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terça-feira, 7 de outubro de 2025

Sites governamentais desempenham papel importante na checagem de notícias on-line, aponta estudo

 / Sheila Sacks /

Relatório divulgado este ano pelo Reuters Institute, instituição britânica especializada no estudo do Jornalismo, mostra que mais da metade do público consultado (58%) afirma estar preocupada com o que é real e o que é falso quando se trata de notícias on-line.

Em sua 14ª edição, o Digital News Report 2025, disponível na Internet, coletou dados de quase 100 mil pessoas em 48 países de cinco continentes, em uma análise abrangente do contexto dos mercados digitais.  Quando perguntada, a grande maioria dos entrevistados identificou duas fontes principais a recorrer quando existem dúvidas sobre a veracidade da informação: o canal de mídia jornalística em que confiam (38%) e os sites governamentais (35%).

O fato reforça a importância e a responsabilidade dos jornalistas que trabalham em assessorias de comunicação social de órgãos públicos nas várias instâncias de governo.

Fontes oficias

Também foram citadas como fontes de checagem os mecanismos de busca (33%), sites de verificação de fatos (25%), pessoas confiáveis (19%), comentários de outros usuários (18%) e a Wikipédia (17%). As redes sociais foram mencionadas por 14% dos entrevistados.

Em relação aos canais de busca para verificação de uma notícia específica, a maior percentagem dos pesquisados (44% ) respondeu que recorre às fontes oficias representadas pelos sites governamentais. Em seguida, 35% disseram que acessam sites especializados e, logo abaixo, empatados em 26%, aparecem a Wikipedia e a mídia jornalística tradicional como canais de checagem.

O relatório de 170 páginas verificou que a preocupação com notícias falsas é maior entre o público dos Estados Unidos e da África (73%), e mais baixa na Europa Ocidental (46%). Quando se trata de fontes subjacentes de informações falsas ou enganosas, influenciadores e personalidades on-line são vistos como a maior ameaça em todo o mundo, juntamente com políticos nacionais (47%).

A preocupação com influenciadores é maior em países africanos como Nigéria (58%) e Quênia (59%), enquanto os políticos são considerados a maior ameaça nos Estados Unidos e Espanha (57%), assim como em grande parte da Europa Oriental, incluindo Sérvia (59%), Eslováquia (56%) e Hungria (54%).

A mostra revela ainda que pessoas mais jovens, na faixa de 18 a 34 anos, e entrevistados de 35 anos ou mais, tendem a confiar em iguais fontes de busca e checagem. A diferença estaria no fato de que as pessoas mais jovens são muito mais propensas a dizer que confiariam em comentários de outros usuários, mídias sociais e chatbots de IA.

Em caso de suspeição de uma notícia ser falsa, 36% do público mais jovem buscaria, inicialmente, uma fonte que julgasse confiável. O índice subiria para 39%, na faixa etária mais velha.  Os sites governamentais seriam a segunda opção, utilizados por 37% dos mais jovens e por 34% entre os mais velhos.

Tratando-se de redes sociais, 21% dos mais jovens a usariam contra 12% dos mais velhos. A diferença também ocorreria no que se refere aos chatbots de IA, citados por 13% da ala jovem e 7% pelas pessoas com mais de 35 anos.

Nível educacional

Dados da pesquisa também apontam que o nível educacional tem influência nas opções de ferramentas utilizadas na checagem das informações. Observou-se que os entrevistados com níveis mais baixos de educação formal (21%) estão muito menos propensos a dizer que recorreriam à mídia de notícias, fontes oficiais, mecanismos de busca ou verificador de fatos, ao contrário daqueles com níveis mais altos de escolaridade (33%).

Outro sinal relativamente positivo é que a confiança geral nas notícias (40%) permaneceu estável pelo terceiro ano consecutivo. A proporção de assinantes que pagam por notícias online se conservou em 18% em um conjunto de 20 países mais ricos – com a maioria ainda satisfeita com as ofertas gratuitas.

A análise da pesquisa foi divulgada pelo professor Rasmus Kleis Nielsen, professor de Jornalismo na Universidade de Copenhague e diretor do Reuters Institute entre 2018 e 2024 (‘How the public checks information it thinks might be wrong’, em 17/6).

Menos TV como fonte de notícia

Sobre o Brasil, o relatório observa que após décadas do domínio da TV aberta, o mercado de mídia no país vem sendo desafiado pelas plataformas digitais e serviços de streaming. Em 2013, 75% dos brasileiros tinham a TV como fonte de notícias e em 2025 apenas 46%. A maioria dos brasileiros (78%) buscam informações on-line e 17% pagam pelo serviço.

As notícias impressas também tiveram uma forte queda no período, de 50% para 10%, enquanto as mídias sociais evoluíram de 47% para 54%, sendo as principais fontes de notícias para 33% dos brasileiros. Tratando-se de dispositivos de acesso às notícias, a TV registrou uma queda consistente, de 81% para 52% , com o celular dominando em 82% ( em 2013 eram 23%).

Sobre o nível de confiança das notícias apresentadas nas diversas mídias houve uma queda de credibilidade no período de 2015 a 2025, de 62% para 42%, notadamente com as notícias on-line. O relatório assinala que 67% dos brasileiros se preocupam com as fake news.

No que diz respeito ao alcance de público, apesar da rede Globo estar à frente em termos de abrangência no noticiário de TV ( 41% ) e notícias on-line (32%), o grau de confiança é menor (55%) em relação a outras emissoras, como a SBT News (64%), rede Record (62%) e Band (59%). A rede Globo também apresenta a maior taxa dos que não confiam (29%).

No caso de notícias impressas, o jornal O Globo soma 54% de credibilidade, um pouco acima de O Estado de São Paulo (53%) e Folha de São Paulo (52%). Porém, o percentual dos que não confiam é maior tratando-se de O Globo (27%) em relação aos jornais paulistas, 23% e 26% respectivamente. 

O relatório destaca que o Brasil ocupa a 63ª posição entre 180 países no índice de liberdade de imprensa - World Press Freedom Index Score 2025 – da organização Repórteres Sem Fronteiras. Dos oito países do continente americano incluídos na pesquisa, o Brasil somente fica abaixo dos Estados Unidos (57ª) e Canadá (21ª), nesse quesito, superando o Chile (69ª), Argentina (87ª), Colômbia (115ª), México (124ª) e Peru (130ª).