Por Sheila
Sacks
Recente
relatório divulgado pelo Ministério da Diáspora de Israel apontou um número
recorde de incidentes antissemitas, em 2017, ocorrendo nas redes sociais e na
mídia. A pesquisa entrevistou 1.363 judeus que vivem nos Estados Unidos e no
Reino Unido e 80% deles reconheceram que foram vítimas desse tipo de agressão.
Porém, por medo ou porque não acreditarem que as autoridades fariam alguma
coisa, 73% ficaram calados.
Uma
situação que levou o diretor e fundador do Instituto para o
Estudo do Antissemitismo e Política Global (ISGAP, na sigla em inglês), o
canadense Charles Asher Small, a sugerir uma nova “política de princípios” a
ser adotada pelas comunidades internacionais que deveriam igualmente reformular
seus sistemas educacionais em relação ao tema.
Preparando
professores para combater o antissemitismo nas salas de aula, o ISGAP
mantém cursos na Universidade de Harvard (EUA) e Oxford
(Inglaterra), e promove seminários nas principais universidades do mundo.
Segundo Small, face ao relatório, o governo israelense terá de empenhar mais
recursos no monitoramento desses espaços virtuais e desenvolver maneiras de
entender, expor e denunciar essa nova escalada de ódio.
Em
2018, postagens antissemitas aumentam
Outro
estudo, este produzido pelo Congresso Mundial Judaico (WJC, na sigla em inglês)
abrangendo os primeiros 24 dias de janeiro de 2018, mostra um aumento de 30% de
postagens de cunho antissemita em relação ao mesmo período de 2016.
Aproximadamente
foram veiculadas na internet 550 mensagens diárias contendo símbolos nazistas
ou imagens contra os judeus, numa média de 23 mensagens por hora. Postagens
negando o Holocausto chegaram a 108 por dia, ou 4,5 por hora. No total foram
13.200 mensagens antissemitas e 2.600 negando o Holocausto.
O
Twitter e os Blogs foram os espaços onde esse tipo de agressão aumentou. No
ranking dos países pesquisados, os EUA lideraram a lista, com um crescimento de
36% nas postagens antissemitas e 68% na negação do Holocausto. Em seguida
aparece a Alemanha, com um aumento de 16% nas mensagens antissemitas.
O
vice-presidente executivo do WJC, Robert Singer, critica as empresas de mídias
sociais por não monitorar permanentemente os discursos de ódio nas redes,
omitindo-se da responsabilidade de denunciar essas violações de código de
conduta. ”Não podemos aceitar o argumento de que cabe ao usuário policiar o
conteúdo”, contesta Singer. “As empresas precisam explicitar aos que se
utilizam dessas ferramentas as repercussões que tais atitudes podem provocar e
nominar sem eufemismo o caráter antissemita dessas postagens”.
Violência
física e insegurança
Em
relação à violência física, as ocorrências cresceram 78% no Reino Unido e 86%
nos EUA, em 2017, de acordo com a Liga Antidifamação (ADL, sigla em ingês),
sediada em Nova Iorque. Uma das consequências diretas é o sentimento de
insegurança que atinge 51% dos judeus europeus quanto ao uso pessoal de
símbolos judaicos. Nos Estados Unidos, esse índice chega a 22%.
Ainda
sobre o relatório do ministério da Diáspora, o estudo revelou a opinião dos
entrevistados sobre os políticos de seus países. Para 24% dos judeus americanos
consultados, os políticos americanos são antissemitas. Já os políticos europeus
são considerados antissemitas para 32% dos judeus.
De
acordo com o diretor do
ISGAP, Charles Small, o antissemitismo nos EUA é exacerbado por políticos, ao
contrário do antissemitismo na Europa que tem como componente importante as
populações muçulmanas que trazem na bagagem migratória a ideologia da Irmandade
Muçulmana. “Os governos de Bill Clinton, George W. Bush e, principalmente, de
Barack Obama fecharam os olhos ao antissemitismo propagado pelo islamismo
político e em diferentes momentos apoiaram a Irmandade Muçulmana e o regime
islâmico iraniano”, salienta Small. “Isso foi tolerado por décadas, e não
surpreende que essa ideologia aplicada no Oriente Médio venha crescendo agora
nos EUA”, explica.
Cientista
político, doutor em filosofia e autor de vários livros e ensaios sobre o antissemitismo
contemporâneo, com destaque para a coletânea de seis volumes “Global
Antisemitism: A Crisis of Modernity” (2013), Small observa que com a ascensão
de Donald Trump houve um recrudescimento na veiculação de imagens e mensagens
racistas, antijudaicas e contra os muçulmanos, fomentando o nacionalismo
extremista e os movimentos reacionários que ganham espaço na Europa.
Por
sua vez, o diretor do Centro
de Comunicações da Diáspora da Organização Sionista Mundial, Eitan Behar, vê
com preocupação a ascensão do antissemitismo nas mídias virtuais e a
dificuldade de um controle efetivo. ”Com um clique, cada um de nós pode
reescrever a história e espalhar o ódio.” Nesse ambiente, uma saída será
fortalecer ainda mais a educação judaica e o orgulho de ser judeu, o que
encorajaria as pessoas a denunciarem os incidentes antissemitas, afirma Behar,
que lamenta que mais de 70% das vítimas de mensagens antissemitas não tornaram
públicas as agressões.
Porém,
o mais preocupante é que o antissemitismo está se tornando uma ameaça
percebível nas comunidades judaicas, assim como o ódio aos judeus e ao estado
de Israel, alerta Small. Por isso “é bom que o governo israelense agora leve
isso mais a sério do que no passado”, reforça.
Fontes:
JNS – “Israel’s report on global anti-Semitism prompts
call for ‘principled policy,’ comprehensive education” (Eliana Rudee), em
15.02.2018.
WJC – “Holocaust denial and anti-Semitism on social
media up 30 percent in January 2018 compared to 2016, WJC report finds”
(14.02.2018).