/ Sheila Sacks /
Nomeado
cardeal pelo papa Francisco, em 30 de
setembro de 2023, o italiano Pierbattista Pizzaballa é o Patriarca Latino de
Jerusalém, desde 2020, e completou exatos 60 anos em 21 de abril, data do
falecimento do papa.
Sua
nomeação para cardeal aconteceu uma semana antes do ataque do Hamas, na
fronteira sul de Israel, que provocou mais de 1.200 mortos e o sequestro de 251 pessoas. Em 17 de outubro, depois de convocar um dia de oração e jejum pela paz
na Terra Santa , o cardeal Pierbattista se ofereceu em troca da libertação das crianças
israelenses reféns do grupo terrorista.
De
acordo com o portal Vaticano News (16.10.2023), o cardeal, em entrevista
on-line com jornalistas, “não hesitou em declarar que está pronto para se
oferecer pessoalmente em troca das crianças que estão atualmente nas mãos do
Hamas. − Se isso puder trazer liberdade, trazer essas crianças de volta para
casa, não há problema. De minha parte, disponibilidade absoluta".
Em
outra entrevista ao mesmo portal, alguns meses antes de se tornar cardeal,
diante de algumas ações de intimidação praticadas pela ala mais extremista do
judaísmo que questiona a presença de cristãos em locais que consideram de um
Israel bíblico, Pierbattista ressaltou a posição do presidente Isaac Herzog. “O
presidente do Estado de Israel é muito ativo e falou muito claramente,
publicamente, contra isso.” Também isentou a sociedade do país por esse tipo de
evento. “A grande
maioria da população judaica israelense, mesmo a religiosa, não tem nada a ver
com isso. Nos últimos meses, também vimos muitos rabinos escreverem e falarem
publicamente contra esses fenômenos.”
Em
resposta a uma suposta “perseguição” que poderia estar ocorrendo aos cristãos
na Terra Santa, foi incisivo. “Não. Quando falamos de perseguição, penso no que
o autodenominado Estado Islâmico (EI) fez na Síria e no Iraque. Não estamos
nessa situação. Há problemas, com certeza, mas não estamos sendo perseguidos.”
Manifestando
esperança em um futuro mais tranquilo, Pierbattista assim se expressou. “Sempre
há motivos para ter esperança, porque essas situações também criaram reações
fortes, muitas vezes muito mais fortes na sociedade israelense, até mesmo
religiosas, mais frequentemente do que entre os cristãos, e acredito que essa
consciência de um problema na sociedade israelense dará frutos com o tempo.”
Currículo
Nascido
na pequena cidade Cologno al Serio , na região de Lombardia, norte da Itália,
Pierbattista entrou para a Ordem dos
Frades Menores ( franciscanos) aos 19 anos. Em 1990, recebe o título de
bacharel em Teologia pelo Studio
Teológico S. Antonio, em Bolonha, e é ordenado sacerdote no mesmo ano, em 15
de setembro, aos 25 anos. Logo em seguida parte para Jerusalém onde em 1993
obtém a licenciatura em Teologia com
especialização bíblica pelo Studium
Biblicum Franciscanum.
Estuda
as línguas hebraica e semítica na Universidade Hebraica de Jerusalém e depois leciona hebraico bíblico na Faculdade Franciscana de Ciências Bíblicas e Arqueologia, em
Jerusalém. Foi responsável pela
tradução do Missal Romano e de textos litúrgicos para o hebraico, que fala
fluentemente, além do árabe e do inglês.
Em
1999, torna-se primeiro assistente geral
do auxiliar do Patriarca Latino de Jerusalém, com sede na Basílica do Santo
Sepulcro, e, em seguida, vigário paroquial para a comunidade católica de língua
hebraica. Posteriormente, é nomeado superior do Convento dei Santi Simeone e Anna, também em Jerusalém.
Em
2004, é eleito para o cargo de Custódio da Terra Santa e Guardião do Monte
Sião, sendo confirmado por 12 anos consecutivos, até 2016, quando é indicado
para Administrador Apostólico do Patriarcado de Jerusalém dos Latinos, e
consagrado Arcebispo e Pró-Grão-Prior da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém.
Em 24 de outubro de 2020 o papa Francisco o nomeia oficialmente Patriarca Latino
de Jerusalém, após 40 anos da função ser ocupada por prelados árabes.
Em
julho de 2023, por ocasião do anúncio do papa sobre o cardinalício na
Terra Santa, Pierbattista Pizzaballa interpreta
a nomeação como um "sinal de atenção da Igreja de Roma para com a Igreja
Mãe, a Igreja de Jerusalém ".
Comunidade
Vivem atualmente em Israel 180,3 mil cristãos, sendo 79% de árabes israelenses
residentes no norte, principalmente nas cidades de Haifa e Nazaré. Os cristãos
não árabes estão em Tel Aviv e Jaffa. Em
Jerusalém são 13 mil. O número de
igrejas católicas é de 103. Os dados foram publicados pelo Escritório Central de
Estatísticas de Israel, em dezembro de 2024, e reportados pelo site Christian
Media Center (14.01.2025).
Um
ano após o ataque do Hamas, reportagem do Vaticano News (7/10/2024) divulgou a
reunião anual das comunidades católicas de língua hebraica de Israel orando
pela paz no Mosteiro de "Nossa Senhora da Arca da Aliança", em Kiryat
Ye'arim. Em entrevista ao portal, o padre Piotr Żelazko, vigário patriarcal de
São Tiago, que cuida das comunidades eclesiais em Israel, lembrou que o sofrimento não tem nacionalidade. “É muito
difícil aqui em Israel. Rezamos pelas vítimas desta violência sem precedentes
que vimos em 7 de outubro do ano passado e lembramos quanta violência
sofremos."
A matéria cita o ano novo judaico, o Rosh
Hashaná, celebrado naquele mês, e destaca as “conexões com as raízes hebraicas”
das comunidades católicas no país. “As comunidades católicas de língua hebraica
que vivem em Israel são únicas na sua profunda ligação com a cultura e a língua
hebraica, que une católicos de diversas origens na encruzilhada do cristianismo
e do judaísmo. Eles celebram a sua fé cristã em hebraico na profunda ligação entre
o cristianismo e o judaísmo”, conclui o artigo assinado pelo padre Paweł
Rytel-Andrianik, professor na Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma, e
colaborador da Rádio Vaticano e do portal Vaticano News, ambos órgãos
informativos oficiais da Santa Sé.