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quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

De engenharia, trabalho e gente

/  Sheila Sacks / 



Poucos lembram, talvez porque a grande mídia não deu atenção ou repercussão ao fato. Pesquisando no Google, apenas algumas páginas específicas reportam o evento. No entanto, há mais de uma década, em dezembro de 2008, o Brasil sediou o maior encontro da engenharia mundial, a WEC 2008 (World Engineers Convention), que pela primeira vez tinha como base o continente americano. Isso por conta principalmente das obras do PAC -  o Programa de Aceleração do Crescimento, instituído em 2007 - que realizou, em um período de cinco anos, mais de 40 mil obras nas áreas da construção civil e infraestrutura em todo o território nacional. Foi o terceiro congresso da entidade, promovido anteriormente na Alemanha e na China. 

À época, a convenção reuniu, em Brasília, mais de 5 mil profissionais da construção civil de 39 países, empresários e autoridades públicas ligados ao setor. Sob o tema “Engenharia: Inovações com Responsabilidade Social”, os debates foram norteados pelas discussões sobre meio ambiente, mudanças climáticas e engenharia sustentável, com ramificações envolvendo a responsabilidade social, a ética, a inclusão e a inovação sem degradação ambiental.

Na Declaração de Brasília, emitida ao final do encontro, os participantes enfatizaram o papel da engenharia como motor da inovação tecnológica e sua vital importância no desenvolvimento humano, social e econômico sustentável. Uma engenharia voltada para o cidadão, no sentido de tornar as cidades mais justas e interativas e menos excludentes. Uma missão a quem cabe, de forma prioritária, à engenharia pública em seus projetos e execução de moradias populares, infraestrutura, urbanização e saneamento, construção e conservação de unidades públicas de ensino, saúde, segurança, cultura e lazer, entre outros exemplos de serviços voltados para o bem estar das sociedades.

 Mundo sustentável

Ocorrendo a cada quatro anos, a última edição da WEC, na Austrália, em 2019, manteve seu foco na sustentabilidade e na responsabilidade social (cidades sustentáveis), incorporando ao tema -  “Projetando um mundo sustentável: os próximos 100 anos” - as preocupações com as mudanças climáticas e os desafios na gestão de tecnologia de energias renováveis, objetivos alinhados com a agenda global da ONU para o desenvolvimento sustentável da década 2020-2030 (17 Goals to Transform Our World).

Segundo esse organismo mundial, até 2030 cerca de 60% da população do planeta (5 bilhões) estará vivendo nas cidades. Nesse quadro que se visualiza, uma das 17 metas a serem atingidas diz respeito ao desenvolvimento de cidades sustentáveis, inclusivas e seguras, com uma infraestrutura adequada em relação a itens fundamentais como coleta de lixo e redes de água, esgoto, energia, transporte etc. Hoje, as cidades ocupam apenas 3% das terras de nosso globo terrestre, porém são responsáveis por 60 a 80% do consumo de energia e 75% das emissões de carbono. São 3,5 bilhões de citadinos, sendo que mais de 820 milhões morando em favelas e locais insalubres. 

Em 2023, a 7ª edição da WEC será na cidade de Praga, na República Tcheca, com o tema "Engenharia para a Vida", uma abordagem sobre os desafios da tecnologia para o desenvolvimento sustentável da civilização.

 Gerenciando obras e expectativas




 Responsável pelo emprego direto de 2,4 milhões de brasileiros, em 2021, a Construção Civil, entendida em sua forma tradicional, costumeiramente atrai abordagens tecnológicas associadas às inovações e ao aperfeiçoamento de itens técnicos tendo em vista a própria natureza científica e matemática do serviço e a formação específica e especializada de seus profissionais. No campo do trabalho aplicado, a prioridade está centrada na escolha dos materiais, equipamentos e maquinário a serem utilizados nas edificações e que devem, virtuosamente, se conjugarem com a qualidade e a funcionalidade desejáveis, adequando-se ainda a uma planilha de custos e prazos previamente calculada. A meta final é a entrega da obra de acordo com o planejamento e a expectativa iniciais, fatores que se preservados até o concluir dos serviços vão garantir o sucesso da empreitada em termos técnicos e contratuais.

Diferentemente ao que ocorre nos projetos endereçados à área privada, focados preferencialmente na responsabilidade técnica do gestor, as obras no setor público incorporam a variante do compromisso socioeconômico da cidadania, um valor já percebido e cobrado pelas comunidades envolvidas. Se em tempos passados o responsável por uma obra de edificação pública tinha como única preocupação cumprir minimamente os requisitos técnicos e burocráticos que acompanham esse tipo de trabalho, alijando-se de qualquer ação participativa que pudesse ser interpretada como um comprometimento sociopolítico, hoje essa visão de gestor público está superada face à percepção de que atender bem o propósito coletivo é atribuição básica de uma empresa que gerencia obras com recursos governamentais.

Novos padrões

Essa mudança de ótica nas instituições públicas tem ocorrido sob a égide dos núcleos governamentais que atuam nas diversas esferas do poder público - federal, estadual e municipal – promovendo as boas práticas de gestão e  introduzindo modelos contemporâneos de administração que insiram conceitos, normas, condutas e valores  voltados à promoção social das populações.  É um novo paradigma de gestão organizacional, pautado no ícone da contínua aprendizagem e aprimoramento, que estimula a incorporação de padrões de cooperação, participação, confiança e de solidariedade.

Especialistas em gestão como Noel Tichy, 75 anos,  professor de comportamento organizacional da Universidade de Michigan (EUA) e autor de mais de 30 livros sobre o tema, considera de profunda importância motivar os funcionários com uma visão empolgante do trabalho que realizam. Exemplo desse modelo é relatado por Brian Dumaine, antigo editor da revista norte-americana “Fortune”, no artigo “Por que nós trabalhamos?”. Jornalista premiado e autor de artigos sobre liderança e investimentos, ele se vale de uma parábola para reafirmar a importância da noção de “missão” no cotidiano das tarefas. Citando três tipos de operários que executam o mesmo tipo de serviço – talhar uma pedra com um martelo e um cinzel – Dumaine conta que o primeiro se sente frustrado e irritado porque considera aviltante o trabalho que faz. O segundo, ao explicar que talha a pedra para um prédio, não parece nem zangado nem satisfeito. Já o terceiro cantarola feliz e, enquanto esculpe a pedra, responde com orgulho que está construindo uma catedral.

 Visão compartilhada

Dessa forma, a tradicional noção de capacitação técnica não seria o valor preponderante a atuar na condução do trabalho em uma empresa. O engenheiro aeroespacial Peter Senge, Ph.D. em administração organizacional pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA) e autor do best-seller “A Quinta Disciplina”, aponta o engajamento do profissional “em relação aos princípios, às diretrizes e ao futuro que a empresa pretende criar e alcançar”, como um fator decisivo na evolução sustentável e competitiva da organização. A essa disciplina apreendida pelo grupo funcional ele chama de “visão compartilhada”, que seria acrescida do raciocínio sistêmico (a quinta disciplina), indispensável na consecução dos objetivos traçados.

