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segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

2023 ano 2 - Até o final dos tempos

Guerra de Israel contra os terroristas do Hamas reacende o estopim do antissemitismo globalizado        

/ Sheila Sacks /

Para uma humanidade teleguiada por slogans e imagens, grande parte deles agora manipulados ou induzidos pelo processo de Inteligência Artificial (IA), pouco importa que centenas de milhões de dólares da chamada Ajuda Humanitária estejam enterrados em quilômetros de túneis sangrentos de Gaza, com suas galerias repletas de armas e munição, ao invés de comida e remédios. Ou que o massacre de 7 de outubro tenha ceifado a vida de 1.200 jovens, idosos e crianças com requintes de crueldade, vandalismo, estupros e sequestros que brutalizaram 240 vítimas, feitas reféns em um banho de sangue que envergonha e desonra a raça humana.

Isso em um mundo marcado pelos estigmas da fome, com 780 milhões de famintos, segundo a ONU, da violência, corrupção e direitos básicos desrespeitados, incluindo nesse bolo macabro países como Sudão,  Afeganistão, Etiópia, Paquistão, Somália, Síria e Iêmen, entre outros, que cinicamente questionam as ações de defesa de Israel.

Chamada pelas Forças de Defesa de Israel (IFD) de metrô de Gaza, a complexa rede de túneis teria uma extensão de 500 quilômetros, segundo o próprio Hamas, o que somaria quase a metade do sistema do metrô de Nova Iorque. Essa seria uma segunda rede subterrânea construída para transportar e armazenar foguetes, mísseis, armas e munição, além de abrigar centros de comando e de comunicações do grupo terrorista (a primeira, para contrabando, que ligava Gaza ao Sinai, com 1.200 túneis, conforme as autoridades egípcias, foi inundada de água e esgoto em 2013).

Especialistas israelenses calculam que foram utilizadas mais de 6 mil toneladas de concreto e 1.800 de aço para erguer o labirinto subterrâneo de túneis,  e que munido de eletricidade e portas blindadas  cada túnel poderia custar em torno de 3 milhões de dólares.

Túneis atravessam Gaza

Em dezembro último, as IFD divulgaram que localizaram 800 túneis e 500 bocas de entrada e saída de diversos tamanhos construídos embaixo de escolas, hospitais, mesquitas e edifícios residenciais. Entrevistada pela CNN ('The Gaza metro: The mysterious subterranean tunnel network used by Hamas'), a pesquisadora Daphné Richemond-Barak, do Instituto Internacional de Contraterrorismo da faculdade de Herzliya, ressaltou a dificuldade de destruir túneis construídos em zonas urbanas, do ponto de vista estratégico e operacional, face à proteção que se pretende garantir em relação à população civil.

Diferente dos túneis construídos pela Al Qaeda nas montanhas do Afeganistão ou pelos vietcongues nas selvas do Sudeste Asiático, os túneis subterrâneos do Hamas estão propositadamente sob uma área densamente povoada para causar os maiores danos possíveis à população. Para a especialista israelense, não existe uma solução infalível para lidar com a ameaça de um túnel. Bombardear as passagens subterrâneas é normalmente a forma mais eficiente de eliminá-las, mas tais ataques podem impactar os civis.

Reportagem do jornal El País, publicada uma semana depois do ataque de 7/10, apontava o solo arenoso de Gaza como o pior inimigo de Israel. O labirinto de túneis, segundo o professor e historiador Harel Chorev , da Universidade de Tel Aviv, era um dos segredos mais bem guardados do Hamas. “Em 2014 sabíamos que havia túneis atravessando Israel, mas agora sabemos que existem dezenas de redes que se deslocam de dentro da própria Faixa”, assinala Raphael Cohen, pesquisador da RAM Corporation, organização americana de estudos políticos.

O general reformado Yehuda Kfir, engenheiro e especialista em guerra subterrânea, acredita que foram usadas furadeiras manuais rotativas desenvolvidas pelos terroristas para escavação, e avalia que a guerra subterrânea é muito mais difícil porque não se pode analisar o que está acontecendo no subsolo. Ele observou que na Segunda Grande Guerra houve um soldado japonês que somente saiu de um túnel, onde se mantinha escondido, anos depois do fim do conflito.

