Artigos recentes na
imprensa portuguesa atestam a substancial mudança de parâmetros históricos em
relação ao passado de Portugal. Estudiosos, professores universitários e
intelectuais em geral, com o apoio dos órgãos governamentais, estão pondo à luz uma
história subterrânea, oculta e mal contada que afetou milhões de pessoas ao
longo dos séculos.
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Presidente de Portugal |
Por Sheila
Sacks
Mais de quinhentos anos após os judeus serem expulsos de Portugal, o
presidente Rebelo de Sousa admite que tal fato foi um “erro histórico” que, ao
longo dos séculos, se mostrou desfavorável ao país. “Com a saída dos judeus,
Portugal perdeu em termos culturais, científicos, econômicos e financeiros”,
observou o primeiro mandatário português aos jornalistas presentes em uma
exposição sobre a presença judaica em território lusitano, ocorrida entre 20 de
março e 29 de abril deste ano.
Instalada no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, a exposição
“Heranças e Vivências Judaicas em Portugal” foi organizada pela “Rede de
Judiarias de Portugal – Rotas de Sefarad” (nome hebraico para a Península
Ibérica), uma associação público-privada fundada em 2011, com sede em Belmonte,
e que atualmente congrega 37 municípios portugueses. Cidades populosas como
Lisboa e Porto também fazem parte da Rede que iniciou, em maio, um périplo pelo
país levando a exposição para todas as localidades incluídas no projeto, a
começar por Bragança, na região de Trás-os-Montes, no norte de Portugal.
Em paralelo, uma réplica da exposição também foi mostrada em Oslo, no
Centro de Estudos do Holocausto e minorias religiosas (HL- Senreret), com o
apoio da organização Eea Grants, que
reúne a Noruega, Islândia e Liechtenstein em um comitê econômico para
subvencionar programas sociais, culturais e esportivos em 16 países da Europa. A
apresentação teve a finalidade de divulgar a vivência e o legado dos judeus
sefarditas em diversas áreas na história de Portugal. Atualmente residem em
Portugal três mil judeus, majoritariamente em Lisboa, Porto e Belmonte.
Herança judaica

Segundo o presidente, os judeus perseguidos que saíram de Portugal foram
para outros pontos da Europa e principalmente para os Estados Unidos e demais
países do continente americano. A exposição, a seu ver, permite perceber o
tamanho dessa perda em termos de capital humano e também compreender o impacto
desse dano. ”Nós perdemos aquilo que outras sociedades ganharam, ainda que a
presença judaica em Portugal, em parte, continuou, de forma escondida,
dissimulada, por detrás da aparente conversão ao cristianismo”, avaliou.
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Sinagoga em Belmonte |
Sobre esse incremento à ciência náutica, estudiosos sustentam que Pedro
Álvares Cabral (1467-1520), nascido em Belmonte, e Cristóvão Colombo
(1451-1506), que para alguns historiadores é português da região do Alentejo,
seriam descendentes de judeus sefarditas e suas tripulações que aportaram no
novo mundo seriam formadas por cripto-judeus.
Os judeus sefarditas têm costumes e ritos próprios – inclusive um
idioma, o ladino, mistura de palavras hebraicas com o português, espanhol,
árabe e catalão - diferentes dos judeus asquenazim, mais numerosos, oriundos de
países da Europa Central e Oriental, como a Alemanha, Áustria, Rússia, Polônia e outros.
Turismo cultural
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Museu Judaico em Belmonte |
Além da busca pelo passado histórico, a Rede vem se dedicando ao
incremento do turismo judaico em Portugal. O presidente da organização, António
Dias Rocha, que também preside a Câmara Municipal de Belmonte, esteve em
fevereiro em Tel Aviv, ao lado de empresários portugueses, participando da
Feira Internacional de Turismo do Mediterrâneo. Na ocasião, ele reforçou o
papel da Rede no nicho de oferta de turismo cultural que no caso específico de
Portugal tem a herança judaica como um dos seus mais significativos e interessantes
atrativos.
