Sheila Sacks /
Consulta a israelenses mostra que combate ao antissemitismo é
prioridade.
Presidente do Congresso Mundial Judaico diz que Israel precisa
estreitar laços com a diáspora.
Em abril, na semana da
celebração dos 70 anos da criação do estado de Israel, a Organização Sionista
Mundial (WZO, na sigla em inglês) divulgou uma pesquisa abrangente realizada
com israelenses de variadas idades e condições sociais para saber, entre
outros temas, quais seriam as ações prioritárias da instituição, segundo os
entrevistados.
Para a surpresa de
muitos, 47% dos israelenses consultados apontaram para o combate ao
antissemitismo na diáspora. O incentivo à aliá (imigração judaica) -atividade
básica da organização – veio em seguida, com a indicação de 43% dos
consultados. Outros focos de atuação visariam promover a unidade entre as
várias correntes do judaísmo (34%), fortalecer os ideais sionistas (29%) e
reforçar a educação e língua hebraica (19%).
O resultado da
pesquisa mostra que a sociedade israelense está consciente acerca do
crescimento do antissemitismo nos quatro cantos do mundo e da ameaça que tal
flagelo representa para as comunidades judaicas.
Agressões e
assassinatos
Exemplos recentes na
Europa, notadamente na França, envolvendo agressões físicas a crianças e
adolescentes judeus em vias públicas, pichações a lojas e restaurantes kasher,
e dois brutais assassinatos de senhoras judias em seus apartamentos, são
situações que assustam, desestabilizam e concorrem para um novo êxodo das
populações judaicas, agora rumo ao estado de Israel.
A França tem a maior população
judaica da Europa, com cerca de meio milhão de pessoas, atrás apenas de Israel
e Estados Unidos. Em abril do ano passado, Sarah Halimi, de 65 anos, judia ortodoxa,
médica aposentada, mãe de três filhos, foi espancada por um vizinho e jogada à
rua da varanda do seu apartamento, localizado no terceiro andar, no distrito de
Belleville, em Paris.
Em março deste ano,
Mireille Knoll, de 85 anos, sobrevivente do Holocausto, foi assassinada a
facadas por dois homens que depois incendiaram o seu apartamento situado no
bairro Bagneux, na capital francesa. Ambos os crimes cometidos por
muçulmanos e de comprovada conotação antissemita.
Em 2017 foram registrados
311 ataques racistas na França, sendo que um terço deles dirigidos contra
judeus. Na Alemanha, estatísticas revelam que a média diária de incidentes com
conotação antissemita é de quatro por dia! De acordo com um estudo encomendado
pelo parlamento alemão, 80% dos que foram agredidos fisicamente relataram que
os agressores eram de origem muçulmana.
Na Inglaterra, dados
mostram que incidentes antissemitas atingiram um nível recorde em 2017, com
1.382 casos, conforme registro da organização “Community Security Trust”, que monitora
o tema desde 1984. A maioria desses ataques ocorreu nas cidades de Londres e de
Manchester, onde estão localizadas as duas maiores comunidades judaicas do
Reino Unido. O relatório também apontou para um suposto antissemitismo no
interior do partido trabalhista. Atualmente, vivem 260 mil judeus na
Inglaterra.
Diáspora mudou
Convidado pela
terceira vez para presidir a 7ª Conferência Anual do jornal The Jerusalem
Post, o presidente do Congresso Mundial Judaico (World Jewish Congress
– WJC) Ronald S. Lauder, conclamou Israel a buscar aliados na diáspora e
estreitar seus laços com as novas gerações judaicas. O evento realizado em Nova
York, no final de abril, reuniu jornalistas, lideranças políticas israelenses e
americanas, empresários e representantes comunitários.
Lauder, que trabalhou
no Pentágono e foi embaixador americano na Áustria durante a administração de
Ronald Reagan, disse que o estado de Israel deve entender que precisa do apoio
da diáspora. Com a ressalva de que a diáspora mudou, com muitos jovens não apoiando
totalmente Israel. Segundo Lauder, Israel não tem investido suficientemente na
divulgação de sua história e está sendo atropelado pelos que fazem campanha
contrária fomentando o antissemitismo.
O discurso de Lauder
se reveste de importância, não somente pelo cargo que ocupa como
presidente de uma organização que congrega comunidades judaicas em mais de cem
países, mas também pela sua trajetória pessoal e profissional. Dias antes, ele
foi agraciado com o prêmio de “Trajetória de Vida” ( ‘Lifetime Achievement
Award’ ) concedido pela “Federal Enforcement Homeland Security Foundation”, uma
instituição que apoia policiais feridos ou mortos em ação. Na ocasião, foi
elogiada a sua carreira no serviço público e o seu constante e firme apoio à
categoria dos policiais.
