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quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Argentina reestrutura polícia para enfrentar organização criminosa

/ Sheila Sacks /

Em entrevista à plataforma DEF online, que trata de temas de segurança, defesa e geopolítica, o secretário de Combate ao Narcotráfico e ao Terrorismo da Argentina, Martín Verrier, anunciou que o alvo número um recém-criado Departamento Federal de Investigação (DFI) da Polícia Federal do país é a organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

A matéria foi publicada em 14 de agosto, e dois dias depois repercutida pelo site de notícias Infobae, um dos mais acessados de língua espanhola, com 38 milhões de usuários (Martín Verrier: “El grupo criminal brasileño PCC representa un nivel de amenaza alto para Argentina y la región”).

A nova unidade foi apresentada em junho pelo presidente Milei em uma cerimônia especial, quando foi destacado que o órgão terá atuação semelhante ao FBI com o objetivo primordial de atingir “o cerne das organizações criminosas que tentam ganhar poder e dinheiro no país”.  

Ameaça de alta dimensão

Com mestrado em Estratégia e Geopolítica pela Escola Superior de Guerra do Exército Argentino e em Inteligência e Segurança Internacional pelo King's College London, Verrier atuou como secretário de estado adjunto para o Controle de Drogas da Argentina de 2015 a 2019. Ele explica que há uma década já havia no Cone Sul alguns grupos de crime organizado, mas não do porte do PCC “que tem entre 30 a 40 mil membros e mais de dois mil no exterior, incluindo em países como Estados Unidos, Espanha e Moçambique”.   Na sua avaliação, o nível de ameaça da organização é bastante alto, “de uma dimensão com a qual a região Sul não está acostumada”.

Verrier assinala que a arregimentação de membros para o crime organizado ocorre principalmente no sistema prisional e para conter o crescimento desses grupos foram feitas mudanças na estrutura do governo. Uma das medidas foi a transferência dos presos de alto risco das penitenciárias provinciais para o sistema prisional federal, agora sob a alçada do ministério da Segurança.  “O que acontecia antes é que as prisões eram usadas como bases de operações e estavam sob o controle do Ministério da Justiça, que não tem poderes de polícia. Hoje, temos o controle de todo encadeamento: desde o potencial chefe que pode estar tentando operar na prisão até o comerciante dos bairros”, relata Verrier.

Conexão com Hezbollah

Meses antes, em uma reportagem do La Nacion sobre a fuga de 400 comandantes do Hezbollah para a América do Sul, Verrier denunciou a conexão entre o grupo terrorista e o PCC  que estaria dando proteção aos seus membros presos no Brasil sob acusações de narcotráfico, lavagem de dinheiro e outros ilícitos, em troca de armamentos (Una seria amenaza’. La nueva estrategia de Hezbollah en América Latina tras su debilitamiento en Medio Oriente, em 24/5).

A notícia em questão foi divulgada em primeira mão pelo canal saudita al-Hadhat , em abril, e segundo um representante da embaixada argentina no Líbano, a decisão do descolamento dos 400 terroristas e suas famílias para a América do Sul (Tríplice Fronteira, Venezuela, Colômbia e Equador) partiu da liderança do grupo xiita, temendo futuras retaliações por parte da defesa israelense. Outro motivo seria o plano de desarmamento do grupo a ser implementado pelo governo libanês, que tem seu próprio exército.

Também a plataforma libanesa de notícias This is Beirut publicou uma ampla matéria, na época, informando sobre o envio de centenas de terroristas à América do Sul, destacando a conhecida simbiose entre o terrorismo e o crime organizado na região. Em 2008, na Colômbia, a prisão do chefe de uma rede de tráfico de cocaína, Chekri Harb ,já revelava o pagamento sistemático de um “imposto”  de 12% ao Hezbollah, afirmava o artigo assinado pelo jornalista Mário Chartouni (Mullahs Wearing Sombreros: Hezbollah in Latin America, em 21/5).

