“O programa de bomba nuclear do Irã está completo” (Reza Kahlili, ex-espião da CIA no Irã)
Al Gore (vice-presidente no governo de Bill Clinton), Ângela Merkel (chanceler alemã), o ator norte-americano Leonardo DiCaprio e a brasileira Marina Silva, então ministra do Meio Ambiente, foram alguns dos guerreiros agraciados pelo empenho no combate ao aquecimento global e suas conseqüências catastróficas - degelo nas calotas polares, enchentes, deslizamentos, maremotos, ciclones, furacões, secas extremas etc que ameaçam o nosso habitat.
Porém, em termos de aniquilamento da raça humana o fato concreto, urgente e inconteste permanece sendo a ameaça nuclear que, fatidicamente, não reina sozinha nessa segunda década do século 21. A proliferação das armas químicas e biológicas é hoje uma realidade inquestionável e em razão desse ambiente inseguro para a humanidade o ponteiro do Relógio do Juízo Final (Doomsday Clock), instituído como um alerta simbólico pelo BAS (Bulletin of Atomic Scientists), foi adiantado em 2012 em mais um minuto.
Experiências nucleares assustam
Estamos, pois, a cinco minutos da meia-noite, horário que marca a destruição nuclear ou o fim da vida como a conhecemos. Criado em 1949 por físicos do “Projeto Manhattan” que desenvolveram a bomba atômica para os EUA (muitos deles ganhadores de prêmio Nobel), o relógio do fim do mundo já posicionou o ponteiro a 2 minutos da meia-noite, em 1953, ano em que os soviéticos realizaram a sua primeira experiência com a bomba de hidrogênio. Meses antes, os Estados Unidos já haviam testado nas Ilhas Marshall, no Oceano Pacífico, o seu dispositivo termonuclear.
Mas, coube mesmo a então União Soviética detonar a maior e mais potente bomba nuclear jamais criada pelo homem: a bomba “Ivan”, ou “Tsar Bomb”, de 50 megatons, experimentada em 1961 no arquipélago Novaya Zemlya, no oceano Ártico, com potência 1.400 vezes mais letal do que as bombas atômicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki, em 1945, que mataram mais de 100 mil civis. Essa superbomba capaz de provocar queimaduras de 3º grau em um raio de 100 quilômetros, danificou janelas e vidraças em cidades da Noruega e Finlândia, situadas a 900 quilômetros do epicentro ou marco zero do lançamento.
Tecnologia aperfeiçoa novas bombas
Décadas depois, em 2007, uma nova bomba com tecnologia avançada foi testada pelos russos, em resposta à bomba norte-americana a vácuo conhecida como MOAB (Massive Ordinace Air Plast Bomb) desenvolvida em 2003. Com poder destrutivo equivalente ao similar nuclear, a nova bomba não causaria danos radioativos. Ao exibir imagens do artefato militar, o “Canal 1” da televisão russa destacou que após a explosão o solo lembrava uma superfície lunar, mas sem a poluição química ou radiativa. “Tudo que é vivo literalmente se evapora”, afirmou.
Quatro vezes mais potente que a bomba norte-americana, a arma russa foi batizada de FOAB ou o “Pai de todas as bombas”, em contraposição à MOAB, também conhecida como a “Mãe de todas as bombas”. Seu lançamento veio acompanhado de um comunicado do Ministério da Defesa da Rússia informando que a fabricação daquela bomba estava fora de qualquer acordo militar internacional assinado pelo país e que a sua finalidade era garantir a segurança do Estado e combater o terrorismo. As bombas a vácuo são especialmente eficazes para destruir bunkers, refúgios subterrâneos, cavernas nas montanhas e edifícios, sendo utilizadas por norte-americanos (no Iraque) e russos (Afeganistão e Chechênia).
Na dança dos números, calcula-se que os EUA e Rússia possuem mais de 26 mil armas nucleares prontas para serem lançadas, apesar de em 2010 o Pentágono ter anunciado que havia reduzido em mais de 80% o seu arsenal atômico desde os tempos da Guerra Fria, em função de acordos de desarmamento e de negociações do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP). Atualmente com 5.113 ogivas prontas para serem usadas, os EUA admitem que ainda há milhares de ogivas que foram “aposentadas” mas ainda não foram desmontadas. Dono do maior arsenal militar do planeta, os EUA prometem reduzir em 5 bilhões de dólares o seu orçamento militar de 2013, que mobiliza cerca de 525 bilhões de dólares.
