Sheila Sacks
Se quem nasce no Brasil é brasileiro, na França é francês, na Espanha é
espanhol, na Alemanha é alemão, na Faixa de Gaza e Cisjordânia a nacionalidade
está configurada no Hamas. Pesquisa divulgada em 13 de junho pelo Centro
Palestino para Pesquisas Políticas e de Opinião (PSR, na sigla em inglês),
sediado em Ramallah (Cisjordânia), mostra que 67% dos palestinos acham que o
ataque de 7 de outubro foi uma decisão correta: 73% na Cisjordânia e 57% na
Faixa de Gaza.
A pesquisa ocorreu entre 26 de maio e 1º de junho, com 64% dos
entrevistados se dizendo satisfeitos com o desempenho do Hamas e considerando
que o grupo terrorista será o vencedor da guerra (67% contra 11% a favor de
Israel). Para a esmagadora maioria dos
palestinos, cerca de 97%, Israel é quem cometeu crimes de guerra, enquanto
minguados 9% apontam o Hamas.
A agência Reuters postou uma
pequena nota sobre a pesquisa em sua plataforma digital , mas uma análise mais
apurada foi divulgada pelo instituto israelense Palestinian Media Watch (PMW).
A entidade, fundada em 1996 por Itamar Marcus, tem como foco a investigação da
sociedade e da política palestina, com destaque para o conteúdo dos livros
escolares e didáticos fornecidos às crianças palestinas.
Assim, ficamos sabendo que para 71% dos palestinos, o Hamas – que
controla a Faixa de Gaza desde 2007 -
continuaria a governar após a guerra, e seu líder, Ismail Haniyeh, teria
46% dos votos contra 5% de Mahmoud
Abbas, da Autoridade Palestina, que devia renunciar, de acordo com 89% dos
entrevistados.
Segundo Marcus, nascido em Nova York e radicado em Israel, o instituto
tem uma equipe de onze pesquisadores especialistas da língua árabe que
pesquisam e monitoram diariamente os jornais, programas de TV e rádio, sites e
redes sociais, e também livros escolares controlados pela Autoridade Palestina.
Periodicamente são enviados a autoridades e órgãos governamentais de
diversos países, organizações de direitos humanos e à mídia em geral,
relatórios que expõem as atividades e mensagens de ódio e terror promovidas
pelas lideranças palestinas.
Ainda de acordo com o Jerusalem Post que repercutiu a pesquisa, 1.570
adultos responderam pessoalmente as perguntas, dos quais 760 na Cisjordânia e
750 no centro e sul da Faixa de Gaza.
O foco é destruir Israel
Em artigo veiculado pela agência americana Associated Press (AP), logo
após o massacre de 7 de outubro, o correspondente para o Oriente Médio, Joseph
Krauss, lembrou que desde a criação do Hamas, no final da década de 1980,
quando do início da primeira intifada (1987), o grupo terrorista tem se
empenhado na luta armada e na destruição de Israel.
Durante todo processo de paz que culminou com o Acordo de Oslo, em 13 de
setembro de 1993, escreve o jornalista, o Hamas ignorou as tratativas para por
fim aos conflitos e executou dezenas de atentados suicidas que mataram centenas
de civis israelenses. “Com o colapso das negociações de paz e a segunda
intifada, em 2000, a violência se intensificou, mas em 2005, quando Israel
retirou unilateralmente seus soldados e 8 mil colonos israelenses de Gaza, o
Hamas aproveitou-se do fato politicamente, reivindicando para si a retirada, e
ganhou as eleições, tirando do poder a Autoridade Palestina”,explica.
Krauss observa que ao longo de 16 anos de domínio em Gaza, quatro
guerras (2008/2009, 2012, 2014 e 2021) e incontáveis conflitos que devastaram a
estreita faixa costeira de 40 quilômetros situada entre Israel e o Egito, o
Hamas se tornou cada vez mais armado, lançando foguetes de longo alcance, e
internamente, mais popular, organizando um governo com ministérios, forças
policiais e terminais de fronteira com detectores de metais e controle de
passaportes.
Hamas recruta jovens para prosseguir na guerra
Recente reportagem do Jerusalem Post (23/6/2024) alertava para o
possível retorno do Hamas à cidade de Khan Yunis, no sul de Gaza, e de um novo
recrutamento de jovens palestinos – que poderia chegar a 20 mil - pelo grupo terrorista. A informação, segundo
o jornal, foi confirmada por “múltiplas fontes”, apesar das Forças de Defesa de
Israel (IDF, na sigla em ingês) não
validarem a informação.
Apesar de não estar mais operando em batalhões, calcula-se que ainda
existem de 5 mil a 10 mil homens do Hamas atuando em células menores. A
reportagem afirma que de 14 a 16 mil
terroristas integrantes dos batalhões do Hamas foram mortos (com um número
semelhante de feridos), e 4 mil estão presos. O exército israelense se retirou
da cidade em 7 de abril e considera que qualquer outra força do Hamas não contaria
com o aparato de túneis estratégicos, locais de fabricação de armas,
explosivos, foguetes e drones, bases para comunicação e coordenação de
operações.