Em uma entrevista à revista norte-americana “HSM Management”, no final da década de 1990, Senge questiona alguns mitos corporativos como a excelência de programas de treinamento e a importância da tecnologia de informação. Para ele é preciso pensar no tipo de aprendizado que a tecnologia proporciona, já que uma pessoa pode até receber mais informações graças à tecnologia, mas se não possuir as capacidades necessárias para aproveitá-las, de nada adiantará, visto que a informação não cria aprendizado. ”Esse é um enorme mal-entendido que afeta muitas pessoas. A informação só pode nos ajudar a aprender alguma coisa que já entendemos.” Quanto aos programas de treinamento, Senge considera que poucos profissionais aprendem as coisas que são realmente importantes nesses programas. “O aprendizado ocorre no dia a dia, ao longo do tempo, e sempre acontece quando as pessoas estão às voltas com questões essenciais ou se vêm diante de desafios.“

 Responsabilidade social




Desde os anos 1970, o tema da responsabilidade social das empresas, em relação às comunidades onde estão inseridas, tem sido foco de debates e de uma extensa literatura. Nota-se que a filosofia desse conceito é abrangente, englobando problemas sociais, econômicos e ambientais como pobreza, desemprego, segurança no trabalho, poluição e desmatamento, além de aspectos legais e jurídicos referentes a desapropriações e remoção de moradores, para citar alguns. Porém, o entendimento mais comum do termo é aquele que traduz a responsabilidade empresarial como um comportamento socialmente responsável, do ponto de vista ético, praticado pelas organizações em suas atividades-fim.

Conhecidos teóricos da administração, como o filósofo e economista de origem austríaca Peter Drucker (1909-2005) e o americano Robert M. Grant, consultor e autor do livro “Análise da Estratégia Contemporânea”, traduzido em mais de 12 idiomas, destacam a necessidade de uma gestão de empresas voltada para a evolução da sociedade moderna, já que as empresas são importantes e influentes agentes sociais, e seus gestores são percebidos como lideranças pelas comunidades onde atuam.

Na obra “O Líder do Futuro” os autores Hesselbein, Goldsmith e Beckard enfocam o lado humanístico na condução empresarial. Para eles, o propósito de uma administração organizacional deve ser o de tornar eficazes os pontos fortes das pessoas e irrelevantes as suas fraquezas. O livro datado de 1996 advoga que as posturas serão mais úteis do que as habilidades e que as futuras lideranças vão flexibilizar as hierarquias, construindo um sistema de trabalho mais fluido: “O maior capital das empresas serão as pessoas que as compõem. Conseguir o comprometimento delas e colher o fruto de suas mentes criadoras deverá ser o grande desafio do século 21”.

 Carisma e oportunidades

Esse novo conceito de liderança se afasta do primitivo modelo de liderança carismática, onde não havia espaço para a argumentação ou contestação. Um tipo de comando criticado pelo próprio Drucker, o cultuado guru “inventor da gestão”, que aos 95 anos, em sua última entrevista à imprensa norte-americana (reproduzida pela revista “Exame” em fevereiro de 2006, sob o título “Liderança é Conversa Fiada”) questiona a fixação dos gestores executivos pela formação de líderes: “É um erro afirmar que as escolas de negócios formam líderes. Sua tarefa consiste em formar medíocres competentes para que realizem um trabalho competente Permita-me dizer com toda a sinceridade: não acredito em líderes. Toda essa conversa sobre líderes é uma bobagem muito perigosa. É tudo conversa fiada. Entristece-me constatar que, encerrado o século 20, com líderes como Hitler, Stálin e Mao, as pessoas ainda estejam em busca de quem as comande, apesar de todo esse mau exemplo. Acho que tivemos carisma demais nos últimos 100 anos."

Autor de dezenas de livros sobre práticas de administração de empresas, Drucker sempre acreditou que os bons resultados obtidos em uma gestão não advêm das soluções de problemas e sim de se saber explorar as novas oportunidades que se apresentam. Também alertava para a interpretação confusa dos gestores sobre os termos “eficácia – fazer a coisa certa – e eficiência – fazer certo as coisas”. Segundo o teórico “é difícil achar algo tão inútil quanto fazer com grande eficiência algo que simplesmente não deveria ser feito”. Mas mesmo assim, assinalava Druker, as ferramentas utilizadas - sobretudo conceitos contábeis e dados - estavam todas voltadas à eficiência. “O que precisamos é de um jeito de identificar áreas de eficácia (de possíveis resultados relevantes) e de um método para nos concentrarmos nelas”, recomendava.

 Aprender e desaprender

Em 1930, na obra “O Mal-Estar na Civilização”, o fundador da psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939), já especificava as três grandes forças causadoras da infelicidade no ser humano: o próprio corpo “condenado à decadência e à dissolução”; o mundo exterior “repressivo” e “ameaçador”; e os relacionamentos com os outros, essa última correspondendo a frustração mais difícil de se lidar e adequadamente rotulada de “a fonte social do sofrimento”.  Reconhecendo-se a importância das relações pessoais no contexto das organizações, torna-se um desafio para qualquer gestor desenvolver um clima de harmonia, integração e satisfação em sua comunidade funcional, face à diversidade dos “modelos mentais” inerentes a cada indivíduo.

No livro “A Força dos Modelos Mentais” (2005) os consultores norte-americanos Yoram Wind e Colin Crook explicam que esses processos cerebrais e emocionais - frutos de influências familiares, escolares, culturais e religiosas que se somam às experiências e vivências na fase adulta - moldam todos os aspectos da vida de uma pessoa e muitas vezes, no âmbito profissional, eles não acompanham ou não correspondem à realidade do momento, dificultando e limitando a evolução de uma carreira que poderia ser promissora. Caberia, pois, aos profissionais se reestruturarem, desfazendo-se de antigos referenciais e adaptando-se aos novos conceitos de competência e padrões de comportamento sinalizados pela empresa. “Daí a importância de aprender, desaprender e reaprender para construir nossos conhecimentos sob novos paradigmas”, desafiam Wind e Crook.

 Satisfação e identidade

 Mas, para Freud a insatisfação humana é um fato imutável porque “nascemos com um programa inviável que é atender aos nossos instintos, mas o mundo não o permite”. Ou seja, o homem, faça o que fizer, estará condenado a conviver com a frustração na vida privada e profissional. Logo, gerenciar atividades e serviços da mais alta complexidade e tecnologia empresarial como grandes obras de engenharia também é administrar expectativas pessoais que não devem ser desconsideradas ou minimizadas pelos gestores.

Em uma pesquisa na cidade de Pittsburgh, na Pensilvânia (EUA), na década de 1950, quando a localidade ainda era um grande pólo siderúrgico e o maior produtor de aço do mundo, o professor e psicólogo Frederick Herzberg, falecido em 2000, realizou entrevistas com 200 engenheiros e contadores de onze indústrias da região para descobrir os fatores que geravam satisfação e insatisfação no ambiente de trabalho. Percebeu que elementos relacionados com o conteúdo do trabalho (motivação), tais como o desenvolvimento do potencial intelectual, a possibilidade de crescimento profissional e a autorrealização, eram fortes indutores para a criação de um clima de satisfação entre os funcionários. Por outro lado constatou que o contexto físico e as condições de trabalho e de remuneração, mesmo apresentando ótimos padrões, não aumentavam o grau de satisfação entre os empregados, apesar de funcionarem como barreiras de contenção contra a insatisfação.