Comércio de armas aumenta
Em paralelo, estudo elaborado em 2012 pelo Instituto de Pesquisas para a Paz de Estocolmo (Sipri) detectou que o comércio de armas convencionais não estacionou nem diminuiu. Entre 2007 e 2011 houve um aumento de 24% na comercialização dessas peças, principalmente por conta da militarização de países asiáticos como a Índia (a maior importadora de armas), Coreia do Sul, Paquistão, China e Singapura. Os maiores vendedores de armas continuavam sendo os EUA e a Rússia, mobilizando mais de 50% do mercado: o primeiro com 30% das vendas a 75 países e os russos com uma fatia de 23%.
O instituto sueco afirmou ainda que as duas potências prosseguiam no trabalho de modernização de seu sistema de armas nucleares e que o gasto total no setor militar em 2011 havia atingido 1,74 trilhão de dólares. Oito países (EUA, Rússia, Reino Unido, França, China, Índia, Paquistão e Israel) concentravam 4.400 armas nucleares operacionais, com 2 mil aptas para serem usadas em combate a qualquer momento (“Estudo aponta modernização do arsenal nuclear no mundo” – Deutsche Welle, em 6 de junho de 2012).
No tocante às ambições nucleares do Irã e da Coreia do Norte (fatores que em 2007 movimentaram o Relógio do Juízo Final para mais perto da meia-noite e que em 2012 voltaram a ser motivo de preocupação), cientistas do BAS emitiram comunicado alertando para a situação de risco da humanidade. Isso devido ao contínuo desenvolvimento das armas nucleares e as atuais dificuldades de concluir acordos no sentido de cessar a sua produção. Segundo o Conselho de Segurança do BAS existem hoje 19.500 armas nucleares ativas, o suficiente para destruir a Terra várias vezes.
Rússia investe em armas nucleares
Esses constantes avisos, porém, não impedem que nações reservem mais recursos para as áreas militares. O presidente da comissão de Defesa do Parlamento russo, Vladimir Komoedov, anunciou que entre 2013 e 2015 serão investidos 101,15 bilhões de rublos (cerca de 3,2 bilhões de dólares) para reforçar o arsenal nuclear do país, o triplo do que foi gasto em 2012. E para 2015 a previsão dos gastos militares chegará aos 3 trilhões de rublos (cerca de 96 bilhões de dólares), grande parte destinada à Força de Mísseis Estratégicos (FME). Exemplo dessa diretriz é a entrada em atividade nos primeiros dias de 2013 do mais moderno submarino nuclear russo já construído, com capacidade para transportar 16 mísseis balísticos intercontinentais de alcance de mais de 8 mil quilômetros.
Autoridades da Rússia explicam que a construção de mísseis nucleares é necessária “para manter o equilíbrio estratégico no confronto geopolítico com os Estados Unidos.” Segundo o porta-voz do ministério da Defesa, coronel Vadim Koval, “o desenvolvimento do programa americano antimíssil global e a implantação do conceito de Ataque Global Imediato estimulam as Forças Armadas russas a buscar uma resposta assimétrica.” (“Rússia irá reforçar o seu escudo nuclear” – Gazeta Russa, em 14 de novembro de 2012).
Um argumento contestado pela historiadora Marina Kalashnikova, dissidente russa que acusa o governo de ter ficado de fora de quase todas as convenções internacionais que restringem a expansão de seu poderio militar. “A ideia da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte que reúne 28 países) de intimidação pela posse de armamento nuclear não significa absolutamente nada para os generais russos", escreve Kalashnikova. "Ao contrário dos seus homólogos ocidentais, eles não têm medo das grandes perdas militares e civis. Isso já era verdade na época de Stalin. Perdas não afetam a popularidade dos governantes do Kremlin..." E alerta: “O equilíbrio estratégico não funciona e nunca funcionou. Os militares russos de hoje não são mais fracos do que os da URSS e em algumas áreas ultrapassam os militares soviéticos” (Em 2002 foi criado o Conselho OTAN – Rússia para inserir o país na aliança militar).
