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sexta-feira, 24 de junho de 2022

Espanha Sefarad: Desterro e sofrimento

/ Sheila Sacks /


Em 1492, milhares de judeus sefarditas foram impelidos ao desterro para escapar das garras da Inquisição e da conversão forçada na Espanha. Infortunadamente, um ano depois, já em Portugal, 2 mil crianças, filhos desses judeus espanhóis, são arrancadas dos pais e levadas para uma ilha despovoada da África, infestada de serpentes peçonhentas, ratos do tamanho de coelhos e lagartos gigantes.

Para lembrar os 530 anos da expulsão dos judeus da Espanha e sua saga de sofrimento, uma escultura foi inaugurada, em 31 de março, no Porto de Cartagena, local da derradeira visão da Península Ibérica para aqueles judeus que partiam pelo mar em direção ao desconhecido.

Período de terror


Iniciada no século 12, a Inquisição atravessou os séculos como instrumento de perseguição, tortura e assassinatos. A Igreja Católica, através de seus tribunais e inquisidores saídos das fileiras das Ordens Dominicanas e Franciscanas, instalou um império de horror e perseguições contra grupos e comunidades não católicas da Europa e das Américas. Eram apontados como hereges, caçados, torturados e queimados vivos, por não seguirem os cânones religiosos estabelecidos pelos papas.

O astrônomo e matemático judeu Abrãao Zacuto (1450-1522), nascido em Salamanca, estima que 120 mil judeus espanhóis optaram pela fuga – ele mesmo um deles -  abandonando suas casas, seus bens e deixando para trás toda uma história pessoal e cultural estruturada por séculos. Despojados de seus pertences e de sua dignidade em uma diáspora dolorosa imposta por uma Igreja sectária e sem piedade que dominou a Europa na Idade Média e estendeu seus tentáculos em séculos posteriores. 

Na Espanha- a Sefarad para os judeus, palavra hebraica em alusão à Península Ibérica – a Inquisição foi estabelecida em 1478 e se tornou uma das mais cruéis do continente e além-mar, com milhares de execuções na fogueira, inclusive de conversos. Nos “autos da fé”, os condenados eram queimados vivos em atos públicos. Documentos apontam entre 130 a 150 mil processos de suspeita de heresia, com julgamentos sumários, conversões forçadas e sentenças de morte.

Em 31 de março de 1492, os reis Fernando II de Aragão e Isabel de Castela emitem a Ordem de Alhambra, documento que determina a expulsão dos judeus da Espanha e a obrigatoriedade da conversão ao catolicismo para aqueles que ficam no país. Mesmo assim, as perseguições continuaram e os conversos, denominados cristãos novos ou marranos, eram tratados com desconfiança pelo clero, autoridades e a própria sociedade.

A inquisição na Espanha foi extinta em 1834, mas somente em 1968 o governo espanhol revogou oficialmente o nefasto decreto abrindo a possibilidade, a partir de 2015, de descendentes de judeus sefarditas pleitearem a nacionalidade espanhola.

Deportação de 2 mil crianças


Em Portugal, para onde a grande maioria dos judeus sefarditas acorreu, o monarca D.João II (1455-1495) permitiu a entrada dos refugiados, mas com um salvo-conduto de oito meses. Ele faleceu em 1495 e o sucessor D.Manuel decretou a expulsão dos judeus no ano seguinte, estabelecendo a data de 5 de dezembro de 1497 como prazo final da retirada ou a conversão ao cristianismo.

Mas a estadia dos judeus fugidos da Espanha sob a coroa de D.João II teve momentos trágicos. Um dos mais abomináveis foi a deportação de duas mil crianças judias para a ilha de São Tomé, no Golfo da Guiné, a 300 quilômetros do continente africano, terra descoberta em 1470 sob seu reinado. As crianças, separadas à força de seus pais, a partir do porto de Lisboa, foram postas em barcos e enviadas à ilha despovoada repleta de animais selvagens. O donatário de São Tomé, Álvaro de Caminha, recebeu carta branca do rei para trazer escravos, degredados e os filhos dos judeus conversos que ainda viviam no reino. Uma ilha com área de 859 km2, menor que a cidade do Rio de Janeiro, e que no século 16 se torna o maior entreposto de escravos da África para o Brasil.

