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quarta-feira, 10 de março de 2010

Aécio coração de estudante


por Sheila Sacks
Aécio, Cabral e Lula, os caras do Brasil, com Sarkozy
publicado, na primeira versão, no Rio Total




Há 25 anos um infortúnio marcou o cenário político brasileiro. O mineiro Tancredo Neves, primeiro presidente civil eleito por um Colégio Eleitoral, depois dos chamados anos de chumbo iniciados com o golpe militar de 1964, é enterrado sob forte comoção nacional na cidade histórica de São João del-Rei.

Hospitalizado às pressas na véspera da posse, o veterano político, de 75 anos, - que foi deputado federal por seis vezes, senador, primeiro-Ministro, ministro da Justiça e governador de Minas – morreu de infecção generalizada, três meses depois de eleito, em 21 de abril de 1985.
Figura-chave, junto com Ulysses Guimarães, para a viabilização do retorno do Brasil à democracia, seu funeral foi transmitido ao vivo pelas TVs de todo o país e uma melodia deu o tom e o clima emocionado de despedida. Tratava-se da composição predileta de Tancredo Neves, obra do seu conterrâneo Milton Nascimento em parceria com Wagner Tiso, uma espécie de hino aos novos tempos de liberdade e justiça que assomavam no horizonte.

A canção de Minas que marcou o Movimento das Diretas Já

Composta em 1983, dois anos antes da morte de Tancredo, “Coração de Estudante” tornou-se a trilha sonora das “Diretas, Já”, movimento civil pelas eleições presidenciais livres que mobilizou milhões de brasileiros em passeatas e comícios em todo o país, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo nos idos de 1984. O processo culminou com a eleição indireta de Tancredo Neves, em 15 de janeiro de 1985, tornando-o o último mineiro a ser eleito presidente do Brasil.
Anos depois, a musa e trovadora argentina Mercedes Sosa, falecida em 2009, traduziu para toda a América Latina os inspirados versos da belíssima mensagem que carimbou uma época de ebulição e aspirações democráticas: “Corazón de estudíante, hay que cuidar de la vida, hay que cuidar de este mundo, comprender a los amigos, alegría y muchos sueños, iluminando los caminos. Verdes, planta y sentimiento, hoja, corazón, juventud y fe.”
Em 2007 Israel recebe a visita de um governador mineiro

Duas décadas depois da morte de Tancredo, uma venturosa coincidência traz o seu neto Aécio Neves, governador de Minas, ao solo sagrado de Israel em 2007, quando da comemoração dos 60 anos da decisão histórica das Nações Unidas que reconheceu o direito dos judeus a sua terra milenar.

Na sacada do Hotel King David, no coração de Jerusalém, Aécio falou de sua emoção em conhecer o país. Na entrevista transmitida pela TV Brasil, ele declarou: ”Tenho viajado e estimulado outros membros do governo a fazer o mesmo, mostrando o que Minas pode oferecer a investidores de todo o mundo. Aqui em Israel, estou conhecendo não apenas a história dos israelenses, mas a história da humanidade”.

Acompanhado de líderes empresariais e assessores, Aécio participou em Tel Aviv de um encontro com 40 empresários israelenses dos setores de informática, irrigação e de segurança. Visitou a indústria aeroespacial de Israel (IAI), a empresa de segurança Ness, a Bolsa de Diamantes e o Museu do Holocausto. “O Brasil é uma democracia estável como Israel e Minas aqui veio convidar empreendedores israelenses para serem parceiros no nosso desenvolvimento para mútuo benefício de nossos povos”, disse Aécio.

A visita de quatro dias a Israel foi vista na época por articulistas israelenses como a mais importante e sugestiva de uma autoridade brasileira nos últimos anos. Expressando publicamente a sua admiração por Shimon Peres e pelo estado de Israel, Aécio Neves cativou a todos que o conheceram em seus encontros com personalidades israelenses, o que levou o jornalista brasileiro Nahum Sirotsky, correspondente em Israel, a escrever um entusiástico artigo no portal IG intitulado “Aécio Neves conquista israelenses”.

Vale registrar que Tancredo Neves foi companheiro de ministério do diplomata Oswaldo Aranha, o brasileiro que presidiu a 2ª Assembléia da ONU em 1947 e se tornou peça decisiva na aprovação do documento. Foi no segundo governo Getúlio Vargas (1951-1954), exercendo o cargo de ministro da Justiça enquanto Oswaldo Aranha era ministro da Fazenda.

Aécio Neves é o governador com a melhor avaliação do país

O governador Aécio Neves, 50 anos, traz de berço o matiz democrático que caracterizou o comportamento e as ações de Tancredo Neves. Ele começou cedo na política, aos 22 anos, como secretário particular do avô. Ao assumir o governo de Minas pela primeira vez, em 2003, Aécio lembrou a frase de Tancredo Neves, feita em 1983, quando o avô foi empossado governador: “O primeiro compromisso de Minas é com a liberdade, porque este é um Estado que não se curva, não ajoelha, não rasteja”.
A inspiração vem dos inconfidentes e de Tiradentes, o grande mártir da independência do Brasil, nascido em Minas e enforcado em 1792, no mesmo dia e mês do falecimento de Tancredo. Está também expressa na bandeira do estado, com a frase “Libertas quae sera tamen (Liberdade ainda que tardia).