Kremlin ajuda programa de mísseis chineses
A historiadora também denuncia o Kremlin por ativar uma rede de extremistas do Terceiro Mundo; formar alianças com forças e regimes ditatoriais para expandir sua influência; e de estar por trás do ataque de 11/9, ao citar a frase de um funcionário da OTAN sobre o papel da al-Qaeda e Bin Laden na ação terrorista: “Isso (o ataque de 11/9) está além de suas capacidades intelectuais”. A dissidente que teve sua casa em Moscou arrombada, documentos roubados e permaneceu detida numa clínica psiquiátrica por 35 dias, mudou-se para Berlim com o marido Viktor, um ex- oficial da KGB (agência de inteligência soviética), em setembro de 2010, e três meses depois ambos foram internados em um hospital com suspeita de envenenamento. Exames confirmaram que os dois tinham uma concentração de mercúrio no sangue 25 vezes acima do normal (“Um alerta de Marina Kalashnikova”, por Jeffrey Nyquist, em 2 de março de 2010).
Estudioso de geopolítica e escritor político, o norte-americano Jeffrey Nyquist já havia afirmado, no final da década de 1990, que “altas lideranças da al-Qaeda são, na verdade, agentes russos”. Formado em sociologia política pela Universidade da Califórnia, Nyquist foi colunista do site de notícias WorldNetDaily (WND), um dos mais acessados em todo mundo e publicou a obra “As Origens da Quarta Guerra Mundial”. Ele defende uma posição mais agressiva dos EUA em relação à Rússia e enumera os motivos: a potência do Leste vem sucessivamente aumentando o seu arsenal nuclear; dá apoio e contribuição tecnológica aos sistemas de mísseis chineses; e está aliada à China no patrocínio de países de regimes repressivos (Coreia do Norte, Irã, Síria, Cuba e Venezuela, entre outros).
Considerado ultradireitista em suas opiniões, Nyquist critica a discreta repercussão na imprensa de denúncias de dissidentes, muitos deles eliminados pouco tempo depois de se manifestarem. E cita a frase de um agente aposentado da KGB: “Ninguém é mais fácil de comprar do que um jornalista ocidental.”
Apoio nuclear ao Irã
Simultaneamente à evolução e expansão de tecnologia nuclear para uso próprio, a Rússia vem mantendo convênios de cooperação nesta área com o Irã desde 1995. Em 2010, a primeira usina nuclear iraniana iniciou as suas operações com combustível fornecido pela Rússia. Localizada no sul do país, a usina nuclear de Bushehr foi concluída pelos russos e nesse início de 2013 ligada à rede de energia nacional, operando em plena capacidade.
Apesar de o governo do Irã negar que faça uso da energia nuclear para construção de bombas, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) anunciou, em novembro de 2012, que a capacidade iraniana de produzir urânio a 20% - usado para fins militares, já que o percentual de pureza necessário para o uso energético é de 3,5% - iria aumentar de 15 kg a 25 kg mensais, após a instalação de mais mil centrífugas na usina subterrânea de Fordow. Meses antes, relatório divulgado pelo “Institute for Science and International Security” (ISIS), de Washington, dava conta de que o Irã estava mais perto de obter a quantidade de urânio indispensável para montar uma arma nuclear.
De acordo com o estudo, a usina de enriquecimento de urânio de Natanz, com 10 mil centrífugas, levaria de dois a quatro meses para acumular 25 Kg de urânio enriquecido a 90% necessários para fabricar uma bomba nuclear. Para o presidente do ISIS e um dos autores do relatório, David Albright, de posse do material Teerã disporia de um artefato nuclear no prazo de oito a dez meses.
Uma hipótese não descartada por Moscou pelo que se apreende das palavras do ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergéi Lavror, durante encontro da CICA (Conferência sobre Interação e as Medidas de Confiança na Ásia), em setembro de 2012. A CICA tem 24 países-membros - entre eles Rússia, China, Índia, Paquistão, Irã, Israel, Egito, territórios palestinos, Turquia, Iraque, e Jordânia – e não-membros como Coreia do Norte, Líbano e Síria, e foi instituída em 1999 como um fórum entre governos de países da Ásia para o fomento da paz, segurança e estabilidade na região.