Esse estudo, compilado no livro “A Motivação para o Trabalho” (1959), serviu de base para outras centenas de observações e análises sobre modelos e teorias de administração produzidas ao longo do tempo que têm ajudado a redefinir o conceito de trabalho empresarial nas organizações públicas e privadas. Hoje, as empresas já incorporam às suas atividades econômicas e tecnológicas valores como o capital intelectual, o talento e a inovação, ferramentas insuperáveis na produção de ações que objetivem resultados promissores nos ambientes internos e externos em que atuam.

 Identidade e ação



Com essa opção pela gestão social, que se traduz por um gerenciamento mais participativo e solidário, focado no diálogo, no desenvolvimento das pessoas e no interesse público das comunidades, as empresas vão se aproximando, pouco a pouco e de forma extraordinária, da filosofia política de Hannah Arendt (1906-1975) – uma das mais cultuadas pensadoras do século 20 –, algo impensável há alguns anos. Isso porque para Arendt, autora de “A Condição Humana” (1958), a suposição de que a identidade de uma pessoa transcenda, em grandeza e importância, tudo o que ela possa fazer ou produzir, seria um elemento indispensável da dignidade humana. Juntamente com a assombrosa capacidade de agir do ser humano, da qual, segundo a filósofa, “se pode esperar o inesperado e o infinitamente improvável, independentemente da produção de coisas, porque cada homem é singular, de sorte que, a cada nascimento, vem ao mundo algo singularmente novo”.

 



domingo, 5 de setembro de 2021

“Querido mundo...escolho amar você”

/  Sheila Sacks  /


Em 2015, às vésperas de Rosh Hashaná e Yom Kipur ( o ano novo judaico e o Dia do Perdão) , o rabino Harold Kushner , então com 80 anos, publicou o livro Nine Essential Things I’ve Learned About Life (Nove Coisas Essenciais que Aprendi sobre a Vida, em tradução livre do inglês). Dentre as “ coisas” que o líder religioso destaca,temos  “D’us não é um homem que vive no céu”; “perdoar é um favor que você faz a si mesmo”; “para se sentir melhor consigo mesmo, encontre alguém para ajudar “; “Religião é o que você faz, não o que você acredita”.

Autor do best-seller “Quando Coisas Ruins acontecem às pessoas Boas”, lançado em 1981,  com mais de 4 milhões de exemplares vendidos, Kushner publicou mais de uma dúzia de livros que trazem conforto e alento a milhões de leitores que enfrentam momentos difíceis em suas vidas.

Sua carta ao mundo -  “Querido mundo...escolho amar você”  - incluída ao final das nove coisas que aprendi sobre a vida, foi republicada pela revista canadense  Zommer  e nela o líder religioso nascido no Brooklyn explica que amar o mundo torna mais fácil ter esperança no amanhã.

O tesouro da fé



Então, face à sofrida inquietude humana em um mundo impositivo nas suas prioridades, talvez mereça acrescentar à expressiva lista de Kushner, nesse limiar de 5782 do calendário judaico (setembro de 2021 da Era Comum), mais um pequeno-grande item,  a fé como um tesouro inegociável. Isso porque cabe a fé nos manter de pé frente às circunstâncias ininteligíveis  que nos desafiam e assombram.

Preservar e cuidar desse tesouro ofertado por aqueles que vieram antes de nós e honrar a história e a tradição que o acompanham, já torna a vida mais bela, sábia e generosa.  Vá, por si mesmo,“Lech (vá)  Lechá (para dentro de você)”, disse D’us para Avraham (Abrãao), na idade de 75 anos (Bereshit), Gênesis 12:1-17:27.  E assim foi , de geração a geração, até os dias de hoje.

A carta de Kushner                                                                                                    

Querido mundo


Já passamos por muita coisa juntos nas últimas oito décadas, você e eu - casamentos, nascimentos, mortes, realizações e decepção, guerra e paz, tempos bons e tempos difíceis ... Houve dias em que você se tornou maior.  Houve dias em que você parecia tão dolorosamente belo que mal pude acreditar que você era meu, e dias em que você partiu meu coração e me levou às lágrimas.

Mas com tudo isso, escolho amar você. Eu te amo, quer você mereça ou não (e como se mede isso?). Amo você em parte porque você é o único mundo que tenho. Eu te amo porque gosto de quem sou melhor quando faço. Mas principalmente, eu te amo porque te amar torna mais fácil para mim ser grato por hoje e ter esperança no amanhã. O amor faz isso.

Fielmente seu,
Harold Kushner

Relembrando: Pessoas boas versus coisas ruins



Existem livros que transcendem o tempo. Talvez porque falem de temas universais presentes em nosso cotidiano. Foi o que fez o rabino norte-americano Harold Kushner ao escrever, na década de 1980, a obra “Quando Coisas Ruins acontecem às pessoas Boas”.

Traumatizado com a morte do filho de 14 anos que sofria de uma doença genética incurável, Kushner repassou para o papel toda a sua experiência de dor e sofrimento, e também a sua inabalável fé no Criador. Como rabino de uma pequena congregação, em Massachusetts (EUA), ele pôde observar que as pessoas atingidas por uma tragédia geralmente mostravam-se revoltadas e terrivelmente abaladas em sua crença religiosa.

Citando a figura bíblica de Jô, homem íntegro que vê os filhos morrerem, os negócios falirem e a doença atacar o seu corpo, Kushner dá o seguinte recado: mesmo nas adversidades, não ceda à tentação de abandonar a fé em Deus. Entretanto, essa tragédia pessoal faz o rabino repensar tudo o que ensinava sobre Deus e os caminhos de Deus.

A visão do tapete



No livro acompanhamos os inúmeros casos verídicos de adultos bons, decentes e fiéis em suas crenças, e de crianças alegres e inocentes, os quais, em um momento de suas vidas, são atingidos por um infortúnio ou mesmo pela tragédia.

Kushner observa que muitas dessas pessoas e as que estão ao seu redor têm a ideia de que possíveis tropeços e desmandos possam ser as causas de suas desgraças. Isso é, que Deus dá a cada um o que cada um merece. Uma culpa que geralmente se mistura à revolta e a inevitável questão: “Que razões poderia ter Deus para fazer o que fez, já que não sou pior do que o meu vizinho?”.

O rabino lembra que no livro “O Oitavo Dia” (1967), o escritor norte-americano Thornton Wilder (1897-1975) dá uma visão interessante dos desígnios de Deus. A história descreve um homem bom cuja vida é arruinada pela má sorte e hostilidade. Ele e sua família sofrem, embora sejam inocentes. E não existe final feliz. O que Wilder apresenta, destaca Kushner, se assemelha à imagem de um lindo tapete. Olhando do lado direito, é um trabalho de arte, muito bem tecido, reunindo fios de diferentes tamanhos e cores para formar um desenho inspirado. Mas, virando o tapete pelo avesso, percebe-se uma confusão de fios, uns curtos outros compridos, alguns cortados, outros amarrados.

