linha cinza

linha cinza

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Lula:" Quando fui preso não tive a solidariedade de todos"


por Sheila Sacks

Em abril de 1980, jornal anuncia a prisão de Lula

Perto de encerrar o mandato de oito anos (em 31 de dezembro), o presidente Lula está convicto de que o Brasil é hoje uma democracia consolidada. Respondendo às críticas à atual política externa de estreitar os laços econômicos com governos denunciados por entidades internacionais de violação de direitos humanos (Cuba, Venezuela, Irã, Líbia, Guiné Equatorial, Quênia, Tanzânia, Zâmbia e Gana, entre outros), o presidente brasileiro afirma que gostaria de que todos os países tivessem o mesmo grau de liberdade encontrado no Brasil. “Quem pode dizer que há país mais livre do que o Brasil? Duvido que exista.”

Na entrevista ao jornal “Brasil Econômico” ele defende a postura brasileira de buscar novos parceiros comerciais, ainda que não aprovando certas situações internas. “Uma coisa é apoiar Cuba, outra é concordar com prisões políticas, ressalta Lula. O presidente lembra também da época em que ficou preso (1980) em razão de sua militância sindical. “As pessoas que estão presas acham que podem contar com a defesa de todos que estão do lado de fora. Quando fui preso, não tive a solidariedade de todos. Mas é óbvio que gostaria que não houvesse preso político em nenhum lugar do mundo.”

Visita aos países árabes

Quanto aos resultados de sua política externa, Lula é enfático na avaliação positiva: “Tenho orgulho de ter sido o primeiro presidente brasileiro a visitar todos os países árabes. Fui a todos os da América Central e o primeiro chefe de Estado desde o imperador Pedro II a ir a países como o Líbano.” O presidente destaca que suas viagens ao continente africano elevaram a balança comercial de 3 bilhões de dólares para 26 bilhões.

Lula no Museu do Holocausto, em Israel
Segundo Lula, a decisão de ampliar as relações diplomáticas, intensificando o convívio político e comercial com países de culturas, regimes e padrões diversos, foi enunciada ainda em 2003, no Fórum Econômico de Davos, na Suíça.

Foi lá que ele disse para o chanceler Celso Amorim que o Brasil iria ter uma nova política externa. “Era preciso acabar com a mesmice do século 20, já que não fazia sentido olhar para a Europa sem enxergar a África, olhar para os Estados Unidos sem enxergar o Oriente Médio e o restante da América Latina”. Lula observa ainda que o Brasil é o gigante da América do Sul, com 16 mil quilômetros de fronteira seca e só não mantendo fronteira com Chile e Equador.

De volta às origens

Prometendo que a partir de 1º de Janeiro de 2011 volta a ser um militante do PT (Partido dos Trabalhadores), Lula, de 64 anos, diz em tom de brincadeira que almeja ser o melhor ex-presidente que o Brasil já teve, ou seja, “não dando palpite”. Mas, como líder de seu partido vai trabalhar junto ao Congresso pelas reformas tributária e política que não conseguiu levar adiante. Também pretende transferir algumas experiências sociais bem sucedidas como o “Bolsa Família” para países da América Latina e da África.

Confiante de que a exploração das megas reservas de petróleo do pré-sal vai proporcionar ao Brasil as condições e as oportunidades para um salto de qualidade em áreas como a educação, ciência e tecnologia, Lula também acredita que o país irá integrar o seleto grupo das cinco maiores economias do mundo já em 2016, ano dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro. Em 2009 o quinteto era formado pelos Estados Unidos, Japão, China, Alemanha e França, tendo o Brasil na oitava colocação.

Um Brasil mais justo

Apesar de reconhecer que ainda há muita coisa por fazer, o presidente Lula avalia que o Brasil nesses últimos oito anos mudou de cara e avançou em várias áreas. “Em 2003 havia 380 bilhões de reais em crédito bancário, agora chegamos a 1,5 trilhão. Por sua vez, a agricultura familiar saiu de 2,4 bilhões de reais de financiamento para 16 bilhões.” Lula destaca que a classe C reúne agora mais de 30 milhões de pessoas. “Na crise (2009) foram os pobres que saíram às compras quando as classe A e B ficaram com medo. Na véspera do Natal de 2008 ousei convocar o brasileiro em rede nacional de rádio e televisão a consumir, explicando que essa era a maneira de manter a roda da economia girando.”

Aos que discordam da atual carga tributária de 34%, considerando-a muito elevada, Lula pondera que é dos impostos que sai o dinheiro para a execução das políticas públicas sociais. “Quando colocamos 100 bilhões de reais no BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento) é porque quero que ele seja dez vezes maior que o Bird (Banco Mundial). Quero um BNDES internacional. Os empréstimos saltaram de 34 bilhões de reais em 2006 para 139 bilhões em 2009 e chegarão logo a 200 bilhões”, afirma Lula, garantindo que deixa ao seu sucessor um país infinitamente mais sólido, justo e democrático.

(publicado no Rio Total )
http://www.riototal.com.br/coojornal/sheilasacks045.htm