A profundidade dos túneis (um deles descoberto recentemente, com 50 metros) também revela que a escavação do Hamas perfurou abaixo do lençol freático de 30 metros, o que não é simples. O especialista ressalta que é uma tecnologia acima da média e, portanto, nessa etapa da guerra é preciso inserir ferramentas inteligentes sensores, microfones e robôs, qualquer coisa que possa penetrar nos túneis e trazer informações sobre onde eles estão localizados (The Times of Israel, 19/12).

Arquitetura de terror

Há dez anos, antes de o Egito destruir os túneis que desembocavam em seu território, uma acadêmica palestina que vive nos Estados Unidos teve a oportunidade de conhecer alguns túneis quando procurou se conectar com familiares. Sem os documentos necessários para entrar legalmente em Gaza, ela e a mãe foram introduzidas em uma abertura no chão na cidade costeira egípcia de Al-Arish, a 53 quilômetros da Faixa de Gaza, e de lá, em uma longa caminhada, e também se utilizando de motocicletas, passaram por túneis reforçados e iluminados, até o ponto de encontro com os primos.

Usando o pseudônimo Bint al-Sirhid, ela relata sua experiência em um livro, editado em 2021 pela Universidade Americana do Cairo, que reuniu estudos acadêmicos urbanos sobre Oriente Médio intitulado  “Open Gaza - Architectures of Hope” (Gaza aberta – Arquiteturas da Esperança, em tradução livre). Afrontoso é incluir as redes de túneis de contrabando, armas e terror do Hamas como uma arquitetura urbana de esperança, mas foi o que fizeram os americanos Michael Sorkin (arquiteto já falecido) e Deen Sharp, urbanista especializado em arquitetura islâmica, responsáveis pela compilação do material.

 Na reportagem da NPR (National Public Radio, em 11/12/2023), a acadêmica palestina ainda vai mais longe e diz duvidar que alguém possa ter informações precisas sobre o atual sistema de túneis de combate de Gaza, mesmo usando a IA, porque, segundo ela, são “literalmente subterrâneos e profundamente secretos” e que não há tecnologia para detectá-los.

Túneis do Hezbollah

Mas, antes mesmo da construção da rede de túneis em Gaza, o sul do Líbano já era dotado de uma vasta rede subterrânea, “profunda e multifacetada”. A afirmação é de um ex-oficial das Forças de Defesa de Israel, Tal Beeri, que durante décadas serviu em unidades de inteligência. Diretor do Departamento de Pesquisa da organização “Alma Center”, especializada em geopolítica do Oriente Médio e sediada na zona fronteiriça com o Líbano e Síria, Beeri  é autor do estudo “Hezbollah's Land of Tunnels - The North Korean-Iranian Connection”, publicado em julho de 2021 e acessível pela internet.

Em sua avaliação, a rede de túneis do grupo terrorista xiíta Hezbollah tem centenas de quilômetros e é bem mais sofisticada do que a do Hamas. Com base em um mapa do sul do Líbano, descoberto há anos, marcado por círculos indicando “36 regiões geográficas, cidades e vilas”, conjuntamente com imagens, vídeos e informações coletados em uma série de fontes, Beeri percebeu que cada centro de comando possuía uma infraestrutura de túneis interligados.

Em recente entrevista ao The Times of Israel, o ex-militar explica que existem vários tipos de túneis no Líbano. Os túneis de ataques são grandes e extensos e comportam até caminhões de médio porte. Os túneis táticos, destruídos em 2019 na Operação Escudo do Norte (Operation Northern Shield), destinam-se a circulação de pessoas e estão perto das aldeias para ataques de terroristas a partir do subsolo. Também podem existir túneis próximos, perto da fronteira, para os terroristas emergirem e atacar. E ainda um tipo adicional de túnel com explosivos, escavados com o único intuito de serem denotados quando as forças israelenses operarem dentro do Líbano.

Lembrando o papel da Coreia do Norte na construção dos túneis no Líbano, nas décadas de 1980 e 1990, Beeri destaca que a partir de 2014, de posse do conhecimento e da tecnologia adquiridos em mais de 25 anos de parceria, o Hezbollah já foi capaz de expandir sozinho a rede de túneis, de onde mísseis são disparados contra Israel. “A infraestrutura dos túneis permite que um caminhão transite até o local onde será feito o disparo. O caminhão sai do túnel, dispara e desce novamente. Quando se sobrevoa o local, tudo o que se vê é a montanha. Fica muito difícil encontrar o local de lançamento.”

