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quinta-feira, 25 de agosto de 2016

A notícia online ao alcance de todos

Por Sheila Sacks

Com o gradual cerceamento na web de conteúdo gratuito e irrestrito de textos produzidos pela grande imprensa brasileira, que tem investido no nicho de assinaturas digitais, está cada vez mais difícil o internauta ter acesso às determinadas notícias, artigos ou colunas de seu interesse, caso não seja assinante do jornal impresso ou pague pelo serviço. Uma tendência que segue em sentido oposto ao que se vislumbra nos Estados Unidos, segundo o registro do jornalista Carlos Castilho, no Observatório da Imprensa (“Seis Razões para abandonar o acesso pago”, em 26.07.2016). Lá, 70% dos jornais com tiragens maiores de cinco mil exemplares já abandonaram a cobrança de acesso às notícias online.   

Por isso foi uma surpresa positiva descobrir um espaço onde os melhores conteúdos de uma grande gama de jornais de todo o país estão à disposição do internauta de uma forma simples e muito bem cuidada, proporcionando ao cidadão visitante, além de uma ampla e diversificada visão sobre a atualidade política e social do Brasil, um enfoque dirigido aos atuais dilemas econômicos que impactam a nossa sociedade.

Clipping diário da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (ANFIP) é um serviço público dos mais relevantes à medida que disponibiliza um conjunto de notícias e de opiniões publicadas em veículos de comunicação situados em pontos diferentes do país, de tendências díspares e visões múltiplas. Informações que de outra forma dificilmente chegariam graciosamente aos dispositivos móveis dos cidadãos urbanos do eixo Rio-São Paulo, às telas eletrônicas dos conectados das capitais afastadas dos centros políticos decisórios ou dos leitores antenados das cidades interioranas brasileiras de pequeno e médio porte. Mesmo que os leitores se dispusessem a empreender uma garimpagem mais demorada no Google, não seriam brindados com essa pauta brilhante de abordagens.

De maneira rápida e eficiente é possível se surpreender com o conteúdo dessa seleção nota 10, que oferece inclusive um calendário digital que permite ao internauta a consulta ou releitura de textos de datas anteriores.
O endereço eletrônico é  http://cliente.linearclipping.com.br/anfip/site/m012/

Sem retoques

Assim, na primeira semana de agosto, fica-se sabendo que a economia brasileira segue encolhendo e que a redução de nosso BIP per capita poderá chegar a 10% em dois anos. Lembrando que na chamada década perdida, de 1981 a 1992, a renda encolheu 7,6%, ou seja, toda a política de distribuição de renda e inclusão social está sendo anulada pela recessão (“O fundo do poço”, por Luiz Carlos Azedo, no Correio Braziliense).

E mais: Entre dezembro de 2014 e maio de 2016, o número de assinantes da TV paga caiu de 19,5 milhões para 18,9 milhões, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Foram 669 mil cancelamentos, sendo que nos primeiros cinco meses deste ano já somam 208 mil rescisões, uma média de 40 mil por mês, reflexo da crise econômica (“Tem menos gente ligada na TV por assinatura”, por Thatiana Pimentel, no Diário de Pernambuco). Outro dado revelador: Enquanto os trabalhadores da iniciativa privada com medo do desemprego recorrem menos aos consignados (empréstimos descontados diretamente no contracheque), os funcionários públicos se endividam mais. De acordo com dados do Banco Central, em junho a categoria devia 171,3 bilhões em empréstimos consignados, cifra 4,9% superior ao mesmo período de 2015.

Paralelamente a essa contração de renda da população, a Receita Federal estima que em torno de R$ 520 bilhões são sonegados anualmente no Brasil, principalmente pelos mais ricos. Esse valor cobriria três vezes o rombo aprovado nas contas do Governo Federal em 2016. Outras fontes de recursos, como o aumento de alíquota de IOF para altos volumes de transações financeiras e o tributo sobre grandes fortunas, continuam sendo adiadas pelas autoridades da gestão econômica. Assim abandonam-se os princípios da razão do estado e mantém-se a narrativa da crise (“Razão de estado e desigualdade social no Brasil”, por Cláudio Guedes Fernandes, no Correio Braziliense).

Globalização desigual

 Em nível mundial, a situação econômica também não é das melhores e para o americano Joseph E. Stiglitz, prêmio Nobel de Economia em 2001, a era da globalização gerou uma desigualdade global em termos de renda. Entre 1998 e 2008, por exemplo, os grandes ganhadores foram os que representam o 1% da plutocracia mundial e a classe média nas novas economias emergentes. Em artigo publicado no jornal O Globo (“O novo mal-estar da globalização”), o economista observa que nos dias atuais, grandes segmentos da população nos países avançados não estão em melhores condições, ou seja, não prosperaram. Nos EUA, os 90% mais pobres enfrentam uma estagnação de renda há 25 anos. A renda média dos trabalhadores homens em horário integral é atualmente menor em termos reais (considerada a inflação) do que era há 42 anos. Na base da pirâmide, os salários reais são comparáveis aos níveis de 60 anos atrás.

A Unctad – órgão das Nações Unidas dedicado ao comércio e desenvolvimento – chama a atenção para o fato de que entre 1990 e 2015, a quantidade de pessoas vivendo na extrema pobreza no mundo foi ampliada em mais de 50%. No artigo “Chegou a conta da globalização” (Valor Econômico), a jornalista Maria Clara R.M. do Prado destaca que nem todos se beneficiaram da globalização e que o progresso tem sido desigual, contribuindo para o desencantamento. E chama a atenção para o fato de os governos estarem sendo atropelados pelos grupos descontentes que têm fazendo valer a sua voz contra a globalização e as desigualdades que persistem. No plebiscito do Brexit, na Inglaterra, e na candidatura de Donald Trump.
 
No Brasil, o espetáculo globalizado das Olimpíadas mereceu um comentário do jornalista Elio Gaspari, colunista de O Globo e da Folha de São Paulo, que jogou um balde água fria na empolgação da galera nacional que vibra e torce nas arenas olímpicas, estimulada pelo maciço marketing da mídia e de seus patrocinadores. Segundo ele, nada reduzirá a beleza dos sorrisos dos atletas nas cenas da festa da abertura e os momentos de sonho e felicidade de centenas de jovens que subirão ao pódio para receberem suas medalhas de ouro. Mas, para os brasileiros, além do sonho virá a conta. Algo em torno de R$ 500 milhões, alerta (“A conta dos sonhos ficará no Brasil”).