O relato da deportação das crianças foi narrado por Samuel Usque (1530-1596) em Consolação às Tribulações de Israel, provavelmente escrito em 1553. Judeu português fugido de Castela, Usque conta o desespero de pais e filhos diante da inevitável separação, com mães desconsoladas se jogando ao mar com suas crianças numa tentativa extrema de mantê-las perto de si.

“Quando essas crianças inocentes chegaram à selva de São Tomé, o que seria os seus túmulos, elas foram levadas à costa e deixadas ali sem compaixão. Quase todas foram engolidas pelos grandes lagartos da ilha e as que ficaram, pois escaparam dos répteis, morreram de fome e abandono.” Em um ano, apenas 600 crianças ainda se mantinham vivas.

Mais duas outras narrativas sobre esse período de dor são registradas por Salomão Ibn Verga (1460-1554) e Yosef Ha-Cohen (1496-1575). Judeu espanhol, Ibn Verga viveu em Portugal após a expulsão da Espanha e depois se refugiou na Itália. Ele é autor do livro Shebet Yehudá (Cetro de Judá) que descreve o deslocamento forçado dessas crianças à ilha de São Tomé, que juntamente com a ilha de Príncipe eram desabitadas. O relato apareceu pela primeira vez em 1550, na Turquia.

A crônica Shebet Yehuda contém ainda um relato de perseguições e descreve costumes judaicos em diferentes países.  No capítulo 59, está dito: “Quem não assistiu estas terríveis cenas de prantos, choros e gritos de mulheres, jamais haverá visto e escutado tamanha preocupação e desconsolo. Ninguém consola e ninguém protege ou defende.”  

Também nascido em Sefarad, Yosef Ha-Cohen escreveu o livro Emeq Ha-Baqa (Vale das Lágrimas), publicado em 1575. Expulso da Espanha, foi para Portugal e faleceu em Gênova. Ele narra em suas crônicas as agruras e o desespero dos judeus no porto de Lisboa. “Todas as mulheres choravam aos prantos, quando seus filhos lhes eram arrancados dos braços, enquanto seus maridos, amargurados e desesperados, arrancavam suas barbas à força.”

Outros relatos


Existem ainda relatos de cronistas não judeus da época, como o de Valentim Fernandes (1450-1519), nascido na Morávia e que trabalhou para a Coroa Portuguesa como impressor, editor e tradutor. Em 1506, ele escreveu: “Mandou o dito rei com esse capitão (Álvaro Caminha, o donatário da ilha), 2.000 meninos de 8 anos para baixo, que tomou aos judeus castelhanos e os mandou batizar, dos quais morreram muitos, porém pelo presente serão vivos entre machos e fêmeas bem 600.”

Sobre os ferozes lagartos, semelhantes a crocodilos, Valetim descreve literalmente: “Lagartos havia muitos e agora poucos, de doze côvados em longo. E comem homens e mulheres, vacas e bois e animalia. Estes lagartos não vão fora de água senão que sempre lhes fica o rabo na água doce. E qualquer animalia que toma logo dá com ela na água e dentro na água a mata e come. Empina-se sobre o rabo como um homem em pés.” 

Além dos lagartos, Valentim fala sobre ratos gigantes e enormes cobras que infestavam a ilha: “Cobras há nesta ilha muito peçonhentas de dois côvados de longo e de um braço de homem em gordo. E estão olhando os homens e não fogem deles. Estas cobras são negras de cor.“

O cronista-mor do reinado de D.João II, o português Rui de Pina (1440-1522), também secretário e embaixador do reino, narrou o episódio em suas crônicas: “Neste ano de 1493... o rei deu a Álvaro de Caminha a capitania da ilha de São Tomé de direito e herança; e quanto aos judeus castelhanos que não havia deixado seu reino dentro do prazo data, ordenou que, de acordo com a condição à sua entrada, todos os meninos e rapazes e meninas dos judeus sejam levados cativos. Depois de ter todos eles se tornaram cristãos, ele os enviou para a dita ilha com Álvaro de Caminha, para que ao ser isolados, teriam motivos para serem melhores cristãos, e [o rei] teria por essa razão para que a ilha seja melhor povoada, o que, como resultado, culminou em grande crescimento.”