No estudo sobre os túneis no Líbano, Beeri aponta igualmente a influência do Irã , a partir de 2006, depois da guerra de Israel contra o Hezbollah, por meio da companhia “Iranian Authority for the Reconstruction of Lebanon”. A empresa, comandada por um militar da Força Quds, Hassan Shateri (morto na Síria em 2013), oficialmente trabalhava na reconstrução dos prédios no sul do Líbano, mas efetivamente dava apoio armado ao Hezbollah. Em 2014, a empresa passou a se chamar Bekaa Building and Contracting Company, uma espécie de nome fantasia, segundo Beeri (‘Expert: Hezbollah has built a vast tunnel network far more sophisticated than Hamas’s’, em 2/1/2024).

Perigo à vista?

Apesar da chamada Seam Line, barreira com muros e cercas de segurança que separa as cidades israelenses da Cisjordânia, moradores da comunidade de Bat Hefer, e outras (situadas entre esta barreira e a Linha Verde, zona fronteiriça com o Líbano, Síria, Jordânia e Egito), mostram-se apreensivos com a hipótese de que o Hezbollah possa estar construindo túneis que atravessem o território israelense e se queixam de ruídos e movimentações no subsolo.  Testes e varreduras já foram realizados há pouco tempo, mas por enquanto não houve nenhuma descoberta que indicasse escavações, dizem as autoridades locais. 

Perguntada sobre o problema, a pesquisadora Richemond-Barak acha que não se pode descartar essa possibilidade, visto que foram encontradas infraestruturas subterrâneas no subsolo da cidade de Jenin ( terceira maior cidade da Cisjordânia), no ano passado. - Se estão cavando dentro de Jenin, por que não tentariam cavar abaixo da Zona Verde agora? Por que não encontraríamos túneis em Bat Hefer? (comunidade de 5 mil moradores situada perto da cidade árabe de Tulkarm, na Cisjordânia, que tem 60 mil habitantes).

A pesquisadora ressalta que o tipo de solo para escavação na Cisjordânia é mais difícil do que o de Gaza, assim como acontece no sul do Líbano. Mas, já se sabe que o Hezbollah tem escavando túneis até na pedra. – É preciso ter consciência da ameaça e que a possibilidade de escavações existe, alerta Richemond-Barak.

Antissemitismo em alta

Articulistas do The Jerusalem Post(JPost) têm analisado a força e o poder de influência do Hamas no imaginário das pessoas, bombardeadas por imagens estratégicas que apresentam os palestinos como mártires inocentes de uma guerra injusta. Custa crer que a construção de quilômetros de túneis abarrotados de armas, munição, foguetes, caminhões etc. escavados embaixo de edifícios residenciais, escolas, hospitais e mesquitas, por anos seguidos, não era do conhecimento da população. Uma obra de tal porte passou em branco para 2 milhões de pessoas ! Ninguém desconfiava?  

Alegações similares às das populações da Alemanha e da Polônia, na Segunda Guerra, em relação à construção e funcionamento dos campos de extermínio. Documentos e depoimentos posteriores provaram que todos sabiam sim, mas não se importavam. E muitos aprovavam. Então como separar o Hamas dos chamados "civis" de Gaza? 

Esse conto da carochinha engendrado pelo Hamas e os parceiros que o sustentam, muitos nos  bastidores ou ostensivamente como o Irã, é um golpe da mais sórdida propaganda para engabelar governos, parlamentos, organizações humanitárias, universidades e a mídia ocidental. Tem dado frutos  porque o ser humano, ainda que investido de funções públicas, tende a ser leviano e/ou tendencioso, raramente exercendo a prática da imparcialidade. Dar de ombros, lavar as mãos e  passar adiante a pseudoinformação engrossando a campanha de difamação, mentiras e distorções do grupo terrorista e de seus patrocinadores contra Israel, não vai tirar o sono dessas pessoas.

Richard Kemp, ex-coronel do exército britânico, é enfático ao afirmar que o grupo terrorista Hamas “é hoje a entidade antissemita de maior sucesso no mundo”. No artigo publicado no JPost, em 22/12, o militar que comandou as forças britânicas no Afeganistão e Iraque, conta que a base desse sucesso tem como padrinho a União Soviética, que nas décadas de 1950 e 1960 se alinhou com os árabes e fomentou uma guerra de libertação nacional contra Israel. 

