/ Sheila Sacks /
No final de 2020, em plena pandemia
que desestruturava o planeta e sinalizava tempos sofridos e incertos, o
lançamento do livro de um militar aposentado de alta patente afirmando que a
humanidade está em contato com alienígenas, há anos, sacudiu a mídia e transformou
o autor em celebridade no mundo da ufologia. Mas, também causou algum
desconforto para departamentos de defesa e militares de agências federais que
investigam e monitoram, de forma sigilosa, fenômenos espaciais.
Haim Eshed, ex-general israelense, então com 87 anos e figura central
da obra “The Universe Beyond
the Horizon – Conversations with Professor Haim Eshed” (O Universo Além do
Horizonte – Conversa com o professor Haim Eshed, em tradução livre), esteve no comando do programa de segurança
espacial de Israel por quase 30 anos e recebeu três vezes o Prêmio de Segurança
de Israel (Israel's Security Award) . É considerado o pai dos programas
espaciais israelenses.
Engenheiro eletrônico, formado pelo Technion (Instituto de Tecnologia de Israel), tem mestrado em engenharia aeronáutica e desde que se aposentou, em 2011, é professor visitante de várias universidades e instituições de pesquisas espaciais. Foi consultor científico da Faculdade de Tel Aviv e também colabora com o Centro de Ciências de Herzliya para alunos do Ensino Médio. O livro em questão tem a parceria da escritora Hagar Yanai, 50 anos, autora de vários livros premiados.
Ao jornal Yediot Aharonot, em uma longa entrevista, ele revelou que resolveu tornar público suas pesquisas e conhecimento acerca de seres extraterrestres e OVNIs (sigla de Objetos Voadores Não Identificados) ou UFO (Unidentified Flying Object, na sigla em inglês) porque considera o atual estágio tecnológico da humanidade mais desenvolvido e naturalmente mais aberto à abordagem do tema. "Se eu falasse o que digo hoje há cinco anos, teria sido internado", ironiza Eshed na entrevista ao diário de maior tiragem do país.
A reportagem, originalmente publicada em
hebraico, ganhou as páginas da mídia internacional após o jornal Jerusalem Post,
dias depois, recontar a matéria em inglês (Ex-chefe de segurança espacial
israelense diz que alienígenas existem e a humanidade não está pronta, em
10/12/2020), e principalmente por conta das credenciais do entrevistado. O texto, desde então, viaja pela Internet, ao sabor de novas notícias sobre fenômenos aéreos e descobertas espaciais.
Nada a perder
Na inusitada entrevista, assinada pelo
jornalista Raanan Shaked (‘Os OVNIs pediram para não anunciar que estão aqui, a
humanidade ainda não está pronta’, em tradução livre do hebraico), o texto se inicia em um tom não muito sério. “Em um novo livro, 'The Universe Beyond the Horizon',
Eshed afirma que extraterrestres de todo o universo já estão andando entre nós,
encontros do terceiro grau acontecem em cada esquina, e a "Federação
Galáctica" está atrasando a liberação de informações para não causar
pânico. Agora ele também conta como os alienígenas impediram vários holocaustos
nucleares.”
E prossegue no mesmo diapasão: “Foi um
ótimo início de semana”, escreve o jornalista. “Saí da casa do professor Haim
Eshed de bom humor. Em breve, com certeza, faremos contato com extraterrestres,
eles nos ensinarão tudo o que sabem, a ciência saltará na frente mil anos-luz,
poderemos começar a viajar no tempo e espaço, e saltar com as crianças no fim
de semana no aglomerado das Plêiades (aglomerado estelar), a 444 anos-luz de
distância do sistema solar, muito melhor do que o Holon Park” ( parque de
diversão aquático perto de Tel Aviv).
Mas, apesar da conotação bizarra que
norteia a entrevista, o jornalista israelense destaca a quantidade de livros
que Eshed tem em seu escritório, o grande número de material e informação
acumulados, e as inúmeras pastas nas quais são guardadas “meticulosamente” cada
artigo ou trecho de documento sobre o tema a qual se dedica.