Outra narrativa, desta vez de Garcia de Resende (1470- 1536), compilador e secretário particular do rei D.João II, repete o que já foi dito por Pina em relação à motivação do desterro das crianças: “Para serem apartados dos pais e de suas doutrinas e de quem lhes pudesse falar da lei de Moisés, fossem bons cristãos; e também para que, crescendo e casando, pudesse com eles povoar a ilha, que por esta causa daí em diante foi em crescimento.”

O erudito e mecenas judeu Isaac Abravanel (1437–1508), nascido em Lisboa, chamava a ilha de São Tomé de Ha-Timsahim, a ilha dos Lagartos, em alusão aos enormes répteis existentes no local e também para não pronunciar o nome de um santo católico.

De acordo com o historiador Elias Lipiner (1916-1998), estudioso da história luso-judaica e autor de livros sobre o tema (agraciado post mortem pelo governo de Portugal com a Comenda da Ordem do Mérito), Abravanel fala dessas criaturas semelhantes a crocodilos que chegavam a medir 10 metros. “Os lagartos saiam do mar para a ilha em busca de presa (...) e não obstante a luta dos homens contra eles com espadas, lanças, martelos e machados (...) eram capazes de devorar, por inteiro, um bezerro ou um menino.”

Sem rastros


No reinado de D.Manuel (1469-1521) que se seguiu ao de D.João II, a situação dos judeus que permaneceram em Portugal também foi difícil e dramática. O rei assina em dezembro de 1496 o Édito de Expulsão e dá um prazo de 10 meses para a saída dos judeus do reino. Mas, durante esse período, além de dificultar ao máxima a saída das famílias, quatro meses depois do édito determinou que os filhos menores de 14 anos de pais judeus fossem arrancados de seus pais, batizados e entregues a famílias católicas. O rastro dessas crianças perdeu-se no tempo.

Estima-se que dos 120 mil judeus que vieram da Espanha e mais os 75 mil judeus portugueses que viviam no país, somente 5 mil conseguiram escapar ( porque a maioria não podia pagar as taxas estipuladas pela Coroa), ficando o restante condenado à conversão. São os chamados cristãos novos ou marranos (convertido à força, do hebraico com castelhano, ‘mumrrano’, segundo Lipiner no livro ‘Santa Inquisição: terror e linguagem’).

A Inquisição teve seus primórdios em 1223, a partir da emissão de uma Bula Papal contra os hereges na França emitida pelo papa Gregório IX. Através dos séculos aterrorizou e perseguiu pessoas, e documentos falam em 300 mil condenações e 30 mil execuções.

Desde 2015, quando o Parlamento espanhol aprovou uma lei que concede cidadania a qualquer pessoa que possa provar pelo menos um ancestral judeu que tenha sido expulso durante a Inquisição, já foram aprovados 34 mil pedidos de cidadania espanhola. Atualmente vivem na Espanha 13 mil judeus.

Em Portugal, onde a Inquisição funcionou por 285 anos (1536-1821), já são 57 mil pedidos de cidadania portuguesa aprovados oriundos s de mais de 60 países. Lá a lei de cidadania também foi instituída em 2015.  Efetivamente cerca de 5 mil judeus residem em Portugal. 

