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quinta-feira, 2 de maio de 2024

Jornalista que vive em kibutz na fronteira diz que coexistência exige “posição de força” de Israel

  /  Sheila Sacks /

Bat Ayin Artists

Descendente de judeus do Iraque, Zvi Yehezkeli nasceu em Jerusalém, fala árabe fluentemente, tem três títulos acadêmicos pela Universidade Hebraica, é especialista em geopolítica do Oriente Médio, trabalhou na agência de segurança Shin Bet, foi chefe do departamento de assuntos árabes do Canal 10, da TV israelense, é autor da série de documentários "Allah Islam" (2012) sobre a influência da Irmandade Muçulmana  na Europa, e passou dois anos (2016 e 2017) percorrendo a Europa e os Estados Unidos sob falsa  identidade para investigar o papel da Irmandade nos dois continentes, o que resultou em uma nova série - Under a False Identity (Falsa Identidade, em tradução livre) – exibida no mesmo canal, em 2018. Desde 2022 chefia a seção árabe de notícias e é analista político do canal 13 News.

Com essas credenciais pontuadas por uma inegável coragem, Yehezkeli tem afirmado que a coexistência pacífica com os árabes só é possível a partir de um estado que demonstre força e que tenha poder de fogo. Residente na comunidade Bat Ayin, a oeste de Gush Etzion, ao sul de Jerusalém, na fronteira com a Cisjordânia, o jornalista de 54 anos conta que convive com os árabes “ombro a ombro”, mas é preciso se sentir forte. “Assim eles não vão se meter com você”, diz.

O Jerusalem Post repercutiu em sua plataforma digital (25/4/2024) as declarações de Yehezkeli que é cético em relação à extinção do ódio profundo que continua a alimentar a violência contra os israelenses e os judeus em geral. “Quando os árabes reconstruírem Gaza e ensinarem novamente que somos descendentes de macacos e porcos e que deveríamos ser erradicados, haverá outro 7 de Outubro”, antevê.

“Estamos em uma guerra contra o mal”, reforça. "O Hamas disse que veio para purificar o mundo dos judeus imundos. Esta é a banalidade do mal, como foi o nazismo.”

Prenúncio de um Ocidente islamizado

No início de 2018, alguns meses antes da série Falsa Identidade ir ao ar,  Yehezkeli foi entrevistado pelo jornal Israel Hayom sobre o trabalho que o levou a percorrer mesquitas, escolas, livrarias e centros muçulmanos. “Todo mundo me dizia que a bomba é o ISIS ( sigla em inglês do Estado Islâmico do Iraque e da Síria, ou Daesh), isso porque quem poderia ser mais perigoso do que aqueles lunáticos.  Mas tento explicar que existe um novo tipo de bomba – uma bomba silenciosa chamada Irmandade Muçulmana.”

A propósito, Yehezkeli lembra que um importante funcionário da defesa de Israel o alertou sobre o grupo terrorista. "É como fosse uma pequena espinha encravada no rosto, sendo o verdadeiro câncer a Irmandade Muçulmana."  A organização nascida no mundo árabe está proibida de atuar em países mais moderados como o Egito e a Arábia Saudita. 

Pelo que viu e ouviu em suas viagens, o jornalista acredita que em 10 ou 20 anos alguns países europeus estarão sob o domínio da Irmandade. E cita a França, Bélgica e Dinamarca. “Eles (Irmandade) sorrateiramente irão pegar as rédeas das mãos de pessoas importantes. Se não for feito de forma pacífica, usarão a força. Eles têm uma estratégia clara e o fim do jogo é a conquista. A Irmandade ditará o tom", vaticina.

Em relação particularmente aos franceses, Yehezkeli é muito crítico. “Ninguém verifica os currículos das escolas muçulmanas  em solo francês. Se estão a ensinar o Islã tolerante ou o Islã que considera todos os outros como infiéis e cuja missão é espalhar o califado, seu domínio e controle. Esse é um processo gradual e é mais perigoso do que um ataque surpresa”, reflete. Hoje vivem 10 milhões de muçulmanos na França.

