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segunda-feira, 21 de outubro de 2024

O Círculo dos Gigantes

 

/  Sheila Sacks  /

Por ocasião da celebração dos 73 anos da fundação do estado de Israel, em abril de 2021, a plataforma de notícias online ISRAEL21c, focada em artigos tecnológicos e científicos, apresentou 73 curiosidades acerca do país como uma homenagem à diversidade e também à singularidade dessa pequena/ grande nação do Oriente Médio. Uma das mais interessantes se refere ao Círculo de Gigantes, um monumento pré-histórico descoberto na década de 1960.

A matéria assinada pela jornalista e diretora do site, a inglesa Nicky Blackburn, lista também outras peculiaridades como a ressurreição da língua hebraica, utilizada por séculos apenas na leitura da Torá (Bíblia antiga) e em ritos religiosos, transformada em língua nacional de Israel, um caso único nos tempos modernos.

Ainda destaca certas características do país que considera especiais: metade de Israel é tomada por deserto; 90% das águas residuais são recicladas; tem a metade do tamanho do Lago Michigan EUA); abriga o mais antigo cemitério em uso, no Monte das Oliveiras, em Jerusalém (3 mil anos); possui mais de 300 vinícolas espalhadas pelas colinas de Jerusalém, Golã, Judeia, Galileia e o deserto de Negev;  exibe um conjunto de 400 edifícios de arquitetura Bauhaus, no centro da capital Tel Aviv, a chamada Cidade Branca, o que levou a Unesco em 2003 classificá-la de Patrimônio Mundial; tem mais museus per capita do que qualquer país do mundo; e mantém em seu serviço postal um departamento especial  de “Cartas a Deus”,  que chegam de todo mundo para serem colocadas nas rachaduras do Muro das Lamentações, depois de abertas. Um milhão de pedidos são deixados anualmente, via presencial ou através de missivas no Muro, segundo a jornalista.

Mas, a menção mais instigante da lista é sobre o misterioso Círculo dos Gigantes conhecido  como Gilgal Refaim , na tradução do hebraico, uma referência ao povo que, segundo fontes bíblicas, se distinguia por sua enorme estatura e viveu naquela região (reino de Bashan/Basã - Devarim/Deuteronômio).

Em 2020, o mesmo site já havia classificado Gilgal Refaim como um dos dez maiores mistérios da Terra Santa, e indagava: Quem construiu o Stonehenge israelense? (em alusão ao complexo pré-histórico megalítico do Reino Unido, um dos mais visitados do mundo). 

Na reportagem (The 10 greatest mysteries in Israel), Gilgal Refaim tem como companheiros nove outros elementos cercados de indagações e suposições, como a Arca da Aliança, que continha a tábua dos Dez Mandamentos; a caverna de Zedequias ou pedreira de Salomão, em Jerusalém, cujas pedras podem ter sido usadas na construção do primeiro Templo, no século 9 antes da Era Comum; e a vila neolítica submersa Atlit Yam de 8.500 anos, descoberta em 1984, a versão israelense de Atlântida que pode ter submergida no dilúvio de Noé.  

Estrutura de 5 mil anos

Situado no norte de Israel, a estrutura é formada por gigantescos círculos concêntricos de mais de 42 mil toneladas de pedra basalto, cuja construção, segundo arqueólogos, beira a 5 mil anos. Autor de uma tese de doutorado sobre o local, o arqueólogo Michael Freikman, da Universidade Hebraica de Jerusalém, calcula que a estrutura exigiu milhares de dias de trabalho. Segundo ele, a construção pode ter levado cerca de 25 anos para ficar pronta, isso se 100 pessoas estivessem trabalhando. “Um esforço tremendo e terrivelmente caro”, avalia o especialista.

O também arqueólogo Uri Berger, pesquisador de tumbas megalíticas, diz que o local é enigmático, "com fragmentos de informações",  e que cada estudioso tem uma versão sobre a sua edificação e finalidade. E muitos deles, talvez envolvidos com a grandiosidade da estrutura, buscam nas escavações  documentos antigos e interpretações bíblicas que demonstrariam os vestígios de um legado espiritual secreto. 

A civilização oculta

Várias décadas após o suíço Erich von Däniken surpreender milhões de pessoas com a teoria de que as divindades reverenciadas pela humanidade seriam seres extraterrestres - de uma civilização adiantada que visitou o planeta terra em tempos pré-históricos ('Eram os deuses astronautas', livro publicado em 1968) -, uma outra tese não menos polêmica sobre o tema tem sido defendida por dois pesquisadores ingleses. De acordo com Philip Gardiner, escritor, roteirista e diretor de documentários, e seu parceiro Gary Osborn, os deuses não seriam alienígenas, mas humanos e de origem terrena, oriundos de uma civilização misteriosa e avançada que sobreviveu aos dilúvios e outros cataclismos.

Na obra “O Priorado Secreto” (2006), os autores, que já publicaram uma dezena de livros sobre sociedades ocultas e profecias, escrevem: “Talvez seja difícil de acreditar, mas evidências consistentes sugerem que conhecimentos técnicos avançados circulavam entre nós muito antes das datas convencionais atribuídas à pré-história humana e que uma cultura desconhecida havia codificado indícios reconstituíveis desses conhecimentos.” 

Uma das evidências físicas citadas pelos ingleses se refere justamente ao Círculo de pedras de Refaim ( Rujm el-Hiri , monte de pedras do gato selvagem, em árabe)  que os autores consideram um dos maiores mistérios de Israel. Situado na região das Colinas de Golã, a 16 quilômetros a leste do mar da Galileia, o complexo de pedra foi erguido sobre uma planície cujas reais dimensões só podem ser vistas do alto. A estrutura passou despercebida por séculos e só foi detectada através de uma pesquisa aérea. Uma caverna, no centro da estrutura, talvez funcionasse como câmara mortuária. As imagens foram liberadas por Israel em 1968 após a “guerra dos seis dias” (1967), quando Israel pode administrar a região.