Assim, de acordo com Kemp, foi desenvolvida uma campanha contra Israel de deslegitimação, dando origem a acusações de roubo de terras, ocupação e colonização ilegais, apartheid e outras distorções que se tornaram “fatos indiscutíveis”.

- Isso significa que tudo o que for feito a Israel e aos judeus é justificado como resistência legítima, e qualquer ação levada a efeito por Israel para defender o seu povo é injustificada, ilegal e inaceitável.

A propaganda antissemita sistemática do Hamas está intimamente ligada aos ataques terroristas a Israel, maximizando as reações de defesa de Israel visando provocar acusações de crimes de guerra e crimes contra a humanidade, isolando Israel da comunidade internacional e dos próprios judeus da Diáspora.

Algumas semanas depois do ataque de 7/10, um exemplar de "Mein Kamp" , traduzido para o árabe, foi encontrado junto com um terrorista morto em Gaza pelo exército israelense. O presidente Isaac Herzog fez a revelação em entrevista à BBC, afirmando que o massacre perpetrado pelo Hamas foi sustentado pela mesma visão antijudaica que promoveu o genocídio de 6 milhões de judeus pelos nazistas.

O professor Prof. David Patterson, presidente dos Estudos do Holocausto na Universidade de Dallas, lembra que a partir de 1935, a Irmandade Muçulmana (fundada em 1928 pelo egípcio Hassan al-Banna, e da qual o Hamas é o braço palestino), enviava delegações aos comícios nazistas em Nuremberg.

O historiador americano Jeffery Herf , autor de um estudo sobre propaganda nazista no mundo árabe, fez registros de programas de rádio de cunho antissemita produzidos pelo regime alemão e transmitidos em árabe para o Oriente Médio, entre 1939 e 1945. A iniciativa recebeu o aval do líder palestino Haj Amin Al Husseini, conhecido como o Mufti de Jerusalem, que apoiava o regime de Hitler e ajudou a exportar a ideologia nazista para o mundo árabe.

Segunda Frente

Diante da escalada de incidentes antissemitas depois do ataque de 7/10 ( um aumento de 500% em todo o mundo), o ministro israelense de Assuntos da Diáspora e Combate ao Antissemitismo, Amichai Chikli, considerou a situação atual a pior desde a década de 1930. Em um encontro online organizado pelo JPost, sob o título The Second Front, Chikli reforçou que a postura dos judeus deve ser de repúdio ao ódio. - Se não pudermos condenar as atrocidades cometidas em 7 de outubro, se não pudermos condenar o Hamas, então um diálogo significativo torna-se impossível, afirmou.

Outra participante do debate, Tal-Or Cohen Montemayor, fundadora e diretora da organização CyberWell, que monitora manifestações antissemitas na internet, revelou que houve um aumento de 86% de conteúdo antissemita online, com destaque para rede social Facebook, que registrou uma subida de 193%, inclusive com apelos à violência contra os judeus.

Para Montemayor, as plataformas de redes sociais se mostraram despreparadas para o sequestro dessas ferramentas digitais pelo Hamas, permitindo exposições de vídeos chocantes e transmissões ao vivo de cenas do massacre, e não providenciando a remoção imediata dessas imagens veiculadas pelos terroristas. A utilização ideológica dessas imagens provocou um segundo front de guerra, esse na área psicológica contra Israel, que animou outras facções terroristas, milícias árabes e grupos internacionais sabidamente que pregam a aniquilação da nação judaica, a abusarem de conteúdos antissemitas.

O presidente do Yad Vashem (Museu do Holocausto de Israel), Dani Dayan, também se manifestou no debate e alertou para o fato que considera mais preocupante em relação ao antissemitismo atual: a crescente academização de um velado antissionismo que atinge principalmente as universidades americanas e da Europa. -  Nas instituições acadêmicas de maior prestígio nos EUA e na Europa, estão a construir pedra a pedra, peça a peça, artigo a artigo, livro a livro, uma pseudojustificativa intelectual para eliminar o Estado de Israel como o conhecemos.