Perguntado do risco acadêmico a que se
expõe diante das afirmativas manifestas no decorrer da reportagem, Eshed é
categórico na resposta. Diz que “hoje
não tem nada a perder” e fundamenta: “Recebi prêmios e diplomas, sou respeitado
nas universidades do exterior e mesmo lá a tendência está mudando e agora estão
abertos a falar sobre esses fenômenos.”
Assim, um dos enunciados acerca da forma
e a da velocidade com que os alienígenas percorrem o espaço é traduzido por
Eshed como “um método avançado ‘deles’ para produzir uma bolha que neutraliza o
tempo-espaço”. Desse modo, “a espaçonave não se move, e sim o espaço”. E dá o
exemplo de uma formiga se movimentando em cima de uma página. Ao dobrar a
página, a formiga irá da extremidade a outra em um segundo. “Eles usam a
propulsão, baseada na energia escura – 25% do universo é matéria escura - o que
torna possível distorcer o espaço-tempo e alcançar outras galáxias em pouco
tempo”, diz.
Sobre o local de origem dos alienígenas,
Eshed considera que alguns possam ter vindo das Plêiades (conglomerado de
estrelas localizado na Constelação de Touro, algumas visíveis a olho nu) que
têm condições de vida parecidas. “Não podemos chegar lá”, explica, “mas eles
podem chegar até nós porque são mais avançados”.
Em relação à interação entre humanos e
alienígenas, Eshed novamente surpreende ao revelar a existência de uma base
subterrânea em Marte onde astronautas americanos e extraterrestres já trabalham
em conjunto. “A grande nave
espacial é quase do tamanho de uma pequena cidade. Pequenas naves espaciais
saem dela - a maioria robóticas, tripuladas por robôs inteligentes. A princípio
eles enviarão tais robôs, primitivos em sua visão, ou uma mensagem que teremos
que decifrar.”
Estudo publicado na revista “Astrobiology” (junho de 2021) assinado pelo cientista planetário Jesse Tarnas, do Jet Propulsiom Laboraty da Nasa (centro tecnológico de pesquisa, responsável pelo desenvolvimento de sondas espaciais não tripuladas) sustenta que existem ambientes habitáveis semelhantes à Terra no subsolo de Marte. A revista científica Scientific American também dá destaque ao estudo, ressaltando que a análise de meteoritos marcianos combinada com novos dados dos rovers (veículos robóticos) da Nasa revelam que enquanto houver água subterrânea, o subsolo marciano é habitável. Portanto, já está sendo aceitável cientificamente que para vivermos em Marte terá de ser em túneis e com energia nuclear.
Federação Galáctica
Eshed fala ainda sobre uma suposta
“Federação Galáctica” formada por alienígenas que em comum acordo com governos
parceiros- e cita os Estados Unidos, China, Rússia, Inglaterra e Japão - tem repassado
tecnologia avançada e monitora estações e bases nucleares. Inclusive, evitando
catástrofes nucleares que não aconteceram pela intervenção dos alienígenas.
Conta que o ex-presidente Donald Trump
estava prestes a revelar esses “contatos”, mas foi aconselhado a esperar. E que
mais presidentes se envolveram com o assunto: Truman (1884-1972) admitiu que viu
um grupo de extraterrestres; Nixon (1913-1994) levou o comediante Jackie
Gleason para a base aérea de White-Patterson (Ohio), onde mostrou corpos de
alienígenas; e a neta do presidente Eisenhower (1890-1969) testemunhou o avô
assinar um acordo com extraterrestres. Estes teriam uma base de pouso secreta
no deserto de Nevada, na Área 51 – região onde há uma base aérea americana,
criada em 195, para testes e desenvolvimento de aeronaves.
Reconhecida oficialmente somente em 2003,
a base aérea americana na Área 51, a 135 quilômetros de Las Vegas, alimentou
muitas suposições e teorias sobre óvnis devido ao sigilo que o governo sempre
impôs acerca da instalação militar e seus funcionários. Várias reportagens ao
longo do tempo lançaram suspeitas de que a área em questão abrigava uma
espaçonave alienígena e os corpos de seus tripulantes, depois que testemunhas
comunicaram sobre a queda de destroços de um objeto não identificado em Roswell, no estado do Novo México, em 1947.