Citando relatório da agência Antidrogas DEA (Drug Enforcement Administration), o jornalista escreve que o Hezbollah estabeleceu relações comerciais com cartéis de drogas sul-americanos, notadamente La Oficina de Envigado, da Colômbia ( que substituiu o Cartel de Medellín, de Pablo Escobar), responsável pelo fornecimento de grandes quantidades de cocaína para os mercados europeu e americano. E prossegue: “Assim, o tráfico de cocaína tornou-se uma fonte de financiamento para o grupo, complementando o apoio financeiro de Teerã e garantindo-lhe crescente autonomia financeira. Essas atividades abrangem pelo menos doze países da região, de acordo com o relatório da RAND Corporation (instituição que fornece pesquisas e análises para agências de segurança do governo americano), de março de 2025, que documenta meticulosamente a presença do Hezbollah na Argentina, Panamá, Peru, Colômbia, Venezuela, Brasil, Curaçao, Bolívia, México, Honduras, Guatemala e Chile. As atividades incluem mineração ilegal na Venezuela e sofisticadas redes de lavagem de dinheiro no Panamá.”

Identificado como um site independente, “comprometido em perpetuar a tradição de liberdade de expressão e jornalismo de qualidade, pilares fundamentais da identidade libanesa”, This is Beirut agrega uma equipe de quase 100 profissionais entre jornalistas, tradutores, colunistas e colaboradores.

No ano passado, a Argentina selou um acordo de cooperação com a CIA para atuação nas Três Fronteiras visando o combate aos cartéis de droga e a sua conexão com grupos terroristas na arrecadação de fundos para recrutamento e atentados no Oriente Médio. Em agosto deste ano, o Paraguai celebrou acordo semelhante para implantação de uma base do FBI com foco no monitoramento da Tríplice Fronteira.  

Em paralelo, o governo dos Estados Unidos divulgou através de seu site oficial a recompensa de 10 milhões de dólares por informações que levem  aos mecanismos de financiamento do grupo na região.

Novo eixo

A matéria do La Nacion também destaca que o Hezbollah pode estar ampliando sua estrutura para o oeste da América do Sul, criando um novo eixo de atuação no Equador, Colômbia e Venezuela. No final de agosto, o governo dos Estados Unidos enviaram navios de guerra para o sul do Caribe, perto da costa da Venezuela, para conter o fluxo de  narcoterrorismo na região e, desde então, já realizou três ataques a embarcações que estariam transportando  drogas em direção aos EUA.  

Segundo especialistas entrevistados pela Fox News (em 7/9), o Hezbollah se tornou um dos principais financiadores e “lavadores” de dinheiro de grupos de narcotraficantes da Venezuela. “A parceria do Irã com Maduro permite que o Hezbollah opere naquele país sem problemas”, afirmaram, destacando que o Irã também tem investido bilhões de dólares na economia local.   

Outro fator que ajuda a encobrir as atividades ilícitas do Hezbollah, consoante aos especialistas, é a forte presença da comunidade xiita libanesa em países da América do Sul. O grupo terrorista se utiliza de laços familiares, a língua e as instituições comunitárias para aumentar e consolidar sua influência na região. Dessa forma, o Hezbollah pode interagir com cartéis locais, vender drogas e canalizar os lucros de volta para o Líbano por meio de esquemas elaborados para financiar atos terroristas no Oriente Médio (Cartel connection: Hezbollah and Iran exploit Maduro’s Venezuela for cocaine cash).

 Problema antigo

Em relação à Tríplice Fronteira, há três décadas a região é uma preocupação para o governo americano, mas somente agora, em razão do posicionamento político tanto do presidente do Paraguai, Santiago Peña, como do presidente da Argentina, Javier Milei, a vigilância terá o apoio explícito dos dois países. O alinhamento, inclusive, garantiu aos dois países taxas tarifárias de 10% aplicadas pelo governo Trump (o Brasil foi sancionado com taxas  de 50%).

Em várias reportagens ao longo do tempo órgãos da imprensa nacional e internacional têm citado nomes de integrantes de grupos terroristas indiciados e com mandados de prisão expedidos pelas justiças  norte-americana e argentina que transitam e operam nas cidades de Foz do Iguaçu (Brasil), Ciudad del Este (Paraguai) e Puerto Iguazú (Argentina).