A localidade de Belmonte, sede nacional da Rede e berço do navegante
Pedro Álvares Cabral, é considerada a única vila da Península Ibérica onde a
organização comunitária judaica se manteve de forma secreta ou discreta, desde
o decreto de expulsão de 1496, atravessando todo o período da inquisição (de
1536 a 1821) e chegando até os nossos dias. Situada a 300 quilômetros de
Lisboa, na região central de Portugal, Belmonte tem cerca de 3.500 habitantes,
cem deles judeus. Reconhecida oficialmente em 1989, a comunidade tem uma
sinagoga, a “Beit Eliahu”, inaugurada em 1996; um cemitério judaico, aberto em
2001; e o Museu Judaico, o primeiro a ser inaugurado no país, em 2005. O
prédio, que recentemente foi reformado, abriga mais de uma centena de peças
religiosas e retrata a história da presença sefardita em Portugal, usos e costumes,
e um memorial sobre a Inquisição.
Produtos casher

Antes de se fixar em Belmonte, o líder judaico ficou à frente da
Sinagoga do Porto, de 2004 a 2007. Membro do Conselho Consultivo da Rede – ao
lado de nomes importantes no cenário cultural português, como o escritor
americano Richard Zymler, residente no Porto, autor do best-seller “O Último
Cabalista de Lisboa”, e Jorge Martins, historiador, escritor e diretor da
coleção de livros “Sefarad” - o rabino Salas, em 2015, solicitou a
naturalidade portuguesa em função da regulamentação da lei que
possibilita essa concessão a descendentes de judeus sefarditas expulsos de
Portugal.
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Memorial em Lisboa |
Desculpas oficiais
No início de 2015, o governo português aprovou as novas regras para a
atribuição da nacionalidade portuguesa por naturalização aos descendentes de
judeus sefarditas expulsos do país há mais de 500 anos. Na ocasião, a então ministra da Justiça, Paula
Teixeira da Cruz, afirmou que a nova lei era a “atribuição de um direito”,
reconhecendo que judeus viveram na região muito antes de o reino português ter
sido fundado no século 12.
Promulgado pelo presidente à época, Aníbal Cavaco Silva, o Decreto-Lei
nº 30-A/2015 foi publicado no Diário da República em de 27 de fevereiro de
2015, e entrou em vigor em 1º de março. Antes, pedidos públicos de desculpas
aos judeus pela Inquisição, perseguições e mortes foram oficializados em 1988 e
2000 pelo ex-presidente Mário Soares (falecido em janeiro deste ano) e pelo
patriarca de Lisboa, D.José Policarpo (1936-2014),respectivamente.
Em 2008, um memorial em forma de uma estrela de David foi inaugurado em
frente à tradicional igreja de São Domingos, uma construção do século 13
localizada na praça do Rossio, no centro de Lisboa, para lembrar uma das mais
trágicas páginas da história dos judeus em Portugal: o genocídio de mais de 2
mil “cristãos-novos” (judeus convertidos à força, a partir de 1496, por
édito do rei D.Manuel I), iniciado no domingo de Páscoa e que ficou
conhecido como o massacre (pogrom) de Lisboa. Durante três dias, frades dominicanos
incitaram os moradores da cidade a matar e queimar os conversos (alguns
historiadores afirmam que foram mortas 4 mil pessoas) considerados “eternamente
judeus” pela maioria da população. A inscrição na escultura lembra a chacina:
“Em memória dos milhares de judeus, vítimas da intolerância e do fanatismo
religioso, assassinados no massacre iniciado a 19 de abril de 1506, neste
largo.”
Conversão forçada
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Sinagoga de Lisboa |
Remanescentes de uma próspera comunidade que por volta de 1490 chegaria
a 30 mil pessoas e que após a chegada dos judeus expulsos da Espanha, em 1492,
somou perto de 120 mil, essa considerável população judaica, quatro anos
depois, foi obrigada a se sujeitar à conversão forçada ao cristianismo ou sair
definitivamente de Portugal, por imposição real. A matança da Páscoa, em 1506,
acelerou essa fuga e aqueles que permaneceram tiveram que encarar, trinta anos
depois, a intolerância e a violência da Inquisição, que levou às fogueiras pelo
menos duas mil pessoas, a maioria de judeus convertidos.
