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quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Operação Retorno: Em Israel, 60 mil desalojados aguardam à volta para as suas casas

 Sheila Sacks


Há quase um ano, desde o ataque terrorista do Hamas em 7/10, milhares de cidadãos israelenses que viviam em cidades, vilas, pequenas comunidades e fazendas coletivas perto da fronteira do Líbano estão morando provisoriamente em quartos de hotéis, casas de parentes e alojamentos espalhados pelo território de Israel em uma situação incerta e dramática.

Os ataques quase diários de mísseis do Hezbollah, vindos dos topos das colinas e das florestas do Líbano, já destruíram ou danificaram centenas de moradias ao longo da fronteira nesse período em que as forças de defesa  de Israel (IDF) lutam em Gaza contra o Hamas.

Em face do perigo de um ataque do Hezbollah, semelhante ao do Hamas, a população do norte de Israel localizada à beira da fronteira foi evacuada e desde então o governo israelense mantêm essas famílias a salvo a um custo material e emocional imensurável.

Em abril, seis meses após o ataque do Hamas, reportagem da agência Reuters citava a declaração “de uma alta autoridade israelense”, que segundo a agência “pediu anonimato por questão de segurança”, sobre o poder de fogo do Hezbollah. “Na verdade, o Hezbollah é uma ameaça maior à fronteira do que o Hamas, afirmava o entrevistado, “porque tem o dobro de combatentes de elite e pode penetrar mais profundamente em Israel.”

Segundo essa autoridade, o Hezbollah vem sinalizando que está preparando um ataque há anos. “Um perigo que Israel não pode aceitar”, garantiu, afirmando que o governo pretende “empurrar” o Hezbollah para longe da fronteira, e a questão é saber “como”.

O medo de um massacre ainda pior do que o perpetrado pelo Hamas (que matou 1.200 pessoas em suas casas, bases militares e em uma festa ao ar livre, sequestrando 253 pessoas, inclusive crianças) resultou no deslocamento forçado de uma imensa população de residentes que se viu transformada em refugiada no seu próprio país. Uma situação que o governo quer mudar, em meio à guerra em Gaza e o resgate de reféns.

O retorno dos 60 mil moradores à fronteira norte de Israel é agora uma missão objetiva e presente para Israel, de tantas que o país vem desenvolvendo para garantir o direito de sua própria sobrevivência. “A missão é clara”, disse o Maj. Gen. Ori Gordin, que lidera o Comando Norte das Forças de Defesa de Israel. “Estamos determinados a mudar a realidade da segurança o mais rápido possível” (The Times of Israel, em 18/9).

Em sua análise, o jornal  afirma que o Hezbollah tem cerca de 150 mil foguetes e mísseis, “ alguns dos quais se acredita terem sistemas de orientação que podem ameaçar alvos sensíveis em Israel, além de uma frota cada vez mais sofisticada de drones”. Estes seriam capazes de atingir e paralisar a vida em todo o país, provocando danos e impondo um regime de emergência para a população.

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Eleições Americanas: sobrevivente do Holocausto lamenta antissemitismo em manifestações na Convenção do Partido Democrata

/  Sheila Sacks  / 


Diretor Nacional da Liga Antidifamação (ADL), no período de 1987 a 2015, o  advogado e ativista Abraham Foxman, de 84 anos, sobreviveu ao Holocausto e emigrou para os Estados Unidos com os pais, judeus poloneses, em 1950. Atuou também como vice-presidente do conselho de curadores do Museu do Patrimônio Judaico de Nova York, que guarda mais de 30.000 objetos relacionados à história judaica e ao próprio Holocausto. Em recente declaração, durante a Convenção Nacional do Partido Democrata, em Chicago ( 19 a 22 de agosto), Foxman indignado fez um desabafo sobre as manifestações antissemitas que atualmente contaminam o ambiente eleitoral americano.

- Depois de 50 anos lutando contra o antissemitismo na América, eu não poderia imaginar que os judeus teriam que se reunir em locais secretos em Chicago para a Convenção Nacional Democrata", disse, em referência às manifestações anti-Israel que interromperam um encontro  da  organização Agudath Israel of America, que representa os judeus ortodoxos Haredi. No site da instituição, é reportado que apoiadores do Hamas tentaram paralisar o evento, realizado em 20 de agosto, gritando slogans para constranger e amedrontar os participantes.

O presidente do Conselho da Agudath, Shlomo Werdiger, instou os presentes a lutarem contra o ódio e antissemitismo. “Eles pensam que podem nos intimidar para não estarmos aqui”, iniciou seu discurso de abertura. E continuou: “Somos filhos e netos de sobreviventes do Holocausto, e nunca nos acovardaremos ou seremos silenciados. Pelo contrário, pretendemos defender nossos direitos e nossas liberdades.”

