentido, por exemplo, o Brasil abandonar a
Aliança Internacional para a Memória do Holocausto. Mas esse tempo sombrio vai
acabar e o Brasil vai voltar para a Aliança”.
Destacou
ainda o papel estratégico que o estado de Israel exerce na geopolítica
internacional “contra o avanço da
intolerância, contra o avanço de regimes totalitários, contra o avanço do
terrorismo.”
O
prefeito da cidade de São Paulo, Ricardo Nunes, também marcou presença. Em 2023,
ele assinou o documento de adesão à definição de antissemitismo da IHRA,
tornando a cidade de São Paulo autorizada a usar essa definição como recurso educacional para abordar e
prevenir atividades relacionadas a preconceitos e discriminação motivados por
antissemitismo, e evoluir na direção de uma legislação contundente no sentido
de punir situações dessa natureza.
Dias
depois do jantar da Conib, ele vetou o show do rapper Kanye West programado
para o Autódromo de Interlagos. “Em equipamento público da prefeitura, ninguém
que faça apologia ao nazismo vai tocar ou cantar nem uma palavra”, afirmou
Nunes.
Violência urbana
O
governador do Rio em seu discurso condenou a violência urbana e comparou as
ações do crime organizado com atos terroristas pelo clima de violência e
insegurança que produzem nas sociedades. “Não é paz aceitar que nos violentem
todos os dias, mas é paz, sim, lutar por um mundo mais seguro, mais fraterno
que todos, absolutamente todos, têm o direito de ir e vir salvaguardado“,
disse.
Sobre
a polêmica em relação à recente operação policial na cidade do Rio para deter o
avanço de facções criminosas, ocorrida em 28 outubro nos complexos do Alemão e
da Penha, na Zona Norte, e a resistência do governo federal em designar as
organizações criminosas como terroristas, o governador Claudio Castro foi
incisivo: “Não
aceitaremos mais instituições narcoterroristas, e é isso que eles são:
instituições narcoterroristas. Não aceitaremos mais que o Judiciário, com todo
o respeito que eu tenho a ele, e o governo central apoiem terroristas” (site O
Antagonista, em 9/11).
O
enfrentamento com os criminosos da facção Comando Vermelho recebeu a aprovação
de 67% dos brasileiros conforme a pesquisa Quaest divulgada em 12/11. A mesma
percentagem também “não considerou que a polícia empregou força exagerada na
operação”.
A
fala de Castro teve repercussão nacional e o jornal Folha de São Paulo postou
no Facebook: “Governador do Rio foi tietado e aplaudido de pé em jantar da
Conib, em SP. Ele disse que combate às facções seguirá queira ou não o
Judiciário.” Em 2024, o governador do Rio igualmente assinou a declaração de
adesão à definição funcional de antissemitismo da IRHA.
Visita a Israel
Por
sua vez, o governador de Goiás elogiou a operação policial no Rio de Janeiro,
ressaltando que nenhum civil foi atingido. O Diário de Goiás, em sua edição
digital (9/11), destacou as declarações de Caiado sobre o governo do PT, que
levaram a assessora do presidente Lula, Clara Ant, presente no evento, a se
retirar do salão em meio ao discurso. Disse Caiado: “O governo atual, do PT, do
Lula, é um governo que prega o radicalismo, prega o ódio de classe, prega uns
contra os outros, ricos contra pobres. Isso é inadmissível, isso é
inaceitável.” Ele ainda acrescentou que o governo federal “é complacente,
conivente com o narcotráfico”.
Em
março do ano passado, os governadores Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado
estiveram em Israel e se encontraram com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu
em Jerusalém, quando externaram solidariedade aos israelenses em sua luta em
Gaza contra os terroristas do Hamas.
Em
entrevista ao portal IG (9/11), Caiado demonstrou sua admiração pelo estado de
Israel. Ele ressaltou as qualidades de um país pequeno, territorialmente, mas
que faz do conhecimento a sua grandeza. “Um país que tem 22 mil km², um pequeno
espaço de terra. É um país que vive da pesquisa, da ciência e da qualidade da
educação, trazendo cada vez mais alternativas para as pessoas viverem com mais
dignidade e qualidade. É um país que eu admiro por ter sua base construída na
solidariedade ao ser humano”, elogiou.
Fé e empreendedorismo
O
portal de notícias do governo do Rio Grande do Sul deu relevância à presença do
governador Eduardo Leite no evento da Conib e citou trechos de seu discurso. “A
história do povo judeu é uma história de perseverança, de fé e
empreendedorismo. Se hoje é uma noite de celebração, é também uma noite de
chamado e compromisso. No Rio Grande do Sul, assinamos a carta de definição do
antissemitismo da aliança internacional da memória do Holocausto, deixando
muito claro nosso compromisso”, afirmou Leite.
O
governador também enalteceu a força do povo judeu na superação de dificuldades
e desafios. “Os povos que se tornaram fortes foram exigidos a isso para poder
resistir e sobreviver, como aconteceu com o povo judeu. É uma trajetória que
serve de inspiração para o Rio Grande do Sul, que hoje vive um período de
reconstrução que exige força e resiliência depois da maior catástrofe climática
da história do Estado.”
Em
2024, o Rio Grande do Sul foi assolado por enchentes devastadoras que impactaram
478 das 497 cidades do estado, causando alagamentos, inundações e deslizamentos
de terra, afetando 2,4 milhões de pessoas.
Eduardo
Leite, que tem 40 anos e é o primeiro governador reeleito da história do Rio
Grande do Sul, falou ainda sobre o papel do representante político que “precisa
saber conviver com as diferenças e contra a cultura do ódio”, liderando a
sociedade para a direção correta. “Que possamos fazer desta noite uma escolha
pela capacidade de convivência sem destruição, além de um momento de homenagem
e gratidão ao povo judeu por tudo o que entregaram e entregam ao Brasil.”
De acordo com o Congresso Mundial Judaico (WJC, na sigla em inglês), vivem no país 92 mil judeus, sendo a segunda maior comunidade judaica da América Latina, atrás da Argentina (171 mil) e à frente do México (40 mil).



