
por Sheila Sacks
publicado nos portais da Associação dos Servidores do Tribunal de Justiça(Assestjsp) e da Federação das Entidades de Servidores Públicos de São Paulo(FESPESP).
Mas é na área do serviço público que o cidadão brasileiro está tendo a oportunidade de recorrer, mais assiduamente, aos préstimos da mídia, sempre atenta aos problemas urbanos das cidades. Ainda que uma escola com goteiras, localizada em um bairro da periferia, não tenha o mesmo peso editorial de um cano que se rompe e inunda uma rua da Zona Sul do Rio de Janeiro, o reclamante sempre encontrará um espaço na rede midiática para expor, veicular, sensibilizar e transmutar um fato isolado e distante em um problema próximo e de interesse comum.

É nessa hora que as assessorias de comunicação dos órgãos públicos afetados pelas ocorrências são instadas a desfazer ou deter o possível dano causado à imagem dos mesmos. O registro da imprensa, rádio e TV de crianças estudando em uma sala de aula com água escorrendo pelas paredes ou carteiras escolares molhadas tem um forte impacto emocional na população. Assim com o de uma importante via alagada e interditada ao trânsito; do desespero de moradores de baixa renda diante da demolição de seus casebres, ainda que erguidos irregularmente nas encostas; ou de idosos e crianças doentes enfileirados, durante horas, frente à entrada de postos de saúde e hospitais, aguardando atendimento.
A simples exposição do fato, que naturalmente incorpora o poder público como culpado da situação, muitas vezes estimula a mídia a se acercar do assunto, ampliando o seu foco com desdobramentos em matérias correlatas. Em sequência, as assessorias de comunicação são imediatamente bombardeadas pelos repórteres que urgem dar uma resposta, firme e precisa, aos seus leitores, telespectadores e ouvintes.

Informar é desestabilizar
O cuidado com o uso dos termos a serem inseridos nos releases é outra preocupação a rondar as assessorias. Um exemplo sobre o estrago que uma palavra pode causar a um profissional da comunicação é a polêmica que se instalou em torno do jornalista Luiz Lobo, da TV Brasil. Demitido da emissora, no início de abril de 2008, o profissional alegou que existia uma ordem do governo federal para que a palavra "dossiê" não fosse usada nos noticiários. Segundo Luiz Lobo, haveria na TV Brasil o que ele classifica de "um cuidado que vai além do jornalístico", interferindo na independência da emissora.

Em contrapartida, o ofício de informar seria bem mais difícil: "Informar alguém é sempre desestabilizá-lo, deixá-lo desconfortável, mexer com suas ideias já fixadas", explica Debray. Logo, caberia à informação o ônus de ser o diferencial, de se compor como uma mensagem dissociada a termos e expressões estigmatizantes, tendo como premissa os fatores da imparcialidade e da independência em relação ao público leitor. Essa, aliás, seria a função precípua das assessorias de comunicação da área pública: a de informar objetivamente, mantendo-se imune à tentação de repetir a lingüística utilizada pela grande mídia.
Múltiplas habilidades
De 1950, quando os primeiros cursos de Comunicação Social foram implantados no país, aos dias atuais, com as redes de comunicação transformadas em conglomerados poderosos e atuantes em todos os setores da vida humana, aumentou bastante a percepção, entre os profissionais e aqueles que estudam e pesquisam o fenômeno das mídias, da importância de se conhecer e entender o funcionamento dessa multifacetada engrenagem de massa, capaz de criar e destruir mitos e governos, fomentar idéias e teorias e até mudar o curso da história.

Atentas a essa perspectiva transformadora da comunicação, universidades como a Federal Fluminense (UFF), do Rio de Janeiro, e a de Campinas (Unicamp), em São Paulo, abriram cursos de estudos de mídia ou Midialogia, que visam à análise e discussão das diversas mídias, em seus contextos, códigos, linguagens e campos conceituais. Segundo o professor Adilson Ruiz, da Unicamp, "o midiólogo, na sua expressão mais pura, deverá ser um grande consultor de mídia para empresas de qualquer natureza, sejam elas da esfera pública ou privada". Estará preparado para opinar sobre som, fotografia, cinema, vídeo e computação gráfica, atuando na produção, realização e recepção desses produtos. Sem deixar de lado a formação no campo humanístico, estético e sociológico, base instrumental e técnica da expressão e item imprescindível para a construção de cada mídia específica (escrita ou audiovisual).
Portanto, para esse novo super-herói que já desponta no horizonte, vale indicar um proveitoso estágio em uma assessoria de comunicação social de um órgão público. Ainda o melhor lugar para um profissional exercitar suas múltiplas habilidades.