Na ocasião, o diplomata destacou o programa nuclear iraniano como uma das questões mais urgentes a serem debatidas e negociadas pela comunidade internacional: “O Exército e a Marinha do Irã já possuem mísseis táticos capazes de atingir instalações navais e terrestres dos EUA na região”, disse. Unidades e equipamentos de infraestrutura, portos, usinas de dessalinização de água também podem ser atacados pelo Irã, acrescentou. O chefe da diplomacia russa citou a possível ajuda que o Irã pode receber de aliados como o Hezbollah libanês, a milícia xiita Exército de Mahdi (Iraque) e de organizações fundamentalistas islâmicas do Afeganistão (Talibãs), Iêmen e Barein.
Um recado em tom de ultimato que se desdobra nesse início de 2013. Em artigo veiculado no site de notícias WND, em 7 de janeiro (“Iran's nuclear bomb program complete”), um ex-agente da CIA (Central Intelligence Agency) que atuou infiltrado na Guarda Revolucionária do Irã, de pseudônimo Reza Kahlili, afirma que o programa iraniano de construção de uma bomba nuclear está completo. Segundo Kahlili, sua fonte tem acesso ao programa nuclear iraniano e confirmou que o Irã finalizou com sucesso uma bomba nuclear com a ajuda da Rússia e da Coreia do Norte, em uma das instalações desconhecidas pelos inspetores da AIEA, na cidade de Khondab. O local fica no interior de uma montanha, com centrífugas e laboratórios, e é imune a ataques aéreos. Há 60 especialistas trabalhando sob a supervisão de quatro cientistas russos e três norte-coreanos. Armas biológicas também estão sendo desenvolvidas pelos iranianos.
Reza Kahlili nasceu em Teerã, foi agente da CIA nas décadas de 1980 e 1990, escreveu o livro de memórias “A Time to Betray” (Tempo de Trair), publicado em 2010, e vive escondido em algum lugar da Califórnia.
Armas nucleares nas mãos de terroristas
Em 2012, meses antes das Olimpíadas de Londres, o jornal britânico “The Daily Telegraph” publicou uma reportagem acusando o Irã de estar ampliando sua parceria com a rede terrorista al-Qaeda, oferecendo financiamento e treinamento a seus membros. A informação partiu de especialistas em segurança e risco político que temiam algum tipo de ataque durante o evento.
Um ano antes, os EUA já tinham denunciado formalmente o Irã de se aliar à al-Qaeda, permitindo que a rede utilizasse o solo iraniano para levar armas, dinheiro e combatentes às suas bases no Afeganistão e no Paquistão. A notícia publicada pelo “The Wall Street Journal” informava que o Departamento do Tesouro americano havia detectado uma operação de angariação de fundos para as atividades da al-Qaeda, envolvendo centenas de milhares de dólares. Os recursos provenientes de doações de países do Golfo Pérsico, principalmente do Kuwait e Catar, eram operados por agentes da al-Qaeda baseados no Irã (“U.S. Sees Iranian, al Qaeda Alliance”, em 29 de julho de 2011).
Mas, a suspeita de que a al-Qaeda possa ter armas nucleares não é recente. Em 1999, o cientista político Yossef Bodansky, ex-diretor do Centro contra terrorismo do congresso dos EUA e autor de vários livros sobre o tema, afirmou que sim. Seu colega Paul L. Williams, ex-consultor do FBI sobre crime organizado e terrorismo, autor do livro “Al Qaeda Connection” também acha possível. Ambos os especialistas sugerem que a rede terrorista adquiriu armas nucleares de fabricação soviética dos chechenos. “Em 1995”, conta Williams, “os chechenos plantaram uma bomba radiológica no Izmailovsky Park, perto de Moscou. A bomba foi feita de césio-137 e, se tivesse sido detonada, poderia ter matado milhares de russos. Este incidente representa o primeiro caso de uma bomba nuclear a ser implantada como uma arma de terror”, afirma. William ainda relata que depois da guerra as armas foram vendidas a al-Qaeda e agentes britânicos infiltrados em campos de treinamento da organização no Afeganistão, em 2000, viram armas nucleares sendo fabricadas.
