/ Sheila Sacks /
Bat Ayin Artists
Descendente
de judeus do Iraque, Zvi Yehezkeli nasceu em Jerusalém, fala árabe
fluentemente, tem três títulos acadêmicos pela Universidade Hebraica, é
especialista em geopolítica do Oriente Médio, trabalhou na agência de segurança
Shin Bet, foi chefe do departamento de assuntos árabes do Canal 10, da TV
israelense, é autor da série de documentários "Allah Islam" (2012)
sobre a influência da Irmandade Muçulmana
na Europa, e passou dois anos (2016 e 2017) percorrendo a Europa e os
Estados Unidos sob falsa identidade para
investigar o papel da Irmandade nos dois continentes, o que resultou em uma
nova série - Under a False Identity (Falsa Identidade, em tradução livre) –
exibida no mesmo canal, em 2018. Desde 2022 chefia a seção árabe de notícias e
é analista político do canal 13 News.
Com
essas credenciais pontuadas por uma inegável coragem, Yehezkeli tem afirmado
que a coexistência pacífica com os árabes só é possível a partir de um estado
que demonstre força e que tenha poder de fogo. Residente na comunidade Bat
Ayin, a oeste de Gush Etzion, ao sul de Jerusalém, na fronteira com a
Cisjordânia, o jornalista de 54 anos conta que convive com os árabes “ombro a
ombro”, mas é preciso se sentir forte. “Assim eles não vão se meter com você”,
diz.
O
Jerusalem Post repercutiu em sua plataforma digital (25/4/2024) as declarações
de Yehezkeli que é cético em relação à extinção do ódio profundo que continua a
alimentar a violência contra os israelenses e os judeus em geral. “Quando os
árabes reconstruírem Gaza e ensinarem novamente que somos descendentes de
macacos e porcos e que deveríamos ser erradicados, haverá outro 7 de Outubro”, antevê.
“Estamos
em uma guerra contra o mal”, reforça. "O Hamas disse que veio para
purificar o mundo dos judeus imundos. Esta é a banalidade do mal, como foi o
nazismo.”
Prenúncio de um
Ocidente islamizado
No
início de 2018, alguns meses antes da série Falsa
Identidade ir ao ar, Yehezkeli foi entrevistado pelo jornal
Israel Hayom sobre o trabalho que o levou a percorrer mesquitas, escolas,
livrarias e centros muçulmanos. “Todo mundo me dizia que a bomba é o ISIS (
sigla em inglês do Estado Islâmico do Iraque e da Síria, ou Daesh), isso porque
quem poderia ser mais perigoso do que aqueles lunáticos. Mas tento explicar que existe um novo tipo de
bomba – uma bomba silenciosa chamada Irmandade Muçulmana.”
A
propósito, Yehezkeli lembra que um importante funcionário da defesa de Israel o
alertou sobre o grupo terrorista. "É como fosse uma pequena espinha encravada no
rosto, sendo o verdadeiro câncer a Irmandade Muçulmana." A organização nascida no mundo árabe está proibida de atuar em países mais moderados como o Egito e a Arábia Saudita.
Pelo
que viu e ouviu em suas viagens, o jornalista acredita que
em 10 ou 20 anos alguns países europeus estarão sob o domínio da Irmandade. E
cita a França, Bélgica e Dinamarca. “Eles (Irmandade) sorrateiramente irão
pegar as rédeas das mãos de pessoas importantes. Se não for feito de forma
pacífica, usarão a força. Eles têm uma estratégia clara e o fim do jogo é a
conquista. A Irmandade ditará o tom", vaticina.
Em
relação particularmente aos franceses, Yehezkeli é muito crítico. “Ninguém
verifica os currículos das escolas muçulmanas
em solo francês. Se estão a ensinar o Islã tolerante ou o Islã que
considera todos os outros como infiéis e cuja missão é espalhar o califado, seu
domínio e controle. Esse é um processo gradual e é mais perigoso do que um
ataque surpresa”, reflete. Hoje vivem 10 milhões de muçulmanos na França.