Neste 3 de março, editorial do jornal Estado de Minas criticou a “arrogância” de lideranças políticas que diante de um possível fracasso de candidaturas oposicionistas querem se valer do “reconhecimento nacional construído pelo governador Aécio Neves para colocar Minas a reboque”. E lança a pergunta: “Se o mais bem avaliado entre os governadores da última safra de gestores públicos é capaz de vitaminar uma chapa insossa e em queda livre, por que Aécio não é o candidato a presidente?”


Aécio faz parte de uma nova geração de políticos brasileiros – na qual se inclui o simpático e competente governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral - que preza os valores democráticos na condução de suas gestões e repudiam radicalizações ideológicas. Administradores afinados com as boas experiências internacionais e focados em programas e ações sociais positivas e integradas voltadas para a população de baixa renda, são isentos de preconceitos quando se trata de importar ideias e tecnologias que deram certo no ocidente desenvolvido. São políticos que sabem lidar com a globalização e que têm renovado o ambiente nacional com saudáveis e indispensáveis ares de modernidade.

Deputado federal por 4 vezes, ele foi eleito pela segunda vez em 2006 para o governo de Minas. Em todas as consultas realizadas por diferentes institutos de pesquisa, no decorrer das duas gestões, sua avaliação como governador atingiu índices positivos acima dos demais concorrentes. Na mais recente pesquisa, em dezembro de 2009, Aécio também aparece em primeiro lugar na pesquisa Datafolha sobre os melhores governadores do Brasil, recebendo a nota 7,5 em uma escala de 0 a 10. E mais: é um apaixonado pelo Rio de Janeiro.

Lula cogitou Aécio para ser seu sucessor

Segundo maior colégio eleitoral do país, Minas Gerais comemora os 100 anos de nascimento de Tancredo Neves neste ano de 2010. Para muitos, chegou a hora de um mineiro autêntico ocupar a presidência. Mantendo um ótimo relacionamento com o atual grupo da presidência da República, são conhecidas as manifestações de amizade e carinho do presidente Lula por Aécio que, antes da candidatura de Dilma Rousseff (mineira de nascimento mas com trajetória política feita no Rio Grande do Sul), teve o seu nome cogitado para a sucessão.
Foi em 2007, quando em entrevista a Folha de São Paulo o presidente Lula surpreendeu governistas e oposicionistas declarando apoio a uma eventual candidatura do governador de Minas à Presidência da República, desde que Aécio trocasse de partido. No mesmo ano o jornal francês Le Monde apontou o mineiro como um dos nomes fortes para a sucessão presidencial de 2010. Na matéria, o jornal destacava o perfil conciliador de Aécio e sua boa relação com o presidente Lula. Na ocasião, para aqueles já o viam como o sucessor de Lula, Aécio respondia que “ser presidente não é um plano de carreira, mas uma questão de destino”.

Concordando ou não, o mais provável é que a trajetória presidencial de Aécio está mesmo escrita nas estrelas, agora ou mais a frente. Essa percepção foi registrada pelo jornal Correio Braziliense, em meados do ano passado, na reportagem “Lula teme Aécio como a candidato à presidência”. Segundo a apreciação de cabeças coroadas do Planalto seria mais fácil um candidato governista vencer o governador de São Paulo, José Serra, do que derrotar Aécio, já que o crescimento do governador de Minas torna-se inevitável em função de sua capacidade de articulação e de suas boas relações com os partidos e a esquerda.
Minas, o gigante silencioso que decide

Do tamanho da França, o estado de Minas Gerais apresenta a terceira maior economia do país, depois de São Paulo e Rio de Janeiro, e é responsável por 18% das exportações brasileiras. Tem 20 milhões de habitantes ( o segundo mais populoso) distribuídos em 853 municípios. Foi lá que se instalou, em 1976, a maior fábrica de automóveis da Fiat fora da Itália, que emprega 20 mil trabalhadores e é responsável por 30% da venda de carros da marca em todo o mundo.
Aliás, os números da economia mineira impressionam: possui o segundo maior rebanho bovino do país, com 22,3 milhões de cabeças de gado; é o maior produtor de leite ( quase 30% da produção nacional), de café (49% ) e de feijão do país. É líder na produção de cimento e na área industrial produz 38% do aço nacional e 53% do ferro gusa. Somente a empresa Vale do Rio Doce, maior produtora de minério de ferro do mundo e que atua em Minas foi responsável, em 2009, pela extração de 238 milhões de toneladas do produto. Além do minério de ferro, Minas exporta o ferro-nióbio, minério de chumbo, ferro fundido bruto, laminados de ferro e aço, celulose, soja e granito.


Minas Gerais também é o maior produtor de ouro, gemas e diamantes do Brasil, daí o interesse do governador Aécio Neves em conhecer a Bolsa de Diamantes de Tel Aviv. O estado responde por 63% da exportação brasileira de ouro em barras, fios e chapas; 43% da exportação de gemas coradas e 72% da produção brasileira de diamantes. Empresas israelenses, há mais de dez anos, participam do crescimento econômico de Minas através de associações nas indústrias de café e na área tecnológica.