Gardiner e Osborn defendem que edificações colossais como as pirâmides do Egito, o complexo monolítico Stonehenge, no sul da Inglaterra, as esculturas gigantes de pedra na Ilha de Páscoa (província do Chile), entre outras, foram erguidas sob a inspiração dessa civilização, originalmente formada por gigantes (a Bíblia também menciona povos gigantes – os nefilim, refaim e enacim - no Gênesis, Números e Josué) que, à parte as suas obras arquitetônicas majestosas deixaram um legado de conhecimento espiritual codificado em mitos, símbolos, lendas e fábulas. Histórias e “contos de fadas” passados oralmente de geração em geração, em grande parte por pessoas simples que não tinham consciência dos segredos contidos nas narrativas.

Conhecimento avançado

Para os pesquisadores, tanto a humanidade atual como as primeiras civilizações tradicionais que conhecemos jamais possuíram uma compreensão plena e acabada desse antigo sistema de conhecimento. As informações foram passadas através do tempo de forma fragmentada, sendo mal interpretadas e mal conceituadas. Gardiner e Osborn afirmam que essa misteriosa “ordem sacerdotal” teria civilizado a humanidade, talvez após uma catástrofe global. “Com o tempo, devido ao seu conhecimento científico, sabedoria espiritual e suposta capacidade extrassensorial, os povos menos desenvolvidos que conviviam pacificamente com esses seres mais avançados começaram a considerá-los deuses”. A base dessa argumentação vem da constatação da presença do mesmo sistema fundamental de crenças nas várias religiões existentes em todos os quadrantes do mundo, embora cada uma delas use denominações próprias, práticas e rituais diferentes.

A fonte desse sistema de crenças estaria nos antigos cultos solares e na experiência da “iluminação”. Segundo os autores, o padrão cíclico da natureza, a experiência renovadora do sol e os seus movimentos estão intrinsecamente vinculados ao efeito iluminador do “despertar” interior, do “renascer” e da experiência da “iluminação”. Eles citam a figura bíblica de Sansão, cujo nome deriva do hebraico shemesh (sol) e que é idêntico a shamash, o deus sol dos sumérios. Quando Sansão tem seus cabelos cortados por uma mulher e perde a sua força descomunal, observa-se a simbologia do sol presente na narrativa porque sua cabeleira representa o poder irradiador dos raios de sol.

Outro exemplo mencionado diz respeito ao maior profeta e libertador do povo de Israel, Moshé Rabenu ou Moisés, autor dos cinco primeiros livros (Pentateuco) da Bíblia hebraica (Torá) que contêm os fundamentos legais, morais e éticos do judaísmo. Gardiner e Osborn escrevem que em Êxodo 34, a citação é de que Moisés desceu do Monte Sinai com seu rosto “emitindo raios luminosos”. Os autores ressaltam que o profeta cresceu no palácio do faraó como um príncipe egípcio e provavelmente foi iniciado na tradição, simbologia e astrologia egípcias do culto ao sol, às estrelas e aos padrões cíclicos da natureza. Entretanto, em Devarim (Palavras), também chamado de Deuteronômio, o quinto livro de Moisés, é feita uma advertência para que os hebreus não se envolvam com esses cultos: “Levantando teus olhos ao céu e vendo o sol, a lua, as estrelas e todo o exército do céu, não te deixes seduzir para adorá-los e servi-los! (4:19).

Adiantando-se no tempo, os autores chegam até os essênios, uma seita judaica que existiu nos últimos séculos antes da Era Comum, cujos integrantes viviam em Qumrã, no deserto da Judeia, perto do Mar Morto. De acordo com os documentos escondidos em cavernas e descobertos a partir de 1947 (Manuscritos do Mar Morto), essa comunidade se autodenominava “Filhos da Luz” e o “governador”  era chamado de “coroa”, uma alusão à sua condição de “ser iluminado”. Os pesquisadores acentuam que a superação da morte também tinha no sol a sua inspiração. “Os movimentos do sol produziram lendas sobre o lugar para onde o deus sol vai e por que volta e serviram para encobrir ideias sobre como nós mesmos poderíamos, supostamente, reencarnar ou receber uma nova vida.”

O despertar do eu interior 

Para a dupla de ingleses, esse sistema de crenças que abrange as antigas ideias da árvore do mundo (a Árvore da Vida, na Cabalá), a reencarnação, o renascimento, o culto do céu - com tudo o que o envolve como o sol, a lua, as estrelas e os astros - , com nomes que de alguma forma significam “brilhar” ou “ser brilhante”, também migrou para a Europa, talvez levado pelas tribos do norte de Israel deportadas pelos assírios, no início do primeiro milênio antes da Era Comum (as chamadas tribos perdidas).

Pela tradição, os sacerdotes da Europa celta (formada por diversas etnias que povoaram o oeste do continente a partir do segundo milênio antes da Era Comum) eram chamados druidas, significando “o saber do carvalho”. Eles praticavam a adivinhação, a astrologia e o culto à árvore. Em suas narrativas é creditado a Hu Gadarn Hyscion (filho de Isaac), um hebreu egípcio, a fundação do terceiro templo no círculo de pedras gigantes de Stonehenge.

Mais evidências

No livro “As Digitais dos Deuses” (Fingerprints of the Gods, publicado em 1995), o jornalista e pesquisador nascido na Escócia, Graham Hancock, igualmente defende a tese da existência de uma civilização adiantada, anterior a pré-história convencional da humanidade. Ele se utiliza de um documento datado de 1513 - o mapa-múndi Piri Reis – desenhado pelo almirante do mesmo nome, em Constantinopla. O mapa mostra a costa ocidental da África, a costa oriental da América do Sul e, algo impensável,  a costa norte da Antártida, esta última região desconhecida até 1818, mas mostrada no mapa 300 anos antes de ser encontrada.