O jornalista revela que permaneceu duas semanas em bairros periféricos, a meia hora do centro de Paris, e enquanto esteve por lá, não falou uma palavra de francês, apenas árabe. “Nos cafés, mulheres e homens ficam afastados. É exatamente como estar num país muçulmano."

Munido de passaportes falsos, Yehezkeli se passou por jornalista palestino, empresário jordaniano, repórter sírio, refugiado e xeique. Ele chegou a entrevistar membros do ISIS no telhado de uma casa visando despistá-los, caso fosse descoberto. Na Turquia de Erdoğan (no poder desde 2014), Yehezkeli e a equipe foram detidos pela polícia em uma rua de Istambul. Ele usava passaporte israelense e mostrou as autorizações do governo turco para a realização da reportagem. Porém, no carro em que viajavam estavam escondidos passaportes falsos e grande parte do material de filmagem de suas andanças pela Europa. "O medo foi enorme", confessa, "e a visão de passar o resto de minha vida em uma prisão turca era assustador." Mas, depois de duas horas de interrogatório e muita tensão, a equipe foi liberada com um aviso de que todos seriam vigiados. 

Tempestade anunciada

Em relação aos Estados Unidos, já em 2013, um documentário intitulado Jihad in America:The Grand Deception traçava as raízes do Islamismo e sua influência no território americano. O filme, que conquistou vários prêmios, foi produzido pela organização The Investigative Project on Terrorism (IPT), fundada em 1995 por Steven Emerson, uma das principais autoridades em redes, financiamento e operações terroristas islâmicas nos EUA.

Segundo Noah Beck, autor de Os Últimos Israelenses (um romance apocalíptico de 2012 sobre as armas nucleares iranianas e outras questões geopolíticas no Oriente Médio), o documentário demonstra com detalhes assustadores o quanto a Irmandade Muçulmana se infiltrou na sociedade americana – desde os meios de comunicação aos campi universitários, e nas esferas governamentais estadual e federal.

No artigo que escreveu em 2015, analisando o filme para a plataforma de notícias Breitbart News, Beck já citava casos de discursos de ódio no meio acadêmico e parecia antever os acontecimentos que estão a se desenrolar nas universidades americanas, agora em 2024. “Se as universidades são cada vez mais dominadas por uma agenda islâmica e é nas universidades onde se treina o futuro da nossa democracia, que tipo de futuro nos espera?”, indagava.

No Falsa Identidade, no capítulo sobre os Estados Unidos, Yehezkeli entrevista o autor do livro 2064 – América Islâmica, escrito em 2014 por Wayne Rawlins, que mudou o nome para Abu Bakar , e este é afirmativo no objetivo de seu trabalho. “Nossa missão é inculcar valores islâmicos no coração de cada americano.” E comemora: “Este ano (2018), mais de 90 muçulmanos norte-americanos (na sua maioria democratas)  concorrem a cargos públicos.”

Seu parceiro, Yusuf al-Muslet, explica na entrevista que para levar adiante a Jihad no Ocidente  (guerra santa, segundo os muçulmanos),  a “Da'wah” é a arma número 1. Moldado na década de 1970 no Egito, o sistema Da'wah centra-se primeiro nos desfavorecidos e representa o Islã missionário e focado na caridade como uma solução generosa para os necessitados de qualquer credo. É a parte “suave” da Jihad para atrair as pessoas. Porém, adverte  Yehezkeli , o Ocidente deve compreender que a Jihad suave é até muito mais perigosa  do que a guerra da Jihad aberta. “ Não é possível combater o terrorismo com sucesso, a menos que também compreendamos a sua base ideológica fundamental. Na Sharia ( código de leis muçulmanas) não tem lugar para a liberdade de expressão. Os seus valores e os do sonho do Califado não o permitem.”

