/ Sheila Sacks /
Relatório divulgado este
ano pelo Reuters Institute, instituição britânica especializada no estudo do
Jornalismo, mostra que mais da metade do público consultado (58%) afirma estar
preocupada com o que é real e o que é falso quando se trata de notícias on-line.
Em sua 14ª edição, o
Digital News Report 2025, disponível na Internet, coletou dados de quase 100
mil pessoas em 48 países de cinco continentes, em uma análise abrangente do
contexto dos mercados digitais. Quando
perguntada, a grande maioria dos entrevistados identificou duas fontes
principais a recorrer quando existem dúvidas sobre a veracidade da informação:
o canal de mídia jornalística em que confiam (38%) e os sites governamentais
(35%).
O fato reforça a
importância e a responsabilidade dos jornalistas que trabalham em assessorias
de comunicação social de órgãos públicos nas várias instâncias de governo.
Fontes
oficias
Também foram citadas como
fontes de checagem os mecanismos de busca (33%), sites de verificação de fatos
(25%), pessoas confiáveis (19%), comentários de outros usuários (18%) e a
Wikipédia (17%). As redes sociais foram mencionadas por 14% dos entrevistados.
Em relação aos canais de
busca para verificação de uma notícia específica, a maior percentagem dos pesquisados (44% ) respondeu que recorre às fontes oficias representadas pelos
sites governamentais. Em seguida, 35% disseram que acessam sites especializados
e, logo abaixo, empatados em 26%, aparecem a Wikipedia e a mídia jornalística
tradicional como canais de checagem.
O relatório de 170 páginas
verificou que a preocupação com notícias falsas é maior entre o público dos
Estados Unidos e da África (73%), e mais baixa na Europa Ocidental (46%).
Quando se trata de fontes subjacentes de informações falsas ou enganosas,
influenciadores e personalidades on-line são vistos como a maior ameaça em todo
o mundo, juntamente com políticos nacionais (47%).
A preocupação com
influenciadores é maior em países africanos como Nigéria (58%) e Quênia (59%),
enquanto os políticos são considerados a maior ameaça nos Estados Unidos e Espanha (57%), assim como em grande parte da Europa Oriental, incluindo Sérvia (59%),
Eslováquia (56%) e Hungria (54%).
A mostra revela ainda que
pessoas mais jovens, na faixa de 18 a 34 anos, e entrevistados de 35 anos ou
mais, tendem a confiar em iguais fontes de busca e checagem. A diferença
estaria no fato de que as pessoas mais jovens são muito mais propensas a dizer
que confiariam em comentários de outros usuários, mídias sociais e chatbots de
IA.
Em caso de
suspeição de uma notícia ser falsa, 36% do público mais jovem buscaria,
inicialmente, uma fonte que julgasse confiável. O índice subiria para 39%,
na faixa etária mais velha. Os sites
governamentais seriam a segunda opção, utilizados por 37% dos mais jovens e por
34% entre os mais velhos.
Tratando-se de redes
sociais, 21% dos mais jovens a usariam contra 12% dos mais velhos. A diferença
também ocorreria no que se refere aos chatbots de IA, citados por 13% da ala
jovem e 7% pelas pessoas com mais de 35 anos.
Nível
educacional
Dados da pesquisa também
apontam que o nível educacional tem influência nas opções de ferramentas
utilizadas na checagem das informações. Observou-se que os entrevistados com
níveis mais baixos de educação formal (21%) estão muito menos propensos a dizer
que recorreriam à mídia de notícias, fontes oficiais, mecanismos de busca ou
verificador de fatos, ao contrário daqueles com níveis mais altos de
escolaridade (33%).
Outro sinal relativamente
positivo é que a confiança geral nas notícias (40%) permaneceu estável pelo
terceiro ano consecutivo. A proporção de assinantes que pagam por notícias
online se conservou em 18% em um conjunto de 20 países mais ricos – com a
maioria ainda satisfeita com as ofertas gratuitas.
A análise da pesquisa foi
divulgada pelo professor Rasmus Kleis Nielsen, professor de Jornalismo na
Universidade de Copenhague e diretor do Reuters Institute entre 2018 e 2024
(‘How the public checks information it thinks might be wrong’, em 17/6).
Menos TV
como fonte de notícia
Sobre o Brasil, o
relatório observa que após décadas do domínio da TV aberta, o mercado de mídia
no país vem sendo desafiado pelas plataformas digitais e serviços de streaming.
Em 2013, 75% dos brasileiros tinham a TV como fonte de notícias e em 2025
apenas 46%. A maioria dos brasileiros (78%) buscam informações on-line e 17% pagam pelo serviço.
As notícias impressas
também tiveram uma forte queda no período, de 50% para 10%, enquanto as mídias
sociais evoluíram de 47% para 54%, sendo as principais fontes de notícias para
33% dos brasileiros. Tratando-se de dispositivos de acesso às notícias, a TV
registrou uma queda consistente, de 81% para 52% , com o celular dominando em
82% ( em 2013 eram 23%).
Sobre o nível de confiança
das notícias apresentadas nas diversas mídias houve uma queda de credibilidade
no período de 2015 a 2025, de 62% para 42%, notadamente com as notícias
on-line. O relatório assinala que 67% dos brasileiros se preocupam com as fake
news.
No que diz respeito ao
alcance de público, apesar da rede Globo estar à frente em termos de
abrangência no noticiário de TV ( 41% ) e notícias on-line (32%), o grau de
confiança é menor (55%) em relação a outras emissoras, como a SBT News (64%),
rede Record (62%) e Band (59%). A rede Globo também apresenta a maior taxa dos
que não confiam (29%).
No caso de notícias impressas, o jornal O Globo soma 54% de credibilidade, um pouco acima de O Estado de São Paulo (53%) e Folha de São Paulo (52%). Porém, o percentual dos que não confiam é maior tratando-se de O Globo (27%) em relação aos jornais paulistas, 23% e 26% respectivamente.