Outro mistério diz respeito à indicação de ausência de gelo em parte do território antártico conhecido como a Terra da Rainha Maud (área da Antártida oriental reclamada pela Noruega), uma prova geológica que confirma que o mapa se baseou em um documento original de pelo menos 4 mil anos antes da Era Comum quando a costa estava livre de gelo. “Em outras palavras, o verdadeiro enigma desse mapa de 1513 não está tanto no fato de ter incluído um continente que só foi descoberto em 1818, mas em mostrar parte da linha costeira desse mesmo continente em condições de ausência de gelo que terminaram há 6 mil anos e que desde então não se repetiram”, enfatiza Hancock. Ele conta que o almirante deixou uma série de notas escritas no mapa, admitindo que seu papel foi de compilar e copiar desenhos de cartógrafos que retroagiam a épocas anteriores à pré-história.

Ainda acerca do mapa de Piri Reis, o escritor e professor universitário norte-americano graduado em Harvard, Charles Hapgood (1904-1982), especializado em antropologia e história da ciência, argumentava que alguns mapas básicos antigos usados pelo almirante seriam fundamentados em fontes de uma época ainda mais recuada da antiguidade. Empenhado na formulação da teoria do deslocamento da crosta terrestre, considerada por Albert Einstein “fascinante”, Hapgood dizia  que a terra foi extensamente mapeada por uma civilização até então desconhecida e ainda não descoberta, dotada de alto grau de progresso tecnológico, que existiu há mais de 4 mil anos antes da Era Comum.

Catástrofes extinguiram civilizações 

Propondo a teoria de que o eixo de rotação da terra mudou pelo menos três vezes nos últimos 100 mil anos, por força de deslocamentos da crosta terrestre provocados pelo degelo das calotas polares, Hapgood considerava que tais rupturas globais podem ter dado origem a cataclismos e provocado a extinção de civilizações desconhecidas e avançadas como a da Antártida, destruída por uma mudança catastrófica. Para validar a tese, estudo das carcaças de mamutes congelados encontrados na Sibéria mostrou que esses animais extintos há 10 mil anos tinham em suas bocas um tipo de capim proveniente de climas quentes, apesar de tais animais terem sido descobertos em terras geladas.  

Seguindo a mesma linha de investigação, pesquisadores da Universidade de Glasgow, no Reino Unido, revelaram a presença de palmeiras no território da atual Antártida, descobertas através de perfurações no gelo que trouxeram à tona o pólen de palmeiras e de outras árvores de climas quentes como os baobás oriundos das estepes africanas. Segundo os estudiosos, há 53 milhões de anos o clima desse continente era semelhante ao sul do Brasil, com invernos em torno de 10ºC e verões com temperatura de 25º C. Desde 1953, o professor Hapgood  já sustentava que grandes regiões da Antártida permaneceram livres do gelo até 4 mil anos antes da Era Comum, lembrando porém, que pelo consenso acadêmico, as primeiras civilizações se desenvolveram no crescente fértil do Oriente Médio por volta de 3 mil anos antes da Era Comum.

A partir dessa perspectiva, o estudioso observa que alguns dos mitos mais impressionantes e duradouros que a humanidade herdou dos tempos antigos dizem respeito a uma pavorosa catástrofe global. "De onde vêm esses mitos?", pergunta Hancock. "Por que os temas são parecidos, embora procedam de culturas diferentes? E se são realmente memórias, por que não existem registros históricos das catástrofes históricas que parecem aludir?" 

São indagações que se inserem nas narrativas do dilúvio bíblico e que também são encontradas na tradição de outros povos, como no livro sagrado dos maias (Popol Vuh). “Em todo o mundo são conhecidas mais de 500 lendas que falam do dilúvio" prossegue Hancock, "e em uma pesquisa sobre 86 delas em continentes diferentes, um pesquisador especializado, Dr. Richard Andree, concluiu que 62 eram inteiramente independentes da versão hebraica.”

Pistas falsas

Já o historiador e arqueólogo francês Robert Charroux (1909-1978) vai mais longe nas suas considerações sobre essas civilizações desconhecidas, afirmando que antepassados superiores construíram naves siderais, viajaram no cosmos e conheceram a energia atômica. Em seu livro “A história desconhecida dos homens desde há cem mil anos” (1963), o autor defende que os poucos sobreviventes dessa humanidade superior “legaram aos seus descendentes uma grandiosa mensagem”, advertindo-os, todavia, das consequências das suas próprias descobertas. Dessa forma, no decorrer dos séculos, afirma o francês, “centros de contraverdade têm ocultado este conhecimento, embora esse conhecimento seja mantido por sociedades de iniciados.”

Para Gardiner e Osborn existe uma espécie de “sacerdócio secreto” advindo dessa civilização desconhecida que desenvolveu um método de grande eficácia para chegar ao êxtase espiritual. Herdeiro e guardião do conhecimento da “iluminação interior” e das correntes místicas, esse priorado revela vestígios semelhantes nas grandes religiões e nas várias doutrinas esotéricas. “Platão foi um iniciado nesses mistérios. Ele diz que foi posto numa pirâmide durante três dias, morreu simbolicamente, renasceu e então conheceu os segredos dos mistérios”, escrevem os autores de “O Priorado Secreto”.

O esplendor da Cabalá

É interessante observar que a obra central da corrente mística do judaísmo, a Cabalá (‘tradição’, em hebraico), se denomina Sefer HaZohar ou o “Livro do Esplendor”, uma referência à luz e à iluminação. Atribuído ao rabi Shimón Bar Yochai (Rashbi), que viveu no século 2 da Era Comum, o Zohar também é chamado de “Chochmat ha-Emet” (a sabedoria da verdade). Até ser verbalizado, esse conhecimento advindo da Torá era transmitido oralmente pelos primeiros cabalistas denominados “nistarim” (os ocultos). 