A Irmandade Muçulmana  transformou o Islão numa agenda política, e esta mistura de religião e política tornou-se conhecida como Islamismo. Desde a sua fundação, em 1928, a organização estabeleceu presença em mais de 70 países, e inúmeras instituições em todo o mundo adotaram a sua estratégia e objetivos.

Nas décadas de 1970 e 1980 foram construídos, pelos países árabes produtores de petróleo, mais de 1.500 mesquitas, 2 mil escolas, 200 faculdades e 210 centros islâmicos em países muçulmanos e da Europa.

Por trás das organizações sociais

O mais recente trabalho investigativo de Yehezkeli  para a TV foi a série Double Agent , exibida no canal 13, no final de 2022. “Foram 3 mil horas de filmagens e dezenas de entrevistas”, explica ao Jerusalem Post (22/11/2022). A história é sobre uma sueca pró-palestina que chega a Israel como turista para estudar arquitetura. Ela conhece um colono da comunidade de Eli, na fronteira com a Cisjordânia, que lhe explica o ângulo israelense do conflito. Aos poucos a mulher se introduz numa organização de direitos humanos na Cisjordânia e torna-se agente de um serviço de inteligência israelense.

Um ano depois, a agente participa de reuniões com membros do Hamas que contam como usam e operam as organizações sociais e de direitos humanos para angariar fundos, inclusive o BDS, e a estreita  ligação  do grupo terrorista com a Irmandade Muçulmana na Europa.

“Tudo foi muito complicado, usamos câmaras escondidas e precisávamos garantir que nossa agente estivesse segura”, afirma. A série foi produzida com a colaboração da organização Ad Khan, fundada em 2015 por um grupo de oficiais das Forças de Defesa de Israel (FDI) e veteranos da inteligência do exército. A agência conta com agentes infiltrados e já realizou centenas de missões de espionagem com o objetivo de dificultar e obstruir atividades e operações anti-israelenses  cujo financiamento vem de países estrangeiros e de outros organismos antissemitas. A organização é independente e conta com departamentos de pesquisa, jurídico, político e de mídia.

Lógica do Ocidente não é a lógica do Hamas

Cinco dias após o massacre de 7 de outubro, Yehezkeli foi a TV e disse  que não ficou surpreso com a violência, mas com o sucesso obtido pelo Hmas. “Eles romperam todos os muros, as cercas, as câmeras, os programas secretos, o maior projeto de segurança em Israel. Que eles eram cruéis, nós sabíamos, mas não achávamos que eles conseguiriam fazer tudo isso em menos de uma hora."

Avisos, segundo o jornalista, não faltaram. “Mesmo os avisos mais explícitos foram ignorados,” reitera. “Posso mostrar filmes onde eles dizem que vão invadir nossas comunidades, nossas terras, massacrar nossos filhos, se lhes dermos dinheiro e trabalho. E atesta: “A primeira regra do Hamas é a Jihad, e eles a praticam de muitas maneiras. O pensamento ocidental não funciona no Oriente Médio - nem no Iraque, nem no Afeganistão, e não com o Hamas. Pensamos que as muitas concessões fariam o Hamas ficar em silêncio. Nós os subestimamos.”

 Yehezkeli começou na rádio do Exército e ainda jovem trabalhou no canal 1 da TV de Israel. No seu trabalho de jornalismo investigativo entrevistou Yasser Arafat e Mahmoud Abbas, entre outros líderes árabes. Ele recebeu educação laica, mas já adulto se voltou para o judaísmo ortodoxo que pratica fielmente. A guinada se deu depois de uma viagem à Índia quando teve contato com movimento religioso Chabad. Casou com uma jovem ortodoxa e o casal tem 7 filhos.  Apesar de ser uma estrela da TV, com suas análises políticas e produção de documentários,  a família não tem TV em casa.