Queixa em Haia

Um dos efeitos desta campanha perniciosa contra o estado de Israel, cujas forças de defesa nesse início de 2024 ainda combatem os terroristas em Gaza, e parte do reféns permanece sob o jugo facínora do Hamas, foi a  performance  midiática e burlesca da África do Sul, que apresentou queixa à Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, em 29 de dezembro, se utilizando do termo “genocida” para deslegitimar as ações de defesa do exército israelense.

Em 11 de janeiro deste ano, face à primeira audiência no Tribunal de Haia, nota da chancelaria israelense classificou a atitude da África do Sul como “uma das maiores demonstrações de hipocrisia da história, agravada por alegações falsas e infundadas”. O governo de Israel acusou Pretória de bancar o “advogado do diabo” para o Hamas e agir como um braço legal da organização terrorista.

 “Não é Israel que está em julgamento, mas a integridade da comunidade internacional”, disse o ex-primeiro-ministro Yair Lapid, líder da oposição em Israel. -  Se um país que se protege de um ataque terrorista brutal e assassino pode acabar em um tribunal por genocídio, então a Convenção sobre Genocídio tornou-se uma recompensa para o terrorismo.

A Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio foi adotada pela ONU, em 9 de dezembro de 1948, e ratifica o compromisso da comunidade internacional no sentido de que “Nunca Mais” ocorra as atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial. Cabe ao Tribunal de Haia, órgão jurisdicional da ONU, emitir julgamentos e pareceres.

O jornalista e escritor Amotz Asa-El, colunista do JPost, escreve que os judeus estão acostumados à combinação de difamação e agressão. A novidade é a sua origem. “A tocha que foi acesa pelos cristãos europeus e mais tarde transmitida aos islâmicos da Ásia, é agora erguida pelos santos’ africanos”.  E pergunta: Com os seus cidadãos metralhados, os seus bebês massacrados, as suas mulheres violadas e as suas casas incendiadas, o que faria você no lugar de Israel?

Pesquisa divulgada há poucos dias (10/1) pelo Centro Árabe de Investigação e Estudos Políticos do Catar apontou que 67% dos 8 mil entrevistados em 16 países árabes consideram o massacre de 7 de outubro “uma operação de resistência legítima” do Hamas por conta da ocupação israelense.  E 69% dizem apoiar o grupo terrorista em suas ações. Ou seja, a doutrina nazista de “morte aos judeus” é uma realidade atual no conjunto de países árabes, cuja população, em sua maioria, não vê impedimento moral no que tange a matar judeus e aniquilar o estado de Israel.

Apoio ideológico

No Brasil - onde vivem 11 milhões de árabes e seus descendentes, cerca de 6% da população do país, segundo levantamento divulgado pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira (2020) - , o Itamaraty se dobrou à  ideologia populista do partido do governo e emitiu nota de apoio à ação da África do Sul, recebendo o imediato repúdio da Confederação Israelita do Brasil – Conib, que condenou a decisão. “É frustrante ver o governo brasileiro apoiar uma ação cínica e perversa como essa, que visa impedir Israel de se defender de seus inimigos genocidas.”

A embaixada de Israel em Brasília, em comunicado expedido pouco antes da visita do representante palestino Ibrahim Alzeben ao Palácio do Planalto (condecorado em novembro passado com a Ordem do Rio Branco, no grau Grã-Cruz, a mais alta do país) e da decisão brasileira, afirmou: “Segundo a definição da ONU para o termo genocídio, definições que o Brasil aprecia e trabalha à luz, o principal é a intenção. Israel não tem intenção de matar palestinos não envolvidos e evita isso tanto quanto possível, apesar das dificuldades apresentadas pelo Hamas na sua forma de operar, usando cidadãos não envolvidos como escudos humanos.”

Por sua vez, a Conib lembra que “Israel está apenas se defendendo de um inimigo, ele sim, genocida, que manifesta abertamente seu desejo genocida de exterminar Israel e os judeus.” E reforça um fato que está à vista de todos, apesar da propagação de mentiras levada adiante de forma cínica e inescrupulosa pelos terroristas. Diz a nota da Conib: “O Hamas se esconde covarde e deliberadamente atrás dos civis de Gaza porque suas mortes são usadas como arma contra Israel na opinião pública mundial.”

Menos mal que as três maiores mídias nacionais opinaram negativamente sobre a  atitude do governo brasileiro, classificando o apoio à denúncia da África do Sul como uma “agressão injusta” (O Globo); afirmando que houve uma “acusação infundada de genocídio” (O Estado de São Paulo);  e que o “ Brasil erra ao deixar a equidistância na guerra” (Folha de São Paulo).

