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domingo, 6 de maio de 2018

O foco é o combate ao antissemitismo


Sheila Sacks /
    
Consulta a israelenses mostra que combate ao antissemitismo é prioridade. 
Presidente do Congresso Mundial Judaico diz que Israel precisa estreitar laços com a diáspora.         

Em abril, na semana da celebração dos 70 anos da criação do estado de Israel, a Organização Sionista Mundial (WZO, na sigla em inglês) divulgou uma pesquisa abrangente realizada com israelenses de variadas idades e condições sociais para saber, entre outros temas, quais seriam as ações prioritárias da instituição, segundo os entrevistados.

Para a surpresa de muitos, 47% dos israelenses consultados apontaram para o combate ao antissemitismo na diáspora. O incentivo à aliá (imigração judaica) -atividade básica da organização – veio em seguida, com a indicação de 43% dos consultados. Outros focos de atuação visariam promover a unidade entre as várias correntes do judaísmo (34%), fortalecer os ideais sionistas (29%) e reforçar a educação e língua hebraica (19%).

 O resultado da pesquisa mostra que a sociedade israelense está consciente acerca do crescimento do antissemitismo nos quatro cantos do mundo e da ameaça que tal flagelo representa para as comunidades judaicas.

Agressões e assassinatos

Exemplos recentes na Europa, notadamente na França, envolvendo agressões físicas a crianças e adolescentes judeus em vias públicas, pichações a lojas e restaurantes kasher, e dois brutais assassinatos de senhoras judias em seus apartamentos, são situações que assustam, desestabilizam e concorrem para um novo êxodo das populações judaicas, agora rumo ao estado de Israel.

A França tem a maior população judaica da Europa, com cerca de meio milhão de pessoas, atrás apenas de Israel e Estados Unidos. Em abril do ano passado, Sarah Halimi, de 65 anos, judia ortodoxa, médica aposentada, mãe de três filhos, foi espancada por um vizinho e jogada à rua da varanda do seu apartamento, localizado no terceiro andar, no distrito de Belleville, em Paris.  

Em março deste ano, Mireille Knoll, de 85 anos, sobrevivente do Holocausto, foi assassinada a facadas por dois homens que depois incendiaram o seu apartamento situado no bairro Bagneux, na capital francesa.  Ambos os crimes cometidos por muçulmanos e de comprovada conotação antissemita.

Em 2017 foram registrados 311 ataques racistas na França, sendo que um terço deles dirigidos contra judeus. Na Alemanha, estatísticas revelam que a média diária de incidentes com conotação antissemita é de quatro por dia! De acordo com um estudo encomendado pelo parlamento alemão, 80% dos que foram agredidos fisicamente relataram que os agressores eram de origem muçulmana.

Na Inglaterra, dados mostram que incidentes antissemitas atingiram um nível recorde em 2017, com 1.382 casos, conforme registro da organização “Community Security Trust”, que monitora o tema desde 1984. A maioria desses ataques ocorreu nas cidades de Londres e de Manchester, onde estão localizadas as duas maiores comunidades judaicas do Reino Unido. O relatório também apontou para um suposto antissemitismo no interior do partido trabalhista. Atualmente, vivem 260 mil judeus na Inglaterra.

Diáspora mudou

Convidado pela terceira vez para presidir a 7ª Conferência Anual do jornal The Jerusalem Post, o presidente do Congresso Mundial Judaico (World Jewish Congress – WJC) Ronald S. Lauder, conclamou Israel a buscar aliados na diáspora e estreitar seus laços com as novas gerações judaicas. O evento realizado em Nova York, no final de abril, reuniu jornalistas, lideranças políticas israelenses e americanas, empresários e representantes comunitários.

Lauder, que trabalhou no Pentágono e foi embaixador americano na Áustria durante a administração de Ronald Reagan, disse que o estado de Israel deve entender que precisa do apoio da diáspora. Com a ressalva de que a diáspora mudou, com muitos jovens não apoiando totalmente Israel. Segundo Lauder, Israel não tem investido suficientemente na divulgação de sua história e está sendo atropelado pelos que fazem campanha contrária fomentando o antissemitismo.

O discurso de Lauder se reveste de importância, não somente pelo cargo que ocupa  como presidente de uma organização que congrega comunidades judaicas em mais de cem países, mas também pela sua trajetória pessoal e profissional. Dias antes, ele foi agraciado com o prêmio de “Trajetória de Vida” ( ‘Lifetime Achievement Award’ ) concedido pela “Federal Enforcement Homeland Security Foundation”, uma instituição que apoia policiais feridos ou mortos em ação. Na ocasião, foi elogiada a sua carreira no serviço público e o seu constante e firme apoio à categoria dos policiais.