Alguns foram presos por tráfico de drogas, cumpriram a pena, foram soltos e desapareceram. Outros fugiram e mudaram os nomes. Atualmente são foragidos e com paradeiros ignorados.

Palavra de especialista

A presença do Hezbollah na América do Sul, segundo o agente da Polícia Federal e especialista de contraterrorismo, Christian Vianna de Azevedo, se iniciou no final da década de 1980, durante a guerra civil no Líbano, quando mais de 1 milhão de libaneses emigraram para países onde já existiam comunidades libanesas assentadas como as cidades da Tríplice Fronteira, Venezuela, Colômbia e Chile (também em São Paulo existe uma forte presença de libaneses).

Em entrevista on-line publicada pelo Instituto de Prevenção e Combate à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo (IPLD), em 212/5/2024 (‘Financiamento do terrorismo e a influência do Hezbollah na América do Sul’), Vianna de Azevedo ressalta que integrantes do grupo xiita-libanês, criado em 1982, se infiltraram nas comunidades praticando atividades ilegais acobertadas por negócios aparentemente legais, como agências de turismo e outras atividades comerciais.  Desde então o grupo terrorista opera diversas redes criminosas e foram responsáveis por atos terroristas em diversas partes do mundo e em particular na Argentina, como o ataque à bomba à Embaixada de Israel em 1992 (29 mortos e 247 feridos) e à Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) em 1994 (85 mortos e 300 feridos), os maiores já ocorridos na América Latina.

O especialista ressalta que o Irã é a maior fonte de recursos dos terroristas, representando 60% de seu capital. As outras fontes seriam o “tráfico de drogas, tráfico de armas, contrabando de migrantes, lavagem de dinheiro, e outros tipos de contrabando, além de doações de simpatizantes ao redor do mundo”. Até um banco legalmente estabelecido, o Lebanese Canadian Bank, sediado em Beirute com representação em Montreal, foi usado como braço financeiro do Hezbollah para lavagem de dinheiro associado ao tráfico de cocaína em investigação denunciada pelo governo americano em 2011.

No Brasil, há vários casos documentados sobre transações ilícitas de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro envolvendo financiadores do Hezbollah. Vianna de Azevedo cita Farouk Omairi, preso por alguns anos no Brasil por tráfico de cocaína e identificado por órgãos de inteligência argentina como um dos mentores do atentado à AMIA. Também Assad Ahmad Barakat, dono de cassino em Porto Iguaçu, na Argentina, investigado por lavagem de dinheiro. Preso duas vezes no Brasil, foi extraditado para o Paraguai.

Para o agente federal é preciso uma visão única, das áreas públicas e privadas, para o combate ao grupo terrorista que atua igualmente como uma organização criminosa transnacional. “É essencial que instituições como bancos, o COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e órgãos públicos como a Polícia Federal, o Ministério Público Federal, a Justiça Federal, a Receita Federal, o Banco Central do Brasil e a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) tenham uma percepção unificada da ameaça que o grupo representa.”

Vianna de Azevedo explica que o Hezbollah não é reconhecido oficialmente no Brasil como grupo terrorista e isso atrapalha nas ações de enfrentamento. “A dificuldade aumenta porque o Hezbollah opera como uma organização híbrida, atuando tanto como grupo terrorista quanto como organização criminosa transnacional.“ O especialista assinala que seus membros aqui no país não se identificam como atuantes do grupo e são investigados por tráfico de drogas, tráfico de armas, lavagem de dinheiro, e falsidade ideológica.

“O dinheiro que eles arrecadam mesmo sendo por meio de crimes, usualmente acaba indo para um caixa comum no Líbano, o que complica a separação dos fundos destinados à política, assistência social ou atividades terroristas”, analisa o agente. “Então provar judicialmente é um grande desafio para as autoridades brasileiras e de qualquer país.”

Ferramentas tecnológicas

Acerca do financiamento ao terrorismo houve um avanço tecnológico e atualmente existe um novo cenário global apontado pelo GAFI (Grupo de Ação Financeira Internacional - Financial Action Task Force, FATF, em inglês).

