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terça-feira, 17 de outubro de 2023

Cartilhas do ódio promovem o antissemitismo no Oriente Médio

Crianças palestinas, no período escolar, são induzidas à intolerância e violência

/   Sheila Sacks  /



Operando 702 escolas que atendem 526 mil alunos palestinos na Faixa de Gaza, Cisjordânia e crianças de famílias que se autodefinem como refugiadas em países como o Líbano, Síria e Jordânia, a agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos – UNRWA (United Nations Relief and Works Agency) tem em seus quadros 19.877 professores de um total de 30 mil funcionários.

Criada em 1949 para ser uma agência de ajuda temporária, o órgão oficial da ONU virou uma serviço vitalício sustentado por doações de governos que pouco fiscalizam o real destino dos recursos enviados. Segundo relatório divulgado pela organização UN Watch, com sede em Genebra, a UNRWA mantém 133 educadores e funcionários que promovem o ódio e a violência nas redes sociais, e mais 82 professores e funcionários afiliados a mais de 30 escolas que estão envolvidos na elaboração, supervisão, aprovação e impressão e distribuição de conteúdo antissemita para os estudantes.

Em 30 de março, por ocasião da 52.ª Sessão do Conselho dos Direitos Humanos, que reúne 47 países-membros, representante da UN Watch denunciou mais uma vez a contratação pela UNRWA de professores que incitam abertamente o racismo, o ódio e a violência. O relatório de 100 páginas documenta como os professores e as escolas dessa agência recorrem regularmente ao assassinato de judeus e criam material de ensino que glorifica o terrorismo e encoraja o martírio.

O relatório identifica mais de 200 perpetradores e capta provas recolhidas no interior das salas de aula da UNRWA, incluindo imagens de quadros negros mostrando o ensino de matérias que exaltam terroristas como Dalal al-Mugrabi, da OLP, morta em um ataque em 1978,  depois de sequestrar, junto com mais 10 terroristas, um ônibus em uma rodovia israelense e assassinar 38 civis, sendo 13 crianças.

Outro terrorista, Diaa Hamarsheh, autor de um ataque suicida na cidade de Bnei Brak, em março de 2022, que matou quatro civis israelenses e um policial, também é glorificado por um professor de matemática da UNRWA, na Síria. Foram documentadas 47 postagens desse teor em uma flagrante violação das declaradas políticas de tolerância zero apregoadas pela agência em relação ao racismo, à discriminação e ao antissemitismo.

Nada muda


Apesar das constantes notificações por parte da UN Watch - organização credenciada pela ONU cuja missão é monitorar as ações dessa instituição internacional em relação à promoção dos direitos humanos, atuando igualmente no combate ao antissemitismo e aos que atacam o estado de Israel - ninguém é afastado ou demitido, as agressões sendo minimizadas como triviais infrações nas redes sociais.

Fundada em 1993 pelo advogado e ativista de direitos civis Morris B.Abram, falecido em 2000, a UN Watch tem status consultivo especial no Conselho Econômico e Social da ONU (ECOSOC) e está associada ao Departamento de Informação Pública (DPI). Seu diretor executivo, o advogado e ativista de direitos humanos Hillel Neuer, nascido no Canadá, está na lista dos “100 judeus mais influentes do mundo" organizada pelo jornal israelense Ma'ariv.

Em abril, o jornal alemão Bild publicou reportagem investigativa sobre o material didático utilizado nas escolas da UNRWA, onde a maioria dos professores é palestina. Com base em dados da UN Watch e da ONG israelense IMPACT-se (Instituto de Monitoramento da Paz e da Tolerância Cultural na Educação Escolar) foram narradas situações em salas de aula que escancaram o preconceito e a intolerância. Em um exercício para alunos da nona série, em Gaza, por exemplo, um incêndio criminoso em um carro que transportava judeus é referido como “churrasco”, em tom de zombaria.  Em outra escola, alunos da sexta série são instados a promover uma jihad pela pátria, destacando que os mapas usados em diversas escolas da UNRWA não mostram Israel. Em paralelo, os judeus são apresentados como pessoas gananciosas, desonestas e brutais.

