/ Sheila Sacks /
Às vésperas de assumir a presidência do Paraguai, em 15 de agosto, o economista Santiago Peña, do Partido Colorado , anunciou seu compromisso de transferir a embaixada do Paraguai para Jerusalém.
Um
dos principais jornais do Paraguai, o La Nacion, estampou a manchete na
primeira página, em sua edição de 8 de agosto. Peña, um conservador de 44 anos,
recebeu 42% dos votos do eleitorado e foi eleito em 30 de abril ( no Paraguai
não tem segundo turno). Em seu
currículo, alguns destaques: foi membro do Conselho do Banco Central, Ministro da Fazenda e ex-funcionário do Fundo
Monetário Internacional.
Embora
o Paraguai tenha uma das economias que mais crescem na América Latina – com
previsão de +4,5% para o PIB em 2023, segundo o Fundo Monetário Internacional
–, a pobreza atinge 24,7% da população, que sofre com enormes desigualdades. O
novo presidente planeja criar 500 mil empregos e diz que “visualiza um triângulo geopolítico para o
Paraguai que vai de Washington a Jerusalém e termina em Taipé (capital de
Taiwan)”. Segundo Peña, esse é o modelo que quer projetar, “ de uma nação livre
e soberana”.
As declarações foram feitas no Congresso Nacional, em 7 de agosto, durante a adesão de 36 parlamentares paraguaios à Fundação Aliados de Israel, criada em 2004 e com sede em Washington, que conta com a participação de 56 países. Na ocasião , Peña afirmou que o Paraguai vai reconhecer Jerusalém como a capital de Israel, ”lugar onde o povo judeu se identifica. E que a Embaixada voltará ao lugar onde sempre deveria estar”. Lembrou que os dois países tem laços históricos importantes e que pretende fortalecê-los nos próximos anos em benefício de ambas as nações.
Em
setembro de 2018, o então presidente empossado Mario Abdo Benítez anunciou o
retorno da embaixada para Tel Aviv, mudando a decisão do governo anterior, de Horacio
Cartes, que em maio daquele ano, no final de sua administração, havia instalada a representação diplomática em
Jerusalém, seguindo os EUA e a Guatemala. A reação do governo israelense foi fechar a
embaixada em Assunção e designar o embaixador do Uruguai para cuidar dos
assuntos relativos ao Paraguai.
Beit Chabad e Museu
Judaico
A comunidade judaica do Paraguai tem em torno de mil membros e a maioria vive na capital. Segundo o Congresso Judaico Mundial (WJC, na sigla em inglês) a comunidade é de perfil tradicional e sionista, formada por várias instituições como a União Hebraica, sede das atividades sociais, esportivas, culturais e religiosas; o Colégio Estado de Israel (instituição que oferece educação judaica formal ), a Aliança Israelita (Chevrá Kadisha) que administra o cemitério e a organização religiosa Beit Chabad.
Também atuam no país, instituições de benemerência como a WIZO e Bnai Brith, e o movimento juvenil sionista Noar Hatzioní. Tem três sinagogas e em 2013 foi inaugurado o Museu Judaico que promove visitas guiadas e palestras, com exposição permanente de objetos religiosos e área dedicada à recordação do Holocausto.
Apoio a Israel e atentado
terrorista
Com
6,7 milhões de habitantes, o Paraguai tem um histórico de apoio a Israel. Em 29 de novembro de 1947, quando da votação na ONU sobre a partilha da
Palestina, o Paraguai se tornou o 33º país a votar “sim” para a criação de um
estado judeu independente. Em 1949, estabeleceu relações diplomáticas com
Israel e ao longo do tempo tem frequentemente se abstendo ou votando contra
resoluções da Assembleia Geral da ONU e de outros fóruns internacionais que
atacam ou criticam Israel por suas ações de defesa no conflito
israelense-palestino.
No ataque morreu baleada
Edna Peer, 36 anos, mãe de três filhos e esposa do primeiro secretário Moshe
Peer, e ficou gravemente ferida Diana
Zawluk, ambas israelenses que trabalhavam na delegação. Os atacantes, de 20 e 21 anos, eram de origem
palestina, originários da Faixa de Gaza e membros do grupo Al-Fatah do então
líder Yasser Arafat. Durante as investigações foi constatado que os terroristas
tiveram a ajuda de árabes que viviam no Paraguai. Eles foram presos e
condenados a 13 anos de detenção, mas depois de nove anos foram libertados.
Cinquenta anos depois,
em entrevista ao jornal paraguaio ABC Color, Diana Zawluk relembrou o ataque e
contou que os homens atiraram na segunda vez que vieram à embaixada, após serem informados que o embaixador não estava no local. Ela levou cinco tiros e
conseguiu sobreviver por milagre.
Brasileiros no Paraguai
Reportagem recente da BBC News Brasil mostra que cada vez mais brasileiros estão se mudando para o país vizinho. Em relação aos universitários de Medicina, a quase totalidade é de brasileiros que optam por estudar naquele país pelos custos mais baixos. Investidores brasileiros são forte presença nos setores do agronegócios, têxtil e de autopeças pelas facilidades para a exportação e o sistema de impostos. Empreendedores destacam a energia barata.
Segundo dados recentes do Itamaraty, o Paraguai é o primeiro destino dos imigrantes brasileiros na América Latina, com cerca de 246 mil pessoas, quase a metade vivendo na Ciudad del Este (98 mil), a segunda maior do país. Já a Câmara de Comércio Paraguai Brasil projeta outros números e estima que são cerca de 400 mil, principalmente na região da fronteira. O Paraguai é o terceiro país, depois de EUA e Portugal, com a maior comunidade brasileira (Por que tantos brasileiros estão se mudando para o Paraguai – 18/4/2023).