Bombas compradas no varejo
O que vai ao encontro das afirmações do então braço direito de Osama Bin Laden e atual chefe da organização, Ayman al-Zawahiri, semanas depois do atentado de 11/9. Em entrevista ao jornalista paquistanês Hamid Mir, ele teria dito: ”Senhor Mir, se você tem 30 milhões de dólares, vá o senhor ao mercado negro da Ásia Central, ponha-se em contato com um cientista soviético descontente e lhe asseguro que ele lhe dará dezenas de valises de bombas inteligentes.” A revelação foi feita pelo jornalista em um programa da TV australiana, em 2004. Segundo Mir, que foi o único repórter a entrevistar os terroristas após o ataque aos EUA, Zawahiri ainda explicou: “Eles entraram em contato conosco. Nós enviamos nosso pessoal para Moscou, Tashkent (capital do Uzbequistão) e outros países asiáticos. Nosso pessoal negociou e comprou algumas bombas pequenas.”
Cinco anos depois, Mir voltou ao tema e falou para o site de notícias WND sobre o seu encontro, dias antes, com um engenheiro egípcio que tinha perdido um olho depois de participar de um teste nuclear da Al-Qaeda, na província de Kunar, no Paquistão (“ ‘American Hisoshima’ linked with Iran Attack”, em 28.04.2006). O jornalista contou que ficou perturbado e deprimido com o encontro porque o engenheiro teria dito que o pesadelo nuclear estava chegando à América. “O American Hiroshima, nome que os líderes da al-Qaeda escolheram para o plano de ataque aos EUA, irá acontecer em breve, tão logo que os norte-americanos lancem um ataque às instalações nucleares do Irã”, falou Mir.
Trabalhando como âncora do canal de notícias Geo News, na capital paquistanesa, Hamid Mir escapou de um atentado terrorista em novembro do ano passado, quando uma bomba foi deixada em seu carro, embaixo do assento.
Chefe da al-Qaeda recebeu treinamento na Rússia
Reforçando a ideia de ligação da al-Qaeda com o regime russo, um ex-tenente-coronel da FSB (a agência de informações que substituiu a KGB), Alexander Litvinkenko, declarou publicamente que o médico egípcio Ayman al-Zawahiri, chefe da al–Qaeda e o primeiro da lista do FBI (Federal Bureau of Investigation) de terroristas procurados, foi treinado pela FSB na Rússia. Autor do livro “Explodindo a Rússia:Terror Doméstico” que acusa agentes russos por atos de terrorismo em Moscou e de culparem indevidamente os chechenos, Litvinkenko desertou e pediu asilo político na Inglaterra, em 2000.
Seis anos depois, aos 41 anos, ele morreu misteriosamente, provavelmente envenenado, depois de tomar chá com três compatriotas em um hotel de Londres. O governo russo negou qualquer envolvimento, mas segundo Jeffrey Nyquist “privadamente, autoridades britânicas admitiram ter sido o Kremlin que enviou os assassinos que envenenaram Litvinenko com material radiativo polônio-210, em novembro de 2006”. O ex-militar falava abertamente que Vladimir Putin, presidente da Rússia e ex-agente dos serviços secretos (KGB) era o terrorista mestre por trás da al-Qaeda.
Apesar do paradeiro de al-Zawahiri não ser conhecido, supõe-se que ele esteja abrigado em terras das fronteiras do Afeganistão e Paquistão. O exército paquistanês, temeroso de que ações terroristas possam ser executadas em seu território, anunciou uma mudança de foco em relação à segurança nacional. A partir de 2013, grupos extremistas, principalmente a al-Qaeda – e não mais a Índia, o principal inimigo externo – estão estabelecidos como a mais grave ameaça ao país a ser combatida.
No Iraque, o braço da al-Qaeda que se intitula “O Estado Islâmico do Iraque (ISI)” tem atuado sistematicamente. Em 2012, o grupo desfechou 31 ataques terroristas matando mais de 400 pessoas durante o mês sagrado dos muçulmanos, o Ramadã. Na guerra civil da Síria, a inquietação é com a possibilidade da rede terrorista se apossar das armas químicas. Em pronunciamento à rede norte-americana de TV CNN, o rei Abdullah da Jordânia externou a sua preocupação de que armas químicas estocadas pelo governo sírio possam acabar nas mãos da al-Qaeda.
