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segunda-feira, 6 de maio de 2024

Holocausto: Estado do Rio adere à definição de Antissemitismo da Aliança Internacional - IHRA

Solenidade aconteceu três dias antes das cerimônias memoriais do Iom HaShoá (Dia da Memória do Holocausto), em Israel (27 de Nissan, 5/6 de maio), quando uma sirene de dois minutos parou o país, na parte da manhã, para lembrar os 6 milhões de mortos vítimas do regime nazista, entre 1933 e 1945.

Sheila Sacks

Depois de São Paulo, foi a vez do estado do Rio de Janeiro aderir à Definição Funcional de Antissemitismo da Aliança Internacional para Lembrança do Holocausto (IHRA). A cerimônia ocorreu na sexta-feira, 3 de maio, no Palácio Guanabara, onde o governador Claudio Castro assinou o documento acompanhado de lideranças judaicas.

A definição, adotada por 40 países e decidida na plenária de Bucareste, em 26 de maio de 2016, afirma que “o antissemitismo é uma certa percepção dos judeus, que pode ser expressa como ódio aos judeus. As manifestações retóricas e físicas do antissemitismo são dirigidas a indivíduos judeus ou não judeus e/ou às suas propriedades, a instituições comunitárias judaicas e instalações religiosas".

Importante destacar que a cidade do Rio, capital do estado, já tinha aderido ao protocolo desde o ano passado, em 3 de novembro de 2023, menos de um mês após o massacre de 7 de outubro, tornando-se a primeira cidade brasileira a adotar a definição da IHRA.

Na ocasião, o prefeito Eduardo Paes abriu o Palácio da Cidade para as lideranças judaicas e fez questão de assegurar que a prefeitura está atenta às manifestações de preconceito. "Quero que todos vocês aqui, na cidade do Rio de Janeiro, se sintam muito tranquilos. Não vamos deixar que ninguém sofra algum tipo de preconceito por causa de sua origem, fé ou religião. Tenham a prefeitura do Rio como parceira de vocês", afirmou.

Anteriormente, em 9 de outubro, dois dias depois do brutal ataque, a sede do legislativo carioca foi iluminada de azul e branco, cores da bandeira de Israel, em um ato de apoio e solidariedade às vítimas do massacre. A iniciativa da Comissão dos Direitos Humanos da Casa teve o apoio da presidência da Câmara.

Não esquecer

A IHRA é formada por 35 países membros, entre eles Argentina, Canadá, Estados Unidos,  Portugal, Espanha, Suécia, Reino Unido, Alemanha, França, Itália, entre outros, e 8 países observadores: Brasil, Uruguai, Chipre, Turquia, Moldávia, Bósnia e Herzegovina, Mônaco e Nova Zelândia.

O Brasil aderiu à IHRA em 9 de novembro de 2021, como país observador, cumprindo os trâmites exigidos. E no seu comunicado à imprensa, publicado no site oficial do governo, o Itamaraty afirmou que “a diplomacia brasileira buscará trabalhar dentro da IHRA para promover a educação e a pesquisa sobre o Holocausto, bem como para melhorar as políticas nacionais de combate ao antissemitismo”.  

Também lembrou que o Brasil é o “lar da segunda maior comunidade judaica da América Latina e a décima maior do mundo, e se orgulha de ter acolhido famílias que fugiram dos horrores do Holocausto”.

A data da adesão, 9 de novembro, marca o pogrom nazista de 1938, conhecido como a “Noite dos Cristais”, o violento ataque nazista que se deu em toda a Alemanha e nas regiões ocupadas da Áustria e da antiga Tchecoslováquia. Centenas de sinagogas, lojas e residências judaicas foram vandalizadas, saqueadas, incendiadas e destruídas. Pelo menos 91 judeus foram brutalmente assassinados.

quinta-feira, 2 de maio de 2024

Jornalista que vive em kibutz na fronteira diz que coexistência exige “posição de força” de Israel

  /  Sheila Sacks /

Bat Ayin Artists

Descendente de judeus do Iraque, Zvi Yehezkeli nasceu em Jerusalém, fala árabe fluentemente, tem três títulos acadêmicos pela Universidade Hebraica, é especialista em geopolítica do Oriente Médio, trabalhou na agência de segurança Shin Bet, foi chefe do departamento de assuntos árabes do Canal 10, da TV israelense, é autor da série de documentários "Allah Islam" (2012) sobre a influência da Irmandade Muçulmana  na Europa, e passou dois anos (2016 e 2017) percorrendo a Europa e os Estados Unidos sob falsa  identidade para investigar o papel da Irmandade nos dois continentes, o que resultou em uma nova série - Under a False Identity (Falsa Identidade, em tradução livre) – exibida no mesmo canal, em 2018. Desde 2022 chefia a seção árabe de notícias e é analista político do canal 13 News.

Com essas credenciais pontuadas por uma inegável coragem, Yehezkeli tem afirmado que a coexistência pacífica com os árabes só é possível a partir de um estado que demonstre força e que tenha poder de fogo. Residente na comunidade Bat Ayin, a oeste de Gush Etzion, ao sul de Jerusalém, na fronteira com a Cisjordânia, o jornalista de 54 anos conta que convive com os árabes “ombro a ombro”, mas é preciso se sentir forte. “Assim eles não vão se meter com você”, diz.