O rabino Chaim David Zukerwar (1956-2009), em seu livro “As 3 dimensões da Cabalá: Essência, Infinito e Alma”, escreve: “A fonte da Luz é a causa e origem de toda a criação. Por essa razão a denominação empregada pela Cabalá para designar a energia de vidas é Or – luz, em hebraico.” Paradoxalmente, os sábios também afirmam que a luz que foi feita no primeiro dia da Criação ( E D’us disse “Que haja luz, e houve luz”) foi “oculta aos justos no mundo vindouro”. A explicação dada pelo Zohar indica que as palavras hebraicas “Or” (luz) e “Raz” (segredo) são numericamente equivalentes, isto é, que estão relacionadas uma com a outra. O significado seria que a luz original do início dos tempos só retornará em seu igual esplendor com a evolução espiritual e o compromisso do homem com o bem, em um tempo porvir.

A bênção do sol

Das muitas tradições judaicas, a bênção do sol, praticada ao longo das gerações, apresenta uma característica única: o seu ritual somente se dá a cada 28 anos, quando o sol, de acordo com os sábios, retorna à posição exata onde estava no momento da criação. Diz o Bereshit: “E fez D’us os dois luzeiros grandes: o luzeiro maior para governar o dia; e o luzeiro menor para governar a noite... E foi noite e foi manhã, dia quarto.” Para celebrar esse mandamento (mitzvá), as pessoas se reúnem ao ar livre e é recitada uma benção especial – Bircat Hachamá (benção do sol) - precedida e seguida de salmos e preces.

Sempre ocorrendo em uma manhã de quarta-feira (o dia da semana no qual D’us colocou em órbita o sol, a lua e todos os corpos celestes ), o último encontro se deu em 8 de abril de 2009 (ano judaico de 5769), quando mais uma vez foi recitada a prece que lembra os milagres divinos: “Bendito és Tu, Senhor nosso D’us, que reencena as obras da Criação.” (Baruch Ata Adonai, Eloheinu Melech HaOlam, Ossê Maassê Bereshit).

Mas, apesar das explicações rabínicas sobre a benção do Sol – que tem o intuito de louvar a Criação Divina -, pesquisadores como Gardiner e Osborn insistem em enxergar vestígios desse ritual ancorados a uma tradição desconhecida anterior a dos hebreus. O arqueólogo e historiador Zecharia Sitchin (1920-2010), estudioso dos idiomas antigos orientais, expõe em seu livro “O código cósmico” (2003), a familiaridade dos antigos hebreus com as constelações do zodíaco, iniciada com Terach, pai de Abrãao (Avraham) em Ur, na Suméria (atual Iraque). Ele faz uma correspondência entre os 12 signos zodiacais com os 12 filhos de Ismael (“Dele nascerão dozes chefes; E sua nação será grande” - Gênesis 17:20), os 12 filhos de Jacob (“E o número dos filhos de Jacob foram doze” – Gênesis 35), e as 12 tribos que povoaram a Terra Prometida, após o Êxodo, uma constância que, em sua opinião, “preserva a  exigência-santidade do Doze celeste”.

Sitchin, que viveu em Israel e nos Estados Unidos, revela que a expressão hebraica “mazal-tov”, pronunciada nas festividades e entendida pela maioria como “boa sorte”, significa literalmente “uma boa e favorável constelação zodiacal”. Segundo o arqueólogo o termo deriva do acadiano (a mãe das línguas semitas), em que manzalu significa “estação” – a estação zodiacal na qual o sol “estacionava” no dia do casamento ou nascimento. Ele também assegura que a monumental e enigmática estrutura de círculos de pedra na planície das colinas de Golã, o Gilgal Refaim, foi um observatório astronômico construído por uma civilização desconhecida, 7 mil anos antes da Era Comum.

Teoria que Uri Berger, membro do Departamento de Antiguidades de Israel, afirma ser plausível ao observar que já foi identificado que nos dias mais curtos e mais longos do ano ( solstícios de junho e dezembro) o nascer do sol se alinha com a abertura das rochas basálticas do monumento. 

Histórico de Golã

A ligação do povo hebreu às Colinas de Golã remonta a tempos bíblicos e conta a tradição que na região do Monte Hermon D’us prometeu a Abraão que daria a terra a seus descendentes.

Ao longo do tempo muitos povos viveram no local, centro de inúmeras disputas e guerras. De volta do exílio da Babilônia, no século 5 antes da Era Comum, os judeus povoaram a região até a primeira Revolta Judaica contra o Império Romano, entre 66 e 73 antes da Era Comum, quando suas vilas são destruídas.

A partir de 391 da Era Comum, Golã fica sob o domínio do império bizantino. Do século XV até o fim da 1ª Grande Guerra, é a vez dos turcos otomanos, e entre 1924 e 1944 a França assume o mandato na região. Depois do fim da da2ª Grande Guerra, por um acordo entre França e Inglaterra, o território fica com a Síria. Em 1967, após a Guerra dos Seis Dias, Israel volta a ter a posse de Golã.

Escrito originalmente em 2021 e atualizado em 2024

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

ONU se cala ante rede de túneis que abriga terroristas e armas letais no Líbano

/ Sheila Sacks / 

Em 2019, as principais agências de notícias divulgaram a foto do interior de um túnel subterrâneo construído pelo Hezbollah no Líbano,   que se iniciava a um quilômetro da fronteira norte de Israel e cruzava o território israelense até perto da cidade de Zarit. O túnel, escavado no subsolo, tinha profundidade de um prédio de 22 andares, fiação elétrica e equipamentos de comunicação e foi descoberto pelo exército de Israel na Operação Escudo do Norte, iniciada em dezembro de 2018, com a finalidade de neutralizar a rede de túneis do grupo terrorista. 