Projeto Galileu
Outra figura de peso citada por Eshed,
desta vez na área científica, é o astrofísico israelense-americano Abrahamn
(Avi) Loeb, professor de Ciência na Universidade de Harvard, que afirmou que o
objeto celeste observado por astrônomos no Havaí, em 2017, era um óvni. O
objeto, com 800 metros de comprimento e superfície avermelhada ganhou o nome de
Oumuamua, que significa “mensageiro” em linguagem havaiana. Pela sua alta
velocidade, se supõe que o objeto veio de fora do Sistema Solar.
PhD em Física pela Universidade Hebraica
de Jerusalém e chefe do Projeto Galileu (Galileo Project), do Centro de
Astrofísica de Harvard, Loeb lançou em 2021 o livro “Extraterrestrial: The
First Sign of Intelligent Life Beyond Earth” (Extraterrestre: O Primeiro Sinal
de Vida Inteligente Além da Terra, em tradução livre do inglês), onde sustenta
que o Oumuamua não era um asteroide e sim uma peça de tecnologia avançada
criada por uma civilização alienígena distante.
Para o Projeto Galileu, que envolve mais
de 100 cientistas, Loeb arrecadou 1,7 milhão de dólares de investidores
privados. O programa visa estabelecer uma rede de telescópios avançados -
munidos de câmaras infravermelhas, sensores de rádio e áudio, magnetômetro (para
mediar campos magnéticos) e computadores com inteligência artificial - que irão
varrer os céus em busca de evidências extraterrestres. Um deles é o
supertelescópio de 8,4 metros no Observatório Vera C.Rubin, em construção na
montanha de Cerro Pachón, no Chile, que terá a maior câmara do mundo.
Em uma reportagem para a Science
Magazine, uma da mais prestigiadas revistas de Ciência, Loeb ponderou sobre a
necessidade da comunidade cientifica ter a mente aberta para esses fenômenos.
“Aqueles que afirmam que a falta de evidências de extraterrestres significa que
a vida alienígena não existe, estão equivocados”, disse. “É como um pescador na
praia, olhando para o mar: Onde estão todos os peixes? Eu não vejo nada? E,
obviamente, se você não usar uma rede de pesca, não encontrará nada”, raciocina.
Com centenas de artigos publicados e
autor de oito livros, Loeb, de 60 anos, foi indicado pela revista TIME, em
2012, como umas das 25 pessoas mais influentes em assuntos espaciais. Em 2020,
foi considerado um dos 14 israelenses mais inspiradores da década. Em 2021, na
esteira da publicação de seu livro sobre extraterrestres, Loeb, assim como Eshed,
surpreendeu ao falar sobre a necessidade de um acordo de paz entre os humanos e
os habitantes de outras galáxias, semelhante ao Tratado de Proibição de Teste
Nucleares. Segundo o cientista, civilizações hostis são capazes de criar
dispositivos de destruição de tecnologia avançada que os habitantes da Terra
não saberão deter.
Ufologia tem sessão
especial do Senado
No Brasil, em uma
sessão especial no plenário do Senado para marcar os 75 anos do Dia Mundial da Ufologia, o ufólogo Ademar José Gevaerd, editor da
revista UFO, presidente do Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores e
autor de 13 livros sobre o tema, comemorou o fato de o governo e a Aeronáutica terem
liberado mais de 20 mil páginas de documentos, que atualmente estão no Arquivo
Nacional, em Brasília, à disposição dos interessados. Mas fez a ressalva de que
a abertura não é completa e que mais arquivos precisam ser divulgados.
O evento, realizado em 24 de junho, reuniu
especialistas do Brasil e do exterior para falar sobre fenômenos relacionados a
óvnis, vida fora da Terra e liberação de registros de avistamentos. No requerimento oficial para a realização da
Sessão, os senadores lembraram que o Brasil foi “a primeira nação a admitir oficialmente
que os óvnis existem de fato e têm procedência extraterrestre”. Isso ocorreu em
1954, na Escola Superior de Guerra (ESG), no Rio de Janeiro, face ao depoimento
do então capitão da Aeronáutica João Adil de
Oliveira que chefiou a primeira Comissão de Investigação sobre os
Discos Voadores do país. A França só faria o mesmo, vindo em segundo lugar, em
1976, 22 anos depois.
