linha cinza

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segunda-feira, 20 de julho de 2009

Saudades



Minha saudade maior
vem de tudo que não vivi.
Das terras que não visitei,
das pessoas que não conheci.
Mais que lembrança,
passado é herança.

Viver existindo
sem risco ou gasto,
só sobre o contado,
não vale um vintém furado.
Até a paixão e a loucura,
recontadas,
viram sentimentos comportados.

Vou mudar o curso do rio,
me tornar pescador
da alma incontida.
Como um peixe trazê-la na rede
à tona do dia.

Usar por arte e ofício
a espada do esgrimista,
pois nas escaramuças da vida
não se brinca em serviço.

Vide Herzl na Suíça
se indispor com a escrita:
tanta viagem não é sina,
é costume, é vício.

Vou arrumar as malas,
voltar de vez para a casa,
mesmo sabendo que uma pátria
não se recebe em salva de prata.

Mas chega de conversa fiada,
a hora é de cair na estrada.
Desafio é desfazer o nó da gravata,
sair porta afora,
romper as amarras.

Ser lavrador sentinela
em um kibutz na Galiléia,
ensinar a mão europeia
o manejo do martelo.

Virar pioneiro na terra
que de certo
só a voz do Eterno.
Dar as costas ao bom senso
que diz que o conforto
é o anseio do corpo.

Participar da odisseia
de florir de rosas o deserto.
Acreditar em mil outras loucuras
que a razão não permite
mas que em Israel é possível
porque a Aliança
existe.

Ter em mim a certeza
de que a vida é uma trajetória ascendente.
No ponto em que eu parar

outro irá começar.