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terça-feira, 23 de julho de 2024

Oriente Médio: Terrorismo e nacionalidade sob a mesma bandeira

 Sheila Sacks


Se quem nasce no Brasil é brasileiro, na França é francês, na Espanha é espanhol, na Alemanha é alemão, na Faixa de Gaza e Cisjordânia a nacionalidade está configurada no Hamas. Pesquisa divulgada em 13 de junho pelo Centro Palestino para Pesquisas Políticas e de Opinião (PSR, na sigla em inglês), sediado em Ramallah (Cisjordânia), mostra que 67% dos palestinos acham que o ataque de 7 de outubro foi uma decisão correta: 73% na Cisjordânia e 57% na Faixa de Gaza.

A pesquisa ocorreu entre 26 de maio e 1º de junho, com 64% dos entrevistados se dizendo satisfeitos com o desempenho do Hamas e considerando que o grupo terrorista será o vencedor da guerra (67% contra 11% a favor de Israel).  Para a esmagadora maioria dos palestinos, cerca de 97%, Israel é quem cometeu crimes de guerra, enquanto minguados 9% apontam o Hamas. 

A agência Reuters postou  uma pequena nota sobre a pesquisa em sua plataforma digital , mas uma análise mais apurada foi divulgada pelo instituto israelense Palestinian Media Watch (PMW). A entidade, fundada em 1996 por Itamar Marcus, tem como foco a investigação da sociedade e da política palestina, com destaque para o conteúdo dos livros escolares e didáticos fornecidos às crianças palestinas.

Assim, ficamos sabendo que para 71% dos palestinos, o Hamas – que controla a Faixa de Gaza desde 2007 -  continuaria a governar após a guerra, e seu líder, Ismail Haniyeh, teria 46% dos votos contra 5%  de Mahmoud Abbas, da Autoridade Palestina, que devia renunciar, de acordo com 89% dos entrevistados.

Segundo Marcus, nascido em Nova York e radicado em Israel, o instituto tem uma equipe de onze pesquisadores especialistas da língua árabe que pesquisam e monitoram diariamente os jornais, programas de TV e rádio, sites e redes sociais, e também livros escolares controlados pela Autoridade Palestina.

Periodicamente são enviados a autoridades e órgãos governamentais de diversos países, organizações de direitos humanos e à mídia em geral, relatórios que expõem as atividades e mensagens de ódio e terror promovidas pelas lideranças palestinas.

Ainda de acordo com o Jerusalem Post que repercutiu a pesquisa, 1.570 adultos responderam pessoalmente as perguntas, dos quais 760 na Cisjordânia e 750 no centro e sul da Faixa de Gaza.

O foco é destruir Israel


Em artigo veiculado pela agência americana Associated Press (AP), logo após o massacre de 7 de outubro, o correspondente para o Oriente Médio, Joseph Krauss, lembrou que desde a criação do Hamas, no final da década de 1980, quando do início da primeira intifada (1987), o grupo terrorista tem se empenhado na luta armada e na destruição de Israel.

Durante todo processo de paz que culminou com o Acordo de Oslo, em 13 de setembro de 1993, escreve o jornalista, o Hamas ignorou as tratativas para por fim aos conflitos e executou dezenas de atentados suicidas que mataram centenas de civis israelenses. “Com o colapso das negociações de paz e a segunda intifada, em 2000, a violência se intensificou, mas em 2005, quando Israel retirou unilateralmente seus soldados e 8 mil colonos israelenses de Gaza, o Hamas aproveitou-se do fato politicamente, reivindicando para si a retirada, e ganhou as eleições, tirando do poder a Autoridade Palestina”,explica.

Krauss observa que ao longo de 16 anos de domínio em Gaza, quatro guerras (2008/2009, 2012, 2014 e 2021) e incontáveis conflitos que devastaram a estreita faixa costeira de 40 quilômetros situada entre Israel e o Egito, o Hamas se tornou cada vez mais armado, lançando foguetes de longo alcance, e internamente, mais popular, organizando um governo com ministérios, forças policiais e terminais de fronteira com detectores de metais e controle de passaportes.

Hamas recruta jovens para prosseguir na guerra


Recente reportagem do Jerusalem Post (23/6/2024) alertava para o possível retorno do Hamas à cidade de Khan Yunis, no sul de Gaza, e de um novo recrutamento de jovens palestinos – que poderia chegar a 20 mil -  pelo grupo terrorista. A informação, segundo o jornal, foi confirmada por “múltiplas fontes”, apesar das Forças de Defesa de Israel  (IDF, na sigla em ingês) não validarem a informação. 

Apesar de não estar mais operando em batalhões, calcula-se que ainda existem de 5 mil a 10 mil homens do Hamas atuando em células menores. A reportagem  afirma que de 14 a 16 mil terroristas integrantes dos batalhões do Hamas foram mortos (com um número semelhante de feridos), e 4 mil estão presos. O exército israelense se retirou da cidade em 7 de abril e considera que qualquer outra força do Hamas não contaria com o aparato de túneis estratégicos, locais de fabricação de armas, explosivos, foguetes e drones, bases para comunicação e coordenação de operações.