Atualmente, muitos portugueses estão redescobrindo as suas raízes
judaicas, salienta Gabriel Steinhardt, presidente da Comunidade Israelita de
Lisboa que hoje congrega 300 famílias judaicas. Para ele, à época dos
descobrimentos, 10% da população portuguesa, calculada em 1 milhão de pessoas,
eram de cripto-judeus, ou seja, judeus que seguiam a sua fé em segredo por medo
das perseguições religiosas e ao mesmo tempo publicamente se apresentavam como
cristãos, os denominados cristãos-novos. “Este é um fenômeno que influencia a
sociedade civil portuguesa até hoje, não havendo na realidade nenhum português
que, independentemente da religião que pratique, possa ter a certeza de que não
possui uma costela ancestral judaica.”
Assim, muitos portugueses estão descobrindo tradições misteriosas
conservadas por avós e bisavós, como, por exemplo, acender velas nas noites de
sexta-feira, o ritual da limpeza da casa também nas sextas, e a elaboração do
pão achatado cozido todos os anos, por ocasião da primavera na Europa, quando
se comemora a Páscoa judaica. Essas e outras lembranças que sobreviveram de um
rico passado judaico são o testemunho do grande risco que ao longo dos séculos
os cripto-judeus ou anussim (do hebraico ‘forçado’), ou ainda marranos (termo inicialmente pejorativo,
talvez advindo de vocábulo peninsular da Idade Média que designava suíno) enfrentaram
praticando secretamente o judaísmo.
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Sinagoga do Porto |
Histórias se contam que os judeus que foram obrigados a deixar Portugal,
assim como os judeus da Espanha, levavam consigo a chave da casa na esperança
de um dia retornarem ao lar. De geração em geração, essas chaves foram mantidas
guardadas em segredo, no exílio, mas a grande maioria se perdeu nas fendas dos
séculos.
Atualmente, pouco mais de 3 mil judeus vivem em Portugal. Com a
implementação da lei que oferece a cidadania portuguesa aos que demonstrarem
por documentos (registros em sinagogas e cemitérios judaicos, títulos de
residência, propriedades, testamentos e outros comprovantes de ligação familiar
com a comunidade serfadita de origem portuguesa) serem descendentes dos judeus
sefarditas que foram expulsos da Península Ibérica no século 15, espera-se que
uma nova leva de judeus de várias partes do mundo volte seus olhos para as
terras lusas. Pelos cálculos de diversas organizações judaicas existem 3,5
milhões de judeus sefarditas espalhados em dezenas de países.
Nacionalidade para 431 sefarditas
Com base na nova lei de cidadania, o governo português já concedeu a
nacionalidade portuguesa a 431 sefarditas (de um total de mais de 3.800 pedidos),
sendo que cerca de 63% são provenientes da Turquia (271 cidadãos). O país tem
uma comunidade de 16.500 judeus sefarditas e é de lá que surgem 40% da
totalidade dos pedidos de cidadania. Em seguida vem Israel e Brasil. Estima-se
que no Brasil existam 40 mil judeus sefarditas de uma comunidade que soma 110
mil judeus.

Por
outro lado, existem no Brasil várias comunidades de bnei anussim ( do hebraico ‘filhos
de forçados’ ou cristãos descendentes de judeus convertidos à força) espalhadas
pelo país, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, que estão tentando se
reencontrar com suas raízes judaicas. Segundo estudiosos, até 1660 os anussim
eram a totalidade dos portugueses que se estabeleceram na colônia, fugindo da
Inquisição. E a sinagoga mais antiga das Américas foi construída em Recife, a
“Kahal Zur Israel” (Rocha de Israel), em 1636, no período das invasões
holandeses(1624-1654).
