/ Sheila Sacks /
Diretor Nacional da Liga Antidifamação (ADL), no período de 1987 a 2015,
o advogado e ativista Abraham Foxman, de
84 anos, sobreviveu ao Holocausto e emigrou para os Estados Unidos com os pais,
judeus poloneses, em 1950. Atuou também como vice-presidente do conselho de
curadores do Museu do Patrimônio Judaico de Nova York, que guarda mais de 30.000 objetos
relacionados à história judaica e ao próprio Holocausto. Em recente declaração, durante a Convenção
Nacional do Partido Democrata, em Chicago ( 19 a 22 de agosto), Foxman
indignado fez um desabafo sobre as manifestações antissemitas que atualmente
contaminam o ambiente eleitoral americano.
- Depois de 50 anos lutando contra o antissemitismo na América, eu não
poderia imaginar que os judeus teriam que se reunir em locais secretos em
Chicago para a Convenção Nacional Democrata", disse, em referência às
manifestações anti-Israel que interromperam um encontro da
organização Agudath Israel of America, que representa os judeus
ortodoxos Haredi. No site da instituição, é reportado que apoiadores do Hamas
tentaram paralisar o evento, realizado em 20 de agosto, gritando slogans para
constranger e amedrontar os participantes.
O presidente do Conselho da Agudath, Shlomo Werdiger, instou os
presentes a lutarem contra o ódio e antissemitismo. “Eles pensam que podem nos
intimidar para não estarmos aqui”, iniciou seu discurso de abertura. E
continuou: “Somos filhos e netos de sobreviventes do Holocausto, e nunca nos
acovardaremos ou seremos silenciados. Pelo contrário, pretendemos defender nossos
direitos e nossas liberdades.”
Vários políticos americanos foram convidados para o encontro, que
aconteceu em paralelo à Convenção Democrata, entre eles o governador de Nova
Jersey, Phil Murphy, a senadora de Michigan, Debbie Stabenow e o procurador-geral
do Colorado, Phil Weiser. O jornalista e redator da cultuada revista The
Atlantic, Yair Rosenberg, contou que os eventos judaicos na Convenção Nacional
Democrata tiveram que ser realizados em locais não revelados e sob forte
segurança.
Dias depois, o rabino Yitzchok Ehrman, diretor executivo da Agudath, em
carta aberta, lamentou que um bando de agitadores mascarados entoando slogans anti-Israel
tivesse capturado a atenção da mídia, resultando em manchetes perturbadoras, em
detrimento ao trabelho e esforço da organização para aumentar a conscientização,
entre os líderes políticos, sobre a crescente ameaça de antissemitismo enfrentada
pelos judeus na América, particularmente os judeus ortodoxos.
Desconfiança
Recente artigo publicado no Jerusalem Post, assinado por Douglas
Altabef, presidente do Conselho da ONG Im
Tirtzu (epígrafe do livro de Theodor Herzl, 'Im tirtzu ein zo agadah’ - se
você quiser, não será um sonho) e diretor
do The Israel Independence Fund, analisa
o que chamou de “complexa relação” entre a candidata democrata Kamala Harris e
os judeus americanos, especialmente os mais ortodoxos.
“A má notícia é que os judeus tradicionais e religiosos têm poucos
motivos para se alegrar (em relação a Harris e ao Partido Democrata). A
condição de povo judeu, uma preocupação fundamental para esses judeus, é vista
cada vez mais como privilégio, racismo e – em sua manifestação mais extrema –
uma ameaça sempre presente ao bem-estar dos palestinos”, escreve.
Altabef destaca principalmente o posicionamento de jovens democratas e
“esquerdistas” que enxergam um mundo binário de opressores e oprimidos, em que
o estado de Israel é considerado uma potência colonialista ocupante. “A atitude
cada vez mais prevalente em relação aos judeus, especialmente entre os
democratas mais jovens, lembra o famoso ditado do Conde de Clermont-Tonnerre
logo após a Revolução Francesa: “Devemos recusar tudo aos judeus como nação e
conceder tudo aos judeus como indivíduos”.
Quanto à escolha de Ilan Goldenberg, pela candidata democrata, como seu
contato com a comunidade judaica, o articulista também considera que esse fato
não deve trazer conforto aqueles que buscam apoio a Israel. Goldenberg, de 47
anos, trabalhou no governo Obama para assuntos do Oriente Médio e desde 2020
atua no governo Biden. Se posicionou contra à mudança da Embaixada dos Estados Unidos
para Jerusalém e, em 2015, apoiou as negociações nucleares do EUA com o Irã.
Nascido em Israel, ele cresceu em New Jersey, tem
graduações pelas Universidades da
Pensilvânia e Columbia, fala hebraico e árabe e adotou a cidadania americana.
Para Altabef, Harris não expressa uma posição incondicional de apoio a
Israel, em sua luta pela sobrevivência como nação diante das ameaças crescentes
de organizações terroristas como o Hamas, Hezbollah, os Houthis e os iranianos,
que não escondem seu objetivo de varrer o país do mapa. “Os
judeus que Harris e companhia gostam e respeitam são os judeus ‘como judeus’, indivíduos
que assumem sua identidade de judeus justamente para criticar e condenar Israel
e suas ações”, argumenta.
Em sua opinião, houve grandes mudanças nas posições políticas dos
democratas e se os judeus querem de fato buscar apoio para suas causas precisam
mudar de partido.
Coalizão Judaica Republicana
Em Las Vegas, na cúpula anual da Coalização Judaica Republicana (Republican
Jewish Coalition-RJC) iniciada em 4 de setembro, o presidente do Comitê Nacional
Republicano, Michael Whatley, chamou Harris de “a pessoa mais radical e menos
séria que já concorreu à presidência”. Ele acusou a administração Biden-Harris
de fornecer mais recursos ao Irã, ao suspender as sanções anteriormente
impostas ao governo iraniano, e com isso ajudar a financiar o terrorismo e o
massacre de 7 de outubro.
A senadora de Iowa Joni Ernst, em seu discurso, enfatizou que “Harris
não será uma amiga de Israel” e nem mudará
a política atual. “Ela não só é simpática à ala pró-Hamas do Partido Democrata,
mas também está se cercando de conselheiros pró-Irã”, afirmou a congressista.
Outro parlamentar, o deputado Jason Smith, do Missouri, falou sobre seus
esforços para responsabilizar as universidades pelo antissemitismo. “Eu
coloquei as universidades americanas em alerta. Se a administração Biden-Harris
continuar a apaziguar a esquerda pró-Hamas dentro de seu partido, recusando-se a
revogar o status de isenção de impostos de organizações que financiem qualquer
protesto violento, eu sei que uma administração Trump-Vance, e o Partido
Republicano, apoiarão diretamente Israel e o povo judeu ao redor do mundo.”