Ao final do
encontro, foi entregue aos parlamentares o documento intitulado “Carta de
Brasília”, no qual os ufólogos recomendam a criação de uma
comissão permanente mista, civil e militar, para a realização conjunta de
pesquisas.
Arquivo Nacional
disponibiliza fotos e documentos
A partir da criação da Lei de Acesso à Informação- Lai ((Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011) e sua regulamentação no ano seguinte (16 de maio de 2012), um encontro inédito aconteceu em Brasília, em abril de 2013, entre pesquisadores de fenômenos aéreos não identificados e representantes do Ministério de Defesa. Na reunião, ficou acordado que documentos acerca do tema, sob a responsabilidade do Exército, Marinha e Aeronáutica, seriam tornados públicos através de consultas ao Arquivo Nacional.
Porém,
autoridades militares reconhecem que muitos documentos foram extraviados e
outros destruídos, já que o decreto 79.099 de 1977 permitia a destruição de
documentos sigilosos.
De
acordo com o professor Rodolpho Gauthier Cardoso dos Santos, do Instituto
Federal de Minas Gerais (IFMG) e doutor em História, a Pasta OVNI, do Arquivo
Nacional, já reúne 758 documentos digitalizados, entre relatórios, depoimentos,
fotos, formulários preenchidos, notícias da imprensa, vídeos e áudios.
Em
um artigo publicado em 2021, no site do Arquivo Nacional, ele detalha que o
documento mais antigo para consulta data de 1952 e o mais recente, de 2016, com
uma quantidade considerável de formulários preenchidos em aeroportos por
pilotos relatando avistamentos de óvnis. Também estão arrolados, casos de
relatos que tiveram repercussão na imprensa, com recortes de revistas e jornais
da época.
Também
boletins produzidos por investigadores do SIOANI (Sistema de Investigação de
Objetos Aéreos Não Identificados), órgão da Aeronáutica que funcionou entre
1969 e 1972, estão acessíveis aos interessados. O trabalho dos militares
consistia em investigar os locais de “supostos” avistamentos, entrevistando e
até realizando exames psiquiátricos nas testemunhas dos relatos.
No
texto, o professor faz um histórico sobre o termo “disco voador”, tradução do
inglês flying saucer (pires voando,
em tradução livre) usado para
designar o que não era imediatamente reconhecido nos céus. A expressão apareceu
pela primeira vez em um jornal local do estado de Washington, a partir do
registro do empresário Kenneth Arnold, também um piloto experiente. Ele
observou objetos voadores que realizavam manobras inusitadas quando pilotava
seu avião, em 24 de junho de 1947. “Faziam movimentos ondulares, parecidos com
o que acontece quando se joga um disco sobre a superfície da água.”
A partir da década de 1950, um termo mais
adequado foi criado para designar esses fenômenos: a expressão UFO -
Unidentified Flying Object , ou OVNI, em português (Objeto Voador Não
Identificado).
Noite dos óvnis
Ainda no artigo, o autor discorre sobre
alguns casos de avistamentos registrados no território brasileiro - já com
documentos “desclassificados” (retirados de sigilo) - e que foram veiculados na
imprensa. Dentre eles, o que ocorreu na cidade de São José dos Campos, no
estado de São Paulo, em 19 de maio de 1986, que ficou conhecido como a Noite
dos Discos Voadores. Na ocasião “foram
avistadas pela torre de controle da cidade luzes de diversas cores sobrevoando
a região, o que foi confirmado pelo radar e passageiros de aeronaves. Horas
depois, foi a vez do radar de Anápolis, no estado de Goiás, apontar objetos não
identificados. Temendo pela segurança nacional, caças armados decolaram das
bases aéreas no Rio de Janeiro e Goiás”.
O desenrolar da ação é descrita pelo
professor: “Alguns (caças) chegaram a identificar luzes que mudavam de cor e
tentaram persegui-las, mas foi inútil. Segundo registros, os objetos faziam
manobras bastante peculiares com aceleração e desaceleração de forma brusca que
ultrapassavam em muito a velocidade dos caças brasileiros. Em determinado
momento da madrugada, os radares chegaram a detectar treze pontos não
identificados simultâneos. No entanto, como cinco caças não conseguiram se
aproximar e identificá-los, a operação foi finalizada. Ao longo de mais de três
horas, foram detectados 21 óvnis ” (descritos como esféricos e com 100 metros
de diâmetro).