A operação militar encontrou um total de seis túneis fronteiriços atravessando Israel em uma clara violação da Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU, implementada em 2006 para por fim a Segunda Guerra do Líbano. O documento exigia o desarmamento de todos os grupos que atuavam na região, inclusive o Hebzollah, excetuando o exército libanês e a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL, na sigla em inglês), criada para garantir a estabilidade ao longo da fronteira. A resolução continua valendo.

Mas, o Hezbollah prosseguiu na construção de túneis com a finalidade de atacar Israel, transgredindo e desprezando a resolução da ONU, ainda que a UNIFIL esteja presente no sul do Líbano, desde 1978, com um efetivo de 10 mil homens para patrulhamento e observação. Mas, diante da existência de dezenas de quilômetros de túneis fica no ar a indagação sobre qual seria, de fato, a missão desse destacamento militar, os chamados Capacetes Azuis, que ao longo dos anos não se mobilizou para coibir ou denunciar com veemência a expansão dessa infraestrutura de terror?

Construção de túneis e bunkers prosseguem

À época da descoberta dos túneis subterrâneos, o exército israelense comunicou e levou a UNIFIL até os locais, antes de inutilizá-los por meio de explosivos ou preenchimento de concreto em suas saídas. Cruzando a fronteira em direção às comunidades do norte de Israel, os túneis serviriam para futuros ataques a postos militares e alvos civis. Contando com o apoio tecnológico da Coreia do Norte e o aporte financeiro do Irã, os túneis do Hezbollah são mais sofisticados do que os do Hamas e são escavados nas rochas, o que os tornam mais seguros, invisíveis e difíceis de detectar.

Segundo as Forças de Defesa de Israel (IDF), desde o ataque de 7 de outubro do ano passado os militares já alcançaram mais de mil locais de armazenamento de armas do Hezbollah, em túneis e bunkers, perto da fronteira. Um dos túneis, descoberto  em maio, adentrava 10 metros no território israelense e tinha em seu interior armas e mísseis antitanques. A IDF calcula que mais de 3 mil terroristas estavam preparados para invadir a Galileia em apoio ao Hamas, logo após o ataque.

Na atual incursão da IDF no Líbano iniciada em outubro já foram bombardeados 3,5 quilômetros de um túnel subterrâneo que usava a fronteira da Síria para receber armamentos do Irã. A informação foi publicada no Jerusalem Post, em 4/10. Outro túnel subterrâneo usado pelos terroristas, a 300 metros da fronteira israelense, também foi neutralizado.

Túneis com tecnologia de ponta

Em agosto, o então líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, morto em Beirute, em 27 de setembro, exibia um vídeo intitulado Nossas Montanhas, Nossos Tesouros que mostrava integrantes do grupo armado em motocicletas e caminhões transportando mísseis no interior de amplos túneis subterrâneos iluminados.

Segundo o canal de TV libanês Al-Mayadeen, que exibiu o discurso de Nasrallah, a rede de túneis é altamente secreta e tem um sistema técnico de última geração, com dispositivos de comunicação criptografados e seguros na conexão com o exterior, permitindo que o lançamento de mísseis se efetive em minutos, após o recebimento das ordens. Desde outubro do ano passado, o Hezbollah já lançou mais de 7.500 foguetes e 200 ataques de drones contra o território israelense.

A declaração de Nasrallah ecoou pelas plataformas de notícias de todo o mundo, com vídeo e fotos, e ainda assim a ONU se manteve calada sinalizando sua desconsideração à divulgação de uma situação de tamanha gravidade geopolítica. Não se pode considerar normal um grupo terrorista manter uma rede de túneis subterrâneos de armazenamento de armas letais, se utilizando de um país membro da ONU, no caso o Líbano, para atacar Israel, outro país-membro.

O silêncio das nações diante dessa realidade transgressora que perdura por décadas  é uma posição acintosa que agride a sociedade israelense e os judeus que vivem na diáspora.  Iniciativas precisariam ser impulsionadas para pressionar países e governantes que abrigam núcleos terroristas e suas infraestruturas de guerra para que combatessem esse tipo de barbárie.

Pedidos de cessar-fogo nessa conjuntura anômala, em que um país é sistematicamente atacado por grupos terroristas sediados em Gaza, Cisjordânia, Líbano, Síria, Iemên, Iraque e Irã, refletem, no mínimo, a ausência de empatia quando o alvo da agressão é o estado de Israel. A indulgência velada aos terroristas que já mostraram suas faces cruéis e sanguinárias em um atentado que degolou bebês, estuprou meninas, queimou pessoas vivas e mantém reféns em condições sub-humanas, só envergonha e amesquinha o conjunto de nações e suas respectivas autoridades que teimam em desconsiderar o direito de Israel de defender a sua existência.

No dicionário do terror, pedir um cessar-fogo se traduz, basicamente, em reunir forças e se preparar para novos ataques. Em “rara” aparição pública, segundo a mídia global, o líder supremo do Irã,  o aiatolá Ali Khamenei, exibindo um rifle ao lado do corpo, defendeu a destruição do estado de Israel – “Israel não vai durar muito” -  e louvou o ataque ao território israelense que ocorreu três dias antes, na noite de 1 de outubro, quando foram disparados 180 mísseis, obrigando perto de 10 milhões de israelenses a se esconderem em abrigos antiaéreos.  Enquanto isso, o Hezbollah já lançou mais de 200 foguetes contra o norte de Israel, fazendo estragos e ocasionando vítimas, com a colaboração declarada de mais dois grupos terroristas, a Jihad Islâmica Palestina, que atua principalmente na Cisjordânia, e as Brigadas Al-Quds, da Faixa de Gaza, cuja liderança está sediada na Síria. No dia 9/10 duas pessoas morreram na cidade de Kiryat Shmona, no norte de Israel, depois que 90 foguetes foram lançados do Líbano, intensificando o conflito.

