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quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Instituição judaica reúne em evento governadores de São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e Rio Grande do Sul

/ Sheila Sacks /

No jantar que abriu a 56ª Convenção da Confederação Israelita do Brasil (Conib), sábado à noite (8/11) ,no Clube Hebraica, em São Paulo, as estrelas foram os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo), Claudio Castro (Rio de Janeiro),  Ronaldo Caiado (Goiás) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul). Juntos, esses estados somam perto de 40% da população do país, cerca de 82 milhões de pessoas de um total de 213,4 milhões, segundo o IBGE (28/8/25).

A saída do Brasil da Aliança Internacional em Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês) foi criticada pelo governador de São Paulo, o estado brasileiro mais populoso (46 milhões), que considerou “sem sentido” a atitude do governo.

Em seu discurso, Tarcísio de Freitas, potencial candidato à Presidência da República nas eleições de 2026, expressou seu agradecimento à comunidade judaica. "O Estado de São Paulo é muito grato à comunidade judaica e, obviamente, a gente tem que externar isso em todos os momentos, principalmente no momento em que a gente, às vezes, se aborrece ou fica indignado com algumas atitudes.” E exemplificou: “Não faz sentido, por exemplo, o Brasil abandonar a Aliança Internacional para a Memória do Holocausto. Mas esse tempo sombrio vai acabar e o Brasil vai voltar para a Aliança”.

Destacou ainda o papel estratégico que o estado de Israel exerce na geopolítica internacional  “contra o avanço da intolerância, contra o avanço de regimes totalitários, contra o avanço do terrorismo.”

O prefeito da cidade de São Paulo, Ricardo Nunes, também marcou presença. Em 2023, ele assinou o documento de adesão à definição de antissemitismo da IHRA, tornando a cidade de São Paulo autorizada a usar essa definição  como recurso educacional para abordar e prevenir atividades relacionadas a preconceitos e discriminação motivados por antissemitismo, e evoluir na direção de uma legislação contundente no sentido de punir situações dessa natureza.

Dias depois do jantar da Conib, ele vetou o show do rapper Kanye West programado para o Autódromo de Interlagos. “Em equipamento público da prefeitura, ninguém que faça apologia ao nazismo vai tocar ou cantar nem uma palavra”, afirmou Nunes.

Violência urbana

O governador do Rio em seu discurso condenou a violência urbana e comparou as ações do crime organizado com atos terroristas pelo clima de violência e insegurança que produzem nas sociedades. “Não é paz aceitar que nos violentem todos os dias, mas é paz, sim, lutar por um mundo mais seguro, mais fraterno que todos, absolutamente todos, têm o direito de ir e vir salvaguardado“, disse.

Sobre a polêmica em relação à recente operação policial na cidade do Rio para deter o avanço de facções criminosas, ocorrida em 28 outubro nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte, e a resistência do governo federal em designar as organizações criminosas como terroristas, o governador Claudio Castro foi incisivo:Não aceitaremos mais instituições narcoterroristas, e é isso que eles são: instituições narcoterroristas. Não aceitaremos mais que o Judiciário, com todo o respeito que eu tenho a ele, e o governo central apoiem terroristas” (site O Antagonista, em 9/11).

O enfrentamento com os criminosos da facção Comando Vermelho recebeu a aprovação de 67% dos brasileiros conforme a pesquisa Quaest divulgada em 12/11. A mesma percentagem também “não considerou que a polícia empregou força exagerada na operação”.

A fala de Castro teve repercussão nacional e o jornal Folha de São Paulo postou no Facebook: “Governador do Rio foi tietado e aplaudido de pé em jantar da Conib, em SP. Ele disse que combate às facções seguirá queira ou não o Judiciário.” Em 2024, o governador do Rio igualmente assinou a declaração de adesão à definição funcional de antissemitismo da IRHA.

Visita a Israel

Por sua vez, o governador de Goiás elogiou a operação policial no Rio de Janeiro, ressaltando que nenhum civil foi atingido. O Diário de Goiás, em sua edição digital (9/11), destacou as declarações de Caiado sobre o governo do PT, que levaram a assessora do presidente Lula, Clara Ant, presente no evento, a se retirar do salão em meio ao discurso. Disse Caiado: “O governo atual, do PT, do Lula, é um governo que prega o radicalismo, prega o ódio de classe, prega uns contra os outros, ricos contra pobres. Isso é inadmissível, isso é inaceitável.” Ele ainda acrescentou que o governo federal “é complacente, conivente com o narcotráfico”.

Em março do ano passado, os governadores Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado estiveram em Israel e se encontraram com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em Jerusalém, quando externaram solidariedade aos israelenses em sua luta em Gaza contra os terroristas do Hamas.

Em entrevista ao portal IG (9/11), Caiado demonstrou sua admiração pelo estado de Israel. Ele ressaltou as qualidades de um país pequeno, territorialmente, mas que faz do conhecimento a sua grandeza. “Um país que tem 22 mil km², um pequeno espaço de terra. É um país que vive da pesquisa, da ciência e da qualidade da educação, trazendo cada vez mais alternativas para as pessoas viverem com mais dignidade e qualidade. É um país que eu admiro por ter sua base construída na solidariedade ao ser humano”, elogiou.

Fé e empreendedorismo

O portal de notícias do governo do Rio Grande do Sul deu relevância à presença do governador Eduardo Leite no evento da Conib e citou trechos de seu discurso. “A história do povo judeu é uma história de perseverança, de fé e empreendedorismo. Se hoje é uma noite de celebração, é também uma noite de chamado e compromisso. No Rio Grande do Sul, assinamos a carta de definição do antissemitismo da aliança internacional da memória do Holocausto, deixando muito claro nosso compromisso”, afirmou Leite.

O governador também enalteceu a força do povo judeu na superação de dificuldades e desafios. “Os povos que se tornaram fortes foram exigidos a isso para poder resistir e sobreviver, como aconteceu com o povo judeu. É uma trajetória que serve de inspiração para o Rio Grande do Sul, que hoje vive um período de reconstrução que exige força e resiliência depois da maior catástrofe climática da história do Estado.”

Em 2024, o Rio Grande do Sul foi assolado por enchentes devastadoras que impactaram 478 das 497 cidades do estado, causando alagamentos, inundações e deslizamentos de terra, afetando 2,4 milhões de pessoas.

Eduardo Leite, que tem 40 anos e é o primeiro governador reeleito da história do Rio Grande do Sul, falou ainda sobre o papel do representante político que “precisa saber conviver com as diferenças e contra a cultura do ódio”, liderando a sociedade para a direção correta. “Que possamos fazer desta noite uma escolha pela capacidade de convivência sem destruição, além de um momento de homenagem e gratidão ao povo judeu por tudo o que entregaram e entregam ao Brasil.”

De acordo com o Congresso Mundial Judaico (WJC, na sigla em inglês), vivem no país 92 mil judeus, sendo a segunda maior comunidade judaica da América Latina, atrás da Argentina (171 mil) e à frente do México (40 mil).