Vários políticos americanos foram convidados para o encontro, que aconteceu em paralelo à Convenção Democrata, entre eles o governador de Nova Jersey, Phil Murphy, a senadora de Michigan, Debbie Stabenow e o procurador-geral do Colorado, Phil Weiser. O jornalista e redator da cultuada revista The Atlantic, Yair Rosenberg, contou que os eventos judaicos na Convenção Nacional Democrata tiveram que ser realizados em locais não revelados e sob forte segurança.

Dias depois, o rabino Yitzchok Ehrman, diretor executivo da Agudath, em carta aberta, lamentou que um bando de agitadores mascarados entoando slogans anti-Israel tivesse capturado a atenção da mídia, resultando em manchetes perturbadoras, em detrimento ao trabelho e esforço da organização para aumentar a conscientização, entre os líderes políticos, sobre a crescente ameaça de antissemitismo enfrentada pelos judeus na América, particularmente os judeus ortodoxos.

Desconfiança

Recente artigo publicado no Jerusalem Post, assinado por Douglas Altabef, presidente do Conselho da ONG Im Tirtzu (epígrafe do livro de Theodor Herzl, 'Im tirtzu ein zo agadah’ - se você quiser, não será um sonho) e diretor do The Israel Independence Fund, analisa o que chamou de “complexa relação” entre a candidata democrata Kamala Harris e os judeus americanos, especialmente os mais ortodoxos.

“A má notícia é que os judeus tradicionais e religiosos têm poucos motivos para se alegrar (em relação a Harris e ao Partido Democrata). A condição de povo judeu, uma preocupação fundamental para esses judeus, é vista cada vez mais como privilégio, racismo e – em sua manifestação mais extrema – uma ameaça sempre presente ao bem-estar dos palestinos”, escreve.

Altabef destaca principalmente o posicionamento de jovens democratas e “esquerdistas” que enxergam um mundo binário de opressores e oprimidos, em que o estado de Israel é considerado uma potência colonialista ocupante. “A atitude cada vez mais prevalente em relação aos judeus, especialmente entre os democratas mais jovens, lembra o famoso ditado do Conde de Clermont-Tonnerre logo após a Revolução Francesa: “Devemos recusar tudo aos judeus como nação e conceder tudo aos judeus como indivíduos”.

Quanto à escolha de Ilan Goldenberg, pela candidata democrata, como seu contato com a comunidade judaica, o articulista também considera que esse fato não deve trazer conforto aqueles que buscam apoio a Israel. Goldenberg, de 47 anos, trabalhou no governo Obama para assuntos do Oriente Médio e desde 2020 atua no governo Biden. Se posicionou contra à mudança da Embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém e, em 2015, apoiou as negociações nucleares do EUA com o Irã. Nascido em Israel, ele cresceu em New Jersey, tem graduações pelas Universidades  da Pensilvânia e Columbia, fala hebraico e árabe e adotou a cidadania americana.   

Para Altabef, Harris não expressa uma posição incondicional de apoio a Israel, em sua luta pela sobrevivência como nação diante das ameaças crescentes de organizações terroristas como o Hamas, Hezbollah, os Houthis e os iranianos, que não escondem seu objetivo de varrer o país do mapa.   “Os judeus que Harris e companhia gostam e respeitam são os judeus ‘como judeus’, indivíduos que assumem sua identidade de judeus justamente para criticar e condenar Israel e suas ações”, argumenta.

Em sua opinião, houve grandes mudanças nas posições políticas dos democratas e se os judeus querem de fato buscar apoio para suas causas precisam mudar de partido.

Coalizão Judaica Republicana

Em Las Vegas, na cúpula anual da Coalização Judaica Republicana (Republican Jewish Coalition-RJC) iniciada em 4 de setembro, o presidente do Comitê Nacional Republicano, Michael Whatley, chamou Harris de “a pessoa mais radical e menos séria que já concorreu à presidência”. Ele acusou a administração Biden-Harris de fornecer mais recursos ao Irã, ao suspender as sanções anteriormente impostas ao governo iraniano, e com isso ajudar a financiar o terrorismo e o massacre de 7 de outubro.

A senadora de Iowa Joni Ernst, em seu discurso, enfatizou que “Harris não será uma amiga de Israel”  e nem mudará a política atual. “Ela não só é simpática à ala pró-Hamas do Partido Democrata, mas também está se cercando de conselheiros pró-Irã”, afirmou a congressista.

Outro parlamentar, o deputado Jason Smith, do Missouri, falou sobre seus esforços para responsabilizar as universidades pelo antissemitismo. “Eu coloquei as universidades americanas em alerta. Se a administração Biden-Harris continuar a apaziguar a esquerda pró-Hamas dentro de seu partido, recusando-se a revogar o status de isenção de impostos de organizações que financiem qualquer protesto violento, eu sei que uma administração Trump-Vance, e o Partido Republicano, apoiarão diretamente Israel e o povo judeu ao redor do mundo.”