Guerra psicológica

Em resumo, dias duros continuarão a atormentar Israel e os judeus da Diáspora neste ano 2 de 2023. A arena global e midiática já foi montada em Haia e outros palcos serão preparados para os shows de falsidade e hipocrisia de governos, políticos, ONGs e intelectuais. Concorrendo por fora, mas tão importante quanto, estarão ativas as agressivas e despudoradas redes sociais.

Países com histórico de ditadura e violação de direitos humanos, corrupção, crime organizado, narcotráfico, tráfico humano, trabalho escravo, desigualdades sociais gritantes, justiça desqualificada, de populações famintas e sem trabalho, carentes de saneamento básico e água potável vão vociferar contra Israel e exigir justiça para os que abrigam e incentivam o terrorismo sem fronteiras.

Organizações alimentadas com recursos de lavagem de dinheiro de grupos econômicos de fachadas irão preparar manifestações para ameaçar e cobrar de Israel que se mantenha dentro das quatro linhas, ainda que a sua população civil esteja diariamente à mercê de ataques genocidas.

Políticos, intelectuais e profissionais da mídia em suas salas refrigeradas estarão repetindo o básico a favor dos direitos humanos, o que qualquer cidadão em sã consciência não desaprova. No entanto, os discursos, comentários e textos serão apenas cortinas de fumaça a esconder a real motivação tendenciosa e acusatória contra o estado judaico que ao longo dos embates se mostrará visível e perniciosa.

A esta elite, porém, não se deveria permitir abusar da esperteza e de jogar para a plateia, empurradas a moral e a ética para o fundo do baú. Fingir-se de ignorante ou bancar o inocente em relação ao termo “genocida”, é uma artimanha pérfida. Genocídio é o conceito específico para designar crimes que têm como intenção e objetivo a eliminação da existência física de grupos nacionais, étnicos, raciais, e religiosos. O Holocausto é o exemplo perfeito de “genocídio”, termo criado em 1944 pelo advogado judeu polonês Raphael Lemkin (1900-1959) para descrever as políticas nazistas de extermínio, combinando a palavra grega geno, que significa raça ou tribo, com a palavra latina cídio, que quer dizer matar.

Outro exemplo flagrante de genocídio foi o massacre de judeus em Lisboa, ocorrido em 1506. Em dois dias, uma multidão fanática assassinou impiedosamente 4 mil cristãos-novos (judeus convertidos à força) insuflados por monges dominicanos. Um pouco de história e clareza para os que teimam em usar o termo de forma irresponsável. A tragédia de horror está sendo revivida no filme “1506” a ser lançado em 19 de abril, quando se completam 518 anos do massacre histórico.

Também teve caráter de genocídio a perseguição e o assassinato sistemático de judeus na América do Sul pela Inquisição, nos séculos 16e 17.  A epopeia trágica “A Saga do Marrano”, do escritor argentino Marcos Aguinis, retrata de forma magistral o clima de medo e sofrimento vivido por essas famílias no Brasil, Argentina, Peru e Chile, após a sua expulsão da Espanha (1492) e Portugal (1496). O relato inquietante de pessoas que esperavam encontrar um “novo mundo” na América e se deparam com um ambiente inquisitorial, hostil, impregnado de fanatismo, hipocrisia e pela mais despótica corrupção. Uma viagem de esperança que tem seu desfecho em 1639, com o maior auto de fé da América Latina, quando 60 judeus e cristãos-novos são queimados vivos em Lima.

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À guisa de informação: cerca de 60 mil palestinos e seus descendentes vivem no Brasil, a maioria em São Paulo, de acordo com a Federação Árabe-Palestina do Brasil (Fepal). Também existem comunidades no Rio Grande do Sul e nas cidades fronteiriças à Argentina, Uruguai e Paraguai, como Santana do Livramento e Foz de Iguaçu, no Paraná.

A comunidade judaica brasileira, pelo último censo do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010) teria 107 mil membros. Mas, no site do Congresso Mundial Judaico (WJC, na sigla em inglês), na página dedicada ao Brasil, a Conib apresenta o número atualizado de 92 mil, a maioria residente nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Em Israel, atualmente vivem em torno de 15 mil brasileiros.