Sobre o episódio foi feito um relatório,
datado de 2 de junho daquele ano, assinado pelo então comandante interino do
Comando de Defesa Aérea Brasileira COMDABRA, brigadeiro José Pessoa Cavalcanti
Albuquerque, que no parágrafo três apresenta o seguinte parecer: “Os fenômenos
são sólidos e refletem de certa forma inteligência, pela capacidade de
acompanhar e manter distância dos observadores como também voar em formação,
não forçosamente tripulados”. E conclui elogiando “a eficiência das unidades aéreas
engajadas na operação” que em menos de 30 minutos depois de acionadas estavam prontas
para a ação.
Governo americano
cria órgão federal para detectar óvnis
No final de 2021, o presidente Joe Biden
autorizou a criação de um escritório encarregado de conduzir investigações e
responder militarmente e com rapidez a avistamentos de óvnis. A implantação do
novo órgão, sob a responsabilidade conjunta do Departamento de Defesa americano
e do Diretor de Inteligência Nacional (DNI, na sigla em inglês), figurou no
pacote de gastos da Defesa, aprovado pelo Congresso, no valor de 770 bilhões de
dólares.
Meses depois, a sigla original do
escritório – AOIMSG (Air Object Identification and Management Group - Grupo de
Sincronização de Gerenciamento e Identificação de Objetos Aerotransportados, em
tradução livre) foi modificada estrategicamente para AARO - All-domain Anomaly
Resolution Office - Resolução de Anomalias de Todos os Domínios, eliminando o termo Air Object e dando um caráter mais amplo às observações.
A implantação da AARO, segundo o
Pentágano, visa sincronizar os esforços do Departamento de Defesa com outras
agências federais para detectar “fenômenos de interesse” perto de instalações
militares, áreas operacionais e de treinamento. Isso inclui “espaço anômalo não
identificado, objetos aéreos, submersos e transmedium” (termo inglês para
objetos que voam entre o espaço, o ar e sob a água). Um vídeo da Marinha,
confirmado pelo Pentágono, mostra um óvni aparentemente desaparecendo na água.
Em maio, em uma audiência pública no
Congresso americano sobre óvnis, agora também chamados de UAPs (Unidentified Aerial Phenomena - fenômenos aéreos não identificados, que substitui UFO) , o
atual subsecretário de Defesa para inteligência e segurança, Ronald Moultrie,
refirmou que esses objetos representam “riscos potenciais” para a segurança de
voo e um desafio para a segurança nacional, e que o governo está comprometido
em determinar suas origens.
A respeito desses fenômenos, o
Departamento da Marinha já vinha mantendo, desde 2020, uma Força-Tarefa de
Fenômenos Aéreos Não Identificados, a UAPTF - Unidentified Aerial Phenomena
(UAP) Task Force, com a missão de detectar, analisar e catalogar objetos
voadores que possam representar ameaça à segurança nacional. A medida foi defendida
pelo então vice-secretário da Defesa, David L. Norquist.
Um ano depois, em junho de 2021, sob a
pressão do Congresso e do público, o Pentágono divulgou um relatório da UAPTF
reportando 144 casos de fenômenos aéreos não identificados relatados por
pilotos militares desde 2004. De acordo com o documento, 21 desses registros
detalhavam objetos com "padrões incomuns de movimento ou de
características de voo".
Apesar de grande parte dos pareceres
serem inconclusivos, o relatório confirma que a maioria dos óvnis representam
objetos físicos captados por vários sensores, incluindo radar, infravermelho,
eletro-óptico, “buscadores” de armas e também por observação visual.
Na esteira das revelações, o programa
jornalístico “60 Minutes”, da CBS News, um dos mais assistidos nos EUA, dedicou
uma apresentação ao tema. Em uma reportagem especial, no ano passado,
entrevistou alguns militares da Marinha americana. Um deles, o piloto
aposentado Ryan Graves, disse que os encontros com óvnis aconteciam com
frequência. “Todos os dias, por pelo menos alguns anos” afirmou.