Logo, seria dessa forma que veríamos o mundo, do nosso ponto de vista, ou seja, olhando o tapete de baixo, enxergando o seu avesso. E dessa maneira, os padrões de recompensa e punição poderiam parecer arbitrários e sem lógica porque não temos a capacidade de compreensão e o entendimento divino. Kushner assinala em seu livro que nem sempre há uma razão para os males que nos afligem: “Será que somos capazes de aceitar a ideia que há fatos que surgem sem qualquer razão, de que no universo existem circunstâncias fortuitas?”.

Muita gente não se conforma com o conceito de casualidade e procura nexo e sentido em tudo que lhes ocorrem. Outras enxergam a mão de Deus atrás de tudo o que acontece. Mas suponhamos, escreve o rabino, que Deus não tenha terminado toda a sua obra no sexto dia, de acordo com a metáfora bíblica da Criação, e o processo de colocar ordem no caos ainda esteja em andamento.

Pela vida



Sobreviventes do Holocausto também são bons exemplos quando se aborda os desígnios de Deus. No livro “Por Aqueles que eu amo”, Martin Gray, que sobreviveu ao Gueto de Varsóvia e ao Holocausto, conta que depois da guerra se casou e constituiu uma família feliz. Entretanto, um incêndio em sua casa no sul da França matou a esposa e seus filhos. Ainda que arrasado com a tragédia, Gray preferiu não ir atrás de possíveis culpados e aplicar os seus recursos em um movimento para proteger as florestas de incêndios. A vida, explicou o sobrevivente, tem que ser vivida por alguma coisa, não contra alguma coisa.

Kushner também cita o trecho de um livro escrito por um sobrevivente de Auschwitz ( A Fé e a Dúvida dos Sobreviventes do Holocausto, de Brenner) sobre a vontade de Deus e a matança de milhares de inocentes nos campos de concentração nazista. Afirma o sobrevivente: “Nunca me ocorreu questionar o que Deus fez ou deixou de fazer, enquanto eu fui um habitante de Auschwitz... Eu não fiquei menos ou mais religioso com o que os nazistas nos faziam... Nunca me ocorreu associar a calamidade que estávamos experimentando a Deus, censurá-Lo, deixar de crer, porque Ele não vinha em nosso socorro. Devemos a Deus nossas vidas, pelos poucos ou muitos anos que vivemos, e temos a obrigação de cultuá-Lo e fazer o que Ele nos ordena. Para isso estamos na terra – a serviço de Deus, para cumprir a Sua vontade.”

No mais, o rabino Harold Kushner, nascido em 1935, escreveu vários livros de sucesso (Quando Tudo não é o Bastante; Quando as Crianças perguntam sobre Deus) e foi considerado pela organização católica norte-americana “The Christophers” uma das 50 pessoas que na última metade do século 20 tornaram o mundo melhor.

Atualmente, com 86 anos, ele diz perceber que as pessoas olham para trás e julgam que deixaram de fazer muitas coisas. “A diferença entre uma pessoa que tem uma velhice feliz e uma pessoa que tem uma velhice infeliz não é o quão  bem-sucedidas elas foram, mas o quanto as coisas em que falharam continuam a perturbá-las.”  E dá um conselho: ”Se você não for capaz de silenciar aquela vozinha de decepção, você nunca será feliz."  

  

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Direitos Humanos: Israel vota contra a China no Conselho da ONU

  / Sheila Sacks  / 



Apesar do forte comércio bilateral entre os dois países, que em 2020 cresceu 20% e atingiu 17,5 bilhões de dólares, Israel seguiu os Estados Unidos em seu voto no Conselho de Direitos Humanos da ONU (UNHRC, na sigla em inglês), em junho último, que condenou a China por abusos contra muçulmanos que vivem na Região Autônoma Uigur de Xinjiang, no noroeste do país.

A região, anexada pela China em 1949,  abriga os uigures, de origem turcomana, maior grupo étnico local que professa o islamismo. De acordo com o Departamento de Estado dos EUA, acredita-se que até dois milhões de uigures e outras minorias muçulmanas foram colocados em uma ampla rede de centros de detenção em toda a região. Ex-prisioneiros relatam que foram sujeitos à doutrinação, tortura e até esterilização.

Recentemente, em 9 de julho, milhares de uigures exilados se reuniram em várias capitais para protestar contra a manutenção desses campos, as prisões arbitrárias, a repressão e perseguições violentas, a internação em massa e o desaparecimento de cidadãos civis.  Eles também lembraram o conflito ocorrido há doze anos, em Xinjiang, que resultou em centenas de mortos e feridos.

Em Londres, além de clamar por justiça e pela ajuda das nações ocidentais, a manifestação foi liderada por Rahima Mahmut, diretora do Congresso Mundial Uigur, e Sheldon Storne,  conselheiro da mesma organização que luta pelos direitos humanos e  pela liberdade religiosa em Xinjiang ( ou Turquestão Oriental para os uigures).

Storne é um médico judeu britânico de 65 anos que dirige a campanha STOPUYGHURGENOCIDE, em Londres. A mobilização também está ativa nos Estados Unidos e por ocasião da semana de Pessach ( a Páscoa judaica), em  30 de março, a organização Jewish World Watch (JWW) promoveu um Seder ( cerimônia religiosa) em prol do povo uigur. A JWW tem como foco denunciar e advogar contra o genocídio e atrocidades em massa nas áreas de conflito da China, Sudão, Congo, Síria e Birmânia.

Crime de genocídio



Relatório  independente divulgado em março pela ONG Newlines Institute for Strategy and Policy, sediada em Washington, também  faz graves acusações à China e afirma que “ o governo chinês tem a responsabilidade de estado por um genocídio em curso contra os uigures em violação à Convenção da ONU para a Prevenção e a Repressão do Crime do Genocídio “.  

De acordo com a plataforma digital da rede de notícias americana CNN (9/3/2021), o documento contou com a participação de uma equipe de 50 especialistas em direitos humanos que analisou milhares de depoimentos de testemunhas oculares de exilados uigures e documentos oficiais do governo chinês.

A assessora jurídica do Raoul Wallenberg Center for Human Rights, Yonah Diamond, que também contribuiu com o relatório, alerta para o real entendimento sobre o que é genocídio. Ela explica que não é preciso ter provas de assassinato em massa ou extermínio físico de um povo, sendo suficiente ter evidências claras e convincentes de que há uma intenção deliberada de destruir um grupo tal como ele é. A ONG, sediada em Montreal,  leva o nome do diplomata sueco que salvou do genocídio nazista cerca de 100 mil judeus na Hungria.

Instituída pela Assembleia Geral da ONU, em 9 de dezembro de 1948, a convenção destaca em seu artigo 2,  como crime de genocídio,  a intenção deliberada, por parte do Estado,  de eliminar grupos étnicos, religiosos, nacionais ou raciais. Por sua vez, a China nega as acusações de violação de direitos humanos e afirma “que os centros são necessários para prevenir o extremismo religioso e o terrorismo”. Intitulados por Pequim de “centros de treinamento vocacional”, esses campos são descritos pelo governo como locais de reeducação, visando a  desradicalização em massa e com ensino obrigatório de mandarim.