Brigadas da al-Qaeda na Síria
No fim do ano passado, o representante do principal grupo opositor do governo sírio no exílio, Burhan Ghalioun, que então presidia o Conselho Nacional Sírio (CNS), esteve em a Trípoli para pedir ajuda para os rebeldes que lutavam na Síria. O Pravda informou que Ghalioun encontrou-se com dois antigos líderes da al-Qaeda, Abdelhakeem Belhaj e Mahdi Al Harati, que atualmente ocupam importantes cargos no novo governo pós-Kadafi. Na reunião, o representante do principal grupo da oposição síria no exterior, com sede na Turquia, pediu armamentos e voluntários. Segundo o jornal russo, “armas foram enviadas dos estoques do então exército de Muamar Kadafi e brigadas revolucionárias de milicianos salafitas foram transferidas.” Os salafitas são muçulmanos que defendem a “sharia” (leis islâmicas) como fonte de legislação dos Estados e a al-Qaeda mantém brigadas destes jihadistas em suas formações.
De acordo com a emissora “Voz da Rússia” existe um receio de que em Damasco, em substituição ao regime de Assad, possam alcançar o poder grupos extremistas. “O fato da al-Qaeda estar presente na Síria foi confirmado também pelo premiê de Israel Benjamin Netanyahu, em reunião do governo israelense”, informou a rádio, em 19 de janeiro. A al-Qaeda é a responsável pelo ataque às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, e ao prédio do Pentágono, nos arredores de Washington, ocorridos em 11 de setembro de 2001 (11/9). Foram sequestrados quatro aviões com tripulantes e passageiros para os ataques, sendo que um deles caiu em um campo na Pensilvânia. No total foram 2.996 mortos e mais de 6 mil feridos.
Al-Qaeda avança para a África
Mas, os radicais islâmicos da al-Qaeda não estão circunscritos ao Oriente Médio. Um dos ramos desta rede transnacional é a al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQIM), com seu quartel-general na Argélia, que vem atuando nas terras desérticas do norte e oeste da África, principalmente na República do Mali, com o apoio do Irã. O objetivo é derrubar o governo daquele país e instalar um regime fundamentalista aos moldes do iraniano.
Desde o início de 2012 os extremistas islâmicos controlam as cidades do norte de Mali e diante da possibilidade da ex-colônia francesa ser tomada pelos insurgentes, o presidente da França Francois Hollande tomou a decisão de enviar tropas àquele país. O dirigente francês acredita que se nada for feito para impedir o avanço dos extremistas, a região vai se tornar uma base de lançamento para ataques terroristas contra o Ocidente, com a al-Qaeda se expandindo para o Iêmen, Somália e Mauritânia.
E o recente ataque, sequestro e morte de reféns em uma usina de extração de gás na Argélia (a 100 quilômetros da fronteira líbia) comprovam a disposição da rede terrorista e de seus afiliados de avançarem pela África. Há dois anos, o governo espanhol se dispôs a pagar 5 milhões de dólares aos salafitas da al-Qaeda no Magreb Islâmico pela libertação de três funcionários catalães da organização não governamental “Barcelona Acción Solidaria”. Eles foram sequestrados na Mauritânia, sendo posteriormente transferidos para o norte de Mali.
O Magreb (poente, em árabe) islâmico é identificado geralmente com a parte ocidental da África do Norte (conhecida como África branca) e inclui o Marrocos, Saara Ocidental (ex-colônia espanhola invadida pelo Marrocos), Argélia, Tunísia, Líbia, Mauritânia e as ilhas espanholas Ceuta e Mellila, no Mediterrâneo, perto da costa de Marrocos.
Irã envia recursos ao Hezbollah
O Irã também vem ajudando com recursos e armamentos, desde a década de 1980, a milícia xiita libanesa Hezbollah, detentora de um longo histórico de atos terroristas. Especialistas acreditam que Teerã envia anualmente 200 milhões de dólares para o grupo extremista que está ligado ao regime sírio de Bashar al-Assad. Em entrevista à rede britânica de rádio e televisão BBC, em 2009, a professora Amal Saad-Ghorayeb, estudiosa do Hezbollah, assim definiu o grupo: “O Hezbollah é libanês, seus membros são árabes xiitas, mas sua ideologia e modelo seguem o Irã.”