O Jerusalem Post repercutiu em sua plataforma digital (25/4/2024) as declarações de Yehezkeli que é cético em relação à extinção do ódio profundo que continua a alimentar a violência contra os israelenses e os judeus em geral. “Quando os árabes reconstruírem Gaza e ensinarem novamente que somos descendentes de macacos e porcos e que deveríamos ser erradicados, haverá outro 7 de Outubro”, antevê.

“Estamos em uma guerra contra o mal”, reforça. "O Hamas disse que veio para purificar o mundo dos judeus imundos. Esta é a banalidade do mal, como foi o nazismo.”

Prenúncio de um Ocidente islamizado

No início de 2018, alguns meses antes da série Falsa Identidade ir ao ar,  Yehezkeli foi entrevistado pelo jornal Israel Hayom sobre o trabalho que o levou a percorrer mesquitas, escolas, livrarias e centros muçulmanos. “Todo mundo me dizia que a bomba é o ISIS ( sigla em inglês do Estado Islâmico do Iraque e da Síria, ou Daesh), isso porque quem poderia ser mais perigoso do que aqueles lunáticos.  Mas tento explicar que existe um novo tipo de bomba – uma bomba silenciosa chamada Irmandade Muçulmana.”

A propósito, Yehezkeli lembra que um importante funcionário da defesa de Israel o alertou sobre o grupo terrorista. "É como fosse uma pequena espinha encravada no rosto, sendo o verdadeiro câncer a Irmandade Muçulmana."  A organização nascida no mundo árabe está proibida de atuar em países mais moderados como o Egito e a Arábia Saudita. 

Pelo que viu e ouviu em suas viagens, o jornalista acredita que em 10 ou 20 anos alguns países europeus estarão sob o domínio da Irmandade. E cita a França, Bélgica e Dinamarca. “Eles (Irmandade) sorrateiramente irão pegar as rédeas das mãos de pessoas importantes. Se não for feito de forma pacífica, usarão a força. Eles têm uma estratégia clara e o fim do jogo é a conquista. A Irmandade ditará o tom", vaticina.

Em relação particularmente aos franceses, Yehezkeli é muito crítico. “Ninguém verifica os currículos das escolas muçulmanas  em solo francês. Se estão a ensinar o Islã tolerante ou o Islã que considera todos os outros como infiéis e cuja missão é espalhar o califado, seu domínio e controle. Esse é um processo gradual e é mais perigoso do que um ataque surpresa”, reflete. Hoje vivem 10 milhões de muçulmanos na França.

O jornalista revela que permaneceu duas semanas em bairros periféricos, a meia hora do centro de Paris, e enquanto esteve por lá, não falou uma palavra de francês, apenas árabe. “Nos cafés, mulheres e homens ficam afastados. É exatamente como estar num país muçulmano."

Munido de passaportes falsos, Yehezkeli se passou por jornalista palestino, empresário jordaniano, repórter sírio, refugiado e xeique. Ele chegou a entrevistar membros do ISIS no telhado de uma casa visando despistá-los, caso fosse descoberto. Na Turquia de Erdoğan (no poder desde 2014), Yehezkeli e a equipe foram detidos pela polícia em uma rua de Istambul. Ele usava passaporte israelense e mostrou as autorizações do governo turco para a realização da reportagem. Porém, no carro em que viajavam estavam escondidos passaportes falsos e grande parte do material de filmagem de suas andanças pela Europa. "O medo foi enorme", confessa, "e a visão de passar o resto de minha vida em uma prisão turca era assustador." Mas, depois de duas horas de interrogatório e muita tensão, a equipe foi liberada com um aviso de que todos seriam vigiados. 

Tempestade anunciada

Em relação aos Estados Unidos, já em 2013, um documentário intitulado Jihad in America:The Grand Deception traçava as raízes do Islamismo e sua influência no território americano. O filme, que conquistou vários prêmios, foi produzido pela organização The Investigative Project on Terrorism (IPT), fundada em 1995 por Steven Emerson, uma das principais autoridades em redes, financiamento e operações terroristas islâmicas nos EUA.

Segundo Noah Beck, autor de Os Últimos Israelenses (um romance apocalíptico de 2012 sobre as armas nucleares iranianas e outras questões geopolíticas no Oriente Médio), o documentário demonstra com detalhes assustadores o quanto a Irmandade Muçulmana se infiltrou na sociedade americana – desde os meios de comunicação aos campi universitários, e nas esferas governamentais estadual e federal.

No artigo que escreveu em 2015, analisando o filme para a plataforma de notícias Breitbart News, Beck já citava casos de discursos de ódio no meio acadêmico e parecia antever os acontecimentos que estão a se desenrolar nas universidades americanas, agora em 2024. “Se as universidades são cada vez mais dominadas por uma agenda islâmica e é nas universidades onde se treina o futuro da nossa democracia, que tipo de futuro nos espera?”, indagava.