Desde 2014, mais de 1.400 centros foram instalados em Xinjiang, onde segundo relatos de ex-presos uigures os detidos são submetidos à tortura psicológica, lavagem cerebral e cultural, agressões sexuais, privação de comida por longos períodos e confinamento solitário.  Em documentos oficiais pesquisados, o relatório aponta que os uigures e outras minorias muçulmanas são chamados de “ervas daninhas” e “tumores”.

Essa política estatal se consolidou a partir de um ataque extremista praticado por separatistas uigures, em 2014. Naquela ocasião, o presidente chinês Xi Jinping visitou a região e, segundo documentos revelados pelo jornal New York Times, determinou às autoridades locais que combatessem o radicalismo “sem misericórdia”. A região faz fronteira com o Paquistão e o Afeganistão e autoridades chinesas alegam que os uigures têm ligações com a Al-Qaeda.  

A reportagem da CNN informa ainda que “no penúltimo dia na presidência dos Estados Unidos, em 19 de janeiro, o governo de Donald Trump declarou que o governo chinês estava cometendo genocídio em Xinjiang. Um mês depois, os parlamentos da Holanda e do Canadá aprovaram moções apontando o crime, apesar da oposição de seus líderes”.

Relatos brutais



Majoritariamente muçulmanos, os uigures chegam a 11 milhões em Xinjiang, região vizinha ao Cazaquistão, berço das etnias cazaques. A rede britânica de notícias BBC News ouviu o relato de mulheres uigures que foram presas e passaram meses detidas nos chamados campos de “reeducação”.

Já no início da reportagem, um aviso incomum aos leitores: Alerta: você pode considerar perturbadores alguns dos detalhes desta reportagem.”  Isso porque são narradas histórias brutais de estupros, choques elétricos, ingestão  acentuada de remédios, tortura, confissões forçadas e esterilização massiva.  As ex-detentas,  que atualmente residem em outros países, também revelam que tiveram seus cabelos cortados e eram obrigadas a cantar canções patrióticas e assistir programas  doutrinários da TV estatal (‘Uigures em campos de reeducação na China relatam estupros sistemáticos’, em 5/2/2021).

Uma das presas, Tursunay Ziawudun, ficou nove meses detida e depois de libertada fugiu para os Estados Unidos. Ela conta que devidos aos abusos sexuais muitas mulheres se tornam alcoólatras e têm problemas mentais. "Dizem que as pessoas são libertadas, mas na minha opinião todos os que deixam os campos estão acabados”, afirma. Devido à sucessão de estupros, Ziawudun teve que retirar o útero.

Outros tipos de violência contra os uigures também têm sido denunciados por estudiosos e ativistas na mídia ocidental. O sociólogo italiano Massimo Introvigne, autor de um livro sobre as perseguições religiosas na China (‘Il libro nero della persecuzione religiosa in Cina’), de 2019, denuncia que cópias do Alcorão têm sido confiscadas e queimadas pela polícia em Xinjiang. Para fugir da ação dos agentes policiais, livros de rezas são enterrados  ou mesmo colocados nos rios pela vítimas, embrulhados em plástico, na tentativa de evitar que sejam profanados 

Fundador do Centro de Estudos sobre Novas Religiões (CESNUR, na sigla em inglês), Introvigne lembra que em dezembro do ano passado (2020) entrou em vigor um novo regulamento que limita com rigor a peregrinação anual dos muçulmanos à Meca, com o estabelecimento de cotas e a avaliação investigativa dos proponentes à peregrinação. O documento editado pela “Administração Estatal de Assuntos Religiosos “ impõe um controle mais rígido às viagens. Peregrinações “não oficiais”, sem o aval do governo chinês, são consideradas atitudes criminosas e severamente punidas.

Investimentos em Israel



A plataforma de notícias japonesa Nikkei Asia, especializada em assuntos sobre o continente asiático, chama a atenção para o fato de que os EUA e a China serem os maiores parceiros comerciais de Israel e que ambos são vitais para a prosperidade do país.

Em uma análise publicada no início de julho, a mídia destaca que “os EUA são insubstituíveis para Israel em termos de ajuda militar, compartilhamento de inteligência e inovação.  Por outros lado, “as empresas chinesas estão envolvidas em vários projetos importantes de infraestrutura em Israel, e a China apresenta um mercado em crescimento e uma fonte de investimento para empresas israelenses de tecnologia.”

No início deste ano, o Grupo Portuário Internacional de Xangai (Shanghai International Port Group) começou a administrar o novo porto de Haifa por um período de 25 anos. A concessão a uma empresa chinesa de um dos principais portos do país tem preocupado as autoridades americanas, principalmente porque é no porto de Haifa onde está localizada a base naval militar mais importante de Israel e onde também são feitos exercícios e simulações navais em parceria com os Estados Unidos. Pelo acordo entre Israel e China, serão investidos 2 bilhões de dólares em infraestrutura e modernização do porto.

 À parte os negócios, o Nikkei Asia enfoca igualmente a posição da China durante o conflito armado entre Israel e o Hamas, em maio, destacando que Pequim mostrou  “um invulgar apoio ao grupo islâmico que controla Gaza, condenando duramente as ações de Israel, redigindo declarações ao Conselho de Segurança das Nações Unidas e criticando repetidamente o apoio dos EUA a Israel”.

Para o analista do Instituto de Estratégia e Segurança de Jerusalém, (JISS, na sigla em inglês)  Tuvia Gering, neste caso especial, “a China não só levou o Conselho de Segurança da ONU  a realizar três reuniões contra Israel, mas deu rédea solta à mídia afiliada, diplomatas e membros do Partido Comunista para atacar Israel com comentários antissemitas e antissionistas”.

Em entrevista ao Jewish News Syndicate (JNS), site israelense de notícias, Gering não poupou críticas ao país. “A China tem falhado constantemente em ter empatia por Israel,  em reconhecer suas preocupações com a segurança e com o fato de que  Israel é um país ameaçado por organizações terroristas cínicas e assassinas, armadas pelo Irã.”

No final do ano passado, o embaixador israelense nos Estados Unidos e na ONU, Gilad Erdan, já tinha enviado um aviso à China sobre esse posicionamento agressivo e  solicitado ao seu homólogo chinês para que parasse de apoiar resoluções contra Israel, caso contrário haveria retaliações.

Acordo China-Irã

Em outra manobra estratégica para ampliar a sua influência no Oriente Médio, a China anunciou, em março último, um acordo bilateral de 25 anos com o Irã  envolvendo cerca de 400 bilhões de dólares de investimentos, não só em energia, transporte e agricultura, mas também em inteligência, assuntos militares e treinamento.

Especialista em relações China-Oriente Médio e  pesquisador do centro de assuntos políticos  e estratégicos Begin-Sadat Center for Strategic Studies, ligado à Universidade Bar-Ilan,  Roie Yellinek avalia que a política externa chinesa é bem "versátil" em suas abordagens nas áreas política e comercial. “A China sabe como travar uma luta com os EUA e conduzir em paralelo um comércio no valor de centenas de bilhões de dólares. Sabe como combater os uigures muçulmanos em seu território e salvaguardar laços estreitos com os países muçulmanos”, afirma.

Yellinek aponta que embora a China se oponha ao programa de armas iraniano, não está ajudando a impedir o Irã de desenvolvê-lo. Por sua vez, o Irã usa o poderio e a cooperação chinesa para neutralizar a pressão dos Estados Unidos. De acordo com o estudioso israelense, “os chineses entendem que o governo Biden não é o governo Trump e que podem ser mais agressivos”.