Atualmente
calcula-se que pelo menos 5 milhões de brasileiros cristãos podem ser
descendentes de cripto-judeus e muitos deles têm dificuldade de ingressarem nas
comunidades judaicas que se tornaram mais fechadas por conta do antissemitismo
que nunca deixou de existir.
Também os sefarditas ingleses já demonstram vontade de obter a cidadania
portuguesa depois da decisão do Reino Unido de sair da União Europeia, o
chamado “Brexit” (abreviatura de Britain Exit), em 23 de junho de 2016. Segundo o jornal britânico “The Guardian”, o
porta-voz da comunidade judaica do Porto, Michael Rothwell, afirmou que nos
dois meses subsequentes à votação 400 pessoas consultaram a instituição sobre a
possibilidade de obtenção da cidadania para terem um passaporte europeu. O
jornal destaca que o interesse dos judeus ingleses por Portugal tem se mostrado
maior do que pela Espanha, cuja lei de cidadania de retorno é considerada mais complexa.
Para a Federação das Comunidades Judaica da Espanha, um dos motivos seria o
fato de Madri exigir testes de conhecimento da língua espanhola dos candidatos,
o que não acontece em Portugal.
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Algarve |
Pacificação com o passado
Em artigo publicado na revista semanal “Visão”, em março deste ano (‘Porque
estudar os sefarditas?’), o coordenador da área de Ciência das Religiões da
Universidade Lusófona, em Lisboa, professor Paulo Mendes Pinto, faz uma
reflexão sobre a herança sefardita em Portugal e a necessidade de resgatá-la como forma de pacificação com um passado que foi imposto e que se tornou parte da natureza dos portugueses. “A busca pelo conhecimento da história sefardita, o valorizar desse
patrimônio e a recuperação e construção de espaços a ela dedicados, é um
equacionar da própria identidade nacional”, escreve. “Hoje, sem os constrangimentos
do pensamento inquisitorial, libertos para um reencontro que, afinal, é conosco
e não com nenhuns ‘outros’”.
Investigador da Cátedra de Estudos Sefarditas “Alberto Benveniste” da
Universidade de Lisboa, Mendes Pinto afirma que é preciso “equacionar o que,
como coletivo, perdeu-se com a Inquisição e com o desenvolvimento de um
catolicismo inquisitorial”. Ele lembra que com a fuga das mais brilhantes
mentes e dos possuidores das melhores competências, Portugal perdeu em
conhecimento e progresso. Deixou escapar “um passado que também tem, na herança
sefardita, o gosto pelo risco, pela descoberta, pelo empreendedorismo,
pelo cosmopolitismo e pela cultura.”
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Guarda |
Mendes Pinto destaca ainda em seu texto que a história dos sefarditas
portugueses foi uma “história de medo construída nas cidades, nas vilas e nas
aldeias onde o cripto-judaísmo se foi implantando como forma de vida dupla, com
o ‘credo na boca’ para provar a qualquer momento que se era bom católico”.
Assinala que com as perseguições ao longo do século 15 e com a instalação da
Inquisição a sociedade portuguesa “se transformou numa sociedade da denúncia,
da mediocridade, do desrespeito pela consciência e da menorização do pensamento
e recusa à crítica”.
Mas, hoje, Portugal se apresenta mais aberto para um reencontro com o
seu passado e Mendes Pinto acredita que a forma como a sociedade portuguesa vai
tratar essa memória e passado é que irá definir o seu presente e o futuro como
nação. Nesse ambiente propício a uma aproximação e apaziguamento de questões
históricas e religiosas, um projeto de museu judaico toma forma no tradicional
bairro de Alfama, em Lisboa.