Relatórios da organização enfatizam que as ameaças estão em constante evolução, impulsionadas pela tecnologia e pela mudança nas táticas utilizadas pelos grupos terroristas. A utilização de criptoativos ( moedas virtuais protegidas por criptografia), sistemas de pagamento peer-to-peer (sem a participação de bancos) e plataformas de crowdfunding (espaço on-line para arrecadação de fundos e doações) estão sendo cada vez mais utilizados para coletar e movimentar investimentos. As fontes de receitas também migraram para pequenos negócios e redes de caridade, por exemplo, financiando ataques de pequena escala executados por células descentralizadas e os chamados “lobos solitários”.

O recente atentado em um ponto de ônibus em Jerusalém, ocorrido em 8 de setembro, com 6 mortos e 22 feridos, é um exemplo dessas ações individualizadas. Dois palestinos armados, residentes na Cisjordânia, foram os autores do ataque e, como recompensa, suas famílias serão assistidas ao longo do tempo pelos fundos arrecadados pelos grupos terroristas.

terça-feira, 2 de setembro de 2025

China em alta no Brasil apesar das críticas de organizações de direitos humanos

/ Sheila Sacks /

Pesquisa Quaest divulgada em 26/8/2025 mostra um aumento da percepção positiva dos brasileiros em relação à China. Houve uma alta de 11pontos em relação a fevereiro, evoluindo de 38% para 49% os percentuais dos que veem o país asiático de forma favorável. O levantamento também detalha que a China lidera a aprovação entre os mais pobres (45%).

A mídia nacional interpretou o tarifaço de Trump aos produtos brasileiros  como o principal fator de influência na sondagem, visto que a percepção negativa em relação aos Estados Unidos aumentou de 24% para 48%. Mas, entre os brasileiros que recebem mais de cinco salários mínimos, a avaliação positiva aos EUA lidera com 53%, aponta o mesmo levantamento. 

Vigilância e intimidação 

De acordo com o relatório anual da Anistia Internacional sobre os direitos humanos no mundo, disponibilizado em abril deste ano em sua plataforma on-line, o governo chinês continua a aplicar leis e políticas repressivas que restringem o direito à liberdade de expressão e à liberdade religiosa. Ao longo de 2024, defensores dos direitos humanos foram perseguidos, processados ​​e condenados a longas penas de prisão. Ativistas que viviam no exterior enfrentaram ameaças e intimidação. Líderes religiosos foram presos e novos regulamentos limitando ainda mais a liberdade de religião e crença entraram em vigor no país.

“Novos regulamentos foram emitidos pelo ministério de Segurança concedendo poderes adicionais aos agentes da lei para inspecionar dispositivos eletrônicos, incluindo os de visitantes estrangeiros na China”, afirma o documento, que destaca ainda outros pontos de assédio e constrangimento ocorrido ao longo do ano passado:

- estudantes chineses, alunos em universidades na Europa Ocidental e Estados Unidos, enfrentaram vigilância e censura on-line e off-line por parte de agentes estatais;

- defensores dos direitos humanos, incluindo ativistas, advogados e jornalistas continuaram a enfrentar intimidação, assédio, detenção arbitrária, tortura e maus-tratos;

- regulamentos religiosos sofreram revisões mais restritivas e entraram em vigor limitando ainda mais a liberdade de religião e crença;

– o acesso às informações sobre dados do Estado, incluindo a aplicação da pena de morte, ficou ainda mais rigoroso pelas revisões da Lei de Proteção de Segredos de Estado;

- o espaço para a liberdade de expressão, já altamente cerceado pela Lei de Segurança Nacional (NSL) e outras normas repressivas, diminuiu ainda mais;

- e em Hong Kong uma nova lei de segurança nacional restringiu ainda mais o espaço cívico e dezenas de ativistas pró-democracia foram condenados a duras penas de prisão.