Desterro inspira pesquisas


Em 2003, o diplomata e escritor Moshe Liba, nascido na Romênia e que emigrou para Israel após o Holocausto, editou o livro “Jewish Child Slaves in São Tomé” ( Crianças escravas judias em São Tomé), que reúne artigos, ensaios e documentos sobre as consequências sociais e culturais desse episódio escabroso da história. Seria uma possível miscigenação na formação da sociedade na ilha e vestígios de hábitos e tradições dos judeus sefarditas observados na população.

Primeiro embaixador de Israel em São Tomé, o livro – que teve a coautoria do pesquisador e professor Norman Simms -  é resultado de um seminário promovido na ilha ,em 1995, e que contou com a presença de estudiosos de vários países. Na ocasião, recepcionado pelo então presidente da República de São Tomé e Príncipe, Miguel Trovoada - que posteriormente foi representante especial das Nações Unidas para a Guiné-Bissau - LIba ouviu do político as seguintes palavras: “Embaixador, temos raízes comuns. As crianças judias trazidas aqui como escravos de Portugal foram os primeiros colonos desta ilha.”

Pelas pesquisas de Liba, apesar da falta de documentação do destino das crianças, ele observa que registros históricos assinalam que alguns conversos da ilha eram acusados de práticas judaicas. No livro “L’ancien Congo d’après les archives romaines (1518-1640)”, os historiadores J. Cuvelier e L.Jardin apresentam um documento de 1632 que em certo trecho afirma que ”a ilha (São Tomé) está infestada de novos cristãos que praticam os ritos judaicos quase abertamente”.

No texto assinado por Lipiner e incluído no livro (‘O Primeiro Batismo Compulsório Coletivo Ocorrido em Portugal), o autor faz uma diferenciação do status dos judeus na ilha, denominando-os de “cativos” e não “escravos”, apesar de não serem pessoas livres (Lipiner, nascido na Bessarábia, viveu muitos anos no Brasil e depois emigrou para Israel).

Liba relata ainda que em suas andanças na iIlha somente encontrou duas sepulturas judaicas (de Arão Gabai e Avraham Cohen) ao lado do cemitério de São Tomé, datadas do final de 1800, provavelmente de comerciantes que aportaram no local. Todavia, conversando com o bispo local, este disse que contam que as crianças foram enterradas nos arredores da igreja.

Por sua vez, Simms anota que no final do século 16, documentos registram a presença de cristãos novos vindos de São Tomé para se estabelecerem no Brasil nas plantações de açúcar. Pesquisador das raízes judaicas na África no período dos descobrimentos e autor de “Jewish Children of São Tomé”, ele especula que esses cristãos novos poderiam ser descendentes das crianças judias que habitavam a ilha. “Existe a probabilidade que na época do domínio holandês no Brasil, em meados do século 17 (1630 -1654), mais uma geração de cristãos-novos, descendentes dos ”Filhos de São Tomé”, tenha vindo se estabelecer na colônia, principalmente em Recife (Pernambuco).” Assim deixariam para trás a Coroa Portuguesa e a Inquisição para retornar ao Judaísmo ancestral.

Romances idealizam tragédia


Festejado pela crítica literária, o romance Órion do premiado escritor português Mário Claudio foi lançado em Lisboa, em 2003, e tem como tema central o rapto das crianças judias. A obra de ficção ambientada em São Tomé acompanha a trajetória de mais de meio século de sete “moços” (meninos e meninas) judeus trazidos à ilha, e que apesar do sofrimento e das adversidades enfrentadas mantêm sua ligação com o D’us de seus antepassados.

Por duas vezes ganhador do Grande Prêmio de Romance e Novela, da Associação Portuguesa de Escritores, Mário Cláudio usa uma linguagem lúdica e alegórica para descrever aquela fatídica manhã, na Praça da Ribeira, onde as crianças se reuniam.  “Era uma manhã de Abril, tão suave que mais parecia um agouro de acontecimentos festivos do que o limiar de um holocausto que se preparasse.”

