
publicado na Curadoria de Notícias do Observatório da Imprensa
Lançado em
2004, o Facebook congrega mais de 30
milhões de usuários falecidos que permanecem na rede social numa
demonstração inequívoca de que existe vida após a morte nessa segunda década do
século 21, pelo menos no espaço virtual. Com tantas almas vagando pelas redes,
o equivalente à população de uma Xangai e meia, não será motivo de surpresa se
os vivos do Face possam receber
curtidas e eventualmente pedidos de amizade de pessoas que jamais irão conhecer
pessoalmente caso a curiosidade e a simpatia de um sorriso os encantem.
No artigo
“Vida virtual após a morte”, o doutor em genética e biologia molecular Javier
Sampedro, que escreve regularmente para o jornal EL País, acredita que a permanência desses avatares nas redes
funciona como uma espécie de homenagem e consolo para amigos e familiares. A
transcendência da imagem do morto que ganha um corpo virtual seria uma maneira
de mostrar deferência ao falecido e segundo o autor “essa é a maneira de morrer
nesta aurora do terceiro milênio, e faltar com ela começa a parecer tanta
desconsideração quanto usar gravata vermelha em velório.”

Mas, de
certo modo, a possibilidade metafórica de um morto continuar vivo nas páginas do
Facebook expõe nossa dualidade de
lidar com a morte. “Todos entendemos perfeitamente a morte, desde que seja a
morte dos outros”, escreve Sampedro. “Viver tranquilamente até que ela (a
morte) chegue não é senão uma consequência de como é difícil entender a ideia de
não ser”, explica.
Autor do
livro “Deconstruyendo a Darwin (2013), Javier Sampedro é conclusivo acerca do anseio
humano à imortalidade. Para o cientista, “a morte é algo tão concreto quanto a
própria vida que é feita de coisas que se deterioram, se degeneram e se
desintegram”.