Esses grupos terroristas também executaram, nos últimos dez dias, três ataques terroristas sucessivos contra civis israelenses, com tiros e esfaqueamento, que resultaram em oito mortos e dezenas de feridos. Na estação de trem em Jaffa, na parte antiga de Tel Aviv (1 de outubro); na estação rodoviária de Bersheva, capital do Neguev(6/10) ; e na cidade de Hadera, entre Haifa e tel Aviv, em 9/10.

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Operação Retorno: Em Israel, 60 mil desalojados aguardam à volta para as suas casas

 Sheila Sacks


Há quase um ano, desde o ataque terrorista do Hamas em 7/10, milhares de cidadãos israelenses que viviam em cidades, vilas, pequenas comunidades e fazendas coletivas perto da fronteira do Líbano estão morando provisoriamente em quartos de hotéis, casas de parentes e alojamentos espalhados pelo território de Israel em uma situação incerta e dramática.

Os ataques quase diários de mísseis do Hezbollah, vindos dos topos das colinas e das florestas do Líbano, já destruíram ou danificaram centenas de moradias ao longo da fronteira nesse período em que as forças de defesa  de Israel (IDF) lutam em Gaza contra o Hamas.

Em face do perigo de um ataque do Hezbollah, semelhante ao do Hamas, a população do norte de Israel localizada à beira da fronteira foi evacuada e desde então o governo israelense mantêm essas famílias a salvo a um custo material e emocional imensurável.

Em abril, seis meses após o ataque do Hamas, reportagem da agência Reuters citava a declaração “de uma alta autoridade israelense”, que segundo a agência “pediu anonimato por questão de segurança”, sobre o poder de fogo do Hezbollah. “Na verdade, o Hezbollah é uma ameaça maior à fronteira do que o Hamas, afirmava o entrevistado, “porque tem o dobro de combatentes de elite e pode penetrar mais profundamente em Israel.”

Segundo essa autoridade, o Hezbollah vem sinalizando que está preparando um ataque há anos. “Um perigo que Israel não pode aceitar”, garantiu, afirmando que o governo pretende “empurrar” o Hezbollah para longe da fronteira, e a questão é saber “como”.

O medo de um massacre ainda pior do que o perpetrado pelo Hamas (que matou 1.200 pessoas em suas casas, bases militares e em uma festa ao ar livre, sequestrando 253 pessoas, inclusive crianças) resultou no deslocamento forçado de uma imensa população de residentes que se viu transformada em refugiada no seu próprio país. Uma situação que o governo quer mudar, em meio à guerra em Gaza e o resgate de reféns.

O retorno dos 60 mil moradores à fronteira norte de Israel é agora uma missão objetiva e presente para Israel, de tantas que o país vem desenvolvendo para garantir o direito de sua própria sobrevivência. “A missão é clara”, disse o Maj. Gen. Ori Gordin, que lidera o Comando Norte das Forças de Defesa de Israel. “Estamos determinados a mudar a realidade da segurança o mais rápido possível” (The Times of Israel, em 18/9).

Em sua análise, o jornal  afirma que o Hezbollah tem cerca de 150 mil foguetes e mísseis, “ alguns dos quais se acredita terem sistemas de orientação que podem ameaçar alvos sensíveis em Israel, além de uma frota cada vez mais sofisticada de drones”. Estes seriam capazes de atingir e paralisar a vida em todo o país, provocando danos e impondo um regime de emergência para a população.

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Eleições Americanas: sobrevivente do Holocausto lamenta antissemitismo em manifestações na Convenção do Partido Democrata

/  Sheila Sacks  / 


Diretor Nacional da Liga Antidifamação (ADL), no período de 1987 a 2015, o  advogado e ativista Abraham Foxman, de 84 anos, sobreviveu ao Holocausto e emigrou para os Estados Unidos com os pais, judeus poloneses, em 1950. Atuou também como vice-presidente do conselho de curadores do Museu do Patrimônio Judaico de Nova York, que guarda mais de 30.000 objetos relacionados à história judaica e ao próprio Holocausto. Em recente declaração, durante a Convenção Nacional do Partido Democrata, em Chicago ( 19 a 22 de agosto), Foxman indignado fez um desabafo sobre as manifestações antissemitas que atualmente contaminam o ambiente eleitoral americano.

- Depois de 50 anos lutando contra o antissemitismo na América, eu não poderia imaginar que os judeus teriam que se reunir em locais secretos em Chicago para a Convenção Nacional Democrata", disse, em referência às manifestações anti-Israel que interromperam um encontro  da  organização Agudath Israel of America, que representa os judeus ortodoxos Haredi. No site da instituição, é reportado que apoiadores do Hamas tentaram paralisar o evento, realizado em 20 de agosto, gritando slogans para constranger e amedrontar os participantes.

O presidente do Conselho da Agudath, Shlomo Werdiger, instou os presentes a lutarem contra o ódio e antissemitismo. “Eles pensam que podem nos intimidar para não estarmos aqui”, iniciou seu discurso de abertura. E continuou: “Somos filhos e netos de sobreviventes do Holocausto, e nunca nos acovardaremos ou seremos silenciados. Pelo contrário, pretendemos defender nossos direitos e nossas liberdades.”

Vários políticos americanos foram convidados para o encontro, que aconteceu em paralelo à Convenção Democrata, entre eles o governador de Nova Jersey, Phil Murphy, a senadora de Michigan, Debbie Stabenow e o procurador-geral do Colorado, Phil Weiser. O jornalista e redator da cultuada revista The Atlantic, Yair Rosenberg, contou que os eventos judaicos na Convenção Nacional Democrata tiveram que ser realizados em locais não revelados e sob forte segurança.

Dias depois, o rabino Yitzchok Ehrman, diretor executivo da Agudath, em carta aberta, lamentou que um bando de agitadores mascarados entoando slogans anti-Israel tivesse capturado a atenção da mídia, resultando em manchetes perturbadoras, em detrimento ao trabelho e esforço da organização para aumentar a conscientização, entre os líderes políticos, sobre a crescente ameaça de antissemitismo enfrentada pelos judeus na América, particularmente os judeus ortodoxos.