No Falsa Identidade, no capítulo sobre os Estados Unidos, Yehezkeli entrevista o autor do livro 2064 – América Islâmica, escrito em 2014 por Wayne Rawlins, que mudou o nome para Abu Bakar , e este é afirmativo no objetivo de seu trabalho. “Nossa missão é inculcar valores islâmicos no coração de cada americano.” E comemora: “Este ano (2018), mais de 90 muçulmanos norte-americanos (na sua maioria democratas)  concorrem a cargos públicos.”

Seu parceiro, Yusuf al-Muslet, explica na entrevista que para levar adiante a Jihad no Ocidente  (guerra santa, segundo os muçulmanos),  a “Da'wah” é a arma número 1. Moldado na década de 1970 no Egito, o sistema Da'wah centra-se primeiro nos desfavorecidos e representa o Islã missionário e focado na caridade como uma solução generosa para os necessitados de qualquer credo. É a parte “suave” da Jihad para atrair as pessoas. Porém, adverte  Yehezkeli , o Ocidente deve compreender que a Jihad suave é até muito mais perigosa  do que a guerra da Jihad aberta. “ Não é possível combater o terrorismo com sucesso, a menos que também compreendamos a sua base ideológica fundamental. Na Sharia ( código de leis muçulmanas) não tem lugar para a liberdade de expressão. Os seus valores e os do sonho do Califado não o permitem.”

A Irmandade Muçulmana  transformou o Islão numa agenda política, e esta mistura de religião e política tornou-se conhecida como Islamismo. Desde a sua fundação, em 1928, a organização estabeleceu presença em mais de 70 países, e inúmeras instituições em todo o mundo adotaram a sua estratégia e objetivos.

Nas décadas de 1970 e 1980 foram construídos, pelos países árabes produtores de petróleo, mais de 1.500 mesquitas, 2 mil escolas, 200 faculdades e 210 centros islâmicos em países muçulmanos e da Europa.

Por trás das organizações sociais

O mais recente trabalho investigativo de Yehezkeli  para a TV foi a série Double Agent , exibida no canal 13, no final de 2022. “Foram 3 mil horas de filmagens e dezenas de entrevistas”, explica ao Jerusalem Post (22/11/2022). A história é sobre uma sueca pró-palestina que chega a Israel como turista para estudar arquitetura. Ela conhece um colono da comunidade de Eli, na fronteira com a Cisjordânia, que lhe explica o ângulo israelense do conflito. Aos poucos a mulher se introduz numa organização de direitos humanos na Cisjordânia e torna-se agente de um serviço de inteligência israelense.

Um ano depois, a agente participa de reuniões com membros do Hamas que contam como usam e operam as organizações sociais e de direitos humanos para angariar fundos, inclusive o BDS, e a estreita  ligação  do grupo terrorista com a Irmandade Muçulmana na Europa.

“Tudo foi muito complicado, usamos câmaras escondidas e precisávamos garantir que nossa agente estivesse segura”, afirma. A série foi produzida com a colaboração da organização Ad Khan, fundada em 2015 por um grupo de oficiais das Forças de Defesa de Israel (FDI) e veteranos da inteligência do exército. A agência conta com agentes infiltrados e já realizou centenas de missões de espionagem com o objetivo de dificultar e obstruir atividades e operações anti-israelenses  cujo financiamento vem de países estrangeiros e de outros organismos antissemitas. A organização é independente e conta com departamentos de pesquisa, jurídico, político e de mídia.

Lógica do Ocidente não é a lógica do Hamas

Cinco dias após o massacre de 7 de outubro, Yehezkeli foi a TV e disse  que não ficou surpreso com a violência, mas com o sucesso obtido pelo Hmas. “Eles romperam todos os muros, as cercas, as câmeras, os programas secretos, o maior projeto de segurança em Israel. Que eles eram cruéis, nós sabíamos, mas não achávamos que eles conseguiriam fazer tudo isso em menos de uma hora."

Avisos, segundo o jornalista, não faltaram. “Mesmo os avisos mais explícitos foram ignorados,” reitera. “Posso mostrar filmes onde eles dizem que vão invadir nossas comunidades, nossas terras, massacrar nossos filhos, se lhes dermos dinheiro e trabalho. E atesta: “A primeira regra do Hamas é a Jihad, e eles a praticam de muitas maneiras. O pensamento ocidental não funciona no Oriente Médio - nem no Iraque, nem no Afeganistão, e não com o Hamas. Pensamos que as muitas concessões fariam o Hamas ficar em silêncio. Nós os subestimamos.”

 Yehezkeli começou na rádio do Exército e ainda jovem trabalhou no canal 1 da TV de Israel. No seu trabalho de jornalismo investigativo entrevistou Yasser Arafat e Mahmoud Abbas, entre outros líderes árabes. Ele recebeu educação laica, mas já adulto se voltou para o judaísmo ortodoxo que pratica fielmente. A guinada se deu depois de uma viagem à Índia quando teve contato com movimento religioso Chabad. Casou com uma jovem ortodoxa e o casal tem 7 filhos.  Apesar de ser uma estrela da TV, com suas análises políticas e produção de documentários,  a família não tem TV em casa.