/ Sheila Sacks /
Cerca de 500 judeus vivem atualmente no país africano
de acordo com o jovem rabino Netanel Kaszovitz, líder religioso da sinagoga
Nairobi Hebrew Congregation. Nascido em Chicago, Kaszovitz, de 32 anos, e sua família residem na capital Nairobi
há quase quatro anos.
Segundo o site do Congresso Mundial
Judaico (WJC, na sigla em inglês), que tem afiliadas em mais de 100 países, a
vida judaica no Quênia se estabeleceu em 1904, com a fundação da Congregação
Hebraica de Nairóbi e a instalação da primeira sinagoga construída em 1913.
História
Em 1903, durante o Sexto Congresso Sionista,
uma parte do Quênia (então colônia britânica) foi cogitada para ser oferecida
aos judeus como pátria. A proposta partiu do político inglês Joseph
Chamberlain, secretário de estado para as colônias
britânicas, mas foi rejeitada dois anos depois pelos participantes do Sétimo
Congresso. Na época, duas dezenas de famílias de origem judaica imigraram e se
instalaram no país. Um cemitério judaico foi construído em 1907. Finda a
Segunda Guerra e a catástrofe do Holocausto, novos grupos de judeus se
estabeleceram em Nairobi, com a comunidade aumentando para 1.200 pessoas.
Durante a guerra de independência de
Israel, em 1947, os britânicos montaram campos de detenção em Gilgil (nordeste
de Nairóbi) para membros das organizações clandestinas judaicas Irgun Zvai
Leumi (IZL; Irgun) e Lehi, deportados da Palestina. A comunidade judaica do
Quênia prestou ajuda e apoio aos combatentes e, em 1948, com a independência de
Israel, muitos judeus partiram para o novo país.
Atualmente, a comunidade judaica do Quênia é
formada por judeus nativos, inclusive convertidos, e de países diversos como Rússia, Polônia, Alemanha,
África do Sul, Reino Unido, Canadá e, principalmente, Israel. Com a
independência do Quênia, em 1963, foi aberta uma embaixada israelense em Nairobi
e houve um incremento na comunidade com a chegada de dezenas de israelenses,
diplomatas, profissionais de várias áreas e homens de negócios.
Vale mencionar que a 180 quilômetros de Nairobi, na zona rural, existe há mais de 20 anos uma comunidade singular composta de dezenas de famílias convertidas ao judaísmo sob o nome de Kehillat Israel Kasuku. O grupo, por vontade própria, em 2000, se separou da igreja messiânica e muitos foram formalmente convertidos pelo rabino Gershom Sizomu, de 54 anos, da comunidade vizinha de Abayudaya, em Uganda, que abriga 2 mil membros. Ele é o primeiro rabino negro nativo da África e o primeiro membro judeu do Parlamento de seu país, eleito em 2016. Ambas as comunidades seguem rigidamente os preceitos e rituais judaicos.
Personalidades
De uma família de empresários que se
estabeleceu no Quênia no início do século 20, Israel Somen (1903-1984) foi
eleito prefeito de Nairobi em 1955 e mais tarde cônsul honorário de Israel no
país. Ele viveu no Quênia até o final da década de 1960, quando se mudou para a
Suíça e depois Londres. Mas, vários parentes permaneceram no Quênia.
Em uma entrevista à revista on-line
Tablet Magazine, de cultura judaica, o médico nascido nos Estados Unidos e que
reside há mais de 40 anos em Nairobi, dr. David Silverstein, de 82 anos, contou
que o falecido presidente do Quênia, Daniel arap Moi (1924-2020) visitou várias
vezes o estado de Israel e foi o único líder internacional a estar presente na
cerimônia de 30 dias da morte do primeiro-ministro Yitzhak Rabin, de quem era
amigo.
Cardiologista renomado, atendendo
autoridades, políticos, o próprio presidente Moi e seu antecessor, Jomo
Kenyatta, primeiro presidente do país, dr.
Silverstein preside a Congregação Hebraica de Nairobi. Além do amplo prédio da
sinagoga e um local para banhos rituais (mikvê), a comunidade também tem uma
construção adjacente ao arborizado terreno, o Vermont Memorial Hall, que
funciona como sede social para eventos diversos.
Merece menção também a presença do grupo
ortodoxo Chabad-Lubavitch, instalado no Quênia há quase dez anos, com sede
própria em Nairobi, sinagoga e atendimento religioso e educacional à comunidade. Em uma reportagem publicada em
seu site, é informado que o Chabad mantém postos em 17 países africanos, como o
Congo, Nigéria, Angola, África do Sul, entre outros.
Acerca da histórica Operação Entebbe, em Uganda
(1976), quando as Forças de Defesa de Israel resgataram os reféns do avião da
Air France sequestrado por terroristas da Frente Popular pela Libertação da
Palestina (PFLP, na sigla em inglês), a matéria em questão lembra o importante
papel do Quênia no episódio. Na época, os aviões de Israel não tinham autonomia
de voo de ida e volta para Uganda sem uma parada para reabastecimento. O
governo israelense teve o aceite do presidente Jomo Kenyatta para o pouso, o
que inclusive resultou em represália do ditador de Uganda, Idi Amim, que deu
ordem para assassinar o ministro de Agricultura queniano, Bruce Mackenzie,
suspeito de auxiliar agentes do Mossad no resgate.
Quatro anos depois, no rastro do apoio da
comunidade judaica do Quênia ao sucesso da operação de resgate em Uganda, um
atentado terrorista palestino ao Hotel Norfolk, o mais tradicional de Nairobi, de
propriedade da família de Abraham Block, explodiu parcialmente o prédio,
matando 20 pessoas, a maioria turistas, e ferindo 87.
Em recente reportagem, o Jerusalem Post
divulgou a viagem de um rabino e mohel israelense, Hayim Leiter, à Congregação
Hebraica de Nairobi para fazer uma circuncisão ritual (brit milah) em um
recém-nascido (24.02.2025). Leiter contou sobre a sua satisfação em perceber
que os quenianos têm grande simpatia por Israel e que a comunidade judaica
local é muito acolhedora e participativa. Porém, face ao provável término da
missão do atual rabino Kaszovitz, ele destacou que é sempre um grande desafio
comunidades pequenas sobreviverem em suas jornadas judaicas sem uma liderança
eficaz. − O rabino e a sua família construíram um oásis no deserto africano – elogiou
− e temo que os judeus do Quénia possam perder o seu caminho sem ninguém no comando.