Por Sheila Sacks
publicado na versão online do "Correio do Brasil"
publicado na versão online do "Correio do Brasil"
A
série de incêndios florestais que durante seis dias atingiu centros urbanos
importantes como Haifa e arredores de Jerusalém reacende a hipótese do
envolvimento de ações criminosas nesse episódio que tomou ares de um dos
maiores desastres do país, deixando um rastro perverso de danos ambientais,
sociais e materiais de enorme envergadura.
Sofrendo
com a falta de chuvas e ventos fortes, os incêndios provocaram a retirada de
mais de 80 mil pessoas que vivem na cidade litorânea de Haifa, no norte de
Israel, que tem 280 mil habitantes, entre judeus e árabes. Em 2010, a cidade já
havia enfrentado um incêndio que resultou em 44 mortes. Cidades perto de
Jerusalém e comunidades na Cisjordânia também tiveram de ser evacuadas afetadas
por focos de incêndios e muita fumaça.
Ao
anunciar no domingo, 27 de novembro, que os incêndios estavam sob controle, o porta-voz da
polícia Micky Rosenfeld destacou que os aviões continuavam jogando água em áreas
como a de Haifa, a terceira maior cidade do país, em um trabalho de prevenção.
Cerca de 1,6 mil apartamentos e casas ficaram totalmente danificados sendo que
500 deles inabilitados para moradia. Os estragos na cidade estão estimados em
120 milhões de dólares. Segundo informações da agência France-Presse (AFP),
foram destruídas mais de 13 mil hectares de florestas no país e detidas 23
pessoas suspeitas de terem provocado os incêndios.
Nova ameaça
Em
reportagem, a agência de notícias espanhola EFE divulgou que autoridades
israelenses consideram que muitos dos fogos foram provocados e que o
primeiro-ministro israelense, Benjamim Netanyahu, falou sobre uma onda de
terrorismo incendiário. Seria um novo tipo de terrorismo que Israel enfrenta,
declarou o ministro de segurança pública, Gilad Erdan. Uma situação preocupante
não só para Israel, caso as suspeitas se confirmem, mas em relação a qualquer
outro país do planeta.
No
Brasil - onde as facções criminosas e as milícias interagem com ilícitos
pesados, desde a comercialização de drogas, armas e serviços até roubos de
cargas e assassinatos, comandando as operações de dentro das cadeias em um
arrogante desafio às forças policiais - alguém já parou para pensar se, por
exemplo, nossa floresta da Tijuca, no miolo do Rio de Janeiro, uma das maiores
florestas urbanas do país, com 4.200 hectares, vir a ser incendiada pela
bandidagem? Ou virar alvo de atos de sabotagem de cidadãos indignados ou
revoltados pelas centenas de mazelas públicas que são condenados a suportar no
seu humilhante dia a dia?
Preconceito na rede
Em
um mundo globalizado de ditadura digital, com a mídia informativa jorrando
notícias continuadamente e as redes sociais temperando as informações, sempre
com muito sal, os fatos acabam sendo engolidos pelas versões. Sejam em relação
ao estado de Israel, a outros países, povos, religiões etc. As redes opinam,
sugerem, reciclam, distorcem, amplificam e redesenham os ângulos das questões
de acordo com o perfil ideológico dos indivíduos e os preconceitos inerentes à
formação de cada um. Uma miscelânea que muda o conceito original de massa, que
de acordo com o dicionário Aurélio consiste em um “número considerável de
pessoas que mantêm entre si uma certa coesão de caráter social, cultural,
econômico”.
Mas,
no mundo virtual, independente de aspectos sociais, culturais e econômicos que
podem ser díspares, o preconceito e a intolerância têm o poder nefasto de
juntar as pessoas. Muito mais do que separá-las. Percebe-se que inúmeras vezes
o fato real que ensejou a notícia perde-se em labirintos de interpretações ou
fica em segundo plano, emergindo em contraponto, de forma intencional, um dado
correlato posto a serviço da neutralização ou negação do fato real veiculado.
Nos
incêndios ocorridos em Israel a maior vítima foi a sua população em todos os
seus segmentos. Sabe-se que motivações de qualquer espécie não justificam atos
de violência e vandalismo, e que nas proporções que afetaram o país configuram-se
reais ações de terrorismo. Logo, existindo culpados, a eles a lei deve ser
aplicada.