Contando com doações internacionais e o apoio da municipalidade, o Museu
Judaico de Lisboa será instalado no Largo de São Miguel, coração de Alfama, um
local considerado de forte simbologia pela comunidade judaica portuguesa porque
lá existiu uma “judiaria” e uma sinagoga. O fato provocou questionamentos por
parte de associações de proteção ao Patrimônio que temiam a descaracterização
do lugar onde está situada a Igreja de São Miguel, classificada como patrimônio
cultural de Portugal, e de prédios antigos construídos antes do terremoto de
1755 que destruiu grande parte da cidade. Mas a Câmara de Lisboa julgou, por
unanimidade, que o projeto arquitetônico do museu não coloca em risco o caráter
e a autenticidade do histórico largo de São Miguel e que a construção dos dois
edifícios que vão compor o museu cumpre toda a legislação em vigor.
O Museu Judaico de Lisboa terá um custo de 2,9 milhões de euros e será
gerido pela Associação de Turismo de Lisboa. O objetivo central é contar a
história dos 800 anos de presença judaica em Portugal. A idealizadora do
programa pedagógico do museu, Esther Mucznik, diz que o local funcionará como
um centro de recolhimento, preservação e divulgação do patrimônio material e
imaterial judaico-português. Fundadora da Associação Portuguesa de Estudos
Judaicos e membro da Comissão Nacional de Liberdade Religiosa, Mucznik foi
vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa (CIL), de 2002 a 2016, e é
autora de vários livros sobre a temática judaica, como “Grácia Nasi, a judia
portuguesa do século XVI que desafiou o seu próprio destino” (2010) e
“Portugueses no Holocausto (2012).
Sobrenomes sefarditas
No texto do decreto de nacionalidade emitido pelo ministério da Justiça estão
listados uma centena de sobrenomes (apelidos) portugueses sefarditas, com a
ressalva que muitos já se encontram misturados com sobrenomes “castelhanos”. Sabendo-se também que a simples comprovação do
sobrenome não é suficiente para a entrada com o pedido de cidadania. É preciso
incluir dados complementares, cabendo às Comunidades Israelitas de Lisboa e do
Porto a emissão do documento de confirmação da ascendência sefardita no
processo de naturalização.
Eis a lista dos sobrenomes sefarditas citados no decreto: Abrantes, Aguilar, Almeida, Álvares, Amorim, Andrade, Avelar, Azevedo,
Barros, Basto, Belmonte, Brandão, Bravo, Brito, Bueno, Cáceres, Caetano,
Campos, Cardoso, Carneiro, Carvajal, Carvalho, Castro, Crespo, Coutinho, Cruz,
Dias, Dourado, Duarte, Elias, Estrela, Ferreira, Fonseca, Franco, Furtado,
Gaiola, Gato, Gomes, Gonçalves, Gouveia, Granjo, Guerreiro, Henriques, Josué,
Lara, Leão, Leiria, Lemos, Lobo, Lombroso, Lousada, Lopes, Macias, Machado,
Machorro, Martins, Marques, Mascarenhas, Mattos, Meira, Melo e Prado, Mello e
Canto, Mendes, Mendes da Costa, Mesquita, Miranda, Montesino, Morão, Moreno,
Morões, Mota, Moucada, Negro, Neto, Nunes, Oliveira, Osório (ou Ozório), Paiva,
Pardo, Pereira, Pessoa, Pilão, Pina, Pinheiro, Pinto, Pimentel, Pizarro, Preto,
Querido, Rei, Ribeiro, Rodrigues, Rosa, Sarmento, Salvador, Silva, Soares,
Souza, Teixeira, Teles, Torres, Vaz, Vargas e Viana.
Por último, mais um dado histórico para reforçar o apreço e a
solidariedade aos bnei anussim brasileiros. Por força da Inquisição que chegou
ao Brasil a partir de 1579, foram levados presos aos Autos da Fé em Lisboa 400
cristãos-novos acusados de judaizantes. Destes, 20 foram executados, 18
degolados e queimados e dois colocados vivos nas fogueiras. Um passado que
feriu a ferro e fogo centenas de famílias brasileiras perseguidas pela
intolerância religiosa, cujos descendentes, aos milhares, nem imaginam o terror
e o sofrimento que permearam a vida de seus antepassados, desconhecendo, ainda,
a rica herança cultural que eles trouxeram e que acabou se perdendo,
lamentavelmente, pelos caminhos do tempo.