Desconfiança

Recente artigo publicado no Jerusalem Post, assinado por Douglas Altabef, presidente do Conselho da ONG Im Tirtzu (epígrafe do livro de Theodor Herzl, 'Im tirtzu ein zo agadah’ - se você quiser, não será um sonho) e diretor do The Israel Independence Fund, analisa o que chamou de “complexa relação” entre a candidata democrata Kamala Harris e os judeus americanos, especialmente os mais ortodoxos.

“A má notícia é que os judeus tradicionais e religiosos têm poucos motivos para se alegrar (em relação a Harris e ao Partido Democrata). A condição de povo judeu, uma preocupação fundamental para esses judeus, é vista cada vez mais como privilégio, racismo e – em sua manifestação mais extrema – uma ameaça sempre presente ao bem-estar dos palestinos”, escreve.

Altabef destaca principalmente o posicionamento de jovens democratas e “esquerdistas” que enxergam um mundo binário de opressores e oprimidos, em que o estado de Israel é considerado uma potência colonialista ocupante. “A atitude cada vez mais prevalente em relação aos judeus, especialmente entre os democratas mais jovens, lembra o famoso ditado do Conde de Clermont-Tonnerre logo após a Revolução Francesa: “Devemos recusar tudo aos judeus como nação e conceder tudo aos judeus como indivíduos”.

Quanto à escolha de Ilan Goldenberg, pela candidata democrata, como seu contato com a comunidade judaica, o articulista também considera que esse fato não deve trazer conforto aqueles que buscam apoio a Israel. Goldenberg, de 47 anos, trabalhou no governo Obama para assuntos do Oriente Médio e desde 2020 atua no governo Biden. Se posicionou contra à mudança da Embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém e, em 2015, apoiou as negociações nucleares do EUA com o Irã. Nascido em Israel, ele cresceu em New Jersey, tem graduações pelas Universidades  da Pensilvânia e Columbia, fala hebraico e árabe e adotou a cidadania americana.   

Para Altabef, Harris não expressa uma posição incondicional de apoio a Israel, em sua luta pela sobrevivência como nação diante das ameaças crescentes de organizações terroristas como o Hamas, Hezbollah, os Houthis e os iranianos, que não escondem seu objetivo de varrer o país do mapa.   “Os judeus que Harris e companhia gostam e respeitam são os judeus ‘como judeus’, indivíduos que assumem sua identidade de judeus justamente para criticar e condenar Israel e suas ações”, argumenta.

Em sua opinião, houve grandes mudanças nas posições políticas dos democratas e se os judeus querem de fato buscar apoio para suas causas precisam mudar de partido.

Coalizão Judaica Republicana

Em Las Vegas, na cúpula anual da Coalização Judaica Republicana (Republican Jewish Coalition-RJC) iniciada em 4 de setembro, o presidente do Comitê Nacional Republicano, Michael Whatley, chamou Harris de “a pessoa mais radical e menos séria que já concorreu à presidência”. Ele acusou a administração Biden-Harris de fornecer mais recursos ao Irã, ao suspender as sanções anteriormente impostas ao governo iraniano, e com isso ajudar a financiar o terrorismo e o massacre de 7 de outubro.

A senadora de Iowa Joni Ernst, em seu discurso, enfatizou que “Harris não será uma amiga de Israel”  e nem mudará a política atual. “Ela não só é simpática à ala pró-Hamas do Partido Democrata, mas também está se cercando de conselheiros pró-Irã”, afirmou a congressista.

Outro parlamentar, o deputado Jason Smith, do Missouri, falou sobre seus esforços para responsabilizar as universidades pelo antissemitismo. “Eu coloquei as universidades americanas em alerta. Se a administração Biden-Harris continuar a apaziguar a esquerda pró-Hamas dentro de seu partido, recusando-se a revogar o status de isenção de impostos de organizações que financiem qualquer protesto violento, eu sei que uma administração Trump-Vance, e o Partido Republicano, apoiarão diretamente Israel e o povo judeu ao redor do mundo.”

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

No Brasil, lei estabelece o Dia Nacional da Lembrança do Holocausto

 

A data será celebrada anualmente em 16 de abril, dia em que faleceu Luiz Martins de Souza Dantas, em 1954, diplomata brasileiro que atuou na Europa para salvar pessoas ameaçadas pelo nazismo, emitindo vistos para que centenas de judeus pudessem entrar no Brasil. 

Sheila Sacks

A iniciativa dos ex-deputados Jorge Silva e Sergio Vidigal, apresentada na Câmara em 2017, ambos do estado do Espírito Santo, obteve no senado parecer favorável do senador Carlos Viana, de Minas Gerais, presidente da Frente Parlamentar Brasil-Israel no Senado, criada em 2019, e um dos raros congressistas brasileiros a visitar Israel após o ataque terrorista de 7 de outubro.

"Ao relembrar os horrores do Holocausto, educamos as gerações mais jovens sobre a importância do respeito aos direitos humanos, da tolerância e da diversidade. Ao dedicar um dia para a lembrança e reflexão, reafirmamos o compromisso com a verdade histórica e a necessidade de combater a desinformação. Isso é crucial para preservar a integridade dos fatos históricos e garantir que as futuras gerações tenham acesso à verdade”, afirma Viana.

Aprovada na Comissão de Cultura do Senado, em 25 de junho, sob a presidência do senador Flávio Arns, do Paraná, a lei foi sancionada um mês depois, em 29 de julho, pela presidência da República, e publicada no Diário Oficial da União no dia seguinte, 30/7, na página 1, sob o nº 14.938, com as assinaturas do presidente da República e do Ministro de Direitos Humanos e da Cidadania:

“LEI Nº 14.938, DE 29 DE JULHO DE 2024

Institui o Dia Nacional da Lembrança do Holocausto.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Esta Lei institui o Dia Nacional da Lembrança do Holocausto, a ser comemorado, anualmente, no dia 16 de abril.