Ele classificou o que ocorria como “um risco à segurança“. O seu esquadrão de caças supersônicos F/A-18F, de acordo com o ex-piloto, começou a ver óvnis pairando sobre o espaço aéreo restrito, a sudeste de Virginia Beach, em 2014, quando os radares dos jatos foram atualizados, tornando possível mirar com câmeras infravermelhas. É no estado de Virgínia, na cidade de Norfolk, que se localiza a maior base naval americana e mundial.
Outro entrevistado, Luis Elizondo, um
ex-militar para operações de Inteligência e ex-agente do Pentágono, revelou que
só começou a tratar de óvnis, a partir de 2008, quando foi convidado para
trabalhar no Programa Avançado de Identificação de Ameaças Aeroespaciais –
AATIP, na sigla em inglês (Advanced Aerospace Threat Identification Program). O
projeto foi incluído pelo então líder da maioria do Senado, Harry Reid, no
programa de Defesa dos Estados Unidos.
A função de Elizondo era analisar
fenômenos aéreos não identificados documentados por militares que poderiam
ameaçar a segurança nacional. Nos relatos, segundo ele, registros de objetos
que voam a 13 mil milhas por hora, que escapam dos radares, podem voar através
do ar, da água e possivelmente do espaço. Sem sinais de propulsão, sem asas,
sem superfícies de controle, desafiando os efeitos naturais da gravidade da
Terra.
“Gastamos milhões de dólares treinando esses pilotos. E eles estão vendo algo que eles não podem explicar. Além disso, essas informações são apoiadas em dados eletro-ópticos, como imagens de câmeras de armas. E por dados de radar”, diz o ex-agente.
Depoimentos e
relatórios oficiais como rotina
Recentemente, em julho, a Câmara de Deputados
americana (U.S. House of Representatives) recebeu uma proposta de emenda
parlamentar para criar um sistema oficial de relatos sobre óvnis dentro da
estrutura da Defesa. A emenda foi apresentada pelo congressista Mike Gallagher,
do estado de Wisconsin, que serviu no Corpo de Fuzileiros Navais no Iraque,
trabalhou no setor de Contraterrorismo no Comitê de Relações Exteriores do
Senado e atualmente integra o Comitê Permanente de Inteligência da Câmara. Ele
ainda atua como membro do subcomitê de Pessoal Militar, com jurisdição sobre as
políticas e programas relacionados com os militares e o Departamento de Defesa.
O principal objetivo da medida, de acordo com o parlamentar, é
estabelecer um canal especial e seguro para que militares e contratados
(terceirizados) possam relatar no plenário suas experiências em relação a qualquer
evento de UAPs. Também pretende estabelecer uma rotina de envio à Câmara, por parte do
Departamento de Defesa, de relatórios atualizados sobre qualquer atividade ou
programa de governo relacionado com esses fenômenos.
A transparência e a divulgação pública
dessas abordagens, porém, esbarram em afirmações como a do israelense Haim Eshed, explicitada na polêmica entrevista
ao Yediot Aharonot. Respondendo ao jornalista que o entrevistava o porquê de os
governos manterem segredo em torno de supostos alienígenas que estariam em
contato com os humanos, e se muitos evitam falar por uma possível ameaça de
morte, o ex-responsável pelo programa espacial de Israel confirmou que ninguém está a salvo. “Sim. Eles mataram muitos no caminho. Todo mundo que
abriu a boca.”
Eshed aproveita também a longa conversa para desenhar um futuro desafiador, onde computadores quânticos atingirão um nível superior à capacidade humana em termos de consciência, impelindo a própria consciência humana a avançar. Ele acredita que seremos capazes de manipular o espaço-tempo (‘enquanto estou sentado aqui com você, também poderei sentar com minha filha na Filadélfia’), e que nosso tempo na Terra não é infinito. “Escute, a humanidade não sobreviverá aqui, e se alguém não cuidar do meio ambiente, eu dou menos de 50 anos. A humanidade vai morrer e espero que “eles” ( aponta para o alto) não vão deixar isso acontecer. O espaço é nosso anseio - saber de onde viemos e para onde vamos.” E conclui: ”Hoje, a única coisa que nos mantém sãos é a ciência.”