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domingo, 17 de junho de 2018

Cidades espanholas se politizam contra Israel

 Sheila Sacks /

É reação aos conflitos na fronteira de Gaza, ocorridos em maio, durante os festejos do 70º aniversário da independência do país

Mais uma vez, Israel se vê às voltas com atos hostis procedentes de cidades espanholas. A prefeitura de Oviedo, capital da região das Astúrias, cancelou esta semana a participação da orquestra israelense de Natania e a apresentação do grupo de ballet da programação cultural planejada para depois das férias do verão.

De acordo com o produtor do evento, a decisão foi “política”, no sentido de a cidade sinalizar que não quer abrigar ou manter atividades israelenses na região.

Em Valência, a terceira maior cidade da Espanha, foi aprovada na semana passada uma moção proposta pelo partido de esquerda “Podemos” para boicotar cidadãos e empresas israelenses e tornar a cidade, de 800 mil habitantes, “livre do apartheid de Israel” e a maior zona do mundo de apoio ao BDS (Boicote, desinvestimento e sanções).

Também na semana passada, o Conselho da cidade de Barcelona (1,6 milhão de habitantes) e as prefeituras das cidades catalãs de Terrassa e Badalona emitiram comunicado propondo o embargo de armas contra Israel e exortaram o governo espanhol e  os demais governos da Europa a apoiarem a medida.

Agressão na TV

Na campanha com o BDS para atacar Israel, o líder do “Podemos”, Pablo Iglesias Turrión, em entrevista à TV pública espanhola RTVE, há poucos dias,  chamou o estado de Israel de um “país criminoso e ilegal”.

Em 2014, ele visitou Israel e Cisjordânia com uma comitiva de deputados da esquerda europeia, e teve o acesso negado ao território de Gaza. Na ocasião ele criticou o governo espanhol por gastar 300 milhões de euros na compra de mísseis Spike israelenses, da empresa Rafael ( Rafael Advanced Defense Systems Ltd.), e pela venda de material militar a Israel, em 2013, no valor de 4 milhões de euros.

O partido “Podemos” faz parte da coalizão que derrubou recentemente o ex- primeiro-ministro Mariano Rajoy  para substituí-lo pelo líder socialista Pedro Sanchez, do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), empossado em 2 de junho.

Batalha nos tribunais

Esse conjunto de ações para constranger o estado israelense tem sido corajosamente enfrentado pelo grupo espanhol pró-Israel ACOM (Acción y Comunicación), sob a presidência de Angel Mas, 50 anos, um executivo do ramo de seguro hipotecário. A organização, que tem sido fundamental na defesa dos interesses políticos de Israel na Espanha, já prepara uma ação legal na Justiça contra Valência e seu voto a favor do boicote.

Desde a sua criação, há oito anos, as iniciativas judiciais da ACOM em tribunais da Espanha levaram a anulação ou suspensão de 24 moções aprovadas por municípios espanhóis para boicotar Israel. Sob a pressão da ACOM, pelo menos sete municípios voltaram atrás em seus endossos ao BDS e 14 tiveram canceladas nos tribunais suas resoluções a favor do BDS. Outras ações ainda estão pendentes de decisão judicial.

Entretanto, em março, um juiz espanhol aceitou uma ação penal impetrada pelo Comitê de Solidariedade da Causa Árabe contra Angel por suposta incitação ao ódio e intimidação contra os boicotes a Israel.

É a primeira vez que um presidente de entidade pró-Israel está sendo levada aos tribunais da Espanha e com isso o grupo deve rever as estratégias até então adotadas. A alegação de incitação advém do fato de que a ACOM acusa o BDS de agir como uma organização antissemita, e em relação à intimidação, a base da denúncia mira as ações legais da ACOM contra os municípios espanhóis que adotaram a política do movimento BDS de boicote a Israel.

Apoio político e verbas públicas

De acordo com Angel, o movimento BDS se radicalizou e se tornou virulento na Espanha, a partir de 2014, com o surgimento do partido de extrema esquerda chavista “Podemos”, financiado pela Venezuela e Irã. Tendo perdido muitas ações nos tribunais da Espanha, o BDS vem mudando de tática, segundo Angel. “Eles estão mirando os indivíduos em uma campanha de difamação na tentativa de tornar os judeus espanhóis e Israel indefesos.”

Relatório conjunto divulgado ano passado pela ACOM e a ONG Monitor revela que somente em 2015 o BDS na Espanha recebeu seis milhões de euros de subvenções públicas oriundas de administrações regionais e municipais que respaldaram suas atividades anti-Israel no país. A ACOM também identificou que seis das muitas organizações pró-BDS que operam na Espanha já receberam mais de 33 milhões de euros de dinheiro público, desde 2014.

O presidente da ACOM reconhece que essa é uma luta que requer tempo, esforço e recursos. “Fomos expulsos há 500 anos, mas isso não acontecerá novamente.”

Atualmente, 30 mil judeus vivem na Espanha, a maioria em Málaga, Madri e Barcelona.