/ Sheila Sacks /
Pesquisa Quaest divulgada em 26/8/2025 mostra um aumento da
percepção positiva dos brasileiros em relação à China. Houve uma alta de 11pontos
em relação a fevereiro, evoluindo de 38% para 49% os percentuais dos que veem o
país asiático de forma favorável. O levantamento também detalha que a China
lidera a aprovação entre os mais pobres (45%).
A mídia nacional interpretou o tarifaço de Trump aos produtos brasileiros como o principal fator de influência na sondagem, visto que a percepção negativa em relação aos Estados Unidos aumentou de 24% para 48%. Mas, entre os brasileiros que recebem mais de cinco salários mínimos, a avaliação positiva aos EUA lidera com 53%, aponta o mesmo levantamento.
Vigilância e intimidação
De acordo com o relatório anual da Anistia Internacional sobre os direitos humanos no mundo, disponibilizado em abril deste ano em sua plataforma on-line, o governo chinês continua a aplicar leis e políticas repressivas que restringem o direito à liberdade de expressão e à liberdade religiosa. Ao longo de 2024, defensores dos direitos humanos foram perseguidos, processados e condenados a longas penas de prisão. Ativistas que viviam no exterior enfrentaram ameaças e intimidação. Líderes religiosos foram presos e novos regulamentos limitando ainda mais a liberdade de religião e crença entraram em vigor no país.
“Novos regulamentos foram emitidos pelo ministério de Segurança concedendo poderes adicionais aos agentes da lei para inspecionar dispositivos eletrônicos, incluindo os de visitantes estrangeiros na China”, afirma o documento, que destaca ainda outros pontos de assédio e constrangimento ocorrido ao longo do ano passado:
- estudantes chineses, alunos em universidades na Europa Ocidental e Estados Unidos, enfrentaram vigilância e censura on-line e off-line por parte de agentes estatais;
- defensores dos direitos humanos, incluindo ativistas, advogados e jornalistas continuaram a enfrentar intimidação, assédio, detenção arbitrária, tortura e maus-tratos;
- regulamentos religiosos sofreram revisões mais restritivas e entraram em vigor limitando ainda mais a liberdade de religião e crença;
– o acesso às informações sobre dados do Estado, incluindo a aplicação da pena de morte, ficou ainda mais rigoroso pelas revisões da Lei de Proteção de Segredos de Estado;
- o espaço para a liberdade de expressão, já altamente cerceado pela Lei de Segurança Nacional (NSL) e outras normas repressivas, diminuiu ainda mais;
- e em Hong Kong uma nova lei de segurança nacional restringiu ainda mais o espaço cívico e dezenas de ativistas pró-democracia foram condenados a duras penas de prisão.
Órgão jurídico da ONU faz alerta
A Anistia também nomeou a China como o “principal carrasco do mundo”, com milhares de pessoas sendo executadas, 40% relacionadas ao tráfico de drogas. Na ONU, a Relatora Especial sobre a Independência de Juízes e Advogados, Margaret Satterthwaite, expressou preocupação “sobre as restrições administrativas, criminalização e outros padrões de interferência no trabalho de advogados”. Para a especialista, “profissionais de direitos humanos que trabalham em casos delicados foram particularmente visados no país”.
Perseguição religiosa com prisões
Artigo publicado pela Catholic News Agency (CNA), em 21/10/2024, revelou a repressão a dez bispos católicos chineses por resistirem a se submeter ao controle estatal da Associação Católica Patriótica Chinesa (CPCA), uma organização criada em 1957, ligada ao Partido Comunista, e que na prática exerce vigilância e emite diretrizes para os religiosos.
A informação está contida no relatório “Ten Persecuted Catholic Bishops in China”, de 17/10, assinado pela advogada de direitos humanos Nina Shea, diretora do Centro para a Liberdade Religiosa do Instituto Hudson, uma instituição americana de pesquisa sobre políticas publicas, relações internacionais, segurança e demais questões da atualidade. Ela escreve que sete sacerdotes estão presos, “sem o devido processo legal, alguns deles sob detenção contínua por anos ou décadas”, como o bispo Julius Jia Zhiguo, de 90 anos, cujo “crime” foi ter permitido que hinos fossem cantados em sua igreja sem a permissão do governo.
O documento de 56 páginas assinala que os bispos mencionados foram submetidos a “investigações policiais sem prazo determinado, banimentos de suas dioceses e outros impedimentos ao seu ministério episcopal, incluindo ameaças, vigilância, interrogatório e a chamada reeducação”.
Lembrando ainda que a Organização Repórteres Sem Fronteiras classificou a China como "a maior prisão de jornalistas do mundo". Em seu relatório divulgado em maio, a ONG internacional denuncia que atualmente 109 jornalistas estão presos em condições severas na China, inclusive a jornalista Zhang Zhan que divulgou a epidemia de Covid-19. Ela cumpriu pena de quatro anos de prisão e voltou a ser detida em agosto do ano passado. No ranking mundial de liberdade de imprensa, a China este ano ocupa a 178ª posição entre 180 países como um dos piores lugares para jornalistas trabalharem e viverem, atrás apenas da Coreia do Norte e Eritreia. Caiu seis posições em relação a 2024.
O estudo relata que “para silenciar os jornalistas, o governo chinês acusa-os de ‘espionagem’ e ‘subversão’ ou de ‘incitar tumulto e provocar desordem’, três crimes cuja definição é tão vaga que podem ser invocados praticamente em qualquer contexto”. A mídia é controlada pelo Estado que “multiplica os obstáculos ao trabalho dos correspondentes estrangeiros”. Todos os dias o departamento de Propaganda do Partido Comunista envia aos meios de comunicação uma lista detalhada de tópicos a serem destacados e outra de tópicos cuja abordagem é proibida, sob pena de sanções.