Vinte dias depois da reportagem, em 12 de julho, durante uma operação em
Tel el-Awa, no norte de Gaza, perto do Hospital Shifa ( onde o Hamas
estabeleceu um importante centro de comando neutralizado em março pelo exército
israelense),as Forças de Defesa descobriram uma base de recrutamento e
treinamento do Hamas funcionando no prédio da UNRWA ( Agência das Nações Unidas
de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio). No local também
encontraram oficinas para construção de drones e explosivos, e nos arredores,
um curso para fabricação de foguetes escondido em uma universidade.
Nesse novo método de recrutamento o grupo terrorista usa o desastre
humanitário em Gaza do qual é o principal causador como a principal motivação
para arregimentar civis, inclusive crianças, para que aprendam a construir
armas. O Hamas também estaria se utilizando de casas semidestruídas para
esconder armas, esperando que os militares não retornem aos locais.
Na Cisjordânia, o Hamas igualmente atua aliciando jovens para realizar ataques
a Israel. Manchete do Times of Israel (21/7) informa que o Shin Bet, serviço
secreto israelense, abortou um ataque terrorista a ser executado por uma célula
estudantil do Hamas na Universidade Bir Zeit, em Ramallah, sob as ordens de membros
do grupo terrorista baseado na Turquia. Cinco universitários foram presos, um
fuzil M16 foi confiscado e milhares de dólares para a compra de armas,
provenientes do Hamas da Turquia, foram apreendidos. Desde 7 de outubro, as
Forças de Defesa de Israel já prenderam, na Cisjordânia, 4.400 pessoas
envolvidas em atos terroristas, sendo 1.850 afiliadas ao Hamas.
“Em Gaza, não há casa sem túnel”
Para tipificar até que ponto o Hamas se integra à sociedade civil na
Faixa de Gaza, o comandante da Brigada Nahal das IDF, Coronel Yair Zuckerman,
afirma incisivo: “Não há casa sem túnel.” A Brigada atua em Rafah, no sul de
Gaza, desde maio, com quatro batalhões de combate e unidade médica. “Rafah está
abarrotada de túneis, só nos últimos dias (junho) encontrei 17”, enfatiza o
coronel.
Ele explica que os túneis se conectam às casas vizinhas em um sinuoso
labirinto. As entradas ficam ocultas atrás de portas de armários que por sua
vez escondem paredes de concreto.
Zuckerman fala das dificuldades encontradas nos combates diários. “As casas estão repletas de explosivos com
fios que podem ser detonados à distância. Uma batalha onde os soldados lutam
acima e abaixo do solo”, assinala. Na semana anterior à entrevista, um prédio em Rafah havia
explodido matando quatro soldados israelenses.
Em razão da situação em Gaza e o aumento dos ataques do Hezbollah, a
partir do Líbano - que lançou na última semana 160 foguetes no período de 24
horas -, o Parlamento israelense (Knesset) aprovou, em primeira leitura (16/7),
estender o serviço militar de 32 para 36 meses, até 30 de junho de 2029.
Outra decisão, esta da Suprema Corte de Israel, liberou a convocação de
judeus ultraortodoxos (Haredim) para servir nas Forças Armadas. Até então, eles
estavam isentos do Serviço Militar.
Crimes contra a humanidade
Em um relatório de 236 páginas, a organização internacional Human Rights
Watch, com sede em Nova York, denunciou em 17 de julho, após meses de
averiguações, o grupo terrorista Hamas, e pelo menos quatro outros grupos
armados aliados, de cometeram crimes de guerra e crimes contra a humanidade no massacre
de 7 de outubro em Israel.
“Os governos com influência sobre os grupos armados devem pressionar
pela libertação urgente dos reféns civis, um crime de guerra em andamento, e
para que os responsáveis sejam levados à justiça”, diz o relatório.
A diretora de crise e conflito da Human Rights Watch, Ida Sawyer, afirma que os dados da pesquisa revelam que o ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro foi projetado para matar civis e tomar o máximo de pessoas possível como reféns. Entre outubro de 2023 e junho de 2024, a organização entrevistou 144 pessoas, incluindo 94 israelenses e outros cidadãos que testemunharam o ataque de 7 de outubro, familiares das vítimas, socorristas e especialistas médicos. Os pesquisadores também verificaram e analisaram mais de 280 fotografias e vídeos tirados durante o ataque e publicados nas redes sociais ou compartilhados diretamente com a instituição.
Fundada em 1978, a organização investiga, relata abusos e publica
relatórios internacionais voltados para governos, empresas e grupos decisórios,
com denúncias de violações de direitos
humanos. Em sua
plataforma, a ONG informa que reúne 550 profissionais de 70
nacionalidades, entre advogados,
jornalistas e ativistas que trabalham para proteger civis em tempo de
guerra, crianças necessitadas, minorias
vulneráveis e refugiados. Em 1997, pela sua reconhecida atuação, ganhou o Prêmio
Nobel da Paz.