Órgão jurídico da ONU faz alerta

O relatório da Anistia (Amnesty International), disponível na internet, expõe a situação de ativistas e advogados presos pelo regime enquanto atuavam em defesa de direitos civis e trabalhistas, de melhores condições de saúde para as mulheres, e de um espaço maior de discussões na sociedade. Em outubro do ano passado, a ativista He Fangmei  foi condenada a cinco anos e seis meses de prisão por sua campanha por vacinas seguras. Também condenadas a cinco e três anos e meio de prisão as ativistas do movimento #MeToo e de direitos trabalhistas, Sophia Huang Xueqin e Wang Jianbing, denunciadas por "incitação à subversão do poder estatal". Defensores dos direitos humanos, os advogados Li Yuhan e Chang Weiping, após cumprirem as penas prisionais e serem libertados, sofreram mis sanções e foram privados de seus “direitos políticos”.
A Anistia também nomeou a China como o “principal carrasco do mundo”, com milhares de pessoas sendo executadas, 40% relacionadas ao tráfico de drogas. Na ONU, a Relatora Especial sobre a Independência de Juízes e Advogados, Margaret Satterthwaite, expressou preocupação “sobre as restrições administrativas, criminalização e outros padrões de interferência no trabalho de advogados”. Para a especialista, “profissionais de direitos humanos que trabalham em casos delicados foram particularmente visados no país”.

Perseguição religiosa com prisões

Artigo publicado pela Catholic News Agency (CNA), em 21/10/2024, revelou a repressão a dez bispos católicos chineses por resistirem a se submeter ao controle estatal da Associação Católica Patriótica Chinesa (CPCA), uma organização criada em 1957, ligada ao Partido Comunista, e que na prática exerce vigilância e emite diretrizes para os religiosos. 
A informação está contida no relatório “Ten Persecuted Catholic Bishops in China”, de 17/10, assinado pela advogada de direitos humanos Nina Shea, diretora do Centro para a Liberdade Religiosa do Instituto Hudson, uma instituição americana de pesquisa sobre políticas publicas, relações internacionais, segurança e demais questões da atualidade. Ela escreve que sete sacerdotes estão presos, “sem o devido processo legal, alguns deles sob detenção contínua por anos ou décadas”, como o bispo Julius Jia Zhiguo, de 90 anos, cujo “crime” foi ter permitido que hinos fossem cantados em sua igreja sem a permissão do governo.
O documento de 56 páginas assinala que os bispos mencionados foram submetidos a “investigações policiais sem prazo determinado, banimentos de suas dioceses e outros impedimentos ao seu ministério episcopal, incluindo ameaças, vigilância, interrogatório e a chamada reeducação”. 

Lembrando ainda que a Organização Repórteres Sem Fronteiras classificou a China como "a maior prisão de jornalistas do mundo". Em seu relatório divulgado em maio, a ONG internacional denuncia que atualmente 109 jornalistas estão presos em condições severas na China, inclusive a jornalista Zhang Zhan que divulgou a epidemia de Covid-19. Ela cumpriu pena de quatro anos de prisão e voltou a ser detida em agosto do ano passado. No ranking mundial de liberdade de imprensa, a China este ano ocupa a 178ª posição entre 180 países como um dos piores lugares para jornalistas trabalharem e viverem, atrás apenas da Coreia do Norte e Eritreia. Caiu seis posições em relação a 2024. 

O estudo relata que “para silenciar os jornalistas, o governo chinês acusa-os de ‘espionagem’ e ‘subversão’ ou de ‘incitar tumulto e provocar desordem’, três crimes cuja definição é tão vaga que podem ser invocados praticamente em qualquer contexto”. A mídia é controlada pelo Estado que “multiplica os obstáculos ao trabalho dos correspondentes estrangeiros”. Todos os dias o departamento de Propaganda do Partido Comunista envia aos meios de comunicação uma lista detalhada de tópicos a serem destacados e outra de tópicos cuja abordagem é proibida, sob pena de sanções. 

A China é a segunda maior economia do mundo, depois dos Estados Unidos e o terceiro país em extensão territorial, só perdendo para a Rússia e o Canadá.  Uma em cada cinco pessoas no mundo (1,4 bilhão) vive na China que até 2023 era o país mais populoso. Atualmente cabe à Índia esse título. O salário mínimo mensal é de 378 dólares (2.740 yens chineses ou em torno de 2 mil reais), de acordo com o site China Briefing.