Propaganda do mal
A parte central da
fala de Lauder aborda uma questão crucial que no seu entender o governo
israelense não tem dado a devida atenção. Trata-se do montante de recursos,
cada vez maior, que os opositores de Israel investem em propaganda para
denegrir mundialmente a imagem do país.
Para neutralizar essa
situação dramática, que colabora para o aumento do antissemitismo, Israel
também precisaria dirigir mais recursos para as áreas de publicidade,
propaganda e relações públicas externas, em um trabalho de convencimento e de
hasbará (‘explicação’, em hebraico).
Para
Lauder, Israel precisa mudar a sua imagem e atrair aliados em todos os
países, tendo em mente, porém, que as comunidades judaicas se transformaram. “O
problema é que a diáspora, hoje, não é mais a mesma diáspora de minha geração
ou da geração de meus pais”, acentua. “Minha geração acredita em Israel 100%.
Nosso vínculo com Israel é inquebrantável. Mas, muitos da geração mais jovem estão
voltando às costas para Israel. Precisamos nos perguntar por que estão fazendo
isso e o que podemos fazer para reverter essa situação?”
Educação deficiente
A falha na elaboração de uma educação
judaica que promova o orgulho de pertencer ao povo judeu aliada ao investimentos
insuficientes por parte de Israel, para uma política pública consistente e
combativa voltada para a divulgação de sua história e de seus valores, podem
explicar esse avanço no clima de animosidade que atinge em cheio as comunidades
da diáspora.
“Acredito que estamos desapontando a atual geração de duas maneiras”,
analisa. “A primeira é a educação e nossa falha de contar a verdadeira história
de Israel. Não estamos fazendo o suficiente para educar os jovens sobre o que
significa ser judeu e sobre a grandeza de Israel.” A segunda diz respeito “ao
monopólio religioso que existe hoje em Israel” e que afasta toda uma geração de
jovens judeus seculares, avalia Lauder.
“Precisamos nos
lembrar de que somos um povo. Do mais ortodoxo ao mais secular, do mais liberal
ao mais conservador, somos irmãos e irmãs unidos por um objetivo comum: a
sobrevivência e a prosperidade de Israel e do povo judeu.”
Desinformação como arma
Mas, por outro lado,
Israel também precisa direcionar recursos substanciais para contar a sua
história. As diversas plataformas midiáticas e as redes sociais na internet são
alimentadas diariamente com informações falsas e distorcidas da realidade, as
chamadas fake news. Organizações e grupos regiamente pagos executam um trabalho
profissional de desinformação que induz a visões pervertidas sobre a nação
judaica.
De acordo com Lauder, enquanto
Israel vem gastando cada vez menos em relações públicas, seus opositores estão
gastando muito mais. “Eles dedicam milhões de dólares ao treinamento de agentes
anti-Israel na arte da persuasão e da propaganda. E enviam esses agentes
altamente treinados a universidades, para espalhar mentiras e mais mentiras
sobre Israel, para fazer com que os judeus pareçam maus e para inflamar o
antissemitismo”, explica.
“Hoje, mais do que
nunca, eles são bem-sucedidos. Estão convencendo nossos jovens de que Israel é
um estado pária, um estado perverso, o estado do apartheid. O que Israel faz em resposta? Nada! Refuta essas mentiras? Não! Fica em
silêncio. Permite que nossos inimigos o definam. Se não fizermos alguma coisa,
correremos o risco de perder toda uma geração de judeus para a propaganda
anti-israelita e para o ódio”, conclui.
Em defesa de Israel
Um fato destacado por
Lauder, em seu discurso, serviu como exemplo para ilustrar o ambiente
recorrente de ódio contra Israel verificado entre jovens nas universidades. Ele
contou que dias antes, em uma palestra na Universidade de Syracuse (Nova York),
o cônsul israelense daquela cidade, Dani Dayan (cujas credenciais para
embaixador no Brasil não foram aceitas pelo governo de Dilma Rousseff), teve
sua palestra interrompida por manifestantes do movimento BDS (Boicote,
Desinvestimento e Sanções), que carregavam cartazes difamatórios e gritavam
impropérios.
Dayan é um defensor
dos assentamentos israelenses na Judeia e Samaria e foi presidente do Conselho
Yesha - de assentamentos judaicos na Cisjordânia - entre 2007 e 2013. “Foi um ultraje”, afirmou Lauder, que disse
ter ficado perturbado por ninguém ter se levantado para defender Israel.
"Permitam-me
fazer uma pergunta”, conclamou. “Se a pessoa molestada, em vez de ser um líder
judeu, fosse um líder negro? Ou um líder muçulmano? Ou de qualquer minoria?
Então isso seria notícia de primeira página. Mas quando é um judeu, um
israelense, ninguém se levanta e se manifesta. A cumplicidade é assustadora. O
silêncio é ensurdecedor”, lamentou.