Já para o ex-chefe da Divisão estratégica do IDF (Israel Defense Forces), general Assaf Orion, o acordo de cooperação militar-tecnológico e de inteligência entre a China e o Irã está em oposição aos objetivos de Israel. “Pequim é um importante parceiro econômico de Israel, mas está cooperando com uma potência regional que é a principal e mais grave ameaça externa ao estado e à população israelense”, alerta o militar.

 

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Covid-19 na mira da CIA

/  Sheila Sacks  /

Armas biológicas letais de alcance global, os vírus, bactérias e toxinas manipulados em laboratórios preocupam as grandes potências. O medo é que novos agentes mortais fabricados artificialmente caiam em mãos de grupos terroristas. E mais de um ano após o início da pandemia, crescem as suspeitas de que o vírus da Covid-19 foi criado em laboratório.

Diante da desconfiança externada por especialistas e também sentida na opinião pública americana, o presidente Joe Biden deu prazo de 90 dias para que órgãos da Inteligência do país, como a CIA,  investiguem a origem do vírus: se foi criado em um laboratório na China ou evoluiu naturalmente de um animal hospedeiro para o ser humano.

A decisão inédita da Casa Branca foi anunciada em 26 de maio último e visa dar uma resposta ao país, caracterizar as responsabilidades  e atender os muitos apelos de renomados cientistas para novas investigações. Dentre eles, a imunologista de universidade de Yale, Akiko Iwasaki, que liderou a pesquisa sobre a resposta do sistema imunológico ao Sars-CoV-2, causador da Covid-19.

Para o pesquisador israelense Shaul Shay, do Instituto Internacional de Contraterrorismo (ICT, na sigla em inglês) e ex-chefe adjunto do Conselho de Segurança Nacional de Israel, a pandemia da Covid-19 serve como uma lição objetiva dos riscos letais das armas biológicas e também como alerta para possíveis ameaças de bioterrorismo.

Drones mortais

Por sua vez, a especialista em contraterrorismo, Trace Walder, autora do livro “The Unexpected Spy” ( A Imprevisível Espiã, em tradução livre), vai mais adiante  ao afirmar que a maior ameaça que os EUA e Israel podem enfrentar são os enxames de drones armados com venenos químicos lançados pelo Irã, Estado Islâmico e outros grupos terroristas.

Agente da CIA e do FBI por muitos anos, seu verdadeiro nome é Tracy Schandler. De origem judaica, ela foi recrutada em 1998, quando ainda era estudante universitária. Coube a Tracy atuar nas principais investigações e captura de terroristas a partir do ataque de 11/9/2001, quando os EUA intensificaram a busca por terroristas.

Em seu trabalho como oficial de contraterrorismo  frustrou uma sucessão de ataques químicos planejados em vários cantos do mundo. Rastreou e interrogou terroristas,  reunindo informações que ajudaram órgãos de segurança de países aliados a monitorar pessoas suspeitas de integrar grupos extremistas. Participou da busca e captura de Osama bin Laden e de outros membros da Al-Qaeda.

Em entrevista ao jornal The Jerusalem Post, Tracy Walder lembrou que grupos terroristas, como o Estado Islâmico que atua na Síria, já se utilizam de armas químicas em seus ataques a populações civis, obtidas em países como o Irã e a Coreia do Norte. Ela revela que desde os primórdios dos anos 2000, o fundador do Estado Islâmico e líder da Al Qaeda no Iraque, Abu Musab al Zarqawi (morto em 2006), estava interessado em adquirir armas químicas e biológicas como antraz e ricina. Ainda de acordo com Tracy Walder, a aplicação desses produtos, na atualidade, é muito fácil de ser feita tendo acesso a um drone. Em 2018, relatório da ONU também alertava que a Coreia do Norte, desde 2012,  envia suprimentos para o regime sírio de Bashar al-Assad  potencialmente usados na produção de armas químicas.

Em janeiro do ano passado, ao assumir a liderança do Estado Islâmico (ISIS, na sigla em Inglês - Islamic State of Iraq and Syria), Abu Ibrahim al-Hashimi al-Quraishi  enviou uma mensagem gravada a seus militantes convocando –os a usarem armas químicas contra Israel e os judeus, onde eles estiverem.


Possível origem artificial

A polêmica em relação à origem da Covid-19 também esquentou no mês passado (maio/2021) com as declarações de dois pesquisadores, um britânico e outro norueguês, que afirmam ter provas da origem artificial do novo coronavírus e que ele foi criado no laboratório de Wuhan, na China.

O professor Angus Dalgleish ,da St Georges Hospital Medical School da Universidade de Londres, e  Birger Sorensen, virologista e presidente da farmacêutica Immunor, dizem que cientistas chineses , tendo como base o coronavírus do morcego, acrescentaram um novo espinho, tornando-o mais contagioso e mortal. Eles analisaram os experimentos dos chineses no laboratório de Wuhan entre 2002 e 2019 e chegaram a conclusão de que foram desenvolvidos mecanismos para a criação do Sars-Cov-2.

A prova de sua origem, segundo os estudiosos, estaria na sequência de quatro aminoácidos encontrados no espinho do coronavírus, uma situação “extremamente pouco provável”. Quando o vírus é de origem natural, afirmam, três sequências de aminoácidos já é raro. 

Na avaliação de Dalgleish  e Sorensen, os cientistas chineses tentaram criar um vírus mais contagioso para que se reproduzisse mais rápido em células humanas e assim estudar melhor o impacto potencial do coronavírus nos humanos. 

Armas biológicas

Observa-se que a pandemia trouxe à tona um tema perturbador que se revela como um aviso dramático para os  riscos das chamadas armas biológicas, que não distinguem religiões, ideologias e fronteiras. O uso e a manipulação de agentes biológicos, como o vírus da varíola e da febre amarela, as bactérias Bacillus anthracis (antraz), Brucellae, Yersinia pestis (peste bubônica) e ricina, citando alguns, já se constituem numa ameaça real por um longo tempo.

Antes mesmo da 2ª Guerra Mundial, exércitos aliados e as forças alemãs e japonesas realizaram pesquisas com o intuito de desenvolver armas biológicas. Acidentes como o ocorrido na cidade russa de Sverdlovsk, em 1979, quando houve a dispersão acidental de  uma quantidade de Bacillus anthracis, na forma inalatória, de um centro de pesquisas militar soviético, comprovam as experiências com substâncias mortais. O acidente causou 68 mortes.

No livro “Biohazard – A verdadeira história do maior programa secreto de armas biológicas do mundo”, publicado no Reino Unido, em 1999, o russo Kanatjan Alibekov, também conhecido como Kenneth Alibek, médico, microbiologista e ex-diretor-adjunto do programa de armas biológicas da antiga União Soviética, demonstra que o país estava preparado para lançar um ataque biológico com o vírus da varíola sobre os Estados Unidos, no caso de uma guerra nuclear.

Em 2001, depois do ataque de 11/9, traços da bactéria antraz foram encontrados em cartas endereçadas à Casa Branca em uma agência postal. Dois carteiros morreram. À época, o presidente George W.Bush acusou a Al Qaeda pela correspondência contaminada.