Propaganda do mal

A parte central da fala de Lauder aborda uma questão crucial que no seu entender o governo israelense não tem dado a devida atenção. Trata-se do montante de recursos, cada vez maior, que os opositores de Israel investem em propaganda para denegrir mundialmente a imagem do país.

Para neutralizar essa situação dramática, que colabora para o aumento do antissemitismo, Israel também precisaria dirigir mais recursos para as áreas de publicidade, propaganda e relações públicas externas, em um trabalho de convencimento e de hasbará (‘explicação’, em hebraico).

Para Lauder, Israel precisa mudar a sua imagem e atrair aliados em todos os países, tendo em mente, porém, que as comunidades judaicas se transformaram. “O problema é que a diáspora, hoje, não é mais a mesma diáspora de minha geração ou da geração de meus pais”, acentua. “Minha geração acredita em Israel 100%. Nosso vínculo com Israel é inquebrantável. Mas, muitos da geração mais jovem estão voltando às costas para Israel. Precisamos nos perguntar por que estão fazendo isso e o que podemos fazer para reverter essa situação?”

Educação deficiente

A falha na elaboração de uma educação judaica que promova o orgulho de pertencer ao povo judeu aliada ao investimentos insuficientes por parte de Israel, para uma política pública consistente e combativa voltada para a divulgação de sua história e de seus valores, podem explicar esse avanço no clima de animosidade que atinge em cheio as comunidades da diáspora.


Acredito que estamos desapontando a atual geração de duas maneiras”, analisa. “A primeira é a educação e nossa falha de contar a verdadeira história de Israel. Não estamos fazendo o suficiente para educar os jovens sobre o que significa ser judeu e sobre a grandeza de Israel.” A segunda diz respeito “ao monopólio religioso que existe hoje em Israel” e que afasta toda uma geração de jovens judeus seculares, avalia Lauder.

“Precisamos nos lembrar de que somos um povo. Do mais ortodoxo ao mais secular, do mais liberal ao mais conservador, somos irmãos e irmãs unidos por um objetivo comum: a sobrevivência e a prosperidade de Israel e do povo judeu.”

Desinformação como arma

Mas, por outro lado, Israel também precisa direcionar recursos substanciais para contar a sua história. As diversas plataformas midiáticas e as redes sociais na internet são alimentadas diariamente com informações falsas e distorcidas da realidade, as chamadas fake news. Organizações e grupos regiamente pagos executam um trabalho profissional de desinformação que induz a visões pervertidas sobre a nação judaica.

De acordo com Lauder, enquanto Israel vem gastando cada vez menos em relações públicas, seus opositores estão gastando muito mais. “Eles dedicam milhões de dólares ao treinamento de agentes anti-Israel na arte da persuasão e da propaganda. E enviam esses agentes altamente treinados a universidades, para espalhar mentiras e mais mentiras sobre Israel, para fazer com que os judeus pareçam maus e para inflamar o antissemitismo”, explica.

“Hoje, mais do que nunca, eles são bem-sucedidos. Estão convencendo nossos jovens de que Israel é um estado pária, um estado perverso, o estado do apartheid. O que Israel faz em resposta? Nada! Refuta essas mentiras? Não! Fica em silêncio. Permite que nossos inimigos o definam. Se não fizermos alguma coisa, correremos o risco de perder toda uma geração de judeus para a propaganda anti-israelita e para o ódio”, conclui.

Em defesa de Israel

Um fato destacado por Lauder, em seu discurso, serviu como exemplo para ilustrar o ambiente recorrente de ódio contra Israel verificado entre jovens nas universidades. Ele contou que dias antes, em uma palestra na Universidade de Syracuse (Nova York), o cônsul israelense daquela cidade, Dani Dayan (cujas credenciais para embaixador no Brasil não foram aceitas pelo governo de Dilma Rousseff), teve sua palestra interrompida por manifestantes do movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), que carregavam cartazes difamatórios e gritavam impropérios.

Dayan é um defensor dos assentamentos israelenses na Judeia e Samaria e foi presidente do Conselho Yesha - de assentamentos judaicos na Cisjordânia - entre 2007 e 2013.  “Foi um ultraje”, afirmou Lauder, que disse ter ficado perturbado por ninguém ter se levantado para defender Israel.

"Permitam-me fazer uma pergunta”, conclamou. “Se a pessoa molestada, em vez de ser um líder judeu, fosse um líder negro? Ou um líder muçulmano? Ou de qualquer minoria? Então isso seria notícia de primeira página. Mas quando é um judeu, um israelense, ninguém se levanta e se manifesta. A cumplicidade é assustadora. O silêncio é ensurdecedor”, lamentou.