Em relação às postagens em redes sociais, um professor de uma escola em Aleppo, na Síria, publicou no Facebook uma foto de Hitler dormindo, com o comentário de que “ele devia acordar, porque ainda existem pessoas para serem queimadas”.  Outro professor de uma escola na Cisjordânia postou que o projeto dos Emirados Árabes foi iniciado por “judeus ricos”. E mais um  suposto educador de uma escola no Líbano glorifica o terrorista Ibrahim al-Nabulsi, morto em agosto de 2022, antigo comandante das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, o braço armado do Fatah.

A matéria também lembra que a Alemanha contribui para o financiamento dessas escolas, classificadas pelo jornal como “centros de ódio”, através do Ministério Federal Alemão para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (BMZ).  Em 2022, de acordo com a própria UNRWA, a Alemanha pagou 180 milhões de euros a projetos geridos pela agência, incluindo cinco milhões de euros para uma nova escola para meninas em Gaza.

Durante o governo Trump, os EUA suspenderam a ajuda à UNRWA, mas em 2021, com Biden no poder, o presidente americano anunciou para aquele ano um pacote de assistência humanitária e econômica para os palestinos  no valor de US$ 235 milhões (R$ 1,3 bilhão), sendo que US$ 150 milhões destinados  especificamente à agência.

Os Estados Unidos, a União Europeia e a Alemanha estão entre os principais financiadores da UNRWA. Antes de apresentar o relatório no Conselho dos Direitos Humanos da ONU, a UN Watch e a IMPACT-se estiveram no Congresso americano conversando com vários congressistas e também agendaram uma reunião com o Comissário Geral da UNRWA, Philip Lazzarini, para expressarem suas preocupações sobre os materiais de ódio institucional produzidos pelos departamentos de educação da agência da ONU, disponíveis gratuitamente online. Porém, o comissário recusou o encontro.

Com um orçamento de 1,6 bilhão de dólares, quase 60% destinados à educação, a UNRWA pode ser o empreendimento educacional mais fortemente financiado na história da ajuda internacional. É o que afirma Marcus Scheff, diretor executivo da ONG israelense.

Segundo a UN Watch, os montantes prometidos para 2022 incluíam 344 milhões de dólares dos Estados Unidos, US$ 122 milhões da Alemanha, US$ 107 milhões  da Comissão Europeia, US$ 61 milhões da Suécia, US$ 17 milhões do Reino Unido, US$ 24 milhões da Suíça, US$ 32 milhões da Noruega, US$ 28 milhões da França, US$ 24 milhões do Canadá e US$ 15 milhões da Holanda.

“Em todo o mundo, os professores que instigam o ódio e a violência são afastados. No entanto, a UNRWA, apesar de proclamar “tolerância zero” ao incitamento, emprega sistematicamente pregadores do ódio e do terrorismo antijudaicos”, reforça Neuer. São supostos educadores que glorificam o terrorismo, pregam a violência, demonizam o estado de Israel e propagam o antissemitismo. 

Em discurso no plenário do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em 2019, a cientista política Einat Wilf, coautora da obra "A Guerra do Retorno "- que aborda o pensamento coletivo dos palestinos de que Israel não deve existir - , também denunciou a UNRWA como um empecilho para a paz. "A  UNRWA alimenta o conflito há décadas com a ideia beligerante de um 'direito de retorno' de milhões de palestinos", afirmou. "Se quisermos a paz, a UNRWA precisa acabar." 

No horrendo ataque terrorista do Hamas a Israel, em 7 de outubro, quando bebês foram degolados, mais de 1.300 judeus assassinados, muitos amarrados e queimados, 3 mil pessoas feridas, centenas delas em estado grave, e  200 israelenses e estrangeiros brutalmente sequestrados,  professores da UNRWA celebravam nas redes sociais a carnificina.  A plataforma digital da UN Watch documentou essas postagens, com as fotos dos professores ao lado do logo de identificação da UNRWA, em uma vergonhosa apologia à barbárie. Entre elas, a da diretora de uma escola, Iman Hassan, que comemora o assassinato dos bebês como uma "retribuição das injustiças". E ainda curte um post da amiga que escreve "queimar, queimar, queimar". 

Sob o título ”Funcionários da ONU celebram massacre do Hamas”, a matéria traz o retrato real de uma sociedade fanatizada pelas mentiras e calúnias, que a partir da escola e de seus professores doutrinam as crianças para a violência, o ódio e o antissemitismo, enaltecendo a jihad e o fundamentalismo religioso como ideologias bélicas.