Em 2010, é a vez do americano Paul Cohn publicar “Sao Tome- Journey to the Abyss-Portugal's Stolen Children” (São Tomé: Viagem ao Abismo - Crianças Roubadas de Portugal), que ganhou o título “Rapto em Lisboa”, na edição portuguesa. A história gira em torno de dois irmãos, um menino e uma menina, sequestrados com outras crianças de uma sinagoga em Lisboa e embarcados em uma caravela para São Tomé, a 4 mil milhas de Portugal.

Quatro anos depois, o escritor Orlando Trindade, natural de São Tomé, publica o livro “Os meninos judeus desterrados” (2014), tendo como fundo os primórdios da colonização da ilha e a chegada de centenas de crianças judias que, em sua maioria, não resiste as agruras da viagem e o ambiente inóspito. A narrativa segue um menino de seis anos que sobrevive à selva e às dificuldades.

Já na década de 1980, a escritora de livros infanto-juvenis Henye Meyer se inspira no triste episódio para escrever “The Exiles of Crocodile Island” (Os exilados da Ilha dos Crocodilos). Americana de nascimento, ela vive na Inglaterra e é autora de uma dezena de livros de temática judaica voltada para o público adolescente. De acordo com o resumo apresentado pela editora, o livro em questão narra a história de uma comunidade de crianças arrancadas de suas casas pela Inquisição e sua luta desafiadora para manter sua fé em um ambiente hostil. 

Sem saída


Ainda na área de pesquisa histórica, a festejada obra do escritor inglês de origem judaica Simon Schama (A História dos Judeus) publicada em 2013, também aborda o episódio das crianças levadas de Lisboa a São Tomé no reinado de D.João II. “Os judeus vindos de Espanha, sobretudo crianças, seriam sujeitos a uma conversão rápida e iriam cristianizar São Tomé, acasalados com os escravos africanos que também foram enviados para a ilha”, assinala.

Professor nas Universidades de Harvard e Columbia e residindo nos Estados Unidos, Schama igualmente cita outra ação envolvendo o rapto de crianças judias, desta vez em 1497, ordenada pelo sucessor D.Manuel. E ressalta que “nunca mais foram vistas”. Sobre Portugal da época, ele descreve: "Os judeus ficaram presos no que foi, na realidade, o primeiro campo de concentração, de onde não podiam fugir nem ter autorização para sair se não se convertessem.”

Para o pesquisador americano Robert Garfield, Ph.D. em Estudos Africanos e professor na Universidade DePaul, em Chicago, São Tomé, quando foi descoberta em 1470 pelos portugueses que procuravam o caminho das índias, era uma ilha incomum, longe da Europa, localizada no Golfo da Guiné e desabitada. Foi colonizada por portugueses condenados, crianças judias convertidas à força e escravos africanos. A mistura dessas culturas, segundo Garfield, “criou uma sociedade inteiramente nova dentro da ilha”.

Autor do livro “A Chave para Guiné: Uma História da Ilha de São Tomé 1470-1655”, publicado originalmente em 1992 e traduzido para o português em 2019, Garfield fala sobre uma sociedade que floresceu na ilha, formada por ricos plantadores de açúcar e dedicada ao comércio de escravos. Enfrentando motins e rebeliões, a ilha foi atacada e invadida por europeus e sua economia entra em colapso em pouco mais de quatro gerações.

O arquipélago de São Tomé e Príncipe também foi tema de um Colóquio Internacional promovido pelo Instituto Universitário de Lisboa que atraiu mais de 100 oradores, em 2012, para debater o colonialismo, o período pós-colonial, a diáspora, literatura, linguística e desenvolvimento da região.

Uma publicação sobre o Colóquio apresentou mais de três dezenas de artigos acadêmicos abordando os aspectos sociais, econômicos e culturais da ilha ao longo do tempo. Sobre o início a colonização de São Tomé, documentos citados indicam: “Vindos em 1493 com Álvaro de Caminha, chegaram também a São Tomé 2.000 meninos judeus, cujos pais vieram para Portugal, expulsos de Espanha pelos reis católicos. Era objetivo da Coroa que fossem convertidos ao cristianismo e que ajudassem ao povoamento. Do conjunto deles, de que nenhum excedia os oito anos, diria Pêro de Caminha, terem dado boa conta da missão que lhes fora cometida. A sua integração na restante da comunidade através do casamento, teria sido, contudo, problemática, Do contingente inicial, em 1505/1506, reduziu-se apenas a 600.”