Na mesma linha de pensamento, o professor Fares Ishtay, do departamento de Ciência Política da Universidade do Líbano afirmou que o Hezbollah é uma frente iraniana na região, mas que já criou estrutura própria. Fontes do Pentágono calculam que o grupo xiita libanês tem atualmente 50 mil mísseis e foguetes, graças ao reforço militar da Síria à organização. Na guerra civil na Síria, o governo de Assad tem tido o apoio de mais de 5 mil militantes do Hezbollah e teme-se que o grande arsenal de armas químicas do país possa também ser transferido de alguma forma para esse grupo terrorista.
O Hezbollah surgiu a partir da revolução iraniana (1979), com o objetivo de criar um governo no Líbano regido por leis islâmicas similar ao regime de Teerã. Apoiado pelas forças iranianas, o grupo foi responsável por ataques terroristas nas décadas de 1980 e 1990 às embaixadas norte-americanas no Irã, no Líbano e no Kwait, com mais de 100 mortos. Também sequestrou aviões comerciais, jornalistas e professores universitários; utilizou-se de caminhões-bomba para destruir quartéis em Beirute, resultando em centenas de mortos; praticou atentados em Paris, explodiu a embaixada de Israel em Buenos Aires, em 1992 (29 mortos e 249 feridos) e a sede da associação judaica argentina (AMIA), em 1994, matando 85 pessoas e ferindo 300.
Entre os indiciados pelos ataques apontados pela justiça da Argentina está o atual ministro da Defesa do Irã, Ahmad Vahidi, que na época era o comandante da Força Quds, uma divisão especial da Guarda Revolucionária do Irã cuja missão é organizar, treinar, equipar e financiar organizações militares islâmicas clandestinas em todo o mundo para a prática de ações terroristas.
Reação é vista como intervenção
O Ocidente vai respondendo a esses atentados violentos de forma reativa, com os governos arregimentando suas forças policiais e militares a cada ataque perpetrado. Os EUA, um dos alvos prioritários do terror, têm procurado se antecipar e abortar esses atos em seu território fazendo uso de avançados serviços de informação e de rígidas medidas de segurança. A mobilização e o envio de tropas norte-americanas e de seus aliados europeus a países da Ásia e África corroídos por conflitos internos de raiz religiosa geralmente cobram um preço demasiado alto em termos de perda de vidas, gastos públicos e críticas de intervencionismo.
Lênin, líder da revolução russa de 1917, chamava os atentados terroristas de “propaganda armada”. De certa forma, o terrorismo vende suas ideias ou ideologias utilizando os argumentos mais vis e imorais ao seu alcance. Seu objetivo é introduzir o medo, a incerteza, a sensação de fragilidade e impotência no coração dos homens, atiçando e fomentando a violência e o ódio como fórmula escabrosa de política. “Ataques terroristas imitam os golpes arbitrários da natureza”, compara Susan Neiman, filósofa norte-americana, ao analisar o 11/9. “Como os terremotos, os terroristas atacam aleatoriamente: quem sobrevive e quem morre dependem de contingências que não podem ser merecidas ou evitadas.”
Por outro lado, a inércia e a dubiedade respaldadas por uma aparente política estratégica tendem a se transmutarem em omissão criminosa e não podem ser justificadas. Neiman explica que uma das principais consequências do terror é a destruição das próprias distinções morais. As vítimas transformadas em cúmplices, embaraçadas por sentimentos de possíveis culpas e injustiças praticadas anteriormente que determinariam os atos de seus algozes. Legitimando, no final das contas, ideologias fundamentalistas que instigam aos assassinatos e às guerras. Um impasse moral que a política das nações tem se mostrado incapaz de enfrentar nesse jogo de retranca das civilizações. O que nos leva a crer, nesse início de 2013, que estamos sós, lamentavelmente sós. A humanidade refém de mentiras, trapaças e ameaças, à mercê do apocalipse nuclear.