Mais recentemente, em 2013, o serviço secreto americano interceptou cartas contendo ricina enviadas ao então presidente Barak Obama e a políticos do país. A ricina, extraída da mamona, é uma substância tóxica de alto risco para os seres vivos, podendo ser letal.

Vale dizer que agentes biológicos - diferentemente dos químicos que tendem a afetar somente quem está na região do ataque – têm a capacidade de atravessar fronteiras e se irradiarem por vastas regiões. Especialistas assinalam que a produção de armas biológicas não necessita de grande aparato nem sofisticadas instalações, podendo ser facilmente oculta, transportada e disseminada. Uma facilidade que se estende à aquisição de insumos e ao acesso à biotecnologia, ferramentas básicas para se construir uma arma biológica de destruição em massa, por um custo bem mais baixo do que uma bomba atômica, por exemplo, com resultados semelhantes.


Armas químicas

Em 1995, a seita apocalíptica japonesa Aum Shinri Kyo matou 12 pessoas e feriu outras 50, em um atentado no metrô de Tóquio, usando o gás sarin. Na guerra civil na Síria há evidências de que tem sido usado o gás sarin nas populações pelo governo sírio. O Centro de Estudos para Não Proliferação James Martin (CNS, na sigla em inglês), que pesquisa e combate a disseminação de armas de destruição em massa (weapon of mass destruction – WMD) já denunciou a Síria como detentora de um dos maiores arsenais de armas químicas do mundo. A instituição americana afirma que o exército sírio possui diferentes tipos de agentes químicos, além do sarin, como o gás mostarda, gás cloro e o agente neurológico VX, um gás tóxico asfixiante.

No caso de grupos terroristas, tais como Estado Islâmico, com base no Iraque e atuando na província do Sinai, Al Qaeda (Iêmen e Somália), Hezbollah (Líbano e Síria) e o Hamas (Faixa de Gaza), a posse de armas químicas ou biológicas é sempre um motivo de preocupação, notadamente para o governo israelense.

Nas mãos do Hezbollah

A posse de armas químicas pelo Hezbollah foi aventada, ainda em 2018, pelo ex-general sírio Zuhair al-Saqit em entrevista ao jornal israelense Maariv. O militar foi o responsável pelo desenvolvimento científico de armas químicas no país, mas em 2013 abandonou o exército e a Síria. Ele disse que o regime de Assad transferiu para o Hezbollah (que atua ao lado das forças sírias na guerra civil que já causou a morte de quase meio milhão de pessoas) grande parte dos estoques dessas substâncias letais com o intuito de burlar órgãos internacionais de inspeção. Uma dessas armas é o gás cloro, um agente asfixiante cujo histórico se reporta à 1ª Guerra Mundial e que foi usado pelo governo de Assad contra civis nas cidades de Saraqeb, Duoma e Latamneh, segundo relatório de 2018 da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW, na sigla em inglês).

Na entrevista em questão, o ex-general também conta que cientistas, técnicos e militares iranianos estavam desenvolvendo, no território sírio, mísseis com ogivas químicas de alcance entre 5 e 35 quilômetros. E confirmou a cooperação síria com a Coreia do Norte, afirmando que na qualidade de oficial graduado do exército acompanhou oficiais norte-coreanos nas visitas às várias unidades para consultoria sobre o uso de armas químicas.

Em relação ao Irã, relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), divulgado em março de 2020 denuncia que aquele país triplicou a quantidade de urânio enriquecido – um elemento químico radioativo -  em três meses, atingindo 1,1 tonelada em estoque (é preciso 1,6 tonelada de urânio de baixo enriquecimento para chegar à capacidade de produzir uma arma nuclear). Justamente no período em que o foco das autoridades e dos chefes das nações haviam se voltado para o enfrentamento de uma pandemia desconhecida.


Perigo à vista

Em 2017, na Conferência de Segurança de Munique, evento que se realiza anualmente nesta cidade alemã com a participação de líderes mundiais, o magnata e filantropo Bill Gates, fundador da Microsoft, surpreendeu a plateia ao afirmar que “a próxima epidemia poderá se originar na tela do computador de um terrorista que pretenda usar a engenharia genética para criar uma versão sintética do vírus da varíola ou uma cepa supercontagiosa e mortal da gripe”. Uma previsão assustadora para o futuro da humanidade, que já convive com a insegurança das mudanças climáticas e catástrofes naturais. Agora acrescida pelo sobressalto de possíveis surtos pandêmicos oriundos de experiências científicas nem sempre controláveis.

No caso da Covid-19, o supervírus surgiu na província chinesa de Wuhan que abriga laboratórios de alta tecnologia como o Instituto de Virologia Wuhan (WIV), fundado em 1956, que faz pesquisas nas áreas de microbiologia, biotecnologia e virologia. A instituição trabalha no isolamento de vírus de insetos e na produção de inseticidas virais. Segundo o site do laboratório, um de seus principais campos de pesquisa é o estudo patogênico de doenças infecciosas emergentes, com destaques para o coronavírus da síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars-Covid) e o vírus da influenza aviária.

O vírus foi identificado em novembro de 2019 e no mês seguinte houve a primeira manifestação da doença na província. Antes de ser demitido, em janeiro de 2020,  o prefeito de Whuan admitiu que mais de 5 milhões de pessoas puderam deixar a cidade antes que as restrições de viagem fossem decretadas.Porém, o mais grave é que as autoridades chinesas ocultaram as notícias e os detalhes do surto de vírus por dois meses, favorecendo à transmissão global da doença.

É importante lembrar que o médico chinês  Li Wenliang, de 34 anos, morreu em consequência do vírus, no início de fevereiro do ano passado, dois meses depois de alertar as autoridades  de Wuhan sobre o surgimento da pneumonia viral. Na ocasião (dezembro/20219) , ele foi convocado pela polícia local que o acusou de propagar boatos e assustar a população. Duas semanas depois de ser decretada a quarenta em Whan, ainda em fevereiro, a epidemia já tinha infectado mais de 31 mil pessoas, com 636 mortes.

A respeito, o rabino Abraham Cooper, diretor de ação social global do Centro Simon Wiesenthal, afasta qualquer relação da pandemia com algum tipo de provação ou de manifestação do Divino, como alguns místicos evocaram no início do surto.  Para ele, ninguém pode culpar D’us, quando o assunto é a Covid-19.

“São pessoas que nos trouxeram para esse desastre do coronavírus”, diz. “E não precisamos procurar os céus para encontrar a verdade neste caso”, prossegue. No artigo para The Media Line, mídia digital voltada para assuntos sobre o Oriente Médio, o rabino novaiorquino, de 71 anos, que assina a matéria juntamente com o reverendo Johnnie Moore, é enfático ao proclamar, já no título: “Não culpe D’us, culpem Pequim e Teerã.”

Cooper e Moore – um líder evangélico de 38 anos, dos mais influentes do país, comissário da Comissão de Liberdade Religiosa Internacional dos Estados Unidos  (USCIRF, na sigla em inglês) - acusam o governo chinês de se armar de suprimentos médicos, importando milhões de máscaras cirúrgicas e respiradores, grande parte da reserva mundial, antes de o mundo ter consciência da extensão da doença. Igualmente denunciam o Irã, que permitiu que os peregrinos continuassem a viajar para a cidade sagrada de Qom, quando o vírus já estava sendo disseminado, contaminando outras nações do Golfo Pérsico.