Art. 2º Fica instituído, no calendário das efemérides oficiais, o Dia Nacional da Lembrança do Holocausto, a ser comemorado, anualmente, no dia 16 de abril.

Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 29 de julho de 2024;

203º da Independência e 136º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Silvio Luiz de Almeida”

 Canais oficiais

Além de uma razoável veiculação na mídia, a criação da data mereceu matérias especiais nos portais digitais do Senado e da Câmara dos Deputados, agência GOV e Ministério de Direitos Humanos (30 e 31/7), todas ressaltando a intenção da celebração no sentido de “honrar a memória das vítimas e provocar reflexões sobre as lições aprendidas com a Segunda Guerra Mundial, que ocorreu entre 1939 e 1945”.

Os textos também exaltam o heroísmo de Souza Dantas e a razão dos autores da proposição da lei não seguirem a data oficial estipulada pela ONU (27/1) por coincidir com as férias escolares no Brasil. A data celebrada em Israel, o Yom HaShoah, em 27 do mês de nissan no calendário hebraico, também foi mencionada.

Em janeiro, a plataforma de notícias israelense Ynet, o canal online do jornal Yedioth Ahronoth, o maior do país, já adiantava que o estabelecimento de um Dia Nacional Brasileiro em Memória do Holocausto envolveu um extenso trabalho da embaixada israelense no Brasil, chefiada pelo embaixador Daniel Zonshine, e da Associação de Amizade Israel-Brasil.

Emitindo vistos

Nascido no Rio de Janeiro, Souza Dantas foi nomeado embaixador na França em 1922, onde permaneceu até 1944. Entre junho e dezembro de 1940, o diplomata emitiu mais de mil documentos e cerca de 500 vistos para judeus, refugiados e pessoas perseguidas pelo regime hitlerista, sem seguir os trâmites burocráticos oficiais. Proibido pelo governo de Getúlio Vargas de conceder qualquer tipo de visto diplomático, a partir de 1 de janeiro de 1941, ainda assim Souza Dantas driblou a ordem governamental emitindo passaportes com datas anteriores à proibição. Em 2003, ele recebeu o título de Justo entre as Nações pelo Estado de Israel.

No livro “Quixote nas Trevas” (2002), o historiador Fábio Koifman apresenta uma lista com os nomes de todas as pessoas salvas pelo diplomata enquanto trabalhava na embaixada brasileira em Paris. Tema da tese de mestrado de Koifman, o livro foi uma das bases para o processo de premiação de Dantas pelo Museu do Holocausto, em Israel. São cerca de 800 nomes, dentre os quais 425 judeus, que ele ajudou a escapar do extermínio.

Em 2020, o livro de Koifman foi traduzido para o espanhol sob o título “Souza Dantas: Justo entre las Naciones”, em uma iniciativa conjunta da Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), veiculada ao Ministério das Relações Exteriores, em parceria com a Embaixada do Brasil em Buenos Aires e a Delegação de Associações Israelitas Argentinas (DAIA). A obra está digitalizada, desde 2022, no site da Fundação.

Em outra obra, “Souza Dantas e a França ocupada” (2008),também publicada e digitalizada pela FUNAG, através de seu Centro de História e Documentação Diplomática (CHDD), o embaixador Álvaro da Costa Franco realizou uma compilação de documentos e correspondências redigidos por Souza Dantas no período de 1940 a 1942.   Na introdução – O diplomata e o homem - , é revelado que Dantas se casou tardiamente, em 1933, aos 57 anos, com uma viúva nascida nos Estados Unidos, Eliza Stern (Meyer, de solteira), de ascendência judaica, proveniente de uma família de industriais e banqueiros, cuja irmão comprou o jornal Post, que se transformou no influente Washington Post.

Costa Franco ressalta, porém, que o fato não influenciou o espírito humanitário de Dantas. “Seu comportamento para com os perseguidos do nazismo não foi, portanto, um ato isolado, nem se deve atribuí-lo às relações com o mundo israelita, decorrentes da origem de sua mulher. Terá brotado do fundo de um sentimento que lhe era natural. Foi o mais significativo e expressivo de sua generosidade, pelas circunstâncias e pelo número de pessoas a quem socorreu, confirmando apenas, numa grande escala, seu espírito humanitário.”

Data nacional


Segundo a enciclopédia do Museu do Holocausto de Washington, a data de 27 de janeiro foi escolhida pela ONU como o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto porque marca a liberação do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, ocorrido naquele dia, em 1945.

A Resolução 60/7, de 1º de novembro de 2005, também rejeita qualquer tipo de negativa da existência do Holocausto. Além da celebração oficial da ONU, muitos países criaram seus próprios dias de lembrança, os quais são frequentemente conectados aos eventos do Holocausto.

A Argentina estabeleceu o dia 19 de abril, o dia da revolta do gueto de Varsóvia, como o “Dia Nacional da Diversidade Cultural”.  A Hungria celebra o dia 16 de abril como o “Dia Nacional de Lembrança do Holocausto”, relembrando a data do estabelecimento do gueto de Munkács pelos nazistas, ocorrido em 1944.  Nos Estados Unidos, o congresso estabeleceu, em 1979, o “Dia de Lembrança”, que usualmente acontece entre o mês de abril e o início de maio, para celebrar as vítimas do regime nazista, em data que corresponde ao Yom HaShoah em Israel.

No Brasil, com a iniciativa do Congresso Nacional, a lembrança do Holocausto se incluirá no calendário oficial de celebrações e acontecimentos importantes da nação, propiciando eventos e atos públicos, seminários e debates em ambiente escolar, universidades e em instituições de cultura e de cidadania.