Lembrando Valetim Fernandes como fonte, são apresentados os seguintes números em relação à população da ilha, passados mais de uma década após a chegada das crianças: “600 descendentes de judeus castelhanos; 200 moradores na povoação principal (na maioria degredados); 1.000 moradores em toda a ilha (sem esclarecer se os descendentes de judeus se encontram entre eles); 2.000 escravos a trabalhar; 5 a 6.000 escravos para resgate”.

A Jewish Virtual Library comenta que até 1600, as práticas judaicas ainda podiam ser observadas nas ilhas, mas que no século 18 a maior parte da herança judaica já não existia. Também conta que uma pequena comunidade foi estabelecida nos séculos 19 e 20 com a chegada de alguns comerciantes judeus de cacau e açúcar. Mas, hoje, não há judeus vivendo nas ilhas.


Atualmente, a República de São Tomé e Príncipe (a distância entre as ilhas é de 140 km) tem em torno de 215 mil habitantes, ficou independente em 1975 e a língua oficial é o português. A principal atividade econômica do arquipélago é a agricultura, com base na exportação de semente de cacau, e a pesca. Segundo o Banco Mundial, um terço da população vive abaixo da linha internacional da pobreza (US$1,90 por dia).

Judeus no mundo


A título de informação, seguem os mais recentes números da população judaica, divulgados no final de 2021, pelo “Israel Central Bureau of Statistics” (CBS). O país soma 6,9 milhões judeus israelenses, em uma população que engloba ainda 1,9 milhão de árabes israelenses e 472 mil de raízes diversas, totalizando 9,2 milhões de habitantes. Segundo o jornal “Israel Yahom”, a população judaica global chega a 15,9 milhões.

Em relação à Diáspora, os números apurados são:

França: 446.000; Canadá: 393.000; Grã-Bretanha: 292.000; Argentina: 175.000; Rússia: 150.000; Alemanha: 118.000; Austrália: 118.000; Brasil: 91.500; África do Sul: 52.000; Ucrânia: 43.000; Hungria: 47.000; México: 40.000; Holanda: 30.000; Bélgica: 29.000; Itália: 27.000; Suíça: 18.500; Chile: 16.000; Uruguai: 16.000; Suécia: 15.000; Turquia: 14.500; Espanha: 13.000; Áustria: 10.000; Panamá: 10.000.

Cerca de 27.000 judeus vivem em estados árabes e muçulmanos, dos quais 14.500 vivem na Turquia, cerca de 9.500 no Irã, cerca de 2.000 no Marrocos e aproximadamente 1.000 na Tunísia.

Os países com população judaica de 500 pessoas ou menos incluem: Emirados Árabes Unidos, Bermudas, Bahamas, Bahrein, Barbados, Cuba, República Dominicana, El Salvador, Jamaica, Curaçao, Ilhas Virgens, Bolívia, Suriname, Chipre, Malta, Eslovênia, Bósnia , Albânia, Macedônia do Norte, Armênia, Quirguistão, Tadjiquistão, Turcomenistão, Indonésia, Filipinas, Coreia do Sul, Taiwan, Tailândia, Congo, Botswana, Quênia, Madagascar, Namíbia, Nigéria, Zimbábue, Iêmen, Síria e Egito.


Observação: com estreia marcada para 29 de janeiro de 2023,em Lisboa, o drama musical O Rapto dos Inocentes é mais uma obra cultural que tem como tema o infortúnio dessas crianças e suas famílias vítimas de uma época de horror. Segundo o libreto "esta é a história de coragem e de sobrevivência da família de Jacob, que vê o seu filho mais novo ser raptado em Lisboa e levado para S.Tomé e Príncipe por ordem da coroa portuguesa".