Os dois líderes religiosos conclamam para que a China admita e assuma a sua responsabilidade nas fases que antecederam a pandemia, e culpam o Irã pela saída da ONG Médicos Sem Fronteiras do país e de perseguir e matar membros da seita Bah’ai por sua ligação espiritual com Israel. Ambos, Cooper e Moore, trabalham na promoção do diálogo inter-religioso em todo mundo, principalmente nos países do Oriente e da Ásia.

De acordo com a BBC News, até 30 de março do ano passado, quando o vírus já era uma calamidade que se alastrava pelo mundo, a companhia aérea iraniana Mahan Air manteve seus aviões operando normalmente em suas rotas para cidades da China,  e realizando viagens e voos adicionais para Beirute, Damasco, Bagdá, Abu Dhabi (Emirados Árabes),  Sanaa (Iêmen) e Najaf e Karbala (Iraque).

A rede britânica de notícias apurou que a companhia aérea mentiu quando alegou que seus voos eram humanitários. Foram centenas de voos no período, possivelmente transportando passageiros com coronavírus, inclusive pousando em Barcelona, Istambul, Dubai e Kuala Lampur (Malásia).

A Mahan Air teve seus voos proibidos na Alemanha e França em 2019. Desde 2011 a companhia não opera nos Estados Unidos ( em contrapartida, iniciou voos diretos de Teerã a Caracas, na Venezuela, desde 2019 ) devido a sua ligação com a Guarda Revolucionária do Irã (IRGC, na sigla em inglês), uma unidade do exército iraniano que dá suporte financeiro, técnico e logístico ao Hezbollah, no Líbano, e a outros grupos islâmicos terroristas, a saber: o Hamas, a milícia Jihad Islâmica que atua na faixa de Gaza e na Cisjordânia, os rebeldes houthis, no Iêmen, e as milícias xiitas no Iraque, Síria e Afeganistão. Com mais de 150 mil funcionários ativos, essas ações no exterior são operacionalizadas pela temida Força Quds, uma unidade especial da IRGC.


Disseminação e silêncio

Frente à flagrante desconsideração com a vida humana e a propagação de desinformação e ocultação de dados por parte de Pequim e Teerã, o rabino Cooper e o reverendo Moore reforçam a opinião de que esses dois regimes ditatoriais ajudaram a transformar a Covid-19 em uma tragédia global.  Eles também criticam a postura de silêncio do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), o etíope Tedros Adhanom - que esperou até 11 de março para caracterizar a Covid-19 como pandemia -  e do secretário-geral das Nações Unidas (ONU), o português Antônio Guterres, que pediu às nações que suspendessem as sanções ao Irã por motivos humanitários.

Parece inevitável, então, que o mundo terá que conviver com a letalidade do novo coronavírus por um longo período. De acordo com o epidemiologista Michael Osterholm, autor do livro “Inimigo Mortífero: Nossa Guerra contra Germes Assassinos“ (em tradução livre), publicado em 2017, a Covid-19 é tão infecciosa quanto a gripe de 1918 (conhecida como gripe espanhola) que matou 50 milhões de pessoas e infectou cerca de 500 milhões, um terço da população mundial na época. Aquela pandemia foi causada pelo vírus H1N1, com genes de origem aviária.

Na sua avaliação, veiculada em fevereiro deste ano pelo canal de notícias CNN, a pandemia “está prestes a  piorar de forma sem precedentes ",  com o aumento de casos associados a variantes das cepas. Uma situação que ele compara a um “ furação de categoria 5 ou superior”. O cientista lista quatro componentes que podem levar a esse desastre: mutações virais; atrasos na vacinação; relaxamento na prevenção; e possibilidade de reinfecção. Osterholm é membro do Conselho Consultivo da Covid-19 do presidente Biden

Ainda no início da pandemia, o especialista previu que o vírus iria se mostrar ativo em todo o mundo, indo e vindo, em ondas.  “Devemos lembrar que a atual pandemia é causada por um coronavírus e não um vírus da gripe como foi o caso em 1918. A história dirá se os dois agem da mesma maneira em termos de epidemiologia das doenças”, explica.

Fundador do Centro de Pesquisa e Política de Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota, Osterholm insiste no continuado uso de máscaras (bem vedada),  o distanciamento social e a limitação de espaços que favoreçam aglomerações para evitar possíveis reinfecções não bem documentadas. Segundo ele, ainda que apareçam remédios eficazes, a transmissão do vírus continuaria, já que os medicamentos apenas diminuiriam o impacto da pandemia em número de casos graves e mortes.

Mesmo que se lavem as mãos com sabão várias vezes ao dia e que o ambiente esteja descontaminado, tal fato não impede que o vírus possa infectar as pessoas, garante Osterholm. Isso porque o vírus pode estar no ar que compartilhamos e respiramos com pessoas infectadas, daí a importância do uso de máscaras. Quanto mais vezes a pessoa ir para espaços públicos, onde haja aglomeração, maior a possibilidade de trocar um pouco de ar com alguém que tem o vírus e não sabe.


Nova vacinação

Os governos dos Estados Unidos, União Europeia  e Reino Unidos  já se preparam para aplicar milhões de vacinas de reforço em suas populações ainda este ano, no início do próximo inverno (dezembro a março, no hemisfério norte). O Reino Unido já comprou 60 milhões de doses de vacinas e deve antecipar a vacinação a partir do outono (setembro a dezembro). Os EUA têm um excedente de 300 milhões de vacinas em estoque e a União Europeia assinou contrato para receber 1,8 bilhão de vacinas até 2023.

Registrando que pouca mais de três meses após a detecção do vírus, já havia mais de 4 milhões de pessoas infectadas e perto de 300 mil mortes. No presente mês (junho/2021), as mortes já chegam perto de 4 milhões, com mais de 175 milhões de infectados, mesmo com a introdução de várias vacinas para combater a pandemia.

Na Indonésia, 350 médicos e profissionais da Saúde contraíram a Covid-19 depois de vacinados, e dezenas foram hospitalizados. A notícia foi divulgada pela Agência Reuters há poucos dias.

Logo, a perspectiva de uma mudança substantiva em curto período no cenário de incertezas e dificuldades que se descortina para as nações e populações do planeta, se configura mais como peça publicitária do que uma expectativa real.  Osterholm, inclusive, lança mão de uma frase de  Wilson Churchill, primeiro-ministro britânico durante a 2ª Guerra Mundial, para definir a atualidade:  “Este não é o fim, nem sequer o começo do fim, mas, talvez, o fim do começo”.

A frase do estadista inglês foi dita em discurso proferido no centenário prédio da Mansion House, de Londres, em 1942, logo após os britânicos expulsarem as tropas alemãs do general Rommel do Norte da África. Para muitos era a certeza da vitória. Mas, por certo, passaram-se mais de três anos até que a Alemanha nazista, enfim, se rendesse, em 08 de maio de 1945, encerrando uma trágica era de horror e mortes que marcou, de forma definitiva, a história contemporânea.