
Por Sheila Sacks
O jornal espanhol La Vanguardia, de Barcelona, abriu
espaço para contar uma história pouco comum nos dias atuais e que acontece na
Universidade Bar Ilan, em Ramat Gan, perto de Tel Aviv: um catedrático de
matemática pura, Shai Gol, de 38 anos, ministra aulas gratuitas para um grupo
de faxineiras, a maioria de jovens mulheres árabes, que trabalha na limpeza do
complexo universitário. As aulas acontecem duas vezes por semana, no horário do
lanche matinal.
A iniciativa pessoal do
professor transpôs os limites do campus da universidade, uma das mais
prestigiadas de Israel, e chegou aos ouvidos do jornalista Henrique Cymerman Benarroch,
correspondente do La Vanguardia na
terra santa. Na reportagem publicada no
início de 2016 – “Robin Hood en la universidad” -, o professor Gol explica que
sempre observava as mulheres, de origem muito humilde, com o tradicional hijab (véu) cobrindo a cabeça, muitas
delas oriundas de Jishr az-Zarga ( um povoado árabe no norte do país), no seu
afã diário rodeadas de produtos de limpeza.
Ele explica que o alojamento delas fica em frente à biblioteca onde
costuma despender horas pesquisando e estudando. “Um dia decidi que não podia
mais ignorá-las”, conta o professor.

Universitários apoiam
Apesar da imensa vontade de
ajudar essas mulheres pouco capacitadas, devido basicamente a sua precária
condição social, o professor Gol teve receio de que seu gesto não fosse bem
aceito pela direção da universidade. Isso porque elas residem em locais
distantes, acordam muito cedo, iniciam o serviço às 4 da manhã, e muitas fazem
jornadas diárias de até 12 horas (recebem 7 euros por hora, cerca de 28 reais).
Com as aulas ocorrendo no período do lanche, às 9 horas da manhã, quando as
empregadas têm a oportunidade de comer e descansar, a ideia do curso poderia
sofrer restrições.

Atentados não interrompem aulas
Para Arifa, que levou o
marido para conhecer o professor, as aulas são como “um presente bonito que
recebeu”, pois atualmente quando vai ao supermercado já sabe calcular o que vai
gastar. Com 28 anos e mãe de cinco filhos, ela somente nesse estágio da vida está
tendo a oportunidade de estudar. Mesmo com o clima de desconfiança que atinge
os judeus israelenses diante da onda de ataques à faca praticados por
extremistas árabes, desde outubro de 2015, Gol não desiste de sua tarefa.
Quando percebeu que parte das empregadas árabes se ausentou das aulas em razão
dessa situação de violência nas ruas, ele as procurou por todo o campus e as
convenceu de continuarem participando das aulas normalmente, sem
constrangimento.

A história de Shai Gol foi
mostrada na TV israelense, em dezembro do ano passado, e atualmente ele
estendeu as aulas ao pessoal da limpeza do Hospital Tel Hashomer, que fica
perto da universidade. Para isso, ele recebe a ajuda valiosa de estudantes universitários
da carreira de matemática que aderiram à iniciativa. É o que revela a
jornalista Deborah Danan para o site americano de notícias “Breitbart”, na
reportagem “Jewish
Educator Volunteers to Teach Math to Arab Cleaners at Israeli University”
(Voluntários do professor judeu ensinam matemática para as faxineiras árabes em
universidade israelense, em tradução livre) que acrescenta novos detalhes sobre
a evolução do trabalho solidário do professor Gol.
Publicado no Observatório da Imprensa, sob o título "Robin Hood acadêmico"