Vinte dias depois da reportagem, em 12 de julho, durante uma operação em Tel el-Awa, no norte de Gaza, perto do Hospital Shifa ( onde o Hamas estabeleceu um importante centro de comando neutralizado em março pelo exército israelense),as Forças de Defesa descobriram uma base de recrutamento e treinamento do Hamas funcionando no prédio da UNRWA ( Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio). No local também encontraram oficinas para construção de drones e explosivos, e nos arredores, um curso para fabricação de foguetes escondido em uma universidade.

Nesse novo método de recrutamento o grupo terrorista usa o desastre humanitário em Gaza do qual é o principal causador como a principal motivação para arregimentar civis, inclusive crianças, para que aprendam a construir armas. O Hamas também estaria se utilizando de casas semidestruídas para esconder armas, esperando que os militares não retornem aos locais.

Na Cisjordânia, o Hamas igualmente atua aliciando jovens para realizar ataques a Israel. Manchete do Times of Israel (21/7) informa que o Shin Bet, serviço secreto israelense, abortou um ataque terrorista a ser executado por uma célula estudantil do Hamas na Universidade Bir Zeit, em Ramallah, sob as ordens de membros do grupo terrorista baseado na Turquia. Cinco universitários foram presos, um fuzil M16 foi confiscado e milhares de dólares para a compra de armas, provenientes do Hamas da Turquia, foram apreendidos. Desde 7 de outubro, as Forças de Defesa de Israel já prenderam, na Cisjordânia, 4.400 pessoas envolvidas em atos terroristas, sendo 1.850 afiliadas ao Hamas.

Em Gaza, não há casa sem túnel”

Para tipificar até que ponto o Hamas se integra à sociedade civil na Faixa de Gaza, o comandante da Brigada Nahal das IDF, Coronel Yair Zuckerman, afirma incisivo: “Não há casa sem túnel.” A Brigada atua em Rafah, no sul de Gaza, desde maio, com quatro batalhões de combate e unidade médica. “Rafah está abarrotada de túneis, só nos últimos dias (junho) encontrei 17”, enfatiza o coronel.

Ele explica que os túneis se conectam às casas vizinhas em um sinuoso labirinto. As entradas ficam ocultas atrás de portas de armários que por sua vez escondem paredes de concreto.  Zuckerman fala das dificuldades encontradas nos combates diários.  “As casas estão repletas de explosivos com fios que podem ser detonados à distância. Uma batalha onde os soldados lutam acima e abaixo do solo”, assinala. Na semana anterior à entrevista, um prédio em Rafah havia explodido matando quatro soldados israelenses.

Em razão da situação em Gaza e o aumento dos ataques do Hezbollah, a partir do Líbano - que lançou na última semana 160 foguetes no período de 24 horas -, o Parlamento israelense (Knesset) aprovou, em primeira leitura (16/7), estender o serviço militar de 32 para 36 meses, até 30 de junho de 2029.

Outra decisão, esta da Suprema Corte de Israel, liberou a convocação de judeus ultraortodoxos (Haredim) para servir nas Forças Armadas. Até então, eles estavam isentos do Serviço Militar.

Crimes contra a humanidade


Em um relatório de 236 páginas, a organização internacional Human Rights Watch, com sede em Nova York, denunciou em 17 de julho, após meses de averiguações, o grupo terrorista Hamas, e pelo menos quatro outros grupos armados aliados, de cometeram crimes de guerra e crimes contra a humanidade no massacre de 7 de outubro  em Israel.

“Os governos com influência sobre os grupos armados devem pressionar pela libertação urgente dos reféns civis, um crime de guerra em andamento, e para que os responsáveis ​​sejam levados à justiça”, diz o relatório.

A diretora de crise e conflito da Human Rights Watch, Ida Sawyer, afirma que os dados da pesquisa revelam  que o ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro foi projetado para matar civis e tomar o máximo de pessoas possível como reféns. Entre outubro de 2023 e junho de 2024, a organização entrevistou 144 pessoas, incluindo 94 israelenses e outros cidadãos que testemunharam o ataque de 7 de outubro, familiares das vítimas, socorristas e especialistas médicos. Os pesquisadores também verificaram e analisaram mais de 280 fotografias e vídeos tirados durante o ataque e publicados nas redes sociais ou compartilhados diretamente com a instituição.

Fundada em 1978, a organização investiga, relata abusos e publica relatórios internacionais voltados para governos, empresas e grupos decisórios,  com denúncias de violações de direitos humanos. Em sua plataforma, a ONG informa que reúne 550 profissionais de 70 nacionalidades,  entre advogados, jornalistas e ativistas que trabalham para proteger civis em tempo de guerra,  crianças necessitadas, minorias vulneráveis e refugiados. Em 1997, pela sua reconhecida atuação, ganhou o Prêmio Nobel da Paz.