O
jornalista revela que permaneceu duas semanas em bairros periféricos, a meia
hora do centro de Paris, e enquanto esteve por lá, não falou uma palavra de
francês, apenas árabe. “Nos cafés, mulheres e homens ficam afastados. É
exatamente como estar num país muçulmano."
Munido
de passaportes falsos, Yehezkeli se passou por jornalista palestino, empresário
jordaniano, repórter sírio, refugiado e xeique. Ele chegou a entrevistar
membros do ISIS no telhado de uma casa visando despistá-los, caso fosse
descoberto. Na Turquia de Erdoğan (no poder desde 2014), Yehezkeli e a equipe
foram detidos pela polícia em uma rua de Istambul. Ele usava passaporte
israelense e mostrou as autorizações do governo turco para a realização da
reportagem. Porém, no carro em que viajavam estavam escondidos passaportes
falsos e grande parte do material de filmagem de suas andanças pela
Europa. "O medo foi enorme", confessa, "e a visão de passar o resto de minha vida em uma prisão turca era assustador." Mas, depois de duas horas de
interrogatório e muita tensão, a equipe foi liberada com um aviso de que todos seriam
vigiados.
Tempestade anunciada
Em relação aos Estados Unidos, já em 2013, um documentário intitulado Jihad in America:The Grand Deception traçava as raízes do Islamismo e sua influência no território americano. O filme, que conquistou vários prêmios, foi produzido pela organização The Investigative Project on Terrorism (IPT), fundada em 1995 por Steven Emerson, uma das principais autoridades em redes, financiamento e operações terroristas islâmicas nos EUA.
Segundo Noah Beck, autor de Os Últimos
Israelenses (um romance apocalíptico de 2012 sobre as armas nucleares iranianas
e outras questões geopolíticas no Oriente Médio), o documentário demonstra com
detalhes assustadores o quanto a Irmandade Muçulmana se infiltrou na sociedade
americana – desde os meios de comunicação aos campi universitários, e nas
esferas governamentais estadual e federal.
No artigo que escreveu em 2015, analisando o
filme para a plataforma de notícias Breitbart News, Beck já citava casos de
discursos de ódio no meio acadêmico e parecia antever os acontecimentos que
estão a se desenrolar nas universidades americanas, agora em 2024. “Se as
universidades são cada vez mais dominadas por uma agenda islâmica e é nas
universidades onde se treina o futuro da nossa democracia, que tipo de futuro
nos espera?”, indagava.
No Falsa
Identidade, no capítulo sobre os Estados Unidos, Yehezkeli entrevista o autor do
livro 2064 – América Islâmica, escrito em 2014 por Wayne Rawlins, que mudou o nome para Abu Bakar , e este é afirmativo no objetivo de seu
trabalho. “Nossa missão é inculcar valores islâmicos no coração de cada
americano.” E comemora: “Este ano (2018), mais de 90 muçulmanos
norte-americanos (na sua maioria democratas)
concorrem a cargos públicos.”
Seu parceiro, Yusuf al-Muslet, explica na entrevista que para
levar adiante a Jihad no Ocidente
(guerra santa, segundo os muçulmanos),
a “Da'wah” é a arma número 1. Moldado na década de 1970 no Egito, o
sistema Da'wah centra-se primeiro nos desfavorecidos e representa o Islã
missionário e focado na caridade como uma solução generosa para os necessitados de qualquer credo. É a parte
“suave” da Jihad para atrair as pessoas. Porém, adverte Yehezkeli , o Ocidente deve compreender que a Jihad suave é até
muito mais perigosa do que a guerra da
Jihad aberta. “ Não é possível combater o terrorismo com sucesso, a menos
que também compreendamos a sua base ideológica fundamental. Na Sharia ( código
de leis muçulmanas) não tem lugar para a liberdade de expressão. Os seus
valores e os do sonho do Califado não o permitem.”
A Irmandade Muçulmana transformou o Islão numa agenda política, e
esta mistura de religião e política tornou-se conhecida como Islamismo. Desde a
sua fundação, em 1928, a organização estabeleceu presença em mais de 70 países,
e inúmeras instituições em todo o mundo adotaram a sua estratégia e objetivos.
Nas décadas de 1970 e 1980 foram construídos, pelos países árabes produtores de petróleo, mais de 1.500 mesquitas, 2 mil escolas, 200 faculdades e 210 centros islâmicos em países muçulmanos e da Europa.
Por trás
das organizações sociais
O mais recente trabalho investigativo de Yehezkeli para a TV foi a série Double Agent , exibida
no canal 13, no final de 2022. “Foram 3 mil horas de filmagens e dezenas de
entrevistas”, explica ao Jerusalem Post (22/11/2022). A história é sobre uma
sueca pró-palestina que chega a Israel como turista para estudar arquitetura.
Ela conhece um colono da comunidade de Eli, na fronteira com a Cisjordânia, que
lhe explica o ângulo israelense do conflito. Aos poucos a mulher se introduz
numa organização de direitos humanos na Cisjordânia e torna-se agente de um
serviço de inteligência israelense.
Um
ano depois, a agente participa de reuniões com membros do Hamas que contam como
usam e operam as organizações sociais e de direitos humanos para angariar
fundos, inclusive o BDS, e a estreita
ligação do grupo terrorista com a
Irmandade Muçulmana na Europa.
“Tudo
foi muito complicado, usamos câmaras escondidas e precisávamos garantir que
nossa agente estivesse segura”, afirma. A série foi produzida com a colaboração
da organização Ad Khan, fundada em 2015 por um grupo de oficiais das Forças de
Defesa de Israel (FDI) e veteranos da inteligência do exército. A agência conta
com agentes infiltrados e já realizou centenas de missões de espionagem com o
objetivo de dificultar e obstruir atividades e operações anti-israelenses cujo financiamento vem de países estrangeiros
e de outros organismos antissemitas. A organização é independente e conta com
departamentos de pesquisa, jurídico, político e de mídia.
Lógica do Ocidente não
é a lógica do Hamas
Cinco
dias após o massacre de 7 de outubro, Yehezkeli foi a TV e disse que não ficou surpreso com a violência, mas
com o sucesso obtido pelo Hmas. “Eles romperam todos os muros, as cercas, as
câmeras, os programas secretos, o maior projeto de segurança em Israel. Que
eles eram cruéis, nós sabíamos, mas não achávamos que eles conseguiriam fazer
tudo isso em menos de uma hora."
Avisos,
segundo o jornalista, não faltaram. “Mesmo os avisos mais explícitos foram
ignorados,” reitera. “Posso mostrar filmes onde eles dizem que vão invadir
nossas comunidades, nossas terras, massacrar nossos filhos, se lhes dermos
dinheiro e trabalho. E atesta: “A primeira regra do Hamas é a Jihad, e eles a
praticam de muitas maneiras. O pensamento ocidental não funciona no Oriente
Médio - nem no Iraque, nem no Afeganistão, e não com o Hamas. Pensamos que as
muitas concessões fariam o Hamas ficar em silêncio. Nós os subestimamos.”
Yehezkeli começou na rádio do Exército e ainda
jovem trabalhou no canal 1 da TV de Israel. No seu trabalho de jornalismo
investigativo entrevistou Yasser Arafat e Mahmoud
Abbas, entre outros líderes árabes. Ele recebeu educação laica, mas já adulto
se voltou para o judaísmo ortodoxo que pratica fielmente. A guinada se deu depois de uma viagem à Índia quando teve contato com movimento religioso Chabad. Casou com uma jovem ortodoxa e o casal tem 7 filhos.
Apesar de ser uma estrela da TV, com suas